Morro pela minha vida

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O que de fato é a vida? Pouco já caminhei, pouco já pensei, e, portanto, pouco já aprendi sobre ela. Mas uma coisa eu já aprendi: aprendi a amar a vida.
Aprendi que a vida tem sentido, e esse sentido que alguns podem entender como instinto de sobrevivência, é o amor. Não há nada que nos dê mais força, mais sentido para tudo, do que viver não mais para si. Seja para uma pessoa só, seja para mais de uma, seja para a humanidade inteira, sair da caixa de espelhos nos dá força para enfrentar o mundo, enfrentar a escuridão, enfrentar o medo, enfrentar o mal.
Aprendi que a vida não é fácil, e como tudo que não é fácil, tem o sabor mais do que doce. Para viver de fato, só se pode fazê-lo com coragem. Ela não é para os covardes. Pois nela, precisamos superar e aprender com os próprios erros, descobrir e aprender a conviver ou até mesmo conseguir purificar os próprios defeitos, precisamos perdoar os erros dos outros, precisamos esquecer as tristezas do passado, precisamos reconhecer que aqueles que amamos não são ou não foram perfeitos e erraram, precisamos aprender a lutar.
Aprendi que para viver é preciso lutar, pois temos várias batalhas e vários adversários no meio do caminho. Às vezes a vida é uma batalha muito dura, às vezes não dá trégua. Às vezes não é por nossa culpa, mas às vezes temos parte nela, e podemos facilitar nossa vida nos preparando para as batalhas ou até mesmo não topando desafios para com os quais não podemos. Mas, o que não se pode mesmo é, dentro de um desafio, desistir. Se existe uma verdade é que, se por acaso andamos sozinhos, ou até mesmo, como alguns conseguem, pensamos sozinhos, na vida, não estamos sós, como ajudamos a alguém que amamos, sempre há alguém que nos ama, ou mesmo que tem um bom coração, para nos ajudar a percorrer esse caminho que às vezes tem tantas pedras. O grande motor da vida, que é o amor, nos concede a maior dádiva para vivê-la: nunca estar sozinho.
Aprendi, por fim, que somos imperfeitos e na grande parte da vida, não digo infelizmente, mas inevitavelmente, erramos. Evito a palavra infelizmente, porque às vezes uma grande felicidade vem de um erro, até um grande acerto mesmo pode vir de um erro. Por isso, devemos, é claro, sempre buscar o acerto, contudo, não devemos ter, em absoluto, nenhum medo de errar e, por conseguinte, nenhum temor de viver.



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O Livro e a América

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    Talhado para as grandezas,
    Pra crescer, criar, subir,
    O Novo Mundo nos músculos
    Sente a seiva do porvir.
    — Estatuário de colossos —
    Cansado doutros esboços
    Disse um dia Jeová:
    "Vai, Colombo, abre a cortina
    "Da minha eterna oficina...
    "Tira a América de lá".
    Molhado inda do dilúvio,
    Qual Tritão descomunal,
    O continente desperta
    No concerto universal.
    Dos oceanos em tropa
    Um — traz-lhe as artes da Europa,
    Outro — as bagas de Ceilão...
    E os Andes petrificados,
    Como braços levantados,
    Lhe apontam para a amplidão.
    Olhando em torno então brada:
    "Tudo marcha!... Ó grande Deus!
    As cataratas — pra terra,
    As estrelas — para os céus
    Lá, do pólo sobre as plagas,
    O seu rebanho de vagas
    Vai o mar apascentar...
    Eu quero marchar com os ventos,
    Corn os mundos... co'os
    firmamentos!!!"
    E Deus responde — "Marchar!"
    >
    "Marchar! ... Mas como?...  Da Grécia
    Nos dóricos Partenons
    A mil deuses levantando
    Mil marmóreos Panteon?...
    Marchar co'a espada de Roma
    — Leoa de ruiva coma
    De presa enorme no chão,
    Saciando o ódio profundo. . .
    — Com as garras nas mãos do mundo,
    — Com os dentes no coração?...
    "Marchar!... Mas como a Alemanha
    Na tirania feudal,
    Levantando uma montanha
    Em cada uma catedral?...
    Não!... Nem templos feitos de ossos,
    Nem gládios a cavar fossos
    São degraus do progredir...
    Lá brada César morrendo:
    "No pugilato tremendo
    "Quem sempre vence é o porvir!"
    Filhos do sec’lo das luzes!
    Filhos da Grande nação!
    Quando ante Deus vos mostrardes,
    Tereis um livro na mão:
    O livro — esse audaz guerreiro
    Que conquista o mundo inteiro
    Sem nunca ter Waterloo...
    Eólo de pensamentos,
    Que abrira a gruta dos ventos
    Donde a Igualdade vooul...
    Por uma fatalidade
    Dessas que descem de além,
    O sec'lo, que viu Colombo,
    Viu Guttenberg também.
    Quando no tosco estaleiro
    Da Alemanha o velho obreiro
    A ave da imprensa gerou...
    O Genovês salta os mares...
    Busca um ninho entre os palmares
    E a pátria da imprensa achou...
    Por isso na impaciência
    Desta sede de saber,
    Como as aves do deserto
    As almas buscam beber...
    Oh! Bendito o que semeia
    Livros... livros à mão cheia...
    E manda o povo pensar!
    O livro caindo n'alma
    É germe — que faz a palma,
    É chuva — que faz o mar.
    Vós, que o templo das idéias
    Largo — abris às multidões,
    Pra o batismo luminoso
    Das grandes revoluções,
    Agora que o trem de ferro
    Acorda o tigre no cerro
    E espanta os caboclos nus,
    Fazei desse "rei dos ventos"
    — Ginete dos pensamentos,
    — Arauto da grande luz! ...
    Bravo! a quem salva o futuro
    Fecundando a multidão! ...
    Num poema amortalhada
    Nunca morre uma nação.
    Como Goethe moribundo
    Brada "Luz!" o Novo Mundo
    Num brado de Briaréu...
    Luz! pois, no vale e na serra...
    Que, se a luz rola na terra,
    Deus colhe gênios no céu!...

    Castro Alves

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A força motriz da vida

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Eu, que vivo num mundo marcado por promessas e expectativas de felicidade, muito acreditei nelas. Eu, que vivo num ambiente em que as pessoas, reduzindo-se a animais, destroem-se umas as outras a fim de sobreviver, acreditando ser mais forte. Eu, que nasci e cresci em meio a erros e decepções, que necessitava do crédito dos outros para acreditar em mim, pensei em desistir. Contudo, Deus, em sua secreta liberdade, escolheu-me para ser depósito da sua força motriz.
Essa força vem primeiro pela fé. É ela que faz alguém perder o medo da derrota e parar, mesmo estando na última volta, quando o motor do carro do seu corpo ou da sua mente esquenta demais, ao invés de possivelmente pôr tudo a perder. É ela que dá a humildade suficiente de abdicar do orgulho do topo da montanha, da vitória perfeita, por saber que esta virá mais a frente, e sem riscos de desmaios. É essa fé que permite que alguém pule no abismo, para assim descobrir que tem asas, quando muitas vezes não existir outra opção.
Depois pela esperança. Por ela que se pode aguardar a luz aparecer depois da noite, porque se sabe que tudo passa. Por ela que podemos crer que as coisas podem mudar, que nós podemos mudar, que o nosso modo de ver o mundo pode mudar, e que as coisas não serão mais assim tão pesadas, tão difíceis, tão tristes e tão escuras. É, principalmente, por ela que os sonhos existem e continuam de pé, é por ela que se pode imaginar um reflexo diferente no espelho, é por ela que se pode visualizar a realização remota, distante.
E, por fim, pelo amor. É ele que move a fé e a esperança, que faz alguém se esquecer a ponto de, pelo tempo que for necessário, não viver por si, mas por aqueles a quem ama. É ele que nunca permite o desistir, é ele que dá força para continuar, para seguir, para ficar de pé. É pelo amor que a morte se torna metáfora e a vida, realidade. É ele que é capaz de perdoar os erros e as decepções que alguém carrega no peso da memória, tomar a rédea da própria vida, sabendo que é o único diretamente responsável pela própria felicidade, e deixar o passado para trás, quando, amando também a si mesmo, perdoa os próprios erros do passado e se levanta para construir um futuro melhor e cheio de bondade, apesar dos inevitáveis erros.
É dessa força que o mundo precisa, a força da fé, da esperança e do amor. Acontece que o mundo sem amor, não se preocupa em mudar; não se preocupando em melhorar, paralisa e desespera; e, quando desespera, perde a fé. Perdendo as três, perdem a alma, tornam-se pior do que animais e vivem unicamente atrás do próprio prazer e satisfação que, por infelicidade, chamam felicidade, e vão pouco a pouco se matando.



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Eu, brasileiro, bipolar

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Sou um brasileiro bipolar. Vivo num país que hora amo, hora odeio, hora admiro, hora repudio, e do qual hora me orgulho, hora me envergonho. Aqui temos a pacificidade que culmina na subserviência, aqui temos a insurreição que termina em demência, aqui temos o talento que finda em desperdício, aqui temos a solidariedade que acaba em comunismo.
Somos um povo pacífico, quase sem guerras. Um povo que aceita as adversidades com brandura, com mansidão, mas que ao mesmo tempo, não se rebela com a corrupção. Parecemos preferir a injustiça à confusão, ao tumulto. Isso, afirmo por mim, que grito aos quatro cantos a revolta, mas não ponho de modo algum meus pés num protesto.
Queremos ser os paladinos da moralidade e da justiça, mas nem sabemos, na verdade, como fazê-lo. Alguns dos nossos afirmam, por exemplo, que os Estados Unidos são o câncer do mundo, quando devemos a eles poder dormir sem peso na consciência, porque nos compraram por um preço mais caro do que a Alemanha na Segunda Guerra. Misturamo-nos sempre com o que há de pior. Não temos autonomia intelectual, não possuímos cultura suficiente para discernir o bem do mal, para distinguir a verdadeira linha, corrente a seguir. Outrora foi o nazi-fascismo traduzido em nacionalismo, agora é o “amor” pelos pobres reduzido a comunismo.
Nós, brasileiros, conseguimos, sem vergonha alguma, em nome da insurreição ao “império” norte-americano, nos unir com o que há de mais vergonhoso. Preferimos o BRICS, com a Rússia da homofobia e do eurasianismo, a China do comunismo, das meninas que não podem nascer, das piores lesões aos direitos humanos, e também com a Índia dos shudras. Temos a ousadia de nos unir, em temos de governo socialista, com Fidel Castro, Nicolás Maduro, Evo Morales, e a lista está só no começo. Somos verdadeiras antas.
Tão idiotas que somos, que confundimos zelo pelos pobres com socialismo. Ora, se fosse verdadeira nossa preocupação e compaixão para com os pobres, tomaríamos como pessoal a responsabilidade. Disponibilizaríamos mais postos de trabalho, partilharíamos mais do nosso precioso dinheirinho. Entretanto, somos covardes, frouxos, hipócritas, e cedemos a nossa responsabilidade ao Estado. Preferimos financiar o ócio dos pobres, dando-lhes dinheiro gratuito, do que fomentar a dignidade do trabalho e o mérito, o que resultaria no enriquecimento e melhoramento da qualidade de vida de todos, sem distinção.
Somos, por fim, um verdadeiro desperdício de talento. Um povo inteligentíssimo, que tem a incrível capacidade de se destacar em tudo a que se dedica, que joga tudo que tem no lixo e se nivela por baixo. Fazemos tudo às avessas! Quando deveríamos melhorar a educação das escolas públicas, para por os mais pobres em pé de igualdade com os ricos que sempre ocupam as vagas das universidades publicas, preferimos as cotas, preferimos rebaixar o nível da academia que deveria ser o trunfo do futuro do nosso país. Odiamos, por inveja coletiva e ressentimento social e intelectual, tudo aquilo que é mais elevado, e cortamos nossas pernas para amalgamarmo-nos aos pouco dotados. Atentamos contra a própria natureza.
Diante desse quadro vergonhoso, creio que deveriam ter, os nacionalistas do tempo do Estado Novo, sucesso ao tentar que a anta fosse o animal representativo do país. Seria totalmente coerente. Eu, por outro lado, preferia que fosse a onça pintada, mas seria muito injusto.





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