E se eu fosse comunista?

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Dark Ages

Sempre houve estrago quando se misturou religião e política, e não está acontecendo diferente. Jesus ter dito a todos que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus parece não convencer. Ainda querem estabelecer o próprio reino neste mundo e não o de Deus.

A política, para uns a arte da conquista e da manutenção do poder, e para outros, a arte da coletividade, se infiltra no meio da Igreja e quer dizer, por causa dela, agora, quem é e quem não é Igreja. O pior disso tudo é dizer que uma pessoa está excomungada por votar em determinado partido por causa de certa posição política ou ideológica, não bastasse a a privação da liberdade de que acontece, isso se faz a nível de Brasil, um lixo em termos de política.

Fala-se do socialismo para lá e socialismo para cá, e pergunto eu, onde é que se viu escrito uma realidade semelhante ao do socialismo? Não foi nos atos dos apóstolos, na comunidade dos cristãos? Pior ainda, muito antes dos avós de Karl Marx pensarem em se casar, um santo mártir da Igreja escreveu um livro que descrevia algo muito semelhante à ideologia socialista em seu fantástico livro “Utopia”. Seu nome é São Thomas More. Agora uns que dizem que leem filosofia demais e parecem raciocinar de menos, colocam tudo que é socialismo e comunismo no mesmo saco, chamam de marxistas a todos e querem excomunga-los da Igreja.

Pior ainda, alguém tem a ousadia em afirmar que um cidadão, só por votar em um candidato a favor do aborto, está automaticamente excomungado, isso porque compactua com a ideia do aborto. Pelo amor de Deus! Isso é um completo absurdo, e são tantos os motivos que vou tentar descrever ao menos alguns: tem gente que nem sabe que o candidato é a favor do aborto; tem candidato que diz ser contra o aborto só para angariar votos (não fez isso a presidente Dilma Roussef?); não é concreto que o aborto vá ser autorizado por causa daquele candidato; a grande parte da população não entende nada de política, inclusive esses que estão falando em excomunhão!

Não fosse bastante essas razões óbvias, querem agora dizer que, se realmente votar em algum candidato abortista é compactuar com a ideia do aborto, isso ainda é capaz de excomungar. Existe crime “in abstrato”? Alguém comete um crime ou pecado antes de ele sequer ser cometido? Por exemplo: se eu sou a favor de que se mate Lady Gaga, eu carrego a culpa da morte dela, se por um acaso ela for assassinada? Ou eu cometo o crime e cometo um pecado gravíssimo somente se for eu o executor? Esse ser humano que por um acaso é a favor do aborto tem um mínimo de direito de ser convencido! Ou agora estamos voltando à Idade Média e ninguém tem liberdade de pensamento e de convencimento? Será que Jesus se agrada disso?

É por essas razões que sou pessoalmente compelido, mesmo sendo contra qualquer tipo de socialismo ou comunismo, a defender irmãos que estão sendo segregados por outros membros irmãos da própria Igreja. Muitos que amam a Deus e à Igreja estão se sentindo culpados e perseguidos por estes que privam suas liberdades, impedem suas consciências de exercer um livre ato e acabam, infelizmente, por sofrer verdadeira lavagem cerebral. A Igreja não é só o Papa em Roma, ela também é a unidade e o amor entre os cristãos nas mais diversas localidades, e isso está sendo especificamente ferido por falta de inteligência e politicagem.

Comentário de Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Auxiliar de Aracaju

Caro Igor, alguns dos seus argumentos não procedem, mas, de modo geral, compreendo o que você quis dizer: coloca-se contra aqueles que, de modo simplório, emanam decretos de excomunhão a torto e a direita. No objetivo geral, você está correto. A Igreja não excomunga ninguém por votar neste ou naquele candidato. Educar os cristãos para uma sadia e consciente participação na vida política é dever sim da Igreja, pois somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo, mas respeitando, certamente, a autonomia própria das realidades seculares.
Infelizmente, na Internet, com toda boa vontade do mundo, aparecem cristãos zelosos e com reta intenção que, no entanto, desenvolvem um linha de pensamento extramente simplista que, no fim, não expressa de modo algum a posição da Igreja nem do Papa. Não vejo por que seu artigo poderia provocar tanta polêmica...

No entanto, também é verdade que um cristão deve ter o cuidado de observar e refutar o programa de partidos políticos que sistematicamente defendam ideias contra a moral cristã, sobretudo no tocante à defesa da vida, do matrimônio e da sexualidade. Dar pura e simplesmente poderes a tais partidos seria contribuir para um ordenamento legal no País que contraria os valores humanos e cristãos, ajudando no processo de desumanização e desevangelização da nossa cultura.

Deus o abençoe.

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O príncipe de Maquiavel

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Napoleon ueberquert die Alpen-2

Certa vez eu emprestei um livro de Maquiavel, famosíssimo, chamado “O Príncipe”, e não me foi devolvido. Pergunto-me por quê. O que demais esse livro tem? Que tantas “verdades” são capazes de fazer um ser humano não me devolver um livro que custa dez reais pelas livrarias? Se fosse um “Imitação de Cristo”, um “Irmão de Assis”... ainda teria alguma explicação, já que são livros indispensáveis e tem gente que tem preguiça de dar uma passada em uma livraria, mas Maquiavel tem em todo lugar!

Eu fico é pensando no verdadeiro Príncipe, o Príncipe da Paz, porque se eu escrevesse um livro com tal nome, só poderia ser sobre ele. Mas o conteúdo iria ser tão diferente... Esse outro é príncipe da guerra, consegue as coisas matando todo mundo e vendo todo mundo como maldoso. Ainda que seja verdade que as pessoas são maldosas, mas isso não é justificativa para a prática da maldade.

“Prefiro ser temido do que ser amado”, diria o príncipe falso. Eu não consigo entender quem se sujeite a esse príncipe, já que agir pelo temor é agir sem liberdade. Como um ser humano pode gostar de um livro que ensina aos seus governantes a tirar-lhe a liberdade? É fazer muito papel de babaca... O Príncipe da Paz age na liberdade e ainda é capaz de perquerir aos próprios seguidores se querem voltar atrás. Ficaria sozinho pela verdade que é a sua vida.

Verdade... Tem tanta coisa disfarçada de verdade nesse livro, que acaba sendo uma tremenda mentira. É claro que a parte histórica é verdadeira, inclusive a que fala mal da Igreja, mas é só por um ponto de vista. Nesse ponto, é aceitável e útil, porque aprendemos, nós que somos membros, a amar a Igreja independente de seus demais membros ou pastores. Afinal, quem nunca pecou que atire a primeira bala.

Mas, o grande veneno mesmo é o tal do utilitarismo, esse que diz que “se for para o bem da coletividade, os fins justificam os meios”, ou, em outras palavras, “se eu balancear e ver que o final tem mais valor que o que eu abri mão por ele, vale a pena ir por esse caminho”. Essa maldita ideologia me fez fazer muita besteira e só Santa Teresa d’Ávila bateu o ponto final na dúvida e disse que nenhum pecado é justificável. Descobri que isso é desculpa de preguiçoso ou mesmo de retardado intelectual, como se pensar cansasse o corpo. Sempre há uma saída honesta, e se não houver, aí mora o martírio, e onde está o martírio, está o heroísmo. Por isso, para quem sempre sonhou ser um super-herói, como eu, existe um caminho muito fácil, sem precisar de super poderes, é o sacrifício de si mesmo.

Hoje eu vi o pai desse que não me devolveu o livro e pensei em escrever este texto. Não para pedir-lhe de volta, mas para dizer que não quero mais. Não preciso mais dele. Já tirei o que dele foi bom e foi muita pouca coisa. Afora isso, bem me foi útil o amor, a proteção e a graça de Deus, porque se não fosse, essa obra me levaria ao fogo eterno do mal.

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O elogio

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Blind Man's Bluff  Um dia eu fui elogiado. Não um elogio qualquer, desses que a gente recebe ao longo do dia, foi um inesquecível, por todas as circunstâncias, pela honestidade e pelo critério. Dele não esqueço mais.

Era uma colega de trabalho (ela que trabalhava e eu era um simples estagiário), que pelas vicissitudes da vida, havia se tornado deficiente visual. Aliás, dela sinto saudade, e é daquelas pessoas que sentimos falta dela, porque não há de nos ser muito útil, pelo contrário, nós temos que nos fazer obrigados para com ela. Sinto falta daquele ser humano, quer dizer, de todos naquele ambiente, não desfavorecendo a amizade por ninguém, é dela que sinto mais.

Ocorre que, certo dia, num daqueles intervalos de repartição pública em que todos se amam, iniciou-se uma conversa sobre mim – não lembro exatamente sobre o que era. Talvez porque o que aconteceu ali me marcou demais para que me lembrasse de qualquer outra coisa. Foi que, no meio da conversa, a minha amiga soltou um “Igor é lindo!”. Sei que houve mais conversas depois disso, mas aquele momento foi único em toda a minha vida.

De fato, o que me marcou foi que ela usou aquela figura de linguagem, a mais poética de todas: a metáfora. Ela em momento algum estava preocupada com aquilo que é exterior, sensível, visível, nem falava disso, embora os outros participantes tenderam por dar essa conotação, afinal, esse é o nosso costume, o dos que não enxergam.

Sinceramente, ainda não reconheço a razão do elogio, porém foi marcante. E por ele pude constatar: quem não vê, enxerga muito mais daquilo que verdadeiramente tem importância. Queria que todos pudessem assim enxergar, até mesmo eu, porque vejo bem demais e também sou dado a esse negócio de formosura. E é por essa razão que essa minha irmã não só me deixou curado, mas também constrangido.

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A realidade do mundo

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Weyden_Rogier_van_der_-_Descent_from_the_Cross_-_Detail_women_left2

Sabe algo que parece ser inteligente, mas é a maior insanidade que pode existir? É a não conformidade com a realidade. Não entendo porque a rebeldia é tão exaltada, se ela é tão débil. É claro, todos nós passamos por um tempo de ajuste entre o queríamos que fosse o mundo e o que realmente é, mas, o mais forte sempre vence, e a verdade é invencível.

Algo de bom existe no inconformismo, além da vontade santa de que as coisas sejam diferentes, é que isso é sinal de que existem uns valores muito mais do que universais, mas apriorísticos, eternos, e que nós temos sede desses valores. É como se nós estivéssemos estado em algo perfeito e quiséssemos que tudo retornasse a este estado.

Entretanto, existe algo de destruidor, de terrivelmente maléfico. É a má esperança, a esperança no mundo, nas pessoas, essa esperança sempre decepciona. O inconformado sempre espera que as pessoas vão mudar, que o mundo vai mudar, enfim, que a realidade em sua volta será transformada. Infelizmente, essa esperança engana.

É tolo esperar que os crimes deixem de ser cometidos, que comecemos a ter paz e segurança, é tolo esperar por um mundo melhor. Muito mais tolo é lamentar quando isso não acontece. Tolice, insensatez... imaturidade. Essa rebeldia frustrada e murmurante pertence a uma juventude imatura que faz sucesso um dia e no outro se suicida com um tiro de doze.

"Porque a vida não é mais fácil? Porque as pessoas não se amam? Porque?!" Sério, não sei nem se Deus suporta essa atitude e esse discurso. Não é pessimismo esperar ser decepcionado, não é pessimismo não esperar que o mundo melhore, isso é a realidade. As coisas, por si mesmas, não vão melhorar, elas dependem sempre de algo ou de alguém.

Esse é o sofrimento de estar nesse mundo, sofrimento que não sei como suporta aquele que não tem Deus. Como suportar viver sem a esperança de um amanhã, a esperança da paz eterna? Como sobreviver sem respirar e saborear aquilo de onde nós viemos e para onde vamos? Como conseguir viver sem Deus?

Conhecendo o pouco que conheço dele, não sei como poderia viver sem meu melhor amigo, pai e companheiro de dança. Não sei se poderia sobreviver sem a verdadeira esperança, de que se Ele não pode forçar nosso mundo a ser melhor, faz-se a si mesmo de mundo para nos habitar, e daí vem a Paz.

Este mundo é cruz, e a ressurreição só vem depois. Não se pode esperar ressurreição durante a cruz. Inteligente é quem aceita, abraça e espera cruz. Especial é quem ama a cruz e se não consegue mudar o mundo, faz, ao menos, o seu mundo e o mundo de quem está em sua volta um mundo melhor, não por esperar, mas por ser e fazer acontecer a paz. 

Shalom!

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A humildade substancial

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bosque-716318 Lá ia o jovem pensador caminhando pelo bosque, daqueles cheios de flores e lindos arbustos, pássaros voando e cantando e alguns animaizinhos pelo chão. E ele fazia aquilo que quase mais gostava: pensar. Quase, porque o seu pensar, perdia imediatamente para amar e, logo em seguida, para a oração. Este primeiro prazer seu, de fato, permitia a Deus iluminar o restante.

Naquela ocasião, estava pensando em Deus e naquilo que vem Dele. Pensava nos dons, na realidade das curas, dos milagres, da oração em línguas, das profecias; e também naqueles dons “para si”, como fortaleza, prudência, piedade, ciência e inteligência. Vinha-lhe em mente aquilo que sempre ouvia dos pregadores e lia nos livros de formação, que esses dons espirituais provêm de Deus, que deles somos administradores e não podemos nos gloriar. O rapaz tramitava em sua mente, que aquilo era óbvio demais, e que precisaria ser muito burro ou orgulhoso demais para não se tocar disso.

Não satisfeito, continuou o raciocínio. Foi voltando, para o que foi que Deus deu ao homem, se foi tão somente os dons espirituais e se é só deles que devemos ser meros administradores. Chegou, em primeiro lugar, na vida: “Não foi Deus quem a deu? Por que não somos também meros administradores dela, e não donos?” – Achou coerente e foi mais além: “A liberdade foi Deus quem deu, e realmente dela não somos donos, já que não se pode viver uma vida de pecado e se ir para o Céu pelo mero arbítrio. Também a liberdade é administrada”.

Estava gostando de onde estava chegando e foi além. O mundo foi Deus quem deu: os animais, as florestas, os bosques, as águas, os rios, os mares e tudo mais que existe. Então a humanidade é administradora de tudo isso, e de propriedade mesmo, não tem nada como sua.

Já começava a abrir um sorriso de orgulho da sua inteligência, quando, seguindo o mesmo raciocínio, deparou-se com a verdade: sua inteligência também foi dada por Deus, já que, no mínimo, ele é o motor inicial de tudo e tudo veio dele. Percebeu, pois, que dela não poderia se gloriar, mas que era razão de dar glória a Deus. Lembrou-se de sua namorada, até porque preferia ficar com ela a pensar, e da beleza dela, e que nem ela, por ser administradora, nem ele, como primeiro admirador, poderiam se envaidecer, mas só poderiam dar glórias a Deus por isso.

Com seu pensamento completamente comprometido pelo encadeamento que se formou, percebeu que sua visão perfeita que o permitia ver a beleza das coisas e das pessoas, inclusive da sua namorada e até a sua mesma, era dada por Deus. A sua fala e todos os seus sentidos também. Percebeu que suas virtudes não vinham de outro lugar... Pensou também nos defeitos, mas que eram resultado do pecado.

Enfim, encheu-se sua mente e, absorto, torporizado, estático, deitou-se no chão e começou, finalmente, a dar glórias a Deus por tudo isso, inclusive por estar ali vivo e ser filho Dele.

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