A Justiça do Perdão
É normal se pensar em querer
justiça e não perdoar, não perdoar enquanto não tiver justiça ou não perdoar
por justiça. É muito comum dizer que perdoar é sinônimo de fraqueza e quem faz
isso sempre é um bonzinho, isso no sentido pejorativo mesmo, porque o que se quer chamar mesmo é de abestalhado. A moral comum é de que o melhor é ser esperto,
um tanto malicioso, maquiavélico (no sentido de ver a todos como maus). Mas, será
isso mesmo?
Será fácil ir de encontro com a
própria natureza? O homem é orgulhoso por natureza, um tanto maldoso até e o
normal mesmo é se proteger e devolver na mesma medida ou até com mais força para se
impor, quando for atacado ou ofendido (algumas vezes só na imaginação da suposta vítima). Ir
contra a natureza, isso sim, é para os fortes. Vencer a si mesmo não é para
qualquer um. Conter-se e não devolver, ceder a outra face, para isso faz-se necessário
esforço sobre-humano. Sim, é muito mais fácil dizer que não ser orgulhoso e
vingativo é ser fraco, afinal, quase todos são.
E quanto a perdoar ser
injusto... Não é bem assim, não. Em primeiro lugar, senso de justiça é o que
comumente não se tem, é quase um dom sobrenatural conseguir ser bem justo, sem
procurar tirar vantagem para si, isso requer muita humildade e esforço. Desse modo,
geralmente, quando se procura a vingança, acaba-se excedendo as proporções e essa
desculpa da justiça pela vingança morre aí.
Não perdoar enquanto não houver
justiça, aí sim o que é mais comum para os bonzinhos. Diz-se isso, porque o
bonzinho geralmente é o coitadinho, então, como coitadinho, ele só vai perdoar
quando a pessoa que ele acha que o ofendeu pedir perdão, ou quando a pessoa for
punida. E o que tem a ver perdão com punição? O perdão das pessoas, diga-se (não o perdão das instituições),
porque para existir punição, tem de existir regras preexistentes e relação
hierárquica. Assim, mesmo que alguém sofra um crime, a punição não tem a ver
com o perdão. Quem perdoa faz isso para o bem de si mesmo e a punição vai independer disso
(exceto nos crimes de ação privada, se for se pensar no âmbito jurídico).
“Não vou perdoar, quero
justiça!” - Diz o que se acha inteligente. Na verdade, o perdão é o único que é
essencialmente e concretamente justo. Ora, todo mundo erra! Todo mundo é
imperfeito! Aquele que não quer perdoar, com certeza e é certeza absoluta,
também cometeu algum erro que, se fosse a vítima, não perdoaria a si mesmo. Todo
aquele que não quer perdoar tem alguém de quem queria ser perdoado e, por essa razão, perdoar é um ato de justiça. Quem não quer perdoar, também tem de
admitir não ser perdoado, e quem coloca limites no ato de perdoar, como se
houvesse limites para errar, também deve dar o direito de não ser perdoado
quando falhar repetidas vezes.
Seja qual for a razão, seja qual for a desculpa, não há razões para se negar o perdão e considerar-se justo. Pelo contrário, ser misericordioso é que é justo e coerente com a realidade humana falível, imperfeita. Os homens, ao longo do tempo, criam, inventam vários bordões e distorcem valores a fim de justificar o excesso de vaidade e a incapacidade de ser misericordioso, e, por isso, o que acontece é o contrário do que o que procuram dizer. Quem não perdoa, na verdade, é um tremendo de um fraco.
3 Comentários
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me foi muito útil! tava precisando disso, muito obrigada! tá de parabéns! fica com Deus!
ResponderExcluirMuito bom o texto, Igor. Só retifico, se puder, a parte que você fala que somos orgulhoso por natureza. Não entendo que somos orgulhos na natureza, mas somos frágeis, e assim o orgulho entra em nós.
ResponderExcluirNão, eu creio sim, que somos orgulhosos por natureza. Está na natureza decaída do homem, graças ao pecado original. Segundo Bento XVI, está a nós inerente o desejo reiterado de ser Deus (orgulho), materialismo e sexualismo, a serem combatidos, respectivamente, pela obediência, pobreza e castidade.
ResponderExcluirEssência boa e natureza má. Essência-alma natureza-carne.