Verdade

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Ser humano e pretensioso, um se liga ao outro quase que inexoravelmente. Esse ser insiste e insiste em tomár as rédeas da sua existência, reluta em querer armar o próprio destino (e que destino!). Essa é uma tentação terrível, talvez a pior, de querer ser senhor da própria vida, esquecendo-se do verdadeiro Kírios. Ele, sim, deve tomar conta da nossa caminhada.

Insistimos em dizer que conhecemo-nos, que sabemos o que precisamos, de onde vimos, pra onde vamos, porque vamos e, o pior de tudo, o que devemos fazer e o que nos faz feliz. Bem verdade que diante dessa nossa idiotice e presunção, dá-nos sincera vontade de rir! Quão idiota sou! Ou melhor, que besta sou eu para convencer-me que sei o que é melhor pra mim e que sei a origem e as consequências de meus atos!

Depois de ridicularizar-me bastante, devo eu, todavia, entristecer-me. Na verdade, temos um Senhor, Criador, Pastor, um Kyrios, que deve guiar-nos ao longo do nosso caminho. Ele, sim, é o único capaz de mostrar-nos nosso verdadeiro eu, ainda de onde vimos, para onde vamos, porque vimos a vamos, o que precisamos, porque precisamos, o que e por que devemos fazer. Enfim, Ele sabe o que nos faz feliz e por que nos faz feliz. Em suma, agora de verdade, render-nos à voz e direcionamento de Deus é a única forma de sermos verdadeiramente felizes.

Felicidade, eis a pedra que atrapalha o caminho desse texto. Tens a coragem e ousadia de dizer-te que és feliz? Como podes ser feliz enquanto tantos sofrem? Ainda podemos ir além. Sabes se serás feliz quando morreres? Se não, como podes afirmar a ti mesmo que és feliz sem saber se quando morreres, e isto pode acontecer a qualquer momento, serás ainda. Ouso constranger-te, ainda, dizendo que teu Kyrios pode frustrar-te quando o vires, afirmando que tinha para ti tantos planos e que ousastes executar os teus. Ainda diria Ele que tem uma coroa para ti, mas não pode te dar.

Ainda tu, pobre criança, contenta-te com tão pouco? Porque contenta-te com a vida e os frutos que tens? Achas muito o que fazes? Isso é por que não saber o que Deus tem para ti, se ouvirdes Sua voz e obedecerdes ao Seu chamado. Porque teimas em viver com tais migalhas? Porque insistes em ver os tubarões da superfície, sabendo que existem tantos tesouros no fundo do mar?

Esquece-te, portanto, dos conceitos que formastes sobre ti. Ajoelha-te e reconhece-te como pequeno, minúsculo, microscópico, diante daqule que te criou. Aceita ainda que tua inteligência é muito menor do que a ti mesmo e que, verdadeiramente, sobre ti não sabes nada a não ser aquilo que te foi possível revelar. Não esquece-te, pois, destas revelações, visto que trata-se de um pouco que tens de ti.

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Do arrependimento

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Arrepender-se, sintética e objetivamente, é estar nu diante de si mesmo, sem máscaras nem nada que possa esconder a realidade. Trata-se de um processo doloroso, mas absolutamente necessário.

Pode haver outras facetas desse estado, mas, para nós, o arrependimento vem quando perdemos tempo, quando vivemos uma mentira. Em outras palavras, ele vem quando a realidade que vivemos não condiz com a nossa realidade. Arrependo-me quando vivo tal situação. Por exemplo, o pecado não condiz com a minha realidade de cristão, e quando peco, o faço sem ter real consciência da magnitude de tal ato, só que alguma hora a verdade vai aparecer, e quando ela aparece, ou seja, quando obtenho a consciência dela, surge a contrição.

De fato, estamos falando sobre um erro, já que este é inato a condição humana. Só os anjos, portanto, possuem a capacidade de não errar, por isso não se arrependem. Desse modo, não podemos culpar-nos pelos erros, pequenos ou graves, que eventualmente viemos a cometer. É inerente a nossa condição de homo non sapiens, já que, definitivamente, assim somos.

Passada essa primeira fase, a da consciência, uma nova deve surgir, trata-se da atitude favorável a verdade. Por meio disso, adquirimos a consciência de algo muito importante: Só os fortes se arrependem. Já viu alguém fraco se arrepender? Deve existir muita força interior em uma pessoa para que, admitindo sua condição totalmente falível, entristeça-se por sua atitude e, imbuído da força proveniente de sua inclinação para o bem, busca consertar o defeito existente na máquina da verdade. Em outras palavras, o cristão que peca, estando consciente de seu erro, deve confessar-se (assumir o erro) e não admitir de si mesmo a sua repetição. Isto é consertar e conservar a sua verdade.

Vale ressaltar que não se pode ficar preso em nenhuma dessas etapas. O arrependimento deve passar, assim como a fase de conserto. A verdade estando restabelecida, deve ser vivida, ela é realidade e deve trazer paz e felicidade.

Admitamos, portanto, nossa condição humana e falível. Que nós tomemos consciência da verdade da nossa vida e que nos arrependamos de não vivê-la, para que assim, consertemos nossos erros. Se queremos ser felizes e ter paz, estaremos prontos para uma vida nova e coerente com aquilo que realmente somos, imagem e semelhança de Deus.

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O que é amar?

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Eu não sei se sei o que é amor. Só sei o quanto difícil é amar. Essa relação que se funda nesse sentimento ou não sei mais no quê e que ainda é bilateral, ou seja, não depende só de um lado, que se concretiza numa troca de manifestações e que, ainda, não pode ser egoísta, ciumenta, orgulhosa, maldosa, impaciente, escandalosa, arrogante e incrédula.

Além de tudo isso, como se não bastasse, essa relação tem que ser livre, de ambos os lados tanto junto como isoladamente. Um não pode sufocar o outro assim como o inverso, os dois tem que ter sua independência e, além de tudo, completar-se já sendo completos. Completar-se já sendo completos? Complementar-se.

Como tudo isso é complicado! E, de fato, aprende-se errando. Erra-se e sofre-se as consequências desse erro. Uma pergunta fica no ar: existe a possibilidade do conserto? Eis que vem à tona aquela característica do amor, a bilateralidade. Quando um não quer, dois não amam. Decorrente disso surgem várias outras perguntas. O que faz aquele que ama, se realmente ama?

Existe juntamente ao amor a vontade de se estar junto? Ou, por outro lado, aquele que ama deseja estar longe do amado? Se sim, porque?

E como sabemos que amamos? Eu queria ter tido mais tempo para responder essa pergunta, porque não me sinto tão bem resolvido. Mas, se estiver certo no que digo, sei que amo quando o amado assim o é sem se fazer necessário. Sei que amo quando descubro que a ausência da pessoa amada é sentida mesmo sem que se fique um vazio na sua ausência. Uma coisa é certa: na precisão, na necessidade, não se dá pra saber se realmente se ama. Isso se descobre na inutilidade.

Porque ser tão sensível, tão emotivo? Eis uma qualidade prejudicial. Coração que sente é coração que sofre. No entanto, esse coração é o que é capaz de se abrir. Porque se abrir? Se abro-me e assim me prejudico é por que, quem sabe, alguém precise dessa minha abertura.

Abrindo-me de vez. Digo que amor só é bom se for vivido, se não for, é sofrido.

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Desengano

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Eu pensava tão bem de mim. Achava-me alguém sábio, decidido, forte, quase uma fortaleza. Hoje, feliz ou infelizmente, vejo que estava completamente enganado. Como é que eu pude ser idiota por tanto tempo e não enxergar?

Queria falar e escrever sobre a teoria dos valores. Eu, que não conseguia escalonar os meus valores, eu que não estabelecia essa hierarquia. Devo, antes de escrever e falar sobre algo, ser testemunha deste algo na minha vida. Deve estar em primeiro lugar Deus e acima de tudo e de todos, o resto ainda hei de aprender.

É impressionante isso, falava tanto sobre a vontade de Deus e não percebia que eu estava totalmente fora da sua. Fora das suas vontades implícitas e explícitas, diretas e indiretas. Eu sabia dessas vontades, mas, ou não conseguia ver que sabia, ou não queria ver que sabia e, por isso, não enfrentei, fui um fraco, um covarde enterrando meus talentos por tanto tempo.

Quando falo de vontades implícitas quero dizer aquelas que Deus não precisa revelar que quer, como "meu filho, eu quero que você vá à missa no domingo, que se confesse, que não caia no pecado e que se afaste de tudo que o faça pecar". É óbvio que Ele quer isso. E das vontades explícitas, falo das que foram reveladas por Ele, como quando falou que queria que eu voltasse pro grupo de oração e entrasse em um ministério pra servir. Já quando falo das diretas, quero dizer aquelas que Ele diretamente me fala pela palavra, por alguém, para mim mesmo, como colocá-Lo acima de tudo; já as indiretas são as decorrentes disso, como não permitir que algo seja mais importante que Ele e atrapalhe nossa relação.

Eu, ainda, que falava tanto de amor, era o pior amante que já existiu. Não amante de outra pessoa, isso eu fui um dos melhores que já vi. Era um mau amante de mim mesmo, não me respeitei, não estabeleci meu território. Permiti por tanto tempo ser abusado! Pensava eu que suportava tudo por amor, mas que amor é esse que nos tira o amor que temos por nós mesmos? Também não fui nada inteligente. Sufocava-me, doava-me, entregava-me, sacrificava-me por uma relação que me afastava daquilo que sempre foi mais importante da minha vida e que, definitivamente, afastava-me do futuro que me era mais caro. A minha morte! Se eu morresse do jeito que estava, era possível que não me salvasse, contava tão somente com a misericórdia, já que não possuía mérito algum.

E por que eu passei a estudar? Deus que me pôs neste curso, os planos eram Dele para mim e eu os substituí pelos que eu formei, eu e minha idiotice formamos planos idiotas, inúteis e vazios. Agora que fui destilado e estou na minha verdadeira substância, restabelecendo assim minha saúde intelectual, consigo ver o que pode ser de futuro pra mim. Quero outra vida!

Estou, hoje, diante de uma porta e à procura de um tesouro que pode estar por trás dela. Nesta porta tem um aviso dizendo que está ocupado. Devo eu respeitar o aviso e esperar que o recinto seja desocupado? Ou devo eu entrar e a outra pessoa ver que está na hora de sair? Meu querido amigo ou amiga, não sei, não sei mesmo! Só sei de uma coisa: talvez esteja na hora de reaprender na prática aquilo que não soube viver.

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