A Torre de Papel
A Torre de Babel não precisa ser verdade histórica, para ser a maior verdade que existe. Independente de quantos arranha-céus existirem, de haver uma língua hegemônica, dos cursos de línguas, dos tradutores e, obviamente, de o Céu de Deus não ser esse céu físico, diferente do que se podia, há muito tempo, imaginar, a Torre de Babel não deixou de existir, mas, ao contrário, só cresce e cresce junto a dificuldade de comunicação entre todos os homens.
Careço de fontes de quando isso começou a acontecer. Quem sabe foi com Nietzsche a negar todo o pensamento racional. Talvez tenha sido antes, quando os sofistas diziam que a verdade não existe e pregavam a desonestidade do pensamento. Quem sabe tenha sido ainda mais remota a origem, vindo a ser quando a serpente enganou a mulher e o homem colocou-se como referencial. Ocorre que o relativismo deveria ser pronunciado com “s” ofídico.
O resultado? Cada um passou a criar a sua linguagem, o seu significado, o seu conceito, enfim, a sua racionalidade. Cada um que diga o que quer e coroe com o argumento de que tudo é relativo, e que cada um tem a sua opinião – não importa se essa opinião é falsa, falaciosa, estritamente subjetiva, ou até mentirosa. Então, basta uma significante autoridade moral para criar uma verdade, basta ser doutor para afirmar algo falso e mesmo assim ser ouvido e repetido, basta ser juiz ou ministro de tribunal superior para, com argumentos desonestos, constituir direitos indevidos.
O resultado do resultado? Não se pode nem mais discutir numa mesa: a feminista fala em direitos humanos para abortar e o conservador fala em direitos humanos para o bebê; um fala de dignidade da pessoa humana para promover a eutanásia, e outro para atacar; um diz que ser de direita é ser nazista ou fascista, e outro diz que ser de direita é defender as liberdades fundamentais. Todos se dizem bem intencionados, só que nem concordam quanto ao que é ser o bem, todos dizem promover o amor, só que não concordam quanto ao que é amar, e todos querem, enfim, ser felizes, mas não concordam quanto ao que é felicidade.
Filosofia já há muito deixou de ser a investigação da verdade, e a consequência? Caos. Direito deixou de ser relativo à justiça há tempos, e para a mesma situação jurídica existem várias teses, e cada advogado que crie a sua, em detrimento de toda a verdade. Pelo pensamento racional se passou a estudar sociologia e antropologia, e estas conseguiram, por alguns dos seus, acabar com toda a espécie de pensamento racional e tudo é válido. Que se diga da psicologia que pode ser utilizada como instrumento para deseducar.
Agora vem me dizer que a Torre de Babel não continua em vigor e no auge da sua eficácia?
A dificuldade da comunicação está intrinsecamente associada à cada vez mais sofrível capacidade dos seres humanos em compreender o próximo e porque não, amá-lo. Se esta é a própria base do Cristianismo, penso que os cristãos se afastam dela na medida em que se aproximam do fundamentalismo e da intolerância. Não há comunicação eficiente sem o desenvolvimento de uma capacidade pessoal de compreender e de se colocar no lugar do próximo. Não haverá comunicação eficiente enquanto partirmos de um discurso monolítico que parte de premissas religiosas tendentes a impor a toda a sociedade um modo de viver que simplesmente pode não ser o que as outras pessoas acham certas. Dialogar com respeito às diferenças me parece que seja o maior desafio da comunicação do século XXI e talvez um desafio também para os cristãos que desejem seguir os ensinamentos de seu profeta.
ResponderExcluirDe fato, muitos cristãos vivem a intolerância e o fundamentalismo. Entretanto, creio que essa intolerância exista pela mesma razão que a sede de ter razão pelo discurso relativista: a vaidade. O cristão que não ama, o fundamentalista, o intolerante, se reveste de Deus e se acha acima de qualquer outra criatura.
ResponderExcluirPoderia, ao se revestir de Deus, revestir-se de todo seu amor e misericórdia para aceitar a todos como fez Jesus Cristo. Mas, não... Fazem mais papel de diabo mesmo, o acusador.
Gostei muito do comentário, mas creio que não é só essa a razão.