Coberto por um véu de seda

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fenelon_01 (1)De tanto viver, aprendi. Se tenho beleza, tenho valor? Se tenho inteligência, tenho valor? Se tenho dinheiro ou exerço algum cargo importante e de responsabilidade, tenho valor? De fato, quanto mais me faço importante, mais sou valorizado. Quanto mais sou belo, mais as pessoas querem estar perto de mim; quanto mais sou inteligente, as pessoas se agradam com a minha presença e com as minhas palavras e soluções; quanto mais responsabilidade e quanto mais alto o meu status, mais as pessoas me admiram e a minha posição se impõe.

Mas se eu não fosse nada disso? Se eu não cantasse muito bem? Se eu não fosse um excelente ator; se eu não fosse um excelente músico, escultor ou pintor? Se eu não soubesse escrever? Se eu não soubesse falar? Se eu tivesse esquizofrenia paranoide grave ou qualquer síndrome que atestasse minha demência? Se eu fosse miserável a ponto de nada poder oferecer e só poder, simplesmente, pedir? E se eu não tivesse nada a oferecer, se eu não pudesse nada fazer, que valor eu teria? Seria eu valorizado?

Já vi na TV pessoas sendo retiradas até de lixões para serem modelos, numa descoberta de talentos, e assim ela passaria a ser alguém. É o mesmo que dizer: “você não era ninguém aqui, ninguém te valorizava, mas agora você vai ser bonita, vai ter dinheiro, vai ser famosa, e as pessoas vão gostar e dar valor a você”. Fazemos parte desse mundo: o mundo da tietagem, o mundo em que aquele que se destaca é bem visto e bem olhado, e o mundo que, por consequência, as pessoas disputam por um primeiro lugar, cuidam mais do que deviam da própria aparência, e buscam técnicas e mais técnicas, conhecimento e mais conhecimento, poder e mais poder, dinheiro e mais dinheiro, para serem, no fundo, valorizadas.

Todas estas coisas, em si mesmas, não possuem um valor concreto, mas passageiro, por isso acredito que, no fundo, procuram para se sentirem valorizadas. Claro que neste valor em crise, estas mesmas pessoas reconhecem as demais pelo mesmo critério. Estas deviam questionar-se seriamente sobre seu grau de superficialidade, de vazio e de passageiro, em detrimento daquilo que é eterno e verdadeiro, que deveria ser valorizar as pessoas por quem elas são, puro e simplesmente, pelo seu coração. Alguns covardes podem pensar que só Deus os enxerga, mas não, as crianças e os idosos também, e que se pergunte porquê.

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Aborto: liberdade para matar

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little-joy-mother-and-child-oil-painting-of-baby-original-1343877852_bDiz-se que devemos usar, como forma de linguagem, a que o destinatário do texto entenda melhor. Que devemos nos portar diferentemente, quanto ao linguajar, dependendo do ambiente que se está e do receptor. Disse a mesma coisa duas vezes. Então, que já se possa entender que estou me qualificando com o que disse. Irei falar do aborto para os que abortam ou são simpatizantes da ideia. Já estou falando disso e, aliás, tentarei ser o mais breve possível, para que possa ser lido.

Falam que é usar da liberdade, o abortar. Eu me pergunto se existe uma só liberdade, isto é, só a minha, ou só aquele que aborta. É como um adolescente imbecil pode gritar, insatisfeito com a vida, para seus pais: “Eu não pedi para nascer!” – Do mesmo modo, o feto que será morto pelo abortador –criei a palavra– não pediu pra morrer! Pois que eu saiba, liberdade não se vê de um lado só. Bem assim, ó: Se Fulano tem liberdade para matar, Cicrano, que não fez nada contra Fulano, tem liberdade para viver. Uma liberdade confronta a outra e Fulano não pode usar da sua liberdade. Então, para mim, e para quem quiser pensar assim, não existe liberdade para abortar.

Liberdade é um direito, e clamam pelos direitos da mulher sem pensar nos direitos da criança. Ah, claro! Não considera aquele feto como gente, pessoa, aquele que já foi feto um dia. Não há algo de mais contraditório, é como querer, forçadamente chamar branco de vermelho, e vermelho-sangue. Direitos, mais uma vez, confrontam outros direitos, a não ser que um ser humano que irá nascer não tenha direitos. No caso da legislação brasileira, tem. Só que esse pessoal que quer que outros abortem, que são bárbaras pessoas, vão passando por cima de tudo isso, de tudo que é lei, direito constitucional, tratado internacional, e por aí vai, e dizendo-se defensores dos direitos humanos.

Para terminar, só posso dizer que se o aborto não fosse consentido pela mãe, era, em vez de mais revoltante, um mínimo mais aceitável. Não consigo aceitar que uma mãe aborte seu filho, e é porque tenho mãe e é a pessoa mais importante da minha vida. Imagina se minha mãe resolvesse me matar? Se minha mãe tivesse me abortado, eu não estaria aqui escrevendo este texto contra todos esses que, para falar politicamente correto, tem o direito de pensar diferente. Mas, como eu não sou, digo mesmo que estou escrevendo para desumanos, e tenho que chamá-los assim, para que não seja de outras coisas.

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Feliz imperfeição

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feliz imperfeiçãoPerfeição, segundo a teologia, é o estado ou condição de quem está livre de pecados. Já num nível menos teológico, é pessoa ou coisa sem defeito. Acaba no final, sendo a mesma coisa, coisa que se refere aos anjos, à Maria Santíssima e a Deus, a suma perfeição. Exclusivamente, estas pessoas são as que se pode referir perfeição e ninguém mais.

E o que se pode fazer, quando, encarnado em si, tem algo dizendo que já se foi perfeito? O que fazer, quando se tem uma sede e desejo de ser Deus, algumas vezes inclinadas para o desejo de perfeição? O que dizer, quando Jesus disse: “Sede santos, assim como vosso Pai celeste é santo". (Mt 5, 48) – Esse sentido de santidade, em um primeiro modo, remete à perfeição, não é? Então, o que fazer se não se pode alcançá-la em tão alto grau?

Dependendo do ponto de vista, pode ser um peso ou um alívio, a ausência de perfeição. Um peso quando se quer porque se quer ser perfeito e não se consegue, porque se quer porque se quer cumprir com as promessas feitas e não se consegue, porque se quer porque se quer não pecar e não se consegue. Não há como ter esta mentalidade e não viver com um tronco no lugar de uma cruz a se carregar, cruz esta que deveria ser um pedaço de madeiro, o que já é bastante pesado, inclusive na simbologia da coisa. Mas, que se dirá de um tronco? É cruz plus.

Por outro lado, pode ser um alívio, e que alívio pode ser não ser perfeito. Imagine saber que muitos dos erros são sem querer, que por mais que se possa tentar acertar, não se consegue. Imagine, saber que não se errou por mal, que se soubesse o certo, certamente o faria, que se fosse mais livre e tivesse menos inclinações não teria errado tanto. Imagine só não ser como Lúcifer e não carregar pela eternidade a consequência de um pecado, mas, ao contrário, admitir o próprio perdão, porque, simplesmente, não se é perfeito. Imagine não só perdoar, como também merecer o perdão de todos que tiverem a disposição de fazê-lo! Imagine! Imagine, ainda mais, deixar Jesus ajudar a cada um a carregar a própria cruz naquela que já foi carregada por Ele e por toda a humanidade de todos os tempos e eras. Ah, isso é um tremendo de um alívio.

Que caminho de perfeição se trilha ou se deve trilhar? O de reconhecer que isso não é um peso e que Deus em si será perfeito, enquanto cada um, por si mesmo, não é nada mais do que um verme miserável. Quem caminha um caminho de se aperfeiçoar, caminha um caminho sem Deus e não sabe – deveria ser budista. O cristão, na verdade, é aperfeiçoado, é moldado pelo amor de Deus, amor este que se manifesta nas mais diversas formas, inclusive nos dons e frutos do Espírito Santo que transformam tudo aquilo que por nós eram vícios em maravilhosas virtudes.

É tudo, portanto, uma questão de configuração – “Importa que ele cresça e que eu diminua.” (Jo 3, 30); “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim.” (Gal. 2, 20ª) – e não uma questão de autodestruição e de esforço sobrenatural e de autocomiseração  e de autoflagelação e de autodesistência. Não. O que Jesus diz é o diametralmente oposto: “Misericórdia eu quero, não sacrifícios. De fato, não é a justos que vim chamar, mas a pecadores".(Mt 9,13)

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Carta ao Eu-lírico

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Querido Eu-lírico,

É com muito pesar que eu noticio a morte das suas musas. Tenho me questionado muito sobre o sentido do que é poesia no meu ponto de vista da arte e como arte, e vi que não há mais razão para a existência delas.

Confesso que me vi decepcionado quando soube de outro escritor, que se acha também poeta, que queria competir com os seus poemas de amor. Disseram-me ontem e pensei muito em você, porque conheço a sua total desaprovação a qualquer tipo de comparação, a não ser para dizer que Augusto dos Anjos era o melhor de todos.

Mas, sério, disputar poesia é como disputar um coração de uma mulher, é tratá-la como objeto, troféu, e não como a obra mais perfeita da criação que, não por acaso, possui o coração que ama com mais perfeição, que é o coração de mãe. E você sabe da minha opinião: que quem merece o amor de uma mulher é o dono vara que floresce, como São José, bem como escrevemos: “...se é amor de amor/ Foi do amor Dele que se nasceu”.

Por isso, Eu-lírico, não vou deixar mais você escrever romanticamente. A partir de ontem em diante, sou eu que escrevo, e só serão amores de verdade. Nada mais que se fale de um verdadeiro sentimento será dedicado publicamente. Afinal, porque receber elogios e encantar a mais de uma mulher com palavras devidamente endereçadas? Creio que se é por amor, só me basta, agora, um sorriso.

Não vejo mais sentido em aproveitar-me do amor senão for para falar sobre ele, no seu mais amplo sentido, e para isto não preciso de musas. Você se lembra de quando escrevemos o “Amor Esponsal”? Lembra-se de como é belo e verdadeiro? Não foi necessária nenhuma musa, tudo foi puramente abstrato, como uma tese em forma de poesia. E não ficou bom? Não ficou verdadeiro? Pois é assim que escreveremos de hoje em diante.

Estou entregando agora a você não mais uma musa, mas milhares de objetos a se pensar e criar. E só para lembrar que é meu nome que está em jogo, já que eu não dei a você nenhum, senão aquele que aprendi nas minhas aulas de literatura. Você é Eu-lírico e pronto. Eu tenho meu nome e quem lê me sabe. Não vou esconder-me nas costas de um pseudônimo (você sabe das influências que eu tenho de Schopenhauer).

E é assim, companheiro, que me despeço, e dispenso você de mais esse trabalho. Quando for falar do eros, deixa que eu falo e se cale. Pois, enquanto eu for vivo, meus poemas de amor só abrirão um sorriso. Confesso que fico triste toda vez que você perde uma musa e a poesia só fica com palavras, é triste. Por isso, tomei essa decisão também por você, e não ache que foi uma decisão precipitada e nem que vou voltar atrás, você sabe muito bem que eu não vou.

Do seu companheiro de longos dias,

Poeta.

Ps.: Quando restrinjo esse amor ao “eros”, você sabe do que estamos falando. Entendido? Pode se alegrar!

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