Pausa para o Clássico (Gustav Radbruch)
Cinco Minutos de Filosofia do Direito
Primeiro minuto
Ordens são ordens, é a lei do soldado. A lei é a lei, diz o jurista. No entanto, ao passo que para o soldado a obrigação e o dever de obediência cessam quando ele souber que a ordem recebida visa a prática dum crime, o jurista, desde que há cerca de cem anos desapareceram os últimos jusnaturalistas, não conhece exceções deste gênero à validade das leis nem ao preceito de obediência que os cidadãos lhes devem. A lei vale por ser lei, e é lei sempre que, como na generalidade dos casos, tiver do seu lado a força para se fazer impor. Esta concepção da lei e sua validade, a que chamamos Positivismo, foi a que deixou sem defesa o povo e os juristas contra as leis mais arbitrárias, mais cruéis e mais criminosas. Torna equivalentes, em última análise, o direito e a força, levando a crer que só onde estiver a segunda estará também o primeiro.
E a humildade…
Humildade não é só o início da sabedoria, também é sintoma de inteligência. Para o cristão é questão primordialmente necessária, essencial. A humildade é só o que pode soar verdadeiro no homem, enquanto o orgulho é mentiroso, inchado, como diz Santo Agostinho. O cristão que se orgulha é um burro, porquanto não se reconhece, e um ladrão, porque rouba o mérito de quem verdadeiramente o possui.
Quanto a Jesus, era diferente. Era um tanto quanto assustadora a humildade Dele, já que não se testemunhou pessoa mais humilde do que o próprio Deus que se fez homem. Ele se despojou de sua condição divina e se fez servo, escravo da própria criatura. Isso é atitude de quem sabe que o orgulho existe, mas que não sabe como é tê-lo. Se por um acaso tinha alguma inclinação para se orgulhar, coisa que por aqui não se cogita, vencia sem deixar vestígios.
Jesus sofreu tudo aquilo que sofreu na cruz sem dizer sequer uma palavra de reclamação. Sabia que não era justo, mas fez com que fosse. Hora nenhuma deu chilique todo-poderoso para fazer valer sua condição divina, na verdade, fez-se homem e mais homem do que qualquer outro. Mesmo assim, sendo mais homem do que qualquer outro, portava-se como o menor de todos.
Agora, o princípio da humildade humana é diferente da Dele, embora se deve buscar imitar seus atos. Ele é Deus, então, sua humildade é perfeita, quando se rebaixa ao homem. O homem, entretanto, não se rebaixa nem ao seu Criador, quanto mais a outro semelhante, isso é o que mais se vê.
Na verdade, um pontinho de humildade para pessoas não divinas é, primeiramente, reconhecer-se verdadeiramente como não sendo uma, e não ficar insatisfeito com isso. Saber que não é o criador de si mesmo e, por isso, não tem mérito de suas capacidades. Aquele que se orgulha daquilo que não é seu é um panaca e o tempo todo um ladrão que roubou a glória de quem realmente tem.
Ser humilde e saber que do pó veio e ao pó voltará, saber que é criatura incapaz e não inteligente. Saber que, embora tenha o poder, não tem a menor capacidade de guiar-se num caminho. Reconhecer que é um ser humano, e, além disso, é igual a todos os outros da mesma espécie, isso já é um grande passo para uma humildade verdadeira. Reconhecer de onde vem os dons, os talentos, e bem utilizá-los, já é outro bom passo. Depois, finalmente, fazer-se menor que a todos e a todos servir, imitando assim o Jesus, aí é o ponto de chegada.
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