Desvario hipnótico

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Era uma vez um casal. Ela era Joaquina e tinha o sobrenome dele. Ele era hipnólogo, e tinha o sobrenome Fuentes. Eles se conheceram de algum modo, como acontece a todo casal, e por razões que a ciência não explica, creiam, apaixonaram-se.
Casaram-se algum tempo depois. A convivência foi ficando interessante. Todos os segredos da intimidade já revelados, todas as manias. Já tinham se acostumado um com o outro, de modo que seus defeitos perderam a vergonha e o respeito humano. A liberdade que tinham um com o outro já era plena e, talvez por isso, Fuentes resolveu abusar dela.
Cansado da tagarelice de Joaquina, resolveu ultrapassar os limites da moral dentro de casa. Certa vez, enquanto ela falava, falava e falava, cada vez com o tom de voz mais alto, ele resolveu pegar o controle remoto da televisão, apontou para ela e deu umas dedadas no botão de volume. Aconteceu o que se esperava que acontecesse, a voz dela diminuiu o tom para o que ele determinou e sua paz se estabeleceu até outra ocasião.
Fuentes abusou da liberdade e do respeito humano, diminuindo sempre o tom de voz da companheira. Já ela, insatisfeita com tudo isso, não deixou barato e, como não tinha potência, resolver irromper na permanência, na quantidade, e não parava de falar. Como resultado de todo “toma lá, da cá”, a paciência de Fuentes foi se esvaindo pouco a muito, até que desapareceu de vez.
Ultrapassando todos os limites do bom senso, e invadindo o terreno da intriga, da discórdia, da implicância, enfim, ele tentou o botão “mute”. Nada acontecia. Tentou diminuir até o volume zero e, para sua surpresa, ainda poderia escutar a sua voz imparável. Não suportava mais, estava ficando completamente louco com aquilo que provocara, até que finalmente invadiu este terreno, o da insanidade. Tapou os olhos da esposa, como fazia a todos a quem havia hipnotizado, desacordando-a e, deslizando para cima para baixo as pontas dos dedos indicador e polegar unidos sobre os lábios dela, disse em seus ouvidos: “Estou costurando sua boca. De agora em diante, você não poderá mais abri-la.”

Bateu as palmas das mãos uma só vez, para que ela acordasse e ele visse o resultado.
De fato, ela emudeceu. Mas eu me reservo a não pensar em quem matou quem no final da história.




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Morro pela minha vida

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O que de fato é a vida? Pouco já caminhei, pouco já pensei, e, portanto, pouco já aprendi sobre ela. Mas uma coisa eu já aprendi: aprendi a amar a vida.
Aprendi que a vida tem sentido, e esse sentido que alguns podem entender como instinto de sobrevivência, é o amor. Não há nada que nos dê mais força, mais sentido para tudo, do que viver não mais para si. Seja para uma pessoa só, seja para mais de uma, seja para a humanidade inteira, sair da caixa de espelhos nos dá força para enfrentar o mundo, enfrentar a escuridão, enfrentar o medo, enfrentar o mal.
Aprendi que a vida não é fácil, e como tudo que não é fácil, tem o sabor mais do que doce. Para viver de fato, só se pode fazê-lo com coragem. Ela não é para os covardes. Pois nela, precisamos superar e aprender com os próprios erros, descobrir e aprender a conviver ou até mesmo conseguir purificar os próprios defeitos, precisamos perdoar os erros dos outros, precisamos esquecer as tristezas do passado, precisamos reconhecer que aqueles que amamos não são ou não foram perfeitos e erraram, precisamos aprender a lutar.
Aprendi que para viver é preciso lutar, pois temos várias batalhas e vários adversários no meio do caminho. Às vezes a vida é uma batalha muito dura, às vezes não dá trégua. Às vezes não é por nossa culpa, mas às vezes temos parte nela, e podemos facilitar nossa vida nos preparando para as batalhas ou até mesmo não topando desafios para com os quais não podemos. Mas, o que não se pode mesmo é, dentro de um desafio, desistir. Se existe uma verdade é que, se por acaso andamos sozinhos, ou até mesmo, como alguns conseguem, pensamos sozinhos, na vida, não estamos sós, como ajudamos a alguém que amamos, sempre há alguém que nos ama, ou mesmo que tem um bom coração, para nos ajudar a percorrer esse caminho que às vezes tem tantas pedras. O grande motor da vida, que é o amor, nos concede a maior dádiva para vivê-la: nunca estar sozinho.
Aprendi, por fim, que somos imperfeitos e na grande parte da vida, não digo infelizmente, mas inevitavelmente, erramos. Evito a palavra infelizmente, porque às vezes uma grande felicidade vem de um erro, até um grande acerto mesmo pode vir de um erro. Por isso, devemos, é claro, sempre buscar o acerto, contudo, não devemos ter, em absoluto, nenhum medo de errar e, por conseguinte, nenhum temor de viver.



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O Livro e a América

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    Talhado para as grandezas,
    Pra crescer, criar, subir,
    O Novo Mundo nos músculos
    Sente a seiva do porvir.
    — Estatuário de colossos —
    Cansado doutros esboços
    Disse um dia Jeová:
    "Vai, Colombo, abre a cortina
    "Da minha eterna oficina...
    "Tira a América de lá".
    Molhado inda do dilúvio,
    Qual Tritão descomunal,
    O continente desperta
    No concerto universal.
    Dos oceanos em tropa
    Um — traz-lhe as artes da Europa,
    Outro — as bagas de Ceilão...
    E os Andes petrificados,
    Como braços levantados,
    Lhe apontam para a amplidão.
    Olhando em torno então brada:
    "Tudo marcha!... Ó grande Deus!
    As cataratas — pra terra,
    As estrelas — para os céus
    Lá, do pólo sobre as plagas,
    O seu rebanho de vagas
    Vai o mar apascentar...
    Eu quero marchar com os ventos,
    Corn os mundos... co'os
    firmamentos!!!"
    E Deus responde — "Marchar!"
    >
    "Marchar! ... Mas como?...  Da Grécia
    Nos dóricos Partenons
    A mil deuses levantando
    Mil marmóreos Panteon?...
    Marchar co'a espada de Roma
    — Leoa de ruiva coma
    De presa enorme no chão,
    Saciando o ódio profundo. . .
    — Com as garras nas mãos do mundo,
    — Com os dentes no coração?...
    "Marchar!... Mas como a Alemanha
    Na tirania feudal,
    Levantando uma montanha
    Em cada uma catedral?...
    Não!... Nem templos feitos de ossos,
    Nem gládios a cavar fossos
    São degraus do progredir...
    Lá brada César morrendo:
    "No pugilato tremendo
    "Quem sempre vence é o porvir!"
    Filhos do sec’lo das luzes!
    Filhos da Grande nação!
    Quando ante Deus vos mostrardes,
    Tereis um livro na mão:
    O livro — esse audaz guerreiro
    Que conquista o mundo inteiro
    Sem nunca ter Waterloo...
    Eólo de pensamentos,
    Que abrira a gruta dos ventos
    Donde a Igualdade vooul...
    Por uma fatalidade
    Dessas que descem de além,
    O sec'lo, que viu Colombo,
    Viu Guttenberg também.
    Quando no tosco estaleiro
    Da Alemanha o velho obreiro
    A ave da imprensa gerou...
    O Genovês salta os mares...
    Busca um ninho entre os palmares
    E a pátria da imprensa achou...
    Por isso na impaciência
    Desta sede de saber,
    Como as aves do deserto
    As almas buscam beber...
    Oh! Bendito o que semeia
    Livros... livros à mão cheia...
    E manda o povo pensar!
    O livro caindo n'alma
    É germe — que faz a palma,
    É chuva — que faz o mar.
    Vós, que o templo das idéias
    Largo — abris às multidões,
    Pra o batismo luminoso
    Das grandes revoluções,
    Agora que o trem de ferro
    Acorda o tigre no cerro
    E espanta os caboclos nus,
    Fazei desse "rei dos ventos"
    — Ginete dos pensamentos,
    — Arauto da grande luz! ...
    Bravo! a quem salva o futuro
    Fecundando a multidão! ...
    Num poema amortalhada
    Nunca morre uma nação.
    Como Goethe moribundo
    Brada "Luz!" o Novo Mundo
    Num brado de Briaréu...
    Luz! pois, no vale e na serra...
    Que, se a luz rola na terra,
    Deus colhe gênios no céu!...

    Castro Alves

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A força motriz da vida

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Eu, que vivo num mundo marcado por promessas e expectativas de felicidade, muito acreditei nelas. Eu, que vivo num ambiente em que as pessoas, reduzindo-se a animais, destroem-se umas as outras a fim de sobreviver, acreditando ser mais forte. Eu, que nasci e cresci em meio a erros e decepções, que necessitava do crédito dos outros para acreditar em mim, pensei em desistir. Contudo, Deus, em sua secreta liberdade, escolheu-me para ser depósito da sua força motriz.
Essa força vem primeiro pela fé. É ela que faz alguém perder o medo da derrota e parar, mesmo estando na última volta, quando o motor do carro do seu corpo ou da sua mente esquenta demais, ao invés de possivelmente pôr tudo a perder. É ela que dá a humildade suficiente de abdicar do orgulho do topo da montanha, da vitória perfeita, por saber que esta virá mais a frente, e sem riscos de desmaios. É essa fé que permite que alguém pule no abismo, para assim descobrir que tem asas, quando muitas vezes não existir outra opção.
Depois pela esperança. Por ela que se pode aguardar a luz aparecer depois da noite, porque se sabe que tudo passa. Por ela que podemos crer que as coisas podem mudar, que nós podemos mudar, que o nosso modo de ver o mundo pode mudar, e que as coisas não serão mais assim tão pesadas, tão difíceis, tão tristes e tão escuras. É, principalmente, por ela que os sonhos existem e continuam de pé, é por ela que se pode imaginar um reflexo diferente no espelho, é por ela que se pode visualizar a realização remota, distante.
E, por fim, pelo amor. É ele que move a fé e a esperança, que faz alguém se esquecer a ponto de, pelo tempo que for necessário, não viver por si, mas por aqueles a quem ama. É ele que nunca permite o desistir, é ele que dá força para continuar, para seguir, para ficar de pé. É pelo amor que a morte se torna metáfora e a vida, realidade. É ele que é capaz de perdoar os erros e as decepções que alguém carrega no peso da memória, tomar a rédea da própria vida, sabendo que é o único diretamente responsável pela própria felicidade, e deixar o passado para trás, quando, amando também a si mesmo, perdoa os próprios erros do passado e se levanta para construir um futuro melhor e cheio de bondade, apesar dos inevitáveis erros.
É dessa força que o mundo precisa, a força da fé, da esperança e do amor. Acontece que o mundo sem amor, não se preocupa em mudar; não se preocupando em melhorar, paralisa e desespera; e, quando desespera, perde a fé. Perdendo as três, perdem a alma, tornam-se pior do que animais e vivem unicamente atrás do próprio prazer e satisfação que, por infelicidade, chamam felicidade, e vão pouco a pouco se matando.



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Eu, brasileiro, bipolar

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Sou um brasileiro bipolar. Vivo num país que hora amo, hora odeio, hora admiro, hora repudio, e do qual hora me orgulho, hora me envergonho. Aqui temos a pacificidade que culmina na subserviência, aqui temos a insurreição que termina em demência, aqui temos o talento que finda em desperdício, aqui temos a solidariedade que acaba em comunismo.
Somos um povo pacífico, quase sem guerras. Um povo que aceita as adversidades com brandura, com mansidão, mas que ao mesmo tempo, não se rebela com a corrupção. Parecemos preferir a injustiça à confusão, ao tumulto. Isso, afirmo por mim, que grito aos quatro cantos a revolta, mas não ponho de modo algum meus pés num protesto.
Queremos ser os paladinos da moralidade e da justiça, mas nem sabemos, na verdade, como fazê-lo. Alguns dos nossos afirmam, por exemplo, que os Estados Unidos são o câncer do mundo, quando devemos a eles poder dormir sem peso na consciência, porque nos compraram por um preço mais caro do que a Alemanha na Segunda Guerra. Misturamo-nos sempre com o que há de pior. Não temos autonomia intelectual, não possuímos cultura suficiente para discernir o bem do mal, para distinguir a verdadeira linha, corrente a seguir. Outrora foi o nazi-fascismo traduzido em nacionalismo, agora é o “amor” pelos pobres reduzido a comunismo.
Nós, brasileiros, conseguimos, sem vergonha alguma, em nome da insurreição ao “império” norte-americano, nos unir com o que há de mais vergonhoso. Preferimos o BRICS, com a Rússia da homofobia e do eurasianismo, a China do comunismo, das meninas que não podem nascer, das piores lesões aos direitos humanos, e também com a Índia dos shudras. Temos a ousadia de nos unir, em temos de governo socialista, com Fidel Castro, Nicolás Maduro, Evo Morales, e a lista está só no começo. Somos verdadeiras antas.
Tão idiotas que somos, que confundimos zelo pelos pobres com socialismo. Ora, se fosse verdadeira nossa preocupação e compaixão para com os pobres, tomaríamos como pessoal a responsabilidade. Disponibilizaríamos mais postos de trabalho, partilharíamos mais do nosso precioso dinheirinho. Entretanto, somos covardes, frouxos, hipócritas, e cedemos a nossa responsabilidade ao Estado. Preferimos financiar o ócio dos pobres, dando-lhes dinheiro gratuito, do que fomentar a dignidade do trabalho e o mérito, o que resultaria no enriquecimento e melhoramento da qualidade de vida de todos, sem distinção.
Somos, por fim, um verdadeiro desperdício de talento. Um povo inteligentíssimo, que tem a incrível capacidade de se destacar em tudo a que se dedica, que joga tudo que tem no lixo e se nivela por baixo. Fazemos tudo às avessas! Quando deveríamos melhorar a educação das escolas públicas, para por os mais pobres em pé de igualdade com os ricos que sempre ocupam as vagas das universidades publicas, preferimos as cotas, preferimos rebaixar o nível da academia que deveria ser o trunfo do futuro do nosso país. Odiamos, por inveja coletiva e ressentimento social e intelectual, tudo aquilo que é mais elevado, e cortamos nossas pernas para amalgamarmo-nos aos pouco dotados. Atentamos contra a própria natureza.
Diante desse quadro vergonhoso, creio que deveriam ter, os nacionalistas do tempo do Estado Novo, sucesso ao tentar que a anta fosse o animal representativo do país. Seria totalmente coerente. Eu, por outro lado, preferia que fosse a onça pintada, mas seria muito injusto.





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Sobre a igualdade

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Andam dizendo por aí que somos todos iguais. Queria saber se quem diz é cego, surdo, ou o que mais. Vamos ver se isso é verdade:
Uns são belos, outros menos; uns fortes, outros menos; uns gordos, outros menos; uns são altos, outros menos; uns são competentes, outros menos; uns são virtuosos, outros menos; uns são mais dispostos, outros menos; uns tem mais reflexos, outros menos; uns tem mais pontaria, outros menos; uns tem mais destreza, outros menos; uns tem mais determinação, outros menos, uns tem mais criatividade, outros menos; uns tem mais sociabilidade, outros menos; uns tem mais inteligência, outros menos.
Outros, já reconhecendo esta verdade, querem fazer de todos iguais forçosamente, rebaixando o nível da humanidade. Se não fosse suficiente, querem usar da força do Leviatã, o Estado, para desfazer essas desigualdades, indo de encontro com a própria natureza, para favorecer uma suposta harmonia na sociedade. No final das contas, todo mundo acaba perdendo a preciosa liberdade.
A liberdade, por outro lado, deveria ser usada em benefício das diferenças, porque claro, que se ninguém é igual, todo mundo se completa. O forte deveria auxiliar o fraco, o competente servir o incapacitado, o criativo encantar o prático, o virtuoso corrigir o viciado, o mais ativo animar o mais relaxado, o resoluto liderar o mais pacato, o determinado motivar hesitante, o sociável conversar com o tímido, o belo fazer o feio enxergar a verdadeira beleza, e o inteligente honesta e humildemente ensinar o tolo.
Mas por que teria o ser humano essa liberalidade, em vez de se favorecer de sua desigualdade para estabelecer sua superioridade perante os demais? Porque, apesar de tudo isso, esse ser tão unicamente infinito tem uma essencial igualdade: são todos filhos de Deus, providos de igual e inestimável dignidade.



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Porque o Brasil ama Lula

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Quedei-me hoje a pensar porque o ex-presidento Luís Inácio Lula da Silva é tão amado no Brasil. Não consegui demorar tanto no raciocínio, pois verifiquei ser bem evidente que ele é a cara do Brasil, e o brasileiro acaba por amar aquilo que o caracteriza melhor. Para esclarecer meu pensamento, destacarei algumas características do molusco.
Ele é ignorante: boa parcela do Brasil tem verdadeiro asco pela cultura, de cultura aqui se entenda a qualidade daquilo que é culto, melhor dizendo, então, brasileiro detesta erudição. Quando o brasileiro não tem horror a ela, tem inveja de quem tem. Assim, acaba-se por gostar mais daquilo que é inculto, como o Lula, que é assumidamente ignorante e detesta ler.
Ele é desonesto: o cara conseguiu se safar do mensalão, e fez de conta que não sabia de nada. O que não sei se conseguirá com esse novo escândalo do novo mensalão, o da Petrobrás, o que faz dele mais um grande criminoso. Se não bastasse tudo que faz blindado e às escondidas, ele pratica diversos atos de desonestidade política, bem às claras, mas o brasileiro, idiota, não percebe. Ele roubou, por exemplo, o Bolsa Família, de FHC, transformando nesse programa compra-voto os Fome Zero, Bolsa Escola e Vale Alimentação; ele roubou também a CGU, criada no governo FHC por medida provisória com o nome de Corregedoria Geral da União e adotou como criação sua, chamando-a de Controladoria Geral da União. O pior de tudo é ter roubado o crescimento econômico brasileiro como se fosse culpa e responsabilidade dele, quando, ao contrário, hoje é que temos as consequência de seu desgoverno. Não bastasse dissecar a candidata Marina Silva em mentiras e dizer depois que a ama. Ele é o típico desonesto descarado brasileiro, que acaba sendo amado por todos.
Para verificar o pior defeito do brasileiro, que é terrivelmente hipócrita, precisaria conhecer a intimidade do molusco, o que, bendito seja Deus, não conheço, de modo que a sua figura pública já me causa nojo. Nem quero, tampouco, fazer uma análise aprofundada do assunto. Quis, na verdade, só dizer, de maneira mais elaborada, que o Brasil que ama Lula, o faz, porque ele é a cara deste Brasil, e eles se merecem.


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A reforma que realmente precisamos

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personalityA mente de boa parte da população brasileira está ludibriada, ilusionada por esta possibilidade de reforma política. Creem ser a solução de todos os problemas pátrios, a tranca do baú do tesouro que é o Brasil contra os piratas da corrupção. Será que já não temos bons dispositivos na lei? Ou, se são ineficazes, será que vai resolver alguma coisa?

A primeira pergunta é: Quem são os corruptos no Brasil? São os políticos? São os professores? São os policiais? São os juízes? Os advogados? Os promotores? Os médicos? Quem são os corruptos?

Na escola, são os alunos, que fazem trabalhos copiados, que colam na prova, que compram monografias. Nas ruas, são os motoristas que furam a fila de carros, que ultrapassam pelo acostamento, sempre tentando ter qualquer vantagem sobre os outros e nunca querendo ficar sujeito às mesmas dificuldades que os outros. No banco, é o cliente que fura fila, ou mesmo que dá um jeitinho de ser atendido antes, por ter algum conhecido no caixa ou funcionário do banco. Os impostos? Sonegar. O voto? Vender. E como empresário? Caixa dois.

Na verdade, corrupto é todo brasileiro. Quem é criado para ser honesto, vive nervoso, irritado, com o tanto de injustiça que vê só ao sair de casa. É chamado de ingênuo, inocente... Porque o normal, o certo, o ideal, é ser desonesto como todo mundo. E ainda tem de desconfiar de todo mundo, em viver em um estado paranoico, neurótico, esquizofrênico, onde o mundo conspira contra si. Tem de trabalhar em dobro, estudar em dobro, ter paciência em dobro, ser talentoso em dobro.

E como confrontar esses dados facilmente observáveis e definitivamente indiscutíveis com a grande maioria cristã? Isto é o pior de tudo, além de intrinsecamente corrupto, o brasileiro é incrivelmente hipócrita. É um povo inculto, invejoso e sem educação – alguém pode vir aqui me acusar de me achar melhor que o brasileiro mesmo sendo brasileiro, e digo que está certo, sou melhor sim. Fui muito bem educado por minha mãe.

Então, qual é a solução? Essa reforma política vai mudar alguma coisa? O brasileiro vai aprender a votar em gente honesta? Duvido. O Brasil é um país sem futuro e condenado a uma guerra civil que chegará em breve, caso as coisas não comecem a mudar.

A reforma que precisa ser feita não é na política, é no brasileiro. Não digo que precisamos de um dilúvio, porque não sou judeu, mas se aparecesse alguém bem intencionado que fizesse uma verdadeira revisão de todo sistema educacional sem querer saber da existência de Paulo Freire, aí as coisas podem começar a mudar. A mudança que o Brasil pode ter é daqui a pelo menos uns vinte ou trinta anos, num país dos nossos filhos e netos.

Já que isso não vai acontecer, já que o brasileiro não pensa no futuro, já que nós só queremos políticas imediatas e de resultados prontos, o país, cada vez mais em derrocada moral, tende a atingir níveis abissais. Infelizmente somos assim, gigantes pela próprio natureza e nanicos pelo próprio povo.

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A inconstitucionalidade do plebiscito para assembléia constituinte derivada e a impossibilidade do poder constituinte originário derivado

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Brasil 3dfoto3d.blogspot.com (3)Como brasileiro tem memória fraca, provavelmente meus caros leitores, assim como eu, não se recordavam de que esta não é a primeira vez que o governo faz uma proposta de constituinte exclusiva para reforma política. Uma proposta intrinsecamente contraditória e flagrantemente inconstitucional, que o PT vem trazendo com cada vez mais forças, só que agora com uma propaganda relâmpago e massiva de pebiscito assembleia constituinte, que leva as pessoas a dizerem “sim” sem ao menos saberem quanto absurda e golpista é esta proposta.

Em 2006, Lula consultou a OAB para enviar uma proposta de emenda constitucional propondo uma assembleia constituinte exclusiva para reforma política. Três anos mais tarde, essa proposta é apresentada pelo deputado Marco Maia, também do PT. Trata-se da PEC 384, que tinha como ementa convocar assembleia constituinte para revisar os dispositivos da Constituição Federal relativos ao regime de representação política. A última vez foi ano passado, logo depois das manifestações de junho, quando a presidente Dilma lançou a proposta, até que agora, entre os dias 1º e 7 de setembro, o terror bate novamente à porta de quem conhece um pouco de Direito e de PT.

A assembleia constituinte é de caráter revolucionário, pois ela rompe totalmente com o sistema anterior vigente e estabelece um novo. A Constituição Federal de 1988 foi assim, foi posterior ao fim do regime militar, findado em 1985, tendo a Assembleia Nacional Constituinte iniciada em 1987, resultando na bela Carta Política que temos, firmando a democracia e buscando deixar longe tudo que se passou anteriormente, principalmente garantindo os direitos fundamentais. Desse modo, a assembleia, que é revolucionária, tem amplos poderes, trata-se do poder constituinte originário, que é ilimitado, autônomo e incondicionado.

Depois disso, tem-se o poder constituinte derivado, que é decidido e limitado pelo originário. Assim aconteceu aqui no nosso ordenamento jurídico-constitucional. O legislador constituinte originário delimitou as possibilidades de reformas da Carta, de forma que num primeiro momento, o art. 3º do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) previu que após cinco anos de sua promulgação, a Constituição poderia ser revisada pelo voto da maioria absoluta dos membros do congresso nacional, o que foi feito, dando assim origem às quatro primeiras emenda. Findado esse prazo foram vedadas novas revisões. Repito: foram vedadas novas previsões.

A partir disso, a Constituição não pode ser mais revisada, podendo ser tão somente reformada em seu conteúdo por meio de emendas constitucionais, aprovadas pelas duas casas do Congresso Nacional, por três quintos dos votos dos respectivos membros (art. 60, §2º, da CF). Essa é a limitação formal. Existe ainda a limitação material, quanto ao conteúdo, de forma que as emendas podem versar, desde que não tendam a abolir seu conteúdo, sobre forma federativa do Estado; sobre o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos poderes e os direitos e garantias individuais. Assim foi o entendimento do STF, quando, em 1997, decidiu que “Ao Poder Legislativo, federal ou estadual, não está aberta a via da introdução, no cenário jurídico, do instituto da Revisão Constitucional” (ADI 1.722-MC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 10-12-98, DJ de 19-9-03).

Entretanto, em virtude do aparelhamento do Estado praticado pelo governo do PT, não se é de nada estranho que, em posterior julgamento, o Supremo Tribunal Federal venha a ter entendimento diverso e afirme ser plenamente constitucional o instituto da revisão, aprovando um plebiscito para dar origem a um “poder constituinte originário derivado”, o qual pode, sem mais nem menos, simplesmente por ser assembleia constituinte, dar a si plenos poderes e, em vez de fazer uma “simples” inconstitucional revisão da constituição a fim de reforma política, pratique um verdadeiro Golpe de Estado sem armas.

É de muito se estranhar, portanto, que o partido que tem os maiores escândalos de corrupção da história desse país, haja vista que não é somente o “mensalão”, que envia dinheiro para Cuba, que faz propaganda política para Hugo Chavez e posteriormente Nicolás Maduro, que anda de mãos dadas com ditadores, recebendo-os de braços abertos no nosso território, que permitiu o índice de homicídios alcançasse nível estarrecedor de 70 mil ao ano, que rebaixou a educação brasileira a uma das piores do mundo, que prende toda uma população mais pobre pela barriga, por meio de medidas assistencialistas totalmente eleitoreiras e, para tentar dar cabo a esta lista, instrumentaliza a própria polícia federal para destruir reputações e utiliza dos próprios computadores para fomentar informações falsas sobre adversários políticos, tenha qualquer boa intenção que seja com essa assembleia constituinte derivada.

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Assembleia constituinte? O quê?

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Neste mês de setembro, os partidos alinhados à esquerda e seus militantes estão preparando uma propaganda em massa para que seja realizado um plebiscito para reforma política. Desde já quero avisá-los, caros leitores, que se trata de uma armadilha. O que carece de reforma no nosso sistema político pode ser alterado por lei ou emenda constitucional. Se eles desejam fazer uma assembleia constituinte é porque querem mudar o texto inalterável da Constituição Federal, o que é flagrantemente um perigo!

A nossa Carta Magna é recente, de 1988. É uma carta política bela, inclusive muito mais avançada culturalmente do que a nação que rege, de modo que devemos, no lugar de alterá-la ou derroga-la por meio de outra, cumprir o seu texto de modo integral, o que não acontece de forma alguma. Ela contém, para quem não conhece do assunto, muitas normas de caráter programático, isto é, que estabelece um programa a ser cumprido pelo poder público, como por exemplo os constantes do artigo terceiro, que estabelece em um dos seus incisos como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil a erradicação da pobreza e da marginalização e redução das desigualdades sociais e regionais.

Para proteger o nosso ordenamento jurídico de governantes loucos, irresponsáveis, que desejarem submeter-nos a um processo revolucionário, o legislador constitucional estabeleceu alguns dos seus dispositivos como cláusulas pétreas, ou seja, não podem ser alteradas nem por emenda constitucional. Em virtude disso, qualquer projeto que enseje nova assembleia constituinte, é porque deseja alterar a Carta Maior no seu texto inalterável. Acontece que tais normas não são imutáveis por mero arbítrio do legislador constituinte originário. Não, assim foram consideradas porque desejam proteger tais preceitos que se encontram dispostos no §4º do art. 60 da carta. Vejamos:

§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

Ora, não se vê que é de totalmente má fé qualquer proposta de assembleia constituinte? Há de se alterar a forma federativa do Estado para fazê-lo? Quem deseja alterar a forma federativa, é porque deseja centralizar o poder no governo presidencial, ou ditatorial, a fim de acabar com a divisão entre estados-membros, o que fortaleceria de modo inimaginável um futuro governante, fato que é absolutamente necessário em Estados Socialistas.

Porque há que se acabar com o voto direto, secreto, universal e periódico? Tudo que se intentar contra isto se trata de atentado à democracia, o que deve ser prontamente rechaçado. Da mesma forma, é a separação dos poderes, que limita o excesso de cada um dos lados, de modo que, como dizem os americanos, é um sistema de freios e contrapesos, garantia absoluta de um Estado Democrático de Direito. Qualquer um que atente contra a separação dos poderes, atenta contra a democracia.

Por último, todos os direitos e garantias individuais. Ressalte-se que os direitos e garantias individuais são tanto direitos positivos, de forma que o Estado deve dar o direito ao indivíduo, como em forma de direito negativo, quando o Estado deve se abster de fazer algo a fim de respeitar o cidadão. Quanto a isso não há o que se falar, porquanto trata-se uma conquista da humanidade inscrita principalmente na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, de modo que a Constituição Federal de 1988, abraçando-a, garantiu diversos direitos inalienáveis de todos os homens e mulheres desta Nação.

Está evidente, portanto, que devemos fazer uma contrapropaganda deste terrível plebiscito para que haja nova assembleia constituinte, haja vista que é toda uma nação que ignora o que é sistema político que vai votá-la. Não, não temos um mínimo de civilidade para realizar esta assembleia, o que nos leva a mais do que suspeitar, a ter plena convicção de que se trata de uma projeção comunista, que deseja sorrateiramente, e usando de termos absolutamente vagos, fazer uma revolução e derrubar o regime constitucional vigente, que, destaque-se, é excelente.

Entre no link abaixo e veja quem iniciou todo esse projeto:

http://www.plebiscitoconstituinte.org.br/noticia/o-pt-e-o-plebiscito-popular-da-constituinte











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A autoalienação cristã, a falta de autocrítica e o desserviço à Igreja

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censurado-proibidoAcontece em rincões espirituais muito do que acontece em lugares como a Coréia do Norte. A população de lá, fechada em seu próprio país, é alheia, alienada, quanto ao que acontece no resto do mundo. Da mesma forma, em alguns terrenos católicos, o fechamento é tão grande que alguns princípios por estes defendidos sustentam-se tão somente internamente, porque se alguém abrir um pouco os olhos quanto à ordem externa, vai entrar em sérios conflitos lógicos. Resta a dificuldade de em quem acreditar.

Alguns grupos defendem a oração, na forma parada, como condição sem a qual não se pode sobreviver, pois a pessoa, quando não reza, torna-se capaz das piores atrocidades e, pasme quem entender, qualquer maldade que a pessoa comete é só por uma razão: porque não rezou. Se alguém apontar um comportamento incongruente em tal ambiente, e reafirmando a vida de oração da pessoa, logo se é respondido que a pessoa pensa que rezou, mas de fato não rezou. Não quero aqui diminuir a importância da vida de oração, ai de mim, mas qual a importância que razão, moral, ética e livre arbítrio possuem para essas pessoas?

O resultado disso é um cristianismo utilitarista às reversas, quando, em vez de se dar prioridade para aquilo que é essencial e fundamental do comportamento cristão, dá-se importância ao extraordinário. Um personagem da Disney de lá diria assim: “Eu faço o extraordinário, somente o extraordinário, o necessário é demais”. Perde-se, assim, aquilo que se entende por virtude da religião e mais, qualquer lógica básica que se tem sobre moralidade. Eis que é importante ter horas de oração diárias além da indispensável eucaristia, mas não simplesmente amar e tudo aquilo que o amor cristão comporta.

Se o Japão, de povo tão educado, tivesse, ao contrário dos 8% de cristãos, os 84% do xintoísmo, os membros desse grupo afirmariam ser em virtude unicamente da religião. O Brasil, ao contrário, tem por volta de 86% de cristãos e é um absurdo moral. Diante desses fatos, notamos que alguma coisa aí está errada. A religião, portanto, não é o que importa aí, a vida de oração não é o que importa aí, a quantidade que se consome de eucaristia, que se crê que se consome dignamente tão somente porque crê que vive a castidade não é o que importa aí. O que importa aí é a educação.

A racionalidade, portanto, fica reduzida a nada, porque impõe questionamentos, e se torna crime ser inteligente. É o cristianismo que não precisa ser destruído por fora, porque se destrói a si mesmo por dentro e só é sustentado pelo Espírito Santo e o Cristo que é a cabeça, porque de seus adeptos não pode depender. De seus adeptos, inclusive, é o que se pode descrer, o que é confirmado pelo próprio Catecismo da Igreja Católica quando diz que “na gênese e difusão do ateísmo, ‘grande parcela da responsabilidade pode caber aos crentes, na medida em que, negligenciando a educação da fé, ou por uma exposição enganosa da doutrina, ou por deficiência em sua vida religiosa, moral e social, se poderia dizer deles que mais escondem do que manifestam o rosto autêntico de Deus e da religião’”.

Infelizmente, acabamos por nos deparar com melhores cristãos ateus do que crentes. Infelizmente ficamos com a fé diminuída em determinados movimentos, infelizmente somos enfraquecidos em nossas virtudes espirituais, por, por falta de ver, pouco crer naquilo que ela deveria ter de eficácia.

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Bolsa ignorância: o analfabetismo político no Brasil e suas consequências

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mare

Se todos os males que já possuímos fossem poucos, ainda temos o pior e mais devastador deles: o analfabetismo político. A massa da população não sabe sequer o que é política, o que é ideologia e realidade, espectro político e, ainda para tornar a situação mais estarrecedora, quando alguns pensam entender do assunto é por uma visão marxista totalmente distorcida da realidade. Tudo isso reflete na terrível qualidade dos nossos políticos.

Diante de um quadro em que pessoas de formação superior afirmam que liberalismo é quando tudo faz parte da iniciativa privada, inclusive educação, segurança e saúde, estamos diante de um quadro de analfabetismo político grave. Em um país em que, mesmo com todos os insucessos e crueldades socialistas ao redor do mundo, permitem que todos os principais candidatos à presidência da República sejam alinhados à esquerda, constata-se que quase totalidade da população é quase que totalmente alheia à realidade das coisas.

Pelo que se ensina nas escolas e ao redor do país, tornou-se senso comum, para felicidade infernal de Antonio Gramsci (quem 95% dos leitores não sabem quem é, ou acerca de quem tem uma visão ingênua), que o socialismo é a solução para todos os males brasileiros. Estamos diante da terrível situação de importar médicos de Cuba sem saber como é um hospital cubano, e olha que é ensinado pelas quatro paredes escolares que a medicina cubana é das melhores do mundo. Apagamos totalmente da nossa mente qual é a razão do verdadeiro sucesso dos países mais desenvolvidos do mundo, dentre os quais se pode citar Japão, Estados Unidos, Austrália, Canadá, Alemanha, Coréia do Sul, que, pasmem, nenhum deles é socialista, mas, ao contrário, rechaçam essa ideologia a ponto de não permitirem a entrada de palestrantes dessa utopia em seu território, como aconteceu este ano em terreno norte-americano.

É nesta situação que vivemos: a grande massa não tem nenhuma formação política e elege seu candidato por todas as razões possíveis que não são, de modo algum, analisar as possíveis consequências da vertente política do candidato, de suas promessas, de sua história política, mas, absurdamente ao contrário, vota por sua beleza, pelo seu poder, pelo que pode lhe fazer para obtenção de vantagem única e estritamente pessoal, porque fala melhor, porque é mais engraçado, enfim, por qualquer razão inaceitável.

Conjuntura que se agrava, quando nos deparamos com a realidade de que a maioria dos candidatos também se encontra nessa situação. Tanto com relação a não saber absolutamente nada sobre política quanto por ter visão totalmente alheia à realidade deturpada por pseudo-graduações e pós-graduações de humanas que fazem papel, em vez de criar profissionais e intelectuais para a construção da nação, de formar militantes e idiotas úteis para a destruição do país e propagação da ideologia que mais matou pessoas em toda a história, e que não é a nazista.

Tudo isso se torna estarrecedor, quando analisamos a combinação e a concorrência destes fatos numa visão prospectiva, isto é, enquanto analisamos o futuro para o qual o nosso país se encaminha quando pomos todos estes eventos sobre a mesa.

Existe esperança?

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O espelho

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Picasso-GirlMirrorCerta noite eu tive um sonho. Sonhei que morria e que logo após a morte encontrava-me diante de um espelho.

Aquele espelho era diferente de todos que já tinha visto, pois ele não refletia minha imagem, mas minha alma nua. Sim, eu tinha morrido e, sem corpo, não tinha algo material que o espelho pudesse refletir, dessa forma era eu, verdadeiramente, sem disfarce, que ali encontrava reflexão.

Fui envolvido por uma série de sentimentos. Decepção, tristeza, medo, vergonha. Tive vergonha de que alguém me visse feio como eu verdadeiramente estava, tive medo de não poder me juntar no paraíso com as almas belas, fiquei triste por achar que iria para o inferno e, enfim, fiquei decepcionado comigo mesmo, por todo tempo perdido sem perceber minha imagem mais autêntica, a interior.

Meu rosto e maquiagem já não podiam disfarçar o ódio que eu sentia, a falta de perdão. Tudo era ali muito bem representado, inclusive minhas perversões. Meu orgulho me tornava um ser fraco, e meu egoísmo raquítico. Minha alma era impressionantemente fraca.

Fui tomado por um desespero, já não conseguia ver nada de bom em mim, até que apareceu um anjo do meu lado e eu percebi que tudo era um sonho.

Felizmente acordei, e graças a esse sonho, de agora em diante, posso me prevenir de que ele se torne realidade.

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A maldade do dinheiro

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devil-angel-money-e1327258650523Algumas pessoas dão liberdade a objetos inanimados, atribuem maldade a coisas e perversidade a ficções jurídicas. “O dinheiro é mau”, “as armas geram violência”, “o capitalismo é maléfico”. Parece que parcela da humanidade procura, de todas as formas, fugir da responsabilidade dos próprios atos e da consequência destes.

Será que o dinheiro é mesmo mau? Se eu considerar o dinheiro como sendo algo essencialmente mau, é mesmo que eu considerar uma inteligência superior fundamentalmente má. Da mesma forma que um gênio pode usar seu potencial intelectual para o mal, um bilionário pode usar sua fortuna para o mal. Ora, um privilegiado pela sua capacidade cognitiva pode fazer um bem imenso à toda a sociedade, da mesma forma um afortunado.

Da mesma forma são as armas. Coincidentemente, os países desarmados são os mais violentos do mundo. Não é possível que as autoridades que fomentam o desarmamento tenham boas intenções, isto porque os que as usarão para delinquir não comprarão armas de forma legal, ao contrário das pessoas que usarão para a sua defesa. Pior, nesses países desarmados, a população de boa vontade ficou, numa consequência imediata, sem possibilidade de defesa, e assim, os delinquentes sentem-se sem nenhuma ameaça. E é exatamente isso que se pode concluir, a arma em si mesmo não é um mal, mas ela é um mal em potencial, assim como um bem em potencial, quando usada para impedir uma agressão injusta. Se a Polônia pudesse voltar no tempo e ser bem armada contra a Alemanha nazista, talvez o fizessem.

Da mesma forma o capitalismo. Quantas vezes não ouvi falar que o dinheiro é ruim? Em território socialista, como estão se transformando cada vez mais o brasileiro, é comum pensar que o dinheiro é a causa da criminalidade. Isso é um completo absurdo lógico, contrariado prontamente pelos mais óbvios fatos constantes em países como Nova Zelândia, Austrália, Canadá, entre outros que possuem um mercado livre.

O que não se enxerga, na verdade, é o quanto o brasileiro é mal educado e essa é a única origem do caos em que aqui se encontra. Mal educado, desonesto, corrupto. Ser uma pessoa de bem neste território infame cada vez mais gera infelicidade, e a inevitável necessidade de também ser fera sempre vem à tona. Advogados mentirosos, políticos corruptos que governam para si, médicos sem nenhum interesse na vida humana, juízes que se vendem, engenheiros preguiçosos, empresários exploradores, trabalhadores venenosos, e por aí vai.

A culpa é do dinheiro? É de quem? A culpa é dos pais!

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Mania de profeta

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MadnessNão existe perigo maior quando alguém confia demasiadamente num além de si mesmo, ou excessivamente em si. Ainda pior é quando excede a confiança em si mesmo pelo pressuposto do além de si. Este é o fanático religioso que subestima o uso da razão e a reflexão ética e moral em prol de uma realidade sobrenatural que, não racionalizada, não se protege diante de uma vaidade impossibilitada de ser percebida e curada, da sua imaginação ou até mesmo da sua loucura.

Quem teve a oportunidade de ler biografias de santos místicos, depara-se com muitas perseguições por eles sofridas, muitas provações, pessoas que não acreditavam que eram eles canais sobrenatural da voz de Deus e das mãos de Deus. Hoje qualquer um que se considere místico e o mundo que respeite. Deus lhes fala por meio da oração, o que obviamente é possível, só que eles não usam nenhum freio da razão, nem muito menos utilizam o sobrenatural como recurso último, diante de toda Palavra Revelada e da sabedoria da doutrina da Igreja e até mesmo do bom senso. Fala-se em nome de Deus e sobre si dá-se autoridade quase papal, quando em cada palavra do fanático tem um “ex cathedra” embutido.

Em alguns níveis, a ilusão sobrenatural sem freio alcança níveis tão pérfidos, que a pessoa não dá autoridade diretamente a si nem confia diretamente em si mesma, mas se concede a autoridade sobrenatural divina por se considerar uma pessoa iluminada, seja por essência, seja pela prática. Dificilmente considera-se iluminada por razões naturais, porque a própria família já lhe daria o freio chamando-lhe de louca (pobre da pessoa que não der ouvidos), mas acaba por se considerar em razão de uma autoridade espiritual que lhe é concedida mediante a consagração de sua vida. Quem nunca se deparou com pessoas opinando erroneamente sobre sua vida, ou metendo-se, num ato de acreditada razão profética, lançou palavras totalmente enganadas? A culpa não é de Deus.

O que acontece? Essas pessoas, talvez por uma má formação ética, moral, por um déficit de conhecimento humano ou até mesmo por incapacidade cognitiva, esquecem o freio da razão, do natural, do lícito óbvio, para declinar-se em suas elucubrações sobre a verdade das coisas, e tudo isso sem um freio racional, sem um simples questionar-se da origem real das moções que recebe e da sua correspondência com a verdade. Muitas vezes, no maior absurdo dos absurdos, confia tanto na sua autoridade sobrenatural que confronta a verdade dos fatos, interpretando ao seu “iluminado” modo, que passa por cima da realidade. Beira, se não já alcançou, a loucura. Por outro lado, e de modo mais danoso, trata-se de uma pessoa de excelente formação, de alto nível intelectual, mas que, absorto de sua vaidade, considera a si mesmo um profeta. Esse engana a muitos.

É um perigo perceber que vê em terra de cegos e arriscar contar-lhes a verdade.

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O negociar da verdade

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LaTraca1932Não sei de onde vem esse costume de negociar a verdade, de socializar a razão, de repartir diplomaticamente os valores. Radicalidade, nos dias de hoje, é anacrônico, enquanto a autenticidade e a coerência são atacadas pelo pé, num mundo onde se relativiza a moral e ninguém é permitido viver valores autênticos e irrenunciáveis.

Não é incomum ouvir alguém dizer que os dois têm razão, para arbitrar uma discussão. Acontece que poucos têm a humildade de reconhecer o próprio erro e a própria falta de razão, e torna-se até útil e necessário esse repartir e negociar a verdade, até pela virtude da paciência, porque quem tem razão há de se mostrar com o tempo. Virtude da paciência, virtude da tolerância. Não é muito inteligente adiar discussões para a eternidade por não abrir mão da verdade, é mais útil a paz, nesse caso.

Entretanto, esse costume de negociar a verdade não fica só nesses casos particulares e alcança níveis até inaceitáveis, aos quais não se podem abarcar os princípios de paz e utilidade, da paciência e da tolerância. A humanidade, cada vez mais animalesca, adorando o ter, o poder e o prazer, e sem querer abrir mão, em detrimento dos valores evangélicos, dos próprios costumes, quer que a Igreja, sim, se modifique, se adapte ao mundo de hoje. Querem acabar com o celibato dos sacerdotes, querem acabar com a ilicitude do divórcio, querem que a Igreja aceite a relação homoafetiva e até a sacralize pelo casamento, que se abra aos enganos do socialismo e, num grau máximo, que abra mão até da verdade eterna de si que prega para, assim, unir-se a outras religiões até não cristãs.

Acontece que hoje a radicalidade é vista até com maus olhos, tornou-se sinônimo de fundamentalismo, de ausência de racionalidade e de inteligibilidade, quando, ao contrário, a radicalidade é tudo que a Igreja exorta e o Evangelho preceitua, como diz no Apocalipse: “Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te.” — Os cristãos autênticos são recriminados e forçados a negociar seus princípios, trocando o bem-estar na sociedade e a boa convivência com os seus valores, tornando-se, forçosamente, por falta ainda de uma conversão verdadeira e radical, no mais verdadeiro de seu significado, incoerentes com eles mesmos e com aquilo que acreditam.

Radical, ao contrário do que se costuma dizer, é aquele que está enraizado, aquele que sabe bem onde pisa e, desse solo fértil da fé, sabe muito bem em quem e onde colocou a sua fé, e daí retira o seu modo de viver. A maior expressão da radicalidade, pois, é Jesus Cristo, que viveu a Verdade que é Ele mesmo e morreu nela e por ela. A radicalidade do cristão é, pois, por consequência, a estatura de Cristo. Assim, do mesmo modo que é chamado a viver e morrer pela fé, o cristão é chamado a amar sem medidas e afastar-se de todo tipo de fanatismo, intolerância e até mesmo do orgulho da própria fé, a se considerar superior aos demais, pois a autenticidade do Evangelho é morrer de amor por toda a humanidade e servi-la como se dela fosse escravo.

Portanto, diferente do que se espera das nossas relações pessoais, quando podemos abrir mão da nossa própria razão, da nossa vivência como cristão e defesa da fé verdadeira, não nos é lícito, de modo algum, negociar. Os valores do Evangelho têm raízes na eternidade que, como uma eterna idade, não se altera. Não podemos deixar o mundo “modificar Deus”, moldando-O, em nome da própria covardia e fraqueza, segundo a sua vontade, mas, em atitude diametralmente oposta, sermos sal do mundo e luz da terra, conforme nos chama Jesus, o que nós repetimos com a boca cheia, como se fosse um título que temos, e não um dever a ser cumprido.

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A demolição das consciências

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imagemQuem tenha compreendido bem meu artigo “Armas da Liberdade” deve ter percebido também a conclusão implícita a que conduz incontornavelmente: boa parte do esforço moralizante despendido pela “direita religiosa” para sanear uma sociedade corrupta é inútil, já que termina sendo facilmente absorvida pela máquina da “dissonância cognitiva” e usada como instrumento de perdição geral.

Notem bem: moralidade não é uma lista de condutas louváveis e condenáveis, pronta para que o cidadão a obedeça com automatismo de um rato de Pavlov.

Moralidade é consciência, é discernimento pessoal, é busca de uma meta de perfeição que só aos poucos vai se esclarecendo e encontrando seus meios de realização entre as contradições e ambiguidades da vida.

São Tomás de Aquino já ensinava que o problema maior da existência moral não é conhecer a regra geral abstrata, mas fazer a ponte entre unidade da regra e a variedade inesgotável das situações concretas, onde frequentemente somos espremidos entre deveres contraditórios ou nos vemos perdidos na distância entre intenções, meios e resultados.

Lutero — para não dizerem que puxo a brasa para a sardinha católica — insistia em que “esta vida não é a devoção, mas a luta pela conquista da devoção”.

E o santo padre Pio de Pietrelcina: “É melhor afastar-se do mundo pouco a pouco, em vez de tudo de uma vez”.

A grande literatura — a começar pela Bíblia — está repleta de exemplos de conflitos morais angustiantes, mostrando que o caminho do bem só é uma linha reta desde o ponto de vista divino, que tudo abrange num olhar simultâneo. Para nós, que vivemos no tempo e na história, tudo é hesitação, lusco-fusco, tentativa e erro. Só aos poucos, orientada pela graça divina, a luz da experiência vai dissipando a névoa das aparências.

Consciência — especialmente consciência moral — não é um objeto, uma coisa que você possua. É um esforço permanente de integração, a busca da unidade para além e por cima do caos imediato. É unificação do diverso, é resolução de contradições.

Os códigos de conduta consagrados pela sociedade, transmitidos pela educação e pela cultura, não são jamais a solução do problema moral. São quadros de referência, muito amplos e genéricos, que dão apoio à consciência no seu esforço de unificação da conduta individual. Estão para a consciência de cada um como o desenho do edifício está para o trabalho do construtor: dizem por alto qual deve ser a forma final da obra, não como a construção deve ser empreendida em cada uma das suas etapas.

Quando os códigos são vários e contraditórios, é a própria forma final que se torna incongruente e irreconhecível, desgastando as almas em esforços vãos que as levarão a enroscar-se em problemas cada vez mais insolúveis e, em grande número de casos, a desistir de todo esforço moral sério. Muito do relativismo e da amoralidade reinantes não são propriamente crenças ou ideologias. São doenças da alma, adquiridas por esgotamento da inteligência moral.

Em tais circunstâncias, lutar por este ou por aquele princípio moral em particular, sem ter em conta que, na mistura reinante, todos os princípios são bons como combustíveis para manter em funcionamento a engenharia da dissonância cognitiva, pode ser de uma ingenuidade catastrófica. O que é preciso denunciar não é este ou aquele pecado em particular, esta ou aquela forma de imoralidade específica: é o quadro inteiro de uma cultura montada para destruir, na base, a possibilidade mesma da consciência moral. O caso de Tiger Woods, que citei no artigo, é um entre milhares. Escândalos de adultério espoucam a toda hora na mesma mídia que advoga o abortismo, o sexo livre e o gaysismo. A contradição é tão óbvia e constante que nenhum aglomerado de curiosas coincidências poderia jamais explica-la. Ela é uma opção política, a demolição planejada do discernimento moral. Muitas pessoas que se escandalizam com imoralidades específicas não percebem nem mesmo de longe a indústria do escândalo geral e permanente, em que as denúndias de imoralidade se integram utilmente como engrenagens na linha de produção. Ou a luta contra o mal começa pela luta contra a confusão, ou só acaba contribuindo para a confusão entre o bem e o mal.


Olavo de Carvalho. Diário do comércio, 21 de dezembro de 2009. (O mínimo que você precisa para não ser um idiota, pág. 177)








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O bonzinho e o outro

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Lá se vão caminhando na calçada dois homenzinhos: um é bonzinho e o outro, não; um é ingênuo e o outro, não; um só vê em si bondade e o outro, não. O bonzinho está indo para o trabalho e o outro está fazendo seus exercícios físicos de “headphones”. Os dois estão a pensar...

O bonzinho diz em sua mente: “meu chefe é tão bom, quer que eu seja um homem esforçado. Pede-me para que trabalhe além do necessário, isso porque precisa de mim, porque sou o melhor funcionário, daqui a pouco eu ganho uma promoção!”.

O outro, por sua vez, é dono de uma empresa. E, enquanto corre, pensa nos problemas com os quais vai lidar quando chegar à sede: “meu Deus do Céu, o que é que eu faço? Tenho de demitir funcionários... será que eles vão arranjar outro emprego? Vou me certificar se os documentos deles estão todos corretos, tudo registrado, porque lá vêm mais processos trabalhistas desses safados que querem enfiar a faca na goela da gente!”.

Vejamos o contrário, se fosse o bonzinho o dono da empresa e o outro o funcionário: 

O bonzinho diz em sua mente: “por que Deus é tão ruim comigo? Por que permite que isso tudo aconteça? Só porque eu sou uma pessoa boa? O que eu fiz pra merecer? Eu sou um homem honesto, trabalhador, mas bonzinho só se dá mal! Qual é a virtude em ser uma pessoa boa? As pessoas só querem se aproveitar da gente! Fui inventar de dar aumento aos meus funcionários, de liberá-los quando precisassem... No que deu? Esses processos trabalhistas que me ferraram! E eu, que depositei minha confiança neles, fui traído! Mentiram para o juiz e eu não tinha nada comprovando! Que droga! Quero morrer! Sou bom demais para este mundo!”.

O outro é um funcionário de uma empresa: “esse meu chefe é um esperto, pena que ele não é mais do que eu! Enquanto me coloca para trabalhar hora extra e não me paga, eu fico caladinho na minha. Se, por um lado, ele estiver precisando de mim, se ele for um cara bom, uma hora ele vai me recompensar. Se, por outro lado, ele estiver só se aproveitando de mim e me pôr para fora, vou lascar um processo nele!”.

E assim é a vida. Quem se acha o bom e, na sua ingenuidade, não se vê capaz de mal nenhum também não o vê nos outros. Mas aquele outro que reconhece em si a capacidade de ser mau, mas que não o é pela boa educação que teve, por misericórdia de Deus, ou por qualquer razão que seja, esse sim, consegue viver e respirar.

O bom vê maldade em tudo menos em si e, por tanta ingenuidade, acaba por cometer pecados gravíssimos sem perceber. Por outro lado, o outro consegue ser mais misericordioso tanto consigo tanto com os outros e, além de ser mais alerta, consegue precaver-se e arrepender-se de muitas maldades que fez e que seria capaz de fazer, porque as enxerga.

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A verdade da cruz

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PassionOfTheChrist__140311182533Aceitar a minha parte da cruz, o meu pedaço do pão, o meu gole do vinho. O mistério de fazer parte do corpo santo de Cristo sendo pecador. Ter o Seu corpo em meu corpo, o Seu sangue em minhas veias e, tantas e tantas vezes, não perceber a noção da importância e da gravidade de tudo isso. Quem é Deus e quem sou eu?

Por que tanta misericórdia? Por que tanto amor? Por que tanta paciência? Por que logo eu, tão falho, tão miserável, posso ter Deus habitando em mim? É o Rei que quer morar no casebre da minha vida e deitar na manjedoura do meu coração. É uma terrivelmente humilhante situação, de um Deus tão imenso querer vir caber na finitude tão finita do meu ser.

É um mistério insondável Deus querer dar-me sua dignidade até no sofrimento e, ao contrário, é um pesar imenso não verdadeiramente o habitar. Abandonar o cálice, abandonar a cruz. Tantas e tantas vezes recusei este gole do vinho, tantas e tantas vezes abandonei meu madeiro no chão e me pus a andar. Não, não. Bom e justo é com meu lenho, meu madeiro, minha cruz, meu esteio, pôr-me de pé e entre quedas, verdadeiramente caminhar. Ser um filho de Deus de joelho roxo, não um desnaturado frouxo.

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Os gritos e silêncio de socorro

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depressionMalditos somos quando o mundo inteiro gira ao nosso redor, malditos somos quando nos achamos acima dos outros, quando nos fechamos em nossa soberba e não prestamos atenção nas pessoas que existem além de nós, dos seus gritos e silêncios de socorro.

O que deve passar, lá no fundo de nossa mente e do nosso coração, quando só damos ouvidos aos nossos desejos, às nossas necessidades, à nossa voz? Que carga negativa é essa dentro de nós que prende ao nosso centro toda positividade do nosso ser? Deixamos tantos ao desprezo, às calçadas da nossa vida, e tudo em benefício da nossa vaidade, da nossa soberba, da nossa autoridade, da nossa individualidade, do nosso bem-estar, da nossa “paz”, dessa felicidade egoísta e egocêntrica. Isso gera respostas, reações às quais não damos a devida atenção, que são os gritos e silêncios de socorro.

É um povo de uma nação que vai às ruas dia após dia para manifestar sua insatisfação porque não é ouvido. É um povo que confronta a polícia, que incendeia carros e ônibus, que saqueia, que devolve com violência por causa da violência de não ser ouvido, a violência do desprezo. Do mesmo modo, um povo que desiste de votar e, porque se vê obrigado a exercer o que deveria ser somente um direito, fá-lo em branco ou nulo. É o seu silêncio de socorro por não ter quem o represente e por viver num país abandonado à desonestidade em todos os seus setores.

Mas também é aquele que vive conosco a gritar, a espernear, a nos faltar com respeito, a quebra as coisas no chão e na parede, a irritar-se a todo tempo com uma paciência de canhão. O que, senão a total loucura, faz com que um ser humano com toda a sua alma se preste a tal comportamento? O que faz uma pessoa voltar-se irada contra aqueles a quem mais ama? Não vejo outra razão, senão um pedido de socorro. Do mesmo modo é aquele que se tranca em seu quarto e se permite ser ausente da convivência familiar, ele lança seu silêncio de socorro que insiste em não ser ouvido.

O que custa, em contrapartida, para aquele que ouve esses gritos e silêncio de socorro, praticar um simples ato de amor? É mais fácil o que está dentro do buraco escalá-lo, ou quem está fora estender a mão? Se fomos criados pelo amor, nossa essência é o amor. Se essa é a natureza da nossa alma, todos esses gritos e silêncio são de socorros de amor, de atenção, de um mínimo de audição aos sentimentos, aos medos, às culpas, às aflições que cada um enfrenta e reage da forma que pode. A família, é claro, é o primeiro alvo, porque é o que deveria ser o nosso refúgio de amor.

E o que fazer? Custa-nos, sim, o nosso egoísmo, mas não é pedir demais a nós mesmos que coloquemos para fora o nosso desejo de amar. Não esse amor que virou sinônimo de sexo, mas o amor mais verdadeiro, de procurar dar um pouco de atenção, seja em casa, para quem puder, seja a um amigo ou mesmo a um estranho. De vez em quando, quando alguém vem desabafar conosco, seja na sua infantilidade, demasiada carência ou mesmo na real necessidade, em vez de ouvirmos, somos tentados a dar-lhe a solução. Ora, até nisso nós temos de ser os senhores da razão? Que custa parar e simplesmente ouvir?

O nosso país, principalmente, está doente. Só se pensa na própria razão, na própria vontade, nos próprios argumentos, nas próprias necessidades. Vejam só: o mais comum é médicos que não dão atenção aos pacientes, advogados que mentem sabendo da justiça da verdade, servidores públicos relaxados e preguiçosos, e, por fim e resumindo tudo, políticos que não dão o mínimo de atenção às reais necessidades da população e colocam acima de tudo qualquer coisa que seja seu, seja o bolso, a ideologia, o cargo ou o partido. Definitivamente, estamos doentes, mas doentes sem amor.

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Machismo sexual

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assedio-size-598Quantas mulheres enxerga um homem? A mãe? A vó? A filha? As irmãs? Talvez umas tias e tias-avós? Primas? Primas talvez. Nessas mulheres, pode-se dizer que os homens consigam enxergar o que realmente faz delas mulheres. Mas, em outras mulheres, o que será que veem? Quando veem, o que imaginam? Há algo de essencialmente pervertido e perverso no machismo.

É fora de cogitação dizê-lo? Que muitos homens veem grande parte das mulheres, sobretudo as belas, como objetos de consumo? Dizer que tem o desejo de possuí-la é termo muito vago, na mente masculina a imagem é de alimentação. Por essa razão, inclusive, que alguns maldosos interpretam o fruto proibido como o sexo. Ora, fazer sexo para eles relaciona-se com o comer e, consequentemente a essa relação, a mulher, em vez de pessoa, torna-se objeto.

Algum mal sucedido na conquista dos corações femininos pode pensar: “Ora, mas a mulher também não é interesseira?” – Não se pode arriscar em dizer que o interesse feminino nos homens poderosos e bem-sucedidos financeiramente não tem a ver com o patriarcalismo do passado? Numa sociedade em que só os homens poderiam trabalhar, as mulheres aprenderam a ser dependentes e custa, mormente para as mais desprovidas de inteligência, deixar tal herança genética.

Voltando à mulher como objeto.

Traços eminentemente machistas que corroboram com o raciocínio, nós podemos encontrar nas religiões, inclusive. No cristianismo, só pela herança cultural machista de qualquer sociedade então existente quando da sua origem, porque Jesus rompe com o machismo e trata homens e mulheres de igual por igual, com raras exceções quando dá preferência às mulheres – até mesmo pode se dizer que só tenha escolhido homens para serem discípulos porque seria um escândalo para aquela época. Por outro lado, porque Davi e Salomão tinham permissão para possuírem (possui-se o quê?) tantas mulheres? Obviamente eles não poderiam, de modo algum, dar atenção a todas as necessidades ao menos afetivas de todas elas. Não. Eles eram o centro. E o paraíso das 72 virgens, o que é, senão o corolário da visão da supremacia do homem sobre a mulher, visão na qual a mulher é o objeto do paraíso dos homens?

E hoje, o que mudou, além de que os homens estão começando a ficar com medo das mulheres? Isso acontece porque, da mesma forma que algumas mulheres não se desenvolveram a ponto de se desvincularem da visão do homem como provedor, alguns homens ainda não caíram na real de que não podem continuar os mesmos estúpidos de outrora. Esses homens que querem comer todas, esses homens que procuram uma mulher com único interesse em sexo (lembre-se que quem escreve é um homem que luta contra esta tentação que é cultural). Mas não é essa a razão dos crimes contra a dignidade sexual? Não é por essa razão que acontecem os estupros? Se os homens vissem a mulher como um todo e, especialmente, como pessoa que tem a si o mesmo valor, não cometeriam jamais tais crimes.

É por essa razão que insisto, portanto, na afirmação de que mulher mesmo, na visão desses machistas, é avó, mãe, irmã e filha. Para alguns, a esposa também (para outros mais leais, também a dos amigos). Fora isso, não procuram eles alguém para conversar, alguém com uma sensibilidade especial, que enxerga e sente o mundo de outra forma. Não. Veem, na verdade, um envoltório de prazer. Vê-se pele, cabelos, olhos, seios, pernas e vagina como fonte inesgotável de imensurável deleite. E assim, reduzem a dignidade da mulher por inteiro e a transformam em apenas um meio de se obter prazer e instrumento pelo qual se exerce poder.

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Governar-se para viver

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imagem_lifeA ninguém é mais difícil de obedecer do que a si mesmo. “Não faço o bem que quero e faço o mal que quero”, parafraseando São Paulo. Como governar-se a ponto de não praticar o mal, e como ter autoridade sobre si a ponto de cumprir todo o bem que se quer? Eis a escola na qual tantos estão no primário.

Pedir um treinador, pedir alguém que nos ordene o que fazer e o que não fazer. Tarefa demasiadamente fácil. A quem Deus ama, dá uma tarefa melhor, recomenda que tenha a si mesmo como treinador. Ora, sempre há de se ser dependente? Não, uma hora temos de chegar na maturidade, e talvez devamos ser os nossos próprios educadores. Ocorre que para tal devemos atravessar diversos obstáculos:

Um primeiro é o governo da razão. Fala-se tanto em filmes melosos em seguir a voz do coração, mas pessoas inteligentes agem mais com a razão, claro que também ouvindo a intuição, o que muitos chamam de voz do coração. Acontece que não há garantia nenhuma de que essa voz do coração não seja o resultado de diversos fatores emocionais e psíquicos e que o resultado pode uma péssima decisão. Inclusive, pode-se utilizar esse método intuitivo para justificar más consequências com a máxima: errei, mas agi com o coração. Não se quer dizer que se viva agora como um robô, mas ao contrário, uma inteligência bem preparada sabe compreender e balizar os sentimentos, as emoções, os prazeres, e também a intuição, que pode ser enganosa.

Outro é de uma dificuldade absurda, ainda mais hodiernamente em que tudo é apelo. Desde carros, eletrodomésticos a comida e bebida. A indústria da propaganda não é nada ética e quer que o produto seja comprado a todo custo. A da cerveja, por exemplo, associa a bebida à mulher, num grande golpe baixo enviam essa informação para o subconsciente dos mais diversos consumidores. Não bastasse, tudo o que se tem é apelo por sexo. As pessoas esqueceram que para cada coisa deve ter uma finalidade e, por isso mesmo, o sexo tornou-se um fim em si mesmo. Desse modo, é terrível suportar essa indústria da carne que tiraniza em comerciais, novelas, filmes, programas de TV, sites de internet e inclusive em músicas. A mentalidade luxuriosa adentra nossa mente e nos torna escravo. Difícil demais é, portanto, abrir mão dos desejos da carne em prol da razão e do reto.

Ainda existem todas as limitações psíquicas e emocionais. Cada um tem na sua história de vida diversas situações traumáticas que atrapalharam a sua formação cognitiva, e tornar-se-á escravo desses traumas até que deseje confrontá-los e dar a eles novo significado, o que seja correto. Uma vida pautada e fundamentada na emoção é o desastre total, e temos demasiados exemplos disso, sobretudo nos artistas que acabam no precipício do suicídio. É o sentimento que domina, seja a paixão ou a tristeza, ou infelizmente também o ódio, que obnubila, obscurece a mente de quem o tem. É assim: a paixão nos impede de trilhar diferentes caminhos, a tristeza nos impede de andar, e o rancor, nos retira caminhos. Este último, o pior, delimita o nosso espaço ao em torno de si mesmo.

Se a educação tem um tempo limite, isso tem um sentido: o nossos pais devem deixar de sê-los para dar a nós o seu lugar. Somos nós, daí então, que devemos estabelecer nossos limites, nossos horários, nossos castigos, nossos deveres, nossos direitos e até nossas premiações. O ser humano não pode ser fraco e deixar essa tarefa para Deus, que não deve ter essa função, mas é a primeira cruz que ele mesmo deve carregar: a si mesmo. Quem não governa a si não se pode dar ao luxo de educar nenhum outro ser humano.

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A vida e suas bandeiras

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nice-swan-paintingAs pessoas e suas irracionalidades: muitas vezes, por empatia, por gostarmos delas, nós as seguimos e concordamos, sem pensar, com tudo o que elas dizem. Pelo nosso time, pelos nossos amigos, pela nossa comunidade, abrimos mão, muitas vezes, do bom senso, perdemos a capacidade de discordar e assinamos embaixo até quando vai de encontro ao que realmente pensamos. Isso aconteceu comigo, e com você?

Em favor do nosso time, deixamos de fazer análises mais aprofundadas ou, quando fazemos, já é sob o jugo do nosso ponto de vista. Isso nas mais diversas matérias: intra e inter-religiosas, políticas, filosóficas etc. O religioso parece nunca contestar sua religião, sua origem, sua validade, sua veracidade e  o direitista, por sua vez, parece abominar tudo que o esquerdista diz e vice-versa. Esses são alguns exemplos de como isso ocorre e como algumas vezes alcança a irracionalidade.

É tão difícil assim pensar como o outro? É tão difícil assim desfazer-se, nem que seja por um segundo, da própria opinião? Será que, por outro lado, nossa convicção é tão frágil e se constrói sobre um fundamento tão pobre que contra ela não se pode depositar desconfiança? Tal fortalecimento fictício alcança a magnitude da demonização humana. Ora, nem todo mundo é Hitler.

Para alguns cristãos, só porque se lhes opôem, Nietzsche, por exemplo, é lúcifer, Kar Marx é belial, Simone de Beavoir é lilith, Gramsci é azazel e por aí vai. Demonizamos pessoas como se tudo e absolutamente tudo que elas dizem é ruim e nada, absolutamente nada do que elas dizem, é bom. Na fragilidade de suas convicções, no medo de pensar diferente, esses cristãos se esquecem do conselho paulino de provar de tudo e ficar com o que é bom.

E assim, em vez de nos unirmos, cada vez nos distanciamos mais, ficamos em blocos. Em vez de enxergar as diferenças e pensar um pouco que elas podem nos completar, desqualificamos o diferente, não lhe damos ouvido, nos opomos invariavelmente e nos tornamos inimigos. Entramos em guerra. Entraremos em real guerra se isso não mudar, se não deixarmos de lado o nosso reino em detrimento da sociedade como um todo. Se temos que abrir mão em nome da felicidade e união da nossa família de sangue, porque não podemos deixar de lado esse orgulho infantil em prol da família que pode ser a nossa nação e, num sonho maior, toda a humanidade?

Mas não, infelizmente. Preferimos nos comportar como os patinhos bonitos, isto é, relembrando a história do patinho feio, que não era pato, e sim cisne (que é mais belo que pato). Às vezes somos esses patinhos, que não enxergamos a beleza do outro em nome da nossa, só porque ele é diferente. Talvez ele seja mais belo, talvez ele tenha a razão, e não nós, talvez ele saiba a verdade e não nós. Talvez estejamos errados.

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Se Hobbes fosse brasileiro

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tumblr_m5ogubuARh1rsqg0ko1_500Das notícias que vejo, ando me perguntando: e se Hobbes fosse brasileiro? Dessa pergunta eu tiro uma conclusão que me faz temer: a de que, nos próximos anos, devemos fazer todo o esforço para mantermos a nossa civilidade, para não cedermos ao homo homini lupus, ou mesmo para não cedermos, parafraseando Augusto dos Anjos, à inevitável necessidade de também ser fera.

Teremos que nos controlar para não andarmos armados nas ruas, mesmo sem porte de arma, com a única finalidade de nos protegermos dos assaltos. Temos que tomar cuidado para não deixar de reservar à polícia a nossa segurança e de não deixar para o Judiciário a jurisdição penal. Afinal, os bandidos não estão nem aí para os direitos humanos; e criminoso rico, que também causa revolta, tem dinheiro para pagar um advogado que lhe diminua ou retire o peso da lei.

Alguns direitos humanos são tão óbvios que não precisam ser citados, mas, porque não são citados, muitos se esquecem deles (embora conste no art. 3º da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948). Um desses direitos é o direito à segurança. Ora, como ter qualquer outro direito sem segurança? Em última análise, a própria liberdade é mitigada e as pessoas têm que, cada vez mais, viverem dentro de suas casas e cercadas de eletricidade. Não se pode mais andar tranquilamente na rua e, em alguns lugares, nem dentro do próprio carro.

Entretanto, um discurso dito “humanista” parece cada vez mais legitimar a inveja, e justifica-se cada vez mais a criminalidade alegando aqueles que cometem delitos são vítimas do sistema. Os políticos corruptos são vítimas do sistema? Os empresários que sonegam impostos são vítimas do sistema? Não! Ser político não é desculpa para ser desonesto, ser empresário não é razão para sonegar imposto e, da mesma forma, ser pobre não é motivo para delinquir.

O resultado? Os bandidos se tornam vítimas e a sociedade, a contrassenso, criminosa. A população que trabalha é opressora e, ao contrário, a bandidagem é marginalizada e excluída. Crime que se justificaria seria o crime famélico (para comer), que, na verdade, nem é crime, mas isso só é justificável como última opção. Quem opta pelo caminho do crime é aquele trapaceiro infantil, que sempre quer passar por cima dos outros e não seguir pelo caminho mais difícil: o da honestidade, o da honra, o da dignidade.

É por isso que continuo me perguntando o que diria Hobbes, se fosse brasileiro. Qual Leviatã seria sua preocupação? Será que acreditaria que também sob o Estado o lobo é o lobo do homem, ou que o lobo pode continuar sendo o lobo do homem se aproveitando do Estado? Será que ele, num ato de indignação, sairia gritando pelas ruas: “eles dão tudo, mas não dão o mínimo, que é a segurança!”? E eu temo a veracidade da sua teoria.

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O desafio da obediência

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Painting, SV sends on mission A_jpgPela desobediência se perdeu a união com Deus, e pela obediência ela foi recuperada. A obediência é qualidade intrínseca de Cristo, enquanto a desobediência é marca dos soberbos, os filhos bastardos de satanás. Essa soberba, esse desejo reiterado de ser deus, de ser centro, quando não se pode ser, pode não ser geradora de todos os males, porquanto materialismo e sensualismo andam por outras veredas, mas gera os piores. Ela que levou o homem e a mulher, tratados como Adão e Eva, a desobedecerem ao mandamento de Deus. O que há de histórico nesta história é impossível saber, mas ela contém a maior de todas as verdades. Foi a desobediência que nos separou de Deus, e é a desobediência que nos impede de novamente nos unir a Deus pelos méritos de Cristo.

A Jesus não se sabe se foi fácil obedecer, sabe-se que foi sempre e em tudo obediente. Apesar de ser perfeito na obediência, não precisava, até onde se sabe, de um mínimo de hesitação. Filho de José e Maria, aquele sendo um homem justo, e esta sendo a Imaculada Conceição, o modelo perfeito de mulher. Quanto a isso, era “fácil” a Jesus obedecer, porque não havia autoridade a quem se submetesse, em seu seio familiar, que o ordenasse algo fora do esteio divino. A nós, por outro lado, temos nossas dificuldades. Nós homens estamos repletos de pecados, repletos de erros. Dito isso, é importante ressaltar o seguinte, para que não se engane:

É impossível ao homem ter a perfeição da obediência de Cristo. Por mais que vigiemos, por mais que rezemos, sempre pecaremos. Por isso, que não se interprete mal a se pensar que a Cristo era fácil obedecer literalmente, mas que Ele não era sujeito a autoridades falíveis, eis a diferença. O nível de obediência a que Ele se submeteu homem nenhum jamais será submetido. Aliás, ninguém é Deus para, por obediência, morrer pelos homens. E, claro, se fosse pedido para algum homem, que não Jesus, a viver a obediência que ele viveu, nenhum seria capaz. Posto isso, vamos à questão da falibilidade.

Que tudo fosse conforme a vontade de Deus, que tudo Lhe fosse obediente, eis o Céu. Na terra, entretanto, as coisas não funcionam assim: os homens são em maior e menor medida falhos e também vaidosos, egoístas e toda uma infinidade de defeitos que aqui se possa apresentar, sem falar da maldade que dissipa a luz de muitos corações. Acontece que em todo lugar há relação de hierarquia, de sujeição, de autoridade; em todo lugar há quem mande, e quem obedeça. E o cristão como deve ser? Semelhante a Cristo! E Cristo era o quê? Obediente! Obediente a quem? A Deus. Cristo morreu por ter sido desobediente aos chefes de sua religião, aos sumos sacerdotes, que queriam que Ele se calasse. Não sabiam os sumo-sacerdotes que era o oposto que devia acontecer, e Jesus pagou por isso.

Então, como ser obediente diante de todas essas realidades? Eis o desafio para o qual é preciso muita coragem e muito discernimento. Precisamos analisar bem cada coisa; cada ato é um desafio propriamente ético de, em cada circunstância, verificar qual a opção que cabe. A opção que cabe, para o católico, é a vontade de Deus. A questão é quando se entra no dilema entre quando obedecer (virtude cristã) e quando desobedecer (virtude de alguém corajoso). A resolução se encontra quando entendemos que o cristão nunca deve desobedecer, mas sempre obedecer, e obedecer a Deus. Para tanto, o católico vai precisar dizer alguns nãos a autoridades temporais que, porventura, afrontarem claramente ao que seria ordem de Deus.

A ordem principal sempre vem de cima. Para nós, os mandamentos. Depois vem o Catecismo, o Código de Direito Canônico, as regras de ordens, congregações e comunidades, as autoridades locais e imediatas e assim por diante. O que importa é: nenhum pode desobedecer o principal. Qualquer um, até o papa, que ordene algo diferente do que é ensinamento tradicional na Igreja, algo absurdo mesmo, como já houve na história da Igreja, não deve ser obedecido. Um bispo que dá uma ordem, por menor que seja, em desobediência ao papa, não deve ser obedecido. Um sacerdote que dá uma ordem, por menor que seja, em desobediência ao bispo, se o bispo estiver em obediência à Igreja, o sacerdote não deve ser obedecido. O importante é ser obediente a Deus, e o que representa a Deus na terra é a Igreja. Portanto, importa ser obediente na Igreja. Muito raramente (infelizmente já houve na história e se sabe disso) a Igreja vai de encontro ao Evangelho e aos mandamentos.

Há quem possa dizer: “Ah, a Bíblia vem em primeiro lugar...” – Entendo que não. Foi a Igreja que fez a Bíblia e não o contrário. Além disso, cada um pode interpretar algum versículo da Bíblia a seu modo e tornar-se um obediente somente a si, fugindo de qualquer sujeição e vivendo o Evangelho a seu modo e, pior, à revelia, independente. A obediência deve ser, sim, à Igreja e à sua devida hierarquia, salvo, como se entende claramente, alguma ordem contra a moral e a ética cristã, além dos mandamentos de Deus e dos ensinamentos da Igreja. O que estiver fora desse âmbito não recai neste critério.

E o que está fora desse âmbito? Quanto a ordens específicas de superiores, a regra é a da obediência sempre, exceto a impossibilidade evidente de se cumprir. Nesse âmbito, toda autoridade é mesmo decidida por Deus e toda decisão sua está, queira ou não, sujeita aos seus planos. Diga-se isso das autoridades espirituais e eclesiásticas, não das civis. Quanto às civis, no que não contrarie a moral e os bons costumes, devemos também obediência, como já está muito bem explicado no Catecismo da Igreja Católica. Mas, é importante ressaltar que a autoridades imediatas sempre se deve obediência. Claro que cabem exceções, como a saúde, deveres morais, deveres civis e coisas do tipo. Quanto a isso, muitos exemplos de santos atestam o agrado de Deus com os obedientes e silenciosamente obedientes, presenteando-lhes, inclusive, com milagres.

Uma coisa é importante ressaltar: nenhuma autoridade pode interferir em situações de domínio pessoal. Ninguém pode decidir a vocação de ninguém, nem sua forma de vida, nem com quem vai se casar, nem se vai se casar. Há coisas que só conferem à liberdade pessoal.

Portanto, quem obedece a Deus nunca erra, mas quem obedece aos homens, dependendo da ordem, erra sim. Para quem quiser acertar, recomenda-se: coração em Deus, muita fé, coragem e boa sorte contra os inimigos e as perseguições que encontrará pelo caminho, mas que saiba que no final do caminho há uma coroa.

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Frozen – Uma aventura congelante

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Depois de ter assistido esse maravilhoso filme da Disney, não me contive em inaugurar esse novo espaço do blog. Chegou o momento de dizer que, de agora em diante, irei comentar alguns filmes que assistir nos cinemas da vida, ou quem sabe fazer alguma indicação de outro filme que já tiver saído de cartaz há pouco ou muito tempo. Como é o primeiro texto, não esperem muita organização de pensamento, vejam só um ponto de vista diferente, mais na questão que mais amo em perceber em filmes: valores. Vamos lá!

No começo, parecia um musical. Nunca me agradei tanto de musicais, por achar que era um musicalizar tudo. Embora ame música como muita pouca coisa nessa vida, sempre me cansei ao ver musicais. Mas, eu amei as partes musicais de Frozen: os duetos, as harmonizações em terças e quintas, a naturalidade inclusive dos graves masculinos no início do filme, e o agudo final extremo (e no lugar e na hora certa) da música em que acabou a parte musical. Perfeito! Mas vamos para a parte importante!

A carga simbólica do filme é extraordinária (que se preste atenção nas figuras e nas cores de vários momentos)! E são muitos pontos que podem se exaltar, por isso, para concorrer com a brevidade do texto, vou focar nos mais importantes, os quais devemos levar para a vida inteira.

Uma coisa pode passar despercebida, mas creio ser de extrema importância: a capacidade de utilizar os dons para o bem ou para o mal. Até mesmo antes disso, há de se ressaltar a necessidade de utilização dos dons. Muitas coisas podemos achar que temos de mal, e que por causa disso devemos nos esconder, mas o luzeiro não pode se esconder debaixo da mesa. Os dons são feitos para serem utilizados, e são da maior diversidade possível! Que ninguém tenha medo de ser especial. Aceitar a vocação, seja ela grande ou pequena, é algo estritamente necessário para a nossa conformação conosco mesmo. Ao contrário disso, vive-se em completo desespero, na busca de ser alguém que não se é.

Continuando. Após a revelação do dom, houve o problema, em virtude disso, da falta de preparação, da falta de sentido. A personagem, com o seu imenso potencial, foi causa de destruição e aflição para todo aquele ambiente. A vida de todos ao seu redor dependia de si, e o egoísmo dela, a fuga dela para viver numa vida diabolizada, voltada para si mesmo, só causava mais medo a todos, que começavam a temer pela própria vida. Para nossa felicidade, digo de mim, do meu cérebro e da minha alma, a alteza descobre como controlar, direcionar, como dar sentido ao seu potencial, ao seu dom, e sua vida adquire uma realização que nunca antes teve. Ela viu-se feliz, porque descobriu no amor, no esquecimento de si, no voltar-se para o outro, o calor que faltava em sua vida. Aí pôde, enfim, utilizar seu talento, não mais para a morte e a destruição, e sim para a alegria e o bem de todos.

E aí está o maior mérito do filme, na revelação do verdadeiro sentido do amor. Revelação, diga-se, a termos de filmes da Disney, a termos de contos de fadas. Quanto a isso, para os adultos, houve a maior quebra de expectativa da história! – Degustem o sabor das hipérboles... – Todos (inclusive os personagens) esperavam um desfecho diferente e viram-se totalmente surpresos com o que se apresentou! Acontece que o verdadeiro amor não se descobre do dia para a noite, acontece que o amor verdadeiro não é uma mera combinação, acontece que o amor verdadeiro não é somente um amor romântico entre um homem e mulher que os fará felizes para sempre. Aliás, isso é a maior mentira!

O amor, segundo Frozen, e segundo Jesus Cristo, é doar-se até o fim. Como disse este último, o Amor encarnado: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”. (Jo 15, 13)

Este filme, como se nota, é mais do que recomendado. Nota 11, de zero a dez.

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“Jesus é socialista”

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Há tempos pensava que a proposta do socialismo era compatível com a proposta do Evangelho e que o capitalismo era coisa diabólica. Era daqueles convencidos pelos professores de história do ensino médio de que o dinheiro é o mal do mundo. Acontece que eu cresci e pus em cheque muitos dos conceitos, derrubei seus tijolos e não quis construir novamente. Não tinha razão.
Desde garoto eu tive certo ímpeto revolucionário e insatisfeito. Não conseguia entender porque umas pessoas tinham tudo e outras não tinha nada. A pobreza sempre me comoveu bastante e acaba sendo a preocupação mestra da minha vida, desde pequeno, influenciando até meus trabalhos científicos. Enquanto a pobreza mexia comigo, o berço de ouro me revoltava. Não andava, por própria revolta, com gente rica, com dinheiro. Depois de muito tempo refletindo, fui entender que, excetuando-se o problema crônico da pobreza na sociedade brasileira, e a possível desonestidade (corrupção e todo tipo de falcatrua para enriquecer), o sucesso financeiro é resultado do trabalho. Não pensava que se um amigo meu vivia bem, é porque o pai ou mãe trabalhou ou estudou o suficiente para dar-lhe aquela boa condição de vida.
A segunda questão bíblica que pensei semelhante ao socialismo foi a da comunidade fraterna dos cristãos. É aquele trecho de Atos 2, 44-45. Eu pensava: “Olha, o cristianismo foi a primeira forma de socialismo!” – Só mais tarde, inclusive tendo experimentado uma vida semelhante àquela dos primeiros cristãos, é que eu pude entender de forma a refutar completamente a mim mesmo (eu me importo, por mim mesmo, com a verdade). O que acontece: não há semelhança alguma com o socialismo, a não ser que seja aparente. Enquanto o socialismo é um regime político que acorrenta todos na mesma situação, uma comunidade cristã é um lugar para onde se vai por vocação, e de onde se partilha e desprende-se dos próprios bens por pura liberalidade. Além do mais, um desprendimento total de bens é questão vocacional, há quem seja chamado a ser imponente, financeiramente, e também à santidade (esses podem abrir muitas portas). Ninguém é obrigado a ser rico. Uma pessoa pode muito bem ser desapegada de seus bens e desfazer-se constantemente de sua fortuna em prol dos pobres. Ao contrário, no socialismo, isto é coisa impossível. Afinal, todos são pobres, e não pobres por liberdade, mas por falta dela. Pobres por obrigação.
“O pão nosso de cada dia nos dai hoje...” – Certa vez ouvi um sacerdote associar a oração do Pai-Nosso com a política. Só pode ser ateu, esse sacerdote, porque no socialismo o “deus pai” é o Estado, é ele que distribui o pão de cada dia, e não é com fartura, exceto se se pensar como fartura a situação daquilo que “farta”. Jesus multiplicou os pães e os fez sobrar. No socialismo, principalmente no que se viu ao longo da história, falta pão para o povo e sobra para a elite governante. Mas, não. Não é uma oração política. Por sorte minha, naquele tempo, tinha acabado de ler Jesus de Nazaré, do Papa Bento XVI e Caminho de Perfeição, de Santa Teresa d’Ávila, e ambos falam do trecho dito com relação à dependência de Deus. Ao Deus que é Pai, nos abandonamos como filhos, e foi isso que Jesus nos ensinou.
Uma pausa para o mais óbvio de tudo. Ao contrário de se estabelecer um Reino de Deus na Terra, o socialismo procura e sempre procurou o estabelecimento de um mundo sem Deus, um mundo utópico onde todos são iguais, pela força da força. Nowa Huta é o grande exemplo, que, é claro, não funcionou, o que se deve ao amado João Paulo II, quando era bispo de Cracóvia. Jesus anunciava o Reino de Deus, que é Ele próprio. Ao contrário, qualquer pensamento revolucionário socialista ou comunista se baseia, como diz Saul Alinsky, no prólogo do seu livro “Rules for Radicals”, no próprio Lúcifer, que ele afirma ser o primeiro revolucionário. É o que se pode considerar, espiritualmente, como sendo a intenção diabólica por trás do socialismo: um mundo sem Deus. É, na prática, o que se viu e se vê em todos os lugares em que existe e existiu o socialismo: perseguição a todo tipo de religiosidade. Ainda mais que se fale em um mundo sem liberdade, porquanto sempre que houve socialismo, houve lesão a liberdades fundamentais.
Jesus não convidou o jovem rico para um país comunista, mas à perfeição: “... vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me”. (Mat 19, 21) – “Terás um tesouro no Céu”: O socialista não pensa no Céu. E quanto à partilha do pão? Todos que devem ter cuidado e amor para com todos, e não há a menor possibilidade de isso acontecer sem liberdade, o direito com o qual não existe socialismo. Afinal, o amor só existe com liberdade. Aliás, como se pode pensar em um tesouro no Céu com mentiras, armas nas mãos, estrutura difamatória organizada, publicidade desonesta e emburrecedora? Como?
Os socialistas usam a autopromoção moral para afirmar, indiretamente, que só os socialistas se importam com os pobres, e nisso a heresia teologia da libertação se promove, como se a Igreja só ligasse para os ricos, o que toda a história desmente. Supremos e soberbos morais, os socialistas se consideram o bem, enquanto associam, em suas mentes, tudo que não acreditam como fascista, e não entendem como um pobre pode ser liberal, ou coisa semelhante. E, por isso mesmo, associaram a imagem de Jesus com o socialismo/comunismo. Levando o sumo bem para o seu lado, podem com toda facilidade colocar todo o oposto no lado do mau. Baseiam ainda essa supremacia moral num ódio de classes, e, assim, odeiam os ricos e querem, por métodos sinuosos e imbuídos de atitudes utilitaristas, tirar o que é deles e tomar para si.
Pergunto, portanto: Como se pode se afirmar Jesus ser socialista, enquanto existem tantos documentos da Igreja e, inclusive, aparições de Nossa Senhora, alertando dos males dessa maré vermelha? Como podem dizer Jesus ser comunista quando era amigos tanto de ricos quanto de pobres? Como Jesus pode ser chamado de socialista quando não veio para estabelecer um Reino neste mundo, mas no outro? Como Jesus pode ser chamado de socialista quando essa doutrina tem muito mais viés diabólico do que de qualquer outra coisa? Alguém me diga! Como?






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