Da Presunção (ou soberba)

14 comentários

Este texto é dedicado a você e a mim (bem enfatizado) que pensa que é grande, quer ser ou acha belo ser assim. Digo logo que não há besteira maior a se pensar, querer ou achar. Afinal, o que é ser grande?

Ser grande é ser maior que os outros? Pode-se pensar assim, até porque tudo depende de um referencial. Consideramos algo grande até que encontramos algo maior, não é verdade? Por isso, se eu me acho grande, é porque me vejo maior que os outros. Todavia, meu querido colega, trata-se de uma imensa ilusão, eu não sou maior do que ninguém. Deveria, sim, me reconhecer como pior.

Na verdade, os talentos, que muito ou pouco eu os possa ter e, assim,  considerar-me grande ou pequeno, devem ser tratados com a devida  proporcionalidade. Não existe pessoa mais detestável do que um talentoso soberbo, nem existe pessoa mais admirável do que o humilde. Para quem não tem muitos talentos não é tarefa difícil ser humilde, é só se reconhecer como realmente se é. Aí é que mora o problema, o talentoso soberbo pelo menos é talentoso, mas e o soberbo que não tem nenhum motivo para o ser? Resumo esse infeliz em uma palavra: Ridículo! Assim me classifico.

É ridículo o meu peito estufado, meu olhar duro e seco, meu sorriso escarnecedor. É de se merecer o desbravar da razão dessa fuga da realidade, desse não reconhecer, desse iludir-se. Por que quero ser grande sem o ser? Isso é, na verdade, o desenvolver da semente que satanás plantou em cada um de nós. Por que não pensar que isso é mesmo influência de satanás na minha vida se a soberba é sua maior característica? É verdade, sim! Hoje sei que, se quiser dar um presente a Deus e um grande desgosto ao seu inimigo, é só arrancar de mim a soberba e buscar, como a quem procura água com sede, ser humilde.

Crescer em humildade, isto sim, é o abrir as portas para a grandeza. Deus não dá nada ao homem soberbo, visto que o ama, e torná-lo grande é condená-lo. Se eu quiser ser grande, que busque ser pequeno. Não é difícil chegar a esse raciocínio, para isto basta-nos imaginar uma árvore que quer crescer muito, mas não aprofunda suas raízes. Esta árvore acabará por ficar torta, já que não tem estrutura para ser grande. É um princípio muito simples: ao se crescer para baixo (em humildade), dá-se subsídio e sustento para o desenvolvimento no sentido oposto e concreto.

Não quero eu, nem você, creio, ser como aquele coqueiro: torto. Deus é que irá nos fazer grandes ou pequenos, dependendo de Sua vontade, até porque o tamanho de uma planta não depende dela mesma. Portanto, se desejo algo, hoje, desejo ser pequeno, ou pelo menos aprender a sê-lo.

14 comentários :

Postar um comentário

Retrato de Mau Gosto

12 comentários

Aquele bicho feio e fedido, que, graças a meu Bom Deus, vive longe de mim, não deseja que meus irmãos reflitam sua mais verdadeira beleza. Ele não decide como é, hora quer se passar por belo e exuberante, hora por monstruoso e assustador. A sua verdadeira aparência, se é que verdadeiramente existe, qual será?

Não quer se parecer fraco, já que de modo algum se aceita como perdedor, por esse motivo, busca nos acostumar com sua imagem ridícula. Para dizer que fere, mostra-se com dentes afiados, isso para não apresentar-se como banguela. Mostra-se com a pele branca, em virtude da sua existência sem luz, aparentando uma falsa beleza ebúrnea, de alabastro; na verdade, não quer deixar transparecer que pele alguma possui, é tão somente um espectro tosco. Sempre com vestes exuberantes, quer se parecer austero, nobre, senhor de algo, quando, na verdade, é escravo de si mesmo; suas vestes podres e rasgadas refletem sua verdadeira essência.

Não obstante, sentindo saudade de sua divina beleza perdida na eternidade, quer tirar a beleza do homem. Quando não quer que vistamos roupas escuras, ridículas, mesmo debaixo de um sol massacrante, quer tirá-las ou diminuí-las ao mínimo possível, fazendo com que pareçamos produtos pedindo para serem consumidos. Quer nos encher de metais, tatuagens, para tentar mostrar que a pele que Deus criou não é bela o suficiente, é sem graça. Depois ele fica rindo da pelanca cheia de riscos, dos buracos e infecções em nossa pele, da nossa dignidade perdida e da nossa morbidez idiota. Esse seu comportamento demonstra a profunda inveja que sente de nós.

Soberba decorrida em inveja. Por ela quer roubar as almas originadas e predestinadas a Deus. Para isto, às vezes mostra-se atraente por meio do luxo, do prazer, do poder, tudo que, na verdade, ele não possui. Vivendo em eterno e infinito desespero, oferece-nos um bocado de bijuterias, para que, enganando-nos, não fique sozinho em seu eterno suplício e derrota. Se Deus ele não pode derrotar, quer fazê-lo sofrer, retirando Dele alguns de seus filhos amados.

Ainda mostra-se a nós assustadoramente, de modo que o temamos. Mais uma vez, tenta nos ludibriar. Será que tem ele coragem de mostrar sua aparência pequena, curva, tosca e vazia? Ele sabe que se mostrasse sua verdadeira aparência nós nunca o respeitaríamos. Aí aparenta ser grande, monstruoso, assustador. E nós, com medo, às vezes fazemos o que ele pede, como se tivesse algum poder e fosse nos dar algo concreto em troca; outras vezes ficamos fascinados por ele e nos apaixonamos. Quão terrível desilusão nos espera, a nós que nos deixamos iludir por aquele pobre infeliz.

Aquele nojento pode não ser poderoso, grandioso, coisa que só Deus é. Mas, por tudo isso que pensamos, depreendemos um atributo que ele não quer deixar transparecer de modo algum, que ele é muito astuto. É por isso que devemos, portanto, tomar muito cuidado com ele.

12 comentários :

Postar um comentário

Da Felicidade. Final?

8 comentários

Para por fim e, quem sabe, não voltar mais a este assunto que tanto dá nó em minha cabeça, vamos falar sobre ela que tanto nos atrai e apavora. Desconsidere, portanto, em parte o que já escrevi, já que aquilo é o que acredito ser necessário para se buscar a felicidade. Está na hora de, pelo menos uma vez na vida, pensar em algo que não seja em mim, por mim e para mim.

Felicidade é corresponder às expectativas que se tem sobre si. Aquele que quer ser rico e deposita nisto a sua felicidade, satisfazendo tal desejo, considera-se feliz. Do mesmo modo o que considera felicidade uma realização familiar e a alcança, assim por diante. Todavia, tais metas são estritamente terrenas, passageiras, e que não satisfazem, de verdade, os anseios de nosso espírito, já que somos também eternos, como afirma Kierkegaard. Por isso, o conceito de felicidade deve ultrapassar o senso finito e alcançar também o nosso infinito, já que felicidade é plenitude, plenitude é por inteiro, e por inteiro deve atingir nossa realidade passageira e eterna.

Nasce agora, todavia, o desespero dos desesperos. Como posso ser feliz satisfazendo também minha alma? E agora, quem poderá me ajudar? Não é o Chapolin Colorado! Há alguém que me responde.

Talvez seja eu aquele jovem rico que pergunta ao Senhor: Bom Mestre, que devo fazer para ter a vida eterna? O Senhor me responde que devo cumprir os mandamentos. Todavia, mesmo guardando-os, não me sinto satisfeito, e fico a pensar o que mais me falta. Desse modo, respondo: Eu já faço tudo isso há um bom tempo, Jesus. Ele, sabendo o que penso e o que sinto, conhecendo minha sede de felicidade e a infinitude da minha alma, responde-me que ainda me falta algo, e diz-me que eu venda tudo que tenho, dê aos pobres, já que assim terei um tesouro no céu, depois vá o seguir.

Depois de muito pensar, discordar de mim mesmo e pensar novamente, cheguei à conclusão de que a felicidade, diferente da alegria, satisfação, do prazer, não é um estado de espírito, mas do espírito. Vale-me mais o meu espírito do que meu corpo e mente, já que estes são finitos e aquele não. Tem mais peso a minha realização eterna do que a passageira. Por isso, ser feliz, para mim, é viver o Céu na terra. É fazer por onde, constantemente, ter meus anseios de eternidade correspondidos, estando pronto para, a qualquer tempo, partir para ela.

Será por isso que Montaigne diz que filosofar é aprender a morrer? Talvez não tenha pensado assim, mas, o que o homem não cansa de buscar é a felicidade, e talvez não a encontre porque não sabe o que realmente ela é. Sabendo, não tem coragem de buscá-la.

8 comentários :

Postar um comentário

Da Felicidade

3 comentários

Não há como se falar em felicidade sem lembrar-se de tudo que aqui já abordamos, qual seja, verdade, liberdade, amor e Deus. Estes são setas que convergem para o fim único e, ausentando-se um, excluem-se os outros. Isto é, não existe felicidade, verdade, liberdade e amor sem Deus, assim como não há Deus sem felicidade, verdade, liberdade e amor.

No final das contas, tudo se resume em Deus. Aqui queremos pensar sobre nós, mas até para tanto devemos pensar Nele, já que é por Ele que fomos criados, de onde vimos e para onde devemos ir.

Não é difícil o raciocínio para conosco concordar, é só pensar que quando queremos dar significado a uma palavra devemos buscar, antes de tudo, sua etimologia. Em vista disso, perguntamos, qual a nossa etimologia? Quem acredita que veio do nada, sinto muito, mas sua vida não tem sentido, já que não tem nem origem! Nós, por outro lado, acreditamos que temos em Deus nossa origem, e Ele que por ser perfeito, não pode criar nada que também não seja. Assim fomos nós criados, perfeitos.

Dizer perfeição é dizer plenitude, falar plenitude é falar completude, e nisto pensar é pensar em felicidade. De fato, já fomos felizes. Não somos mais. Somos degenerados. Degeneramo-nos pelo pecado, e este é o motivo de todo sofrimento e infelicidade. Assim pensamos por que acreditamos que Deus, nosso Criador, criou-nos à Sua imagem e semelhança, ou seja, perfeitos. Dizer origem, natureza, é dizer essência. Acreditamos, pois, que o pecado é incompatível com nossa natureza, e essa nossa essência, na verdade, é santa. Se sofremos, é porque somos pecadores.

Quando se vive uma mentira não há como ser feliz, no máximo, vive-se uma grande ilusão de felicidade. Quero dizer que enquanto não se corresponder ao verdadeiro eu humano, que é, em primeiro lugar, santo, não há felicidade. Assim como não há como se dizer feliz enquanto se é escravo do erro. Ainda sendo verdadeiro e livre, não se pode de modo algum ser feliz enquanto não se ama, já que fomos criados pelo Amor e para o Amor.

Se se quer ser feliz, portanto, deve-se buscar tudo isso.

3 comentários :

Postar um comentário