O que tem mais valor?

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Era outra vez um casal, marido e esposa. Ele era Pedro, e ela era Madalena.

Conheceram-se num parque de diversões, mais exatamente, na montanha russa. O que aconteceu foi que Pedro tinha ido sozinho ao parque, ele era bastante solitário e gostava disso. Madalena tinha ido com os primos. Quando Madalena ia para a montanha russa, acabou sobrando por ser mais velha do que a geração de primos e teve que ir sozinha no último carrinho, aí é onde ele entra na história, estava sozinho na fila e ela o convidou.

Quem já se apaixonou à primeira vista sabe que isto existe, e foi o que aconteceu. Pedro nunca havia sido convidado para algo antes, era como se as pessoas sentissem que ao fazê-lo, faltariam com algum tipo de respeito que não se sabe qual. Sentou-se no carrinho junto a Madalena, travaram a barra de segurança e começou o passeio. O que houve foi que ela, quando subiu a montanha e viu a altura em que estava, segurou com a sua a mão de dele, travando os dedos como um fechiclé. Gostaram e continuaram assim até o fim do passeio.

Não falo em destino, mas o Desígnio fez com que se encontrassem mais duas ou três vezes, até que, estando na hora certa, começaram a ter uma relação menos superficial, quando Madalena entrou na faculdade e o via todos os dias no centro de ciências humanas. Os anos se foram passando, e o que aconteceu o leitor provavelmente cogita em sua mente. Eles noivaram quando terminaram a faculdade, começaram a trabalhar e casaram-se apaixonados dois anos depois, quando tudo estava pronto para que isto acontecesse.

Pedro amava Madalena com tudo o que podia, queria que ela fosse a pessoa mais feliz do mundo e fazia tudo para que isto acontecesse. Madalena o amava com tudo o que não podia também, era fiel a Pedro até nos seus pensamentos. Assim, viviam um amor em que um levantava o outro, sem aqueles conceitos egoístas de amor que temos hoje em dia, em que se vive cada um para o seu lado. Enfim, eram felizes.

Até que em um dia, quando acumulavam sete anos de casados, Madalena foi sequestrada. Ocorreu quando ela voltava para casa do trabalho com o carro que havia comprado há duas semanas. Três jovens armados cercaram o carro quando ela estava parada no sinal. E aconteceu o que geralmente ocorre nos sequestros relâmpagos. A levaram para um lugar esquisito, e lá disseram que só a liberariam quando ela aceitasse ter uma relação sexual com eles, e se não quisesse, tirariam sua vida.

Madalena só pensava em Pedro, imaginava que a preferiria viva, e não ligaria tanto se ela tivesse aquela relação. Com o tempo tudo voltaria ao normal. Pensava também em si, mas naqueles poucos minutos, só teve tempo para imaginar o sofrimento de Pedro, que sempre se doou inteiramente. Escolheu pela sua vida e voltou para casa.

Aconteceu tudo o que ela imaginava. Pedro queria ela viva e a amava demais para condenar seu ato. O tempo passou, os filhos vieram, mas a culpa nunca saiu da mente e do coração de Madalena.

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Eurico e o Robô

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Era uma vez um homem chamado Eurico, ele era um homem poderoso e rico, enriquecido pelo povo.No ano de 2040 acumulava seus 119 anos, e começava a se preparar para a sua iminente morte, pois, ao completar seus 120 anos, suas células começariam a se autodestruir, coisa que a engenharia genética não foi capaz de evitar.

Eurico tinha carregado algumas desavenças na vida, era um político, e havia várias situações que sua ânsia de ter falava bem mais alto que seu coração. Por isso, quando estava para completar 100 anos, teve seu mandato cassado por peculato, e a lei, já evoluída, já tinha estabelecido que a cassação de mandatos fosse definitiva. O grande autor dessa façanha era um eminente juiz que convenceu toda a bancada, ele foi hábil por usar a sociedade como escudo e, principalmente, como instrumento coercitivo. O velho carregava incomensurável rancor por este homem digno.

Enfim chegou a hora da elaboração de seu testamento e o moribundo, que não tinha como amigos nem mesmo seus familiares, dos quais não era noticiado há muito tempo, deixou um testamento para seu robô que dizia:

Meu querido e fiel companheiro, enfim alcançou-me o destino, vim para ser nutriente dos vermes, e estes comerão da carne da mais alta nobreza. Deixo-te como herança o eterno desejo de minha razão, para que assim sejas digno de minha infinda estima. Deves eliminar aquele que ousou obstruir meu caminho de glória. Mate o juiz Tomás Carneiro, e deixe todos os meus bens para sua família, que merecerá indenização póstuma.

Seu fiel companheiro executou sua tarefa com sucesso e teve início aquela imensurável polêmica entre aqueles que decidiam os direitos.

Pergunta-se, pois: Quem, o quê e por quê deveria ser punido? (Uma dica: Pense como um juiz analisando o caso.)

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