O bonzinho e o outro

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Lá se vão caminhando na calçada dois homenzinhos: um é bonzinho e o outro, não; um é ingênuo e o outro, não; um só vê em si bondade e o outro, não. O bonzinho está indo para o trabalho e o outro está fazendo seus exercícios físicos de “headphones”. Os dois estão a pensar...

O bonzinho diz em sua mente: “meu chefe é tão bom, quer que eu seja um homem esforçado. Pede-me para que trabalhe além do necessário, isso porque precisa de mim, porque sou o melhor funcionário, daqui a pouco eu ganho uma promoção!”.

O outro, por sua vez, é dono de uma empresa. E, enquanto corre, pensa nos problemas com os quais vai lidar quando chegar à sede: “meu Deus do Céu, o que é que eu faço? Tenho de demitir funcionários... será que eles vão arranjar outro emprego? Vou me certificar se os documentos deles estão todos corretos, tudo registrado, porque lá vêm mais processos trabalhistas desses safados que querem enfiar a faca na goela da gente!”.

Vejamos o contrário, se fosse o bonzinho o dono da empresa e o outro o funcionário: 

O bonzinho diz em sua mente: “por que Deus é tão ruim comigo? Por que permite que isso tudo aconteça? Só porque eu sou uma pessoa boa? O que eu fiz pra merecer? Eu sou um homem honesto, trabalhador, mas bonzinho só se dá mal! Qual é a virtude em ser uma pessoa boa? As pessoas só querem se aproveitar da gente! Fui inventar de dar aumento aos meus funcionários, de liberá-los quando precisassem... No que deu? Esses processos trabalhistas que me ferraram! E eu, que depositei minha confiança neles, fui traído! Mentiram para o juiz e eu não tinha nada comprovando! Que droga! Quero morrer! Sou bom demais para este mundo!”.

O outro é um funcionário de uma empresa: “esse meu chefe é um esperto, pena que ele não é mais do que eu! Enquanto me coloca para trabalhar hora extra e não me paga, eu fico caladinho na minha. Se, por um lado, ele estiver precisando de mim, se ele for um cara bom, uma hora ele vai me recompensar. Se, por outro lado, ele estiver só se aproveitando de mim e me pôr para fora, vou lascar um processo nele!”.

E assim é a vida. Quem se acha o bom e, na sua ingenuidade, não se vê capaz de mal nenhum também não o vê nos outros. Mas aquele outro que reconhece em si a capacidade de ser mau, mas que não o é pela boa educação que teve, por misericórdia de Deus, ou por qualquer razão que seja, esse sim, consegue viver e respirar.

O bom vê maldade em tudo menos em si e, por tanta ingenuidade, acaba por cometer pecados gravíssimos sem perceber. Por outro lado, o outro consegue ser mais misericordioso tanto consigo tanto com os outros e, além de ser mais alerta, consegue precaver-se e arrepender-se de muitas maldades que fez e que seria capaz de fazer, porque as enxerga.

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1 Comentários

Um comentário :

  1. primeiro lugar só Deus é Bom e ficar na murmuração não caracteriza que você é bom. Ser ruim, é fácil e é o que todos nos fazemos de melhor, olharmos só para nosso umbigo...sem se preocupar com o outro, agora ser misericordioso diferente, é buscar ter um coração generoso onde não impera a maldade nem a centralidade do "Eu".
    Precisamos sair de nós e enxergar o outro, só assim poderemos falar de maldade e bondade, quando vejo em mim o outro...

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