A credibilidade da Bíblia (Joseph Ratzinger)

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Joseph-Ratzinger

“A dificuldade começa já com a primeira página da Bíblia. A ideia da origem do mundo que nela é desenvolvida está em evidente contradição com tudo aquilo que sabemos sobre a origem do cosmos. Mesmo que se diga não serem essas páginas um manual de história natural e portanto não deverem ser entendidas literalmente como descrição da origem do cosmos, contudo permanece um mal-estar. Fica sempre o receio de que se trate aqui de um subterfúgio que de alguma forma se apoia nos próprios textos originais. E assim quase página por página da Bíblia continuam as perguntas. Em grande parte inacessível para nós se apresenta a figura de barro que nas mãos de Deus se torna o homem, como também logo em seguida a da mulher, tirada do lado do homem que dorme e reconhecida por este como carne da sua própria carne, isto é, como resposta à questão da sua solidão.

Talvez hoje aprendemos de novo a entender essas imagens como profundas expressões simbólicas sobre o homem, sendo que a verdade delas está num plano inteiramente diverso daquilo que descrevem a doutrina da descendência  e a biologia, de tal modo que aquilo que elas dizem é verdade e até uma verdade mais profunda e que atinge mais o propriamente humano do homem que as afirmações da ciência natural, por mais exatas e importantes que estas sejam. Concedamos, mas já no próximo capítulo (na história da queda) levantam-se novas questões. Como podemos harmonizá-las com a visão em que o homem, como demonstra a ciência natural, não começa em cima, mas em baixo, não cai, mas aos poucos sobe e sempre está a tornar-se de um animal um homem? E o paraíso? Sofrimento e morte existiam no mundo já muito antes de existirem homens. (…)

Continuemos, portanto, a verificar estas questões e contradições que angustiam a consciência geral para avaliar quanto possível toda a dureza da problemática que se nos apresenta atrás das palavras fé e conhecimento. Isso continua, depois do relato da queda, com a imagem bíblica da história, a qual nos descreve Adão já num período cultural que se situa por volta do ano 4000 aC. Tal data de facto concorda com a contagem bíblica do tempo, resultando daí cerca de quatro mil anos desde os inícios até Cristo. Mas todos nós hoje sabemos que até esse evento já havia decorrido um lapso de tempo de centenas de milénios de vida e esforços humanos, não levados em consideração pela imagem bíblica da história, a qual se restringe ao quadro oriental antigo do seu tempo.

Com isto toca-se logo no ponto imediato: a Bíblia, que a fé venera como palavra de Deus, tornou-se-nos clara, através da investigação histórico-crítica, em todo o seu carácter humano. Ela não somente segue as formas literárias do seu ambiente, como ainda é influenciada pelo mundo em que se originou, influência esta que lhe marca o modo de pensar e atua profundamente no seu âmbito propriamente religioso. Podemos ainda crer no Deus que chama Moisés na sarça ardente? Que abate os primogênitos do Egito e conduz o seu povo à guerra contra os habitantes de Canaã? Que faz cair morto Oza porque este ousou tocar na arca sagrada? Ou tudo isso não será para nós simplesmente o velho Oriente, interessante, sim , talvez até mesmo significativo como grau da consciência humana, mas sempre grau da consciência humana e não expressão da palavra divina?”

Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI) no seu livro “Fé e Futuro”.

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Herege

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Index_Librorum_Prohibitorum_1Aqueles que não são mestres e doutores em teologia podem falar sobre Deus? Quem não tem um conhecimento perfeito pode falar sobre isto? É vedado a alguém ter opinião sobre algo por não ter profundidade o suficiente para saber todas as regras e exceções, todas as salvas e ressalvas?

O que se pode dizer do que se é dito? Parece que, para alguns, temos a obrigação de andar com rodas de rodapé e a fonte original em nosso bolso. Devemos carregar a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos para todos os lugares e, ainda, quando nos é feita uma pergunta, devemos responder com exatidão.

Hereges ou leigos? Quem é que não se sente ofendido ao ser chamado de herege? Ser um herege é quase condição análoga a de anticristo, a discípulo e instrumento do satã. Existe sempre um porta-voz do cristianismo ideal e perfeito, da opinião ideal e perfeita, da argumentação ideal e perfeita que deve ser realizada e a condenar a não deontologia da coisa. Depois, existem aqueles seguidores que passam a propagar aquela mesma opinião.

Existe um inquisidor em cada um de nós, da mesma maneira que existe um torcedor, da mesma maneira que existe um partidário. Quando meu partido que vence e a ideologia vence, sou eu que venço; quando o meu time venço, sou eu que venço também; da mesma forma, quando a minha razão e a minha argumentação, a minha doutrina ou a minha vertente da doutrina, vencem, sou eu também que venço. Ao dizer que outro está errado, automaticamente afirmo que estou certo.

“Que se calem ou sejam condenados!” Se me for feita uma pergunta publicamente e eu não responder conforme se diz no documento tal do papa tal e de acordo com santo tal ou de conformidade com o artigo tal do catecismo ou do código canônico, incorro sempre em heresia? Existirá sempre um exército a me fuzilar diante do paredão da ignorância? E quem não é ignorante de algo?

“Só sei que nada sei”, dizia o sábio Sócrates. Só sei que posso errar, porque nada sei. Só sei que a doutrina da Igreja é extremamente vasta para que possa eu, leigo, ter dela o conhecimento perfeito para que em nada seja chamado de herege, se não me calar. Só sei que, como cristão, tenho o dever de amor e de misericórdia. Só sei que eu não quero ser um lúcifer-sabe-tudo e explodir da arrogância da minha própria perfeição. Só sei só, só não saberei só, também, se não puder falar.

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Vocação do ser humano: viver em sociedade

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sc_BrainsImagineFala-se muito em vocações de todos os sentidos, no contexto cristão. Diz-se de vocação à santidade, a um carisma específico, a um estado de vida, mas se esquece de que antes disso tudo, existe uma vocação universal como ser humano.

Como diz o Catecismo da Igreja Católica, no nº 1879: “A pessoa humana tem necessidade de vida social. Esta não constitui para ela algo acrescentado, mas é uma exigência de sua natureza. Mediante o intercâmbio com os outros, a reciprocidade dos serviços e o diálogo com seus irmãos, o homem desenvolve as próprias virtualidades; responde, assim, à sua vocação”.

Vocação, portanto, de participar na vida em sociedade, de ser participante ativamente dos acontecimentos políticos, de ser um cidadão. É algo muito estranho, algo difícil de entender, num país em que os cristãos são maioria, existir tanta corrupção e, dentro de uma democracia, permitir-se ser governado por tantos corruptos. Aliás, difícil também é aceitar que, num país de tantos cristãos, existam tantos políticos corruptos. Pode-se perguntar o que tem uma coisa com a outra, mas é claro que são indistintas! Cristãos deveriam, pelo menos em tese, ser honestos e conscientes.

Entretanto, o que se nota é, sim, uma alienação quase congênita, uma indiferença política histórica do povo brasileiro que consegue dissociar ser cristão do ser cidadão e pouco se importa com que acontece ao ser redor, mas, tão somente, com a própria “salvação”. É comum ver cristãos assim, temos por todos os lugares, dentro de nossas próprias casas, aqueles que não sabem em quem votar quando chegam as eleições, aqueles que não se importam com quais leis estão sendo ou não aprovadas, que não observam o caminho em que passam se tem ou não buracos.

Esta situação é inaceitável, porquanto consiste em nossa primeira vocação, não como cristãos, porque esta é a santidade, mas como seres humanos, como somos, e assim já dizia sem erro Aristóteles, no seu livro “Política”, animais sociais. É exigência de igualdade como irmãos em espécie até, coisa que outros animais fazem, como as abelhas, por exemplo, o respeito aos demais de nossa própria espécie com vista ao bem comum. Deveríamos aprender com elas, com as abelhas, cidadãs muito mais bem sucedidas do que nós, que roubamos o seu mel para saboreá-lo, não sem razão. Nós, seres humanos, com o telencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor, coisas que mais nenhum ser vivo possui, sermos uma sociedade autodestrutiva e multidividida em si mesma é inaceitável.

E ainda somos, em maioria, cristãos! Quem diria! Por sermos cristãos temos obrigação ainda maior de respeito às leis, de honestidade, de justiça, de amor e de bondade, mas, não. Somos indiferentes ao outro até mesmo dentro de nossa própria comunidade religiosa, somos corruptos e egoístas dentro de nossa própria paróquia, quanto mais na vida em sociedade, que por tantas vezes diabolizamos e consideramo-nos, contraditoriamente, acima disto, como se fôssemos melhores do que esta vida no mundo. Mais ainda, chegamos ao dizer que as coisas próprias do mundo, só por si mesmas, são diabólicas. Não que ele não tenha influência, mas também nós permitimos. E as coisas do mundo são próprias do ser humano, e muitas são boas e lícitas. Diabolizar, muitas vezes, é sintoma de soberba cristã.

Temos que repensar nossa vida e sermos ativos em nossa sociedade, fazermos a diferença, sermos sal e luz no mundo, não insossos e apagados, como se o sentido desse apelo de Jesus fosse tão somente oracional e não político.

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Foro de São Paulo

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comunismo-11Depois de muito duvidar, vejo que é real o que eu tanto temia e venho por este meio alertar a todos a quem possa alcançar. Não queria eu acreditar que existe como que uma conspiração para implantar sorrateiramente o comunismo no Brasil. Mas mudei de ideia. Mudei de ideia por descobrir que não existe esta conspiração e sim uma organização para implantar o comunismo em toda a América Latina.

Neste momento, acontece em São Paulo, obviamente, o Foro de São Paulo. Evento que acontece desde 1990, fundado pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e Fidel Castro. Interessante que este encontro que reúne as lideranças de partidos comunistas de toda a América Latina, a fim de planejar os seus estratagemas, acontece ao mesmo tempo em que é aprovada pela presidente Dilma uma Lei Complementar pela qual o governo brasileiro auxilia na profilaxia da gravidez, como se esta fosse uma doença, já que profilaxia significa, segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o “Conjunto das precauções higiênicas que devem tomar-se para evitar uma doença ou um contágio”. Em suma, sorrateiramente, vai sendo aprovado o aborto no Brasil.

Acontece que essa medida, de aprovar o aborto, não é coisa de uma assassina, não é algo de uma pessoa só, mas de uma ideologia comunista que é puramente materialista, e diga-se do materialismo marxista que assola o mundo num relativismo não só dialético como meramente utilitarista. Não há como que se culpar um governante, quando este é um peão, um cavalo ou uma torre dentro de um jogo de xadrez político.

Desse modo, com o tempo, secretamente e muito bem articulados, os comunistas vêm alcançando os seus objetivos. Temo que consiga o objetivo final que é uma América Latina comunista. Para que isto não aconteça, já que esta se torna, verdadeiramente, uma batalha do bem contra o mal (mal comunista e bem anti-comunista), devemos focar no principal: não permitir a eleição de nenhum partido comunista, menos ainda, de nenhum partido pertencente ao Foro de São Paulo (PDT, PC do B, PCB, PSB e PT). Combater a difusão do aborto é preciso, mas se focarmos nele, estaremos caindo numa armadilha bastante estratégica.

Portanto, conclamo todos os meus amigos, inimigos, familiares, parentes, irmãos espirituais de todas as vertentes, para que se tornem pessoas políticas e não se deixem levar mais pelo engano e pela indiferença. Pelo amor que tem a Deus, que tem ao mundo, que tem a si mesmo e aos seus, vamos nos tornar verdadeiramente cidadãos para que não se permita, por nossa conivência, que a América Latina seja berço de mais um atentado comunista de este querer se debruçar sobre o nosso sofá e retirar toda a nossa liberdade.

Vou deixar aqui alguns vídeos que encontrei sobre o Foro de São Paulo para que se informem melhor. Divulguem o máximo possível!

 

 

 

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