Onde está o teu irmão
Sobre a Unidade
De vez em quando a gente vê umas correções sem sentido, tipo crítica da crítica da critica. De vez em quando a gente também vê palavras sem força, sabedorias vazias, sem testemunho. De vez em quando vemos palavras maldosas fantasiadas de bênção. Vemos inimizades dando força a falar de amizade. Vemos gente excluindo pessoas para falar de união.
Quem critica a crítica, está também criticando. A sabedoria precisa de tempo e fundamento, o fundamento é Deus e o tempo é o necessário para entender e reconhecer a sabedoria da não-sabedoria. Qual o sentido de abençoar a um, se for para maldizer o outro? Ainda mais, como falar de uma amizade sem saber o que ela significa? Não seria a amizade algo a ser construído com o tempo, com a verdade e com o compromisso? Não se pode fofocar e falar mal de uma pessoa e depois fingir ser o melhor amigo dela, nem se pode excluir para unir.
Não creio numa unidade disfarçada, tão tênue que não aceita uma correção. Uma unidade tão fraca que não suporta um abalo. Uma unidade tão mentirosa que não sabe reconhecer o que é e o que não é verdade. Pois o que vale a unidade sem honestidade, sem a verdade? O que vale a unidade errante, que não sabe para onde vai?
Um rebanho de ovelhas não pode se dispersar, mas para manter a união, não precisam estar olhando umas para as outras, mas para o seu pastor. É o pastor que justifica a unidade, não o rebanho.
Baseado nisso, penso, posso estar errado, mas penso. Penso que a unidade só vale a pena se estiver seguindo a direção correta. A voz do pastor me chama, se o rebanho não ouve, não vou com o rebanho, mas com o pastor.
Da mudança
Demos graças ao princípio da continuidade! Ou princípio da inalterabilidade, talvez da segurança, imutabilidade. Melhor, demos graças ao princípio do não erro. Pois, é por causa dele que muitas vezes persistimos no insucesso acreditando no sucesso. O primeiro caminho sempre precisa ser o melhor, se não for o único.
Se saímos de uma encruzilhada para uma estrada, e nela há uma muralha, o que fazer? Inteligente seria se nós voltássemos e procurássemos outro caminho. Mas, não! O princípio da continuidade quer nos fazer atravessar, porque somos bons demais o suficiente para aceitar que escolhemos o caminho errado, e muitas vezes precisamos voltar.
Por vezes um caminho é maravilhoso e cheio de encanto, e não queremos que nada se modifique. É o princípio da inalterabilidade que quer que tudo continue perfeito mesmo quando no continuar aquilo não continua mais tão belo. Desse modo, paramos de caminhar e ficamos ali vendo o lago do cisne.
Às vezes o caminho é triste, sem cor, sem graça. Começamos a ficar desanimados, desgastados, sem vontade de caminhar. Ficamos acostumados com tanta melancolia e, por causa do princípio da segurança, dizemos que aquilo é nosso e não queremos abrir mão, mesmo avistando flores num caminho paralelo.
Já outras vezes, num ímpeto de fúria contra a própria limitação, em puros orgulho e soberba, não admitimos errar, e entramos no princípio da imutabilidade. É aquele caminho cheio de espinhos, de pedras, de animais peçonhentos, selvagens... Que nos fere, nos rasga, nos inocula seu veneno e nos devora. E nós, os titãs da vida, enfrentando a lógica, a reta razão, o bom senso, a inteligência, os bons modos, simplesmente, continuamos.
Podemos mudar enquanto é tempo. Devemos mudar enquanto é tempo. E qual é o problema de mudar? A opinião das pessoas sobre nós, ou a nossa própria ideia de fracasso? Há tempo enquanto é tempo de se perguntar aonde estamos, porque estamos e para onde vamos. E é bom que seja feito, porque há caminhos que no meio deles atravessa uma porta, que se fecha e não deveria ser quebrada. É o que muitos fazem, porque não tiveram inteligência e humildade para voltar atrás.
Para Todos os Santos
Repita comigo:
Hoje será meu dia. Farei o possível e o impossível para ver isso acontecer. No dia de hoje, serei homenageado e festejarei. Não precisarei ter nome algum, nem ser lembrado por ninguém, mas santo eu serei.
Ame o que precise amar, odeie o que precise odiar, sofra o que tiver de sofrer e receba o que tiver de receber. Bata em quem precise bater, acaricie quem for preciso acariciar, corrija quem for preciso corrigir, e mime quem for preciso mimar, tudo eu farei para chegar lá.
Foi para o que eu nasci, é quem no fundo eu sou e devo ser, por isso, é solo a se pisar. Mas, para chegar lá, muitos inimigos terei. A mim mesmo, muitas vezes enfrentarei, mas, com todos os amigos que conquistarei, também lá eu vou morar.
Vou ser tocha viva a carregar o fogo que me queima. Esse fogo que tudo alivia, eu também hei de levar. Por todos os lugares em que eu passar, essa chama se encontrará, e farei um incêndio, se preciso for para o vento um dia me acalmar.
Se tentarem me apagar, é porque eu já queimei, e quando a última fagulha se apagar, eu já estarei no meu lugar. Mas, se quiserem me ver queimar, pouco a pouco me consumirei, mas com as lágrimas com que me apagarei, muitas outras piras irão se acender.
Erre o caminho que for, também o fogo deixarei e não me preocuparei, porque este fim se justifica pelo meio. O meio é o amor, e desse amor irei me consumir e explodir, para um dia eu o encontrar.
A dor tentará me abater, mas a paz permanecerá. A tristeza irá se render, porque a alegria prevalecerá. Bom direito farei para meu julgamento não se questionar e, assim, a morte eu vencerei porque a vida eterna é a sentença que se dará. Porque santo eu serei.
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