Conversa entre pai e filha

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              “Papai, o que é esse têzinho que tem pendurado nesse cordão do senhor?”
              “É um ‘tau’, a letra ‘t’ na língua grega. É a primeira letra da palavra humildade em grego. A palavra se fala ‘tapeinosis’. É o sinal da minha consagração a Deus.”
                “Como você conseguiu, papai?”
                “Foi com muito esforço. Passei por muita provação... Demorou, mas eu consegui.”
                “E por que é um “t”? Por que é assim?”
                “É assim, minha princesa, porque eu tenho de me lembrar de que eu não sou nada, e que tudo que tenho e sou, inclusive você, é graça de Deus.”
                “Por que é pra fora? Assim, poderia ser que nem o cordãozinho que eu uso, o que o senhor me deu, por dentro da roupa...”
                “É assim para que todos vejam, minha filha... Me obriga a dar testemunho. Pensa comigo:  Você tem a sua farda da escola... Aí, certo dia, você, traquina, decide dar uma saidinha da escola. Consegue fugir e logo é pega por um dos seguranças e ele leva você de volta. Na outra semana, você vai tentar de novo, só que dessa vez pega uma camisa, coloca escondido dentro da bolsa, e troca bem rápido depois que sai.”
                “Eu nunca faria isso, papai...”
                “Eu sei, meu amor, e é por isso que eu estou dizendo. Bem, porque você não estava com a farda, nenhum segurança pega, depois sua professora dá conta da sua falta e fica desesperada, liga pra mim e eu fico também...”
                A filha ri, como sempre faz, quando é seu pai fazendo uma piadinha, mesmo que seja a mais sem graça...
                “Mas, é assim... Se eu não usar, e vier a pecar em público, ninguém vai saber que eu sou um consagrado, não vão pensar mal de mim. E é por isso que eu uso, para mostrar o que eu sou e para dar testemunho do que eu sou.”
                A filha olha para o seu papai com os olhos brilhando de admiração, porque o herói dela quer ser santo. E o pai continua, só que agora um tanto inspirado.
                “Meu amor, eu sonho que, se for da vontade de Deus, você também venha a se consagrar um dia. Mas, eu quero que você escute isso que eu vou dizer e que nunca se esqueça. Promete que não vai?”
                “Pode dizer. Eu prometo, sim.”
                “Você vai ficar mais mocinha e vai entrar no grupo de oração de jovens. Lá você já vai ter de ser humilde. Talvez se apaixone mais por Jesus e vai querer entregar a vida a Ele. Se quiser, você vai ter de fazer todo o caminho, mas nunca vai se orgulhar, nem desse desejo.
                 Vai ser vocacionada e vai se preocupar em se fazer menor do que todos os que não são vocacionados. Depois, se entrar na comunidade, se nela for, vai ser postulante. Quando for postulante, vai se preocupar em se fazer menor do que todos os vocacionados. Depois, se tudo correr bem, vai se tornar discípula e vai receber um primeiro sinal parecido com esse que eu uso, mas vai se preocupar em se fazer menor do que todos os postulantes. Depois de muita luta e amadurecimento, vai chegar à consagração: minha filha, você vai se fazer menor do que todos esses. Se um dia, quem sabe, por graça de Deus, e eu rezo por isso, você chegar a fazer votos perpétuos, depois eu vou explicar direitinho como é isso... você vai se fazer menor do que todos, até mesmo os outros consagrados.”
                “Papai, isso é muito difícil.”
               “Quem disse que não, minha princesa? É difícil sim, mas, se quiser usar um sinal desse com toda sua dignidade, terá de ser assim.”

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