Se Hobbes fosse brasileiro

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tumblr_m5ogubuARh1rsqg0ko1_500Das notícias que vejo, ando me perguntando: e se Hobbes fosse brasileiro? Dessa pergunta eu tiro uma conclusão que me faz temer: a de que, nos próximos anos, devemos fazer todo o esforço para mantermos a nossa civilidade, para não cedermos ao homo homini lupus, ou mesmo para não cedermos, parafraseando Augusto dos Anjos, à inevitável necessidade de também ser fera.

Teremos que nos controlar para não andarmos armados nas ruas, mesmo sem porte de arma, com a única finalidade de nos protegermos dos assaltos. Temos que tomar cuidado para não deixar de reservar à polícia a nossa segurança e de não deixar para o Judiciário a jurisdição penal. Afinal, os bandidos não estão nem aí para os direitos humanos; e criminoso rico, que também causa revolta, tem dinheiro para pagar um advogado que lhe diminua ou retire o peso da lei.

Alguns direitos humanos são tão óbvios que não precisam ser citados, mas, porque não são citados, muitos se esquecem deles (embora conste no art. 3º da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948). Um desses direitos é o direito à segurança. Ora, como ter qualquer outro direito sem segurança? Em última análise, a própria liberdade é mitigada e as pessoas têm que, cada vez mais, viverem dentro de suas casas e cercadas de eletricidade. Não se pode mais andar tranquilamente na rua e, em alguns lugares, nem dentro do próprio carro.

Entretanto, um discurso dito “humanista” parece cada vez mais legitimar a inveja, e justifica-se cada vez mais a criminalidade alegando aqueles que cometem delitos são vítimas do sistema. Os políticos corruptos são vítimas do sistema? Os empresários que sonegam impostos são vítimas do sistema? Não! Ser político não é desculpa para ser desonesto, ser empresário não é razão para sonegar imposto e, da mesma forma, ser pobre não é motivo para delinquir.

O resultado? Os bandidos se tornam vítimas e a sociedade, a contrassenso, criminosa. A população que trabalha é opressora e, ao contrário, a bandidagem é marginalizada e excluída. Crime que se justificaria seria o crime famélico (para comer), que, na verdade, nem é crime, mas isso só é justificável como última opção. Quem opta pelo caminho do crime é aquele trapaceiro infantil, que sempre quer passar por cima dos outros e não seguir pelo caminho mais difícil: o da honestidade, o da honra, o da dignidade.

É por isso que continuo me perguntando o que diria Hobbes, se fosse brasileiro. Qual Leviatã seria sua preocupação? Será que acreditaria que também sob o Estado o lobo é o lobo do homem, ou que o lobo pode continuar sendo o lobo do homem se aproveitando do Estado? Será que ele, num ato de indignação, sairia gritando pelas ruas: “eles dão tudo, mas não dão o mínimo, que é a segurança!”? E eu temo a veracidade da sua teoria.

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