Da Condenação

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da condenaçãoTodo julgamento que se estabelece, além de inútil, é sem legitimidade. Todo ele é fundamentado pelo erro, erro no amor. Exceto um único homem e uma única mulher, para quem assim crê, todos os homens de toda história erraram ou errarão. A questão é que aqueles que não pecaram não formaram juízo nenhum de ninguém, a não ser de que eram falhos.

Para os anjos, seres perfeitamente livres e inteligentes, cometer um pecado é cometer todos ao mesmo tempo. São substâncias puramente espirituais e, por isso, não têm a má inclinação da carne que foi ocasionada pelo pecado original. De uma forma mais simples de entender, eles não têm desculpa alguma para errar. Desse modo, qualquer decisão deles é definitiva, com consequências eternas, já que não se pode se arrepender quando se é perfeito e não se erra.

Já o homem, este erra e como erra. Falta-lhe inteligência, força, vontade, querer, poder, capacidade, conhecimento, condições, coragem... Também é feito de carne e constantemente procura sacia-la. É vaidoso e quase sempre tem como finalidade dos seus atos a si mesmo. É orgulhoso e se protege de tudo e de todos. É frágil e se vinga com muita facilidade. Enfim, é incompetente “por natureza”.

Doutro ponto, pergunta-se, associando o erro humano ao direito: Pode alguém cometer pecado culposo, seja por negligência, imprudência ou imperícia? É claro que o pecado não existe sem a intenção. Trata-se de duas etapas, uma é a intenção e a outra a prática. Só a ação, sem a intenção, não configura o pecado. Por outro lado, sorte daquele que não pecou porque não conseguiu fazê-lo, somente porque o arrependimento vem mais cedo. Quem mata em seu coração, já matou. O problema do pecado não é, portanto, o resultado, mas a intenção.

Se você não pensou, vou situa-lo no problema. O homem erra, mas não como os anjos. Os anjos perfeitos erram sendo perfeitos, e por isto tem eterna consequência dos seus erros. Mas e o homem? Por que ele, que é tão defeituoso, se condena? Por que Deus tem coragem de condena-lo sabendo da sua incapacidade? Ora, o que foi que Jesus disse na cruz, senão "Pai! Perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!" (Lucas 23, 34)? Isso quer dizer que Ele não condena o homem por mata-lo. Então, quem o condena?

Alguém condenou os anjos? Se você pensar direitinho, vai deduzir facilmente que aqueles que optaram pelo mal, em virtude de sua essência perfeita, por si mesmos baniram-se. Não podiam de modo algum estar no mesmo ambiente de Deus, supremo bem. Deus não os condenou. Na verdade, deve ter sentido muito pela traição de suas criaturas mais perfeitas. Da mesma forma não condena aos homens. Só que estes, em vez de possuírem uma desvantagem em sua imperfeição, na verdade, é justamente o contrário que ocorre.

É a bendita imperfeição que faz o homem ser digno de misericórdia, bendita imperfeição que é capaz de dar o direito ao homem de se arrepender, de voltar atrás. Por causa dessa falibilidade do homem, é que Deus se faz todo misericórdia para ele. Ele sabe que o homem erra porque é tentado, porque é vaidoso, por toda uma série de motivos. Deus não é burro! Pelo contrário, é amor. E por este amor Ele quer que todo o homem se salve. Por outro lado, Deus é justo e quer que toda justiça seja feita. Entretanto, o que é justiça para aquele que é falho? Só Ele sabe. É em vista disso que não se pode um ser humano julgar a outro.

  • Por desencargo de consciência, vou postar o que diz o Catecismo da Igreja Católica, no nº 679: "Cristo é o Senhor da Vida Eterna. O pleno direito de julgar definitivamente as obras e os corações dos homens pertence a Ele enquanto Redentor do mundo. Ele "adquiriu" este direito por sua Cruz. O Pai entregou "todo julgamento ao filho" (Jo 5, 22). Ora, o Filho não veio para julgar, mas para salvar e para dar a vida que está nele. É pela recusa da graça nesta vida que cada um já julga a si mesmo, recebe de acordo com suas obras e pode até condenar-se para a eternidade ao recusar o Espírito de amor.

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Do Pecado

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do pecadoPecado, antes de tudo, é a negação de si mesmo, das próprias essência e natureza. Quem tem como essência o amor e como natureza a divina, quando os nega, não faz nada senão pecar. Isto para quem acredita que Deus é amor e que o homem foi criado à sua imagem e semelhança.

O homem realiza-se na sua essência, que é o amor, nele encontrará sua felicidade. Isto é, na medida em que ele amar, mais se une a si mesmo e a Deus, encontrando assim o preenchimento maior ou menor de si, quando mais ou menos. Também ele se encontra na sua natureza, porque quando ama, age conforme realmente é, de que e para que foi feito. O motivo, pois, de ser um tanto infeliz, desequilibrado e frustrado, é porque ele perdeu, com o pecado original, toda aquela capacidade que tinha para amar.

Sendo o amor a essência e natureza do homem, e pecar sendo a negação destas, peca-se quando se nega e quando não se pratica esse dom que vem de Deus. Essa lei, a do amor, por ser essência e natureza, está inscrita no coração da humanidade, e ela pode alegrar-se quando não ama, dando pólvora à sua vaidade, mas se entristece quando não é amada. Ademais, está inteiramente revelada nos atos e nas palavras de Jesus Cristo. Ele foi quem resumiu os mandamentos em dois: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento; e a teu próximo como a ti mesmo (Luc 10, 27)”. Mais uma vez: natureza e essência.

Eis que tudo provém disso: roubar, matar, mentir, adulterar. Pratica-los não é nada senão agir sem amor ao próximo. Também não amar a Deus sobre todas as coisas é não dar a Ele o lugar que lhe é devido, já que a Ele o homem deve tão somente a sua existência. Desse modo, quando não O ama, ele é como um texto que, quando escrito, altera-se sozinho, sem nenhuma reverência ao seu escritor. Está aí a maior negação do homem por Ele mesmo: da sua filiação com Deus. Este é o princípio da sua infelicidade e de toda a sua insatisfação, inconformismo, não aceitação da própria existência, porque a nega desde a sua origem.

A gravidade do pecado, pois, está na medida em que se nega o amor do ato. Quanto menos amor, mais grave; quanto menos se nega amor, por outro lado, mais leve é a falha. Existem alguns pecados que são com total desprezo de algum bem do outro, que são os que constam da lei de Deus e, por esse motivo, são pecados mortais. Na medida da gravidade que do bem que se despreza, mais gravoso pode ser o pecado mortal, tal como o homicídio, no qual se denega a vida do outro. Já outros, dos quais não se retém tanto amor, são considerados venais. Vale a pena ressaltar que a falta de amor a si mesmo também está aí, já que no mandamento está incluso o “como a ti mesmo”.

A lei moral, é bom sempre lembrar, serve para que cada um se examine, não para que se examine o outro. A lei serve para auxiliar, cada qual, a saber qual é o seu pecado, não para apontar o dos outros. Quando se vê alguém pecar, até mortalmente, é aconselhamento de Deus a Santa Catarina de Sena que se duvide que o é, visto que cabe somente a Deus julgar. Ao homem, portanto, cabe tão-somente amar, e isto não é pouco.

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Do Mal

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Antes de tudo, quero declarar que acredito firmemente na teoria de que o mal não existe. Calma, vou explicar.

Vamos para o princípio de tudo. Existe uma pessoa no princípio de tudo, mesmo que esse princípio não exista, e bom considerarmos para ter uma relação de tempo onde este não existe. No princípio existe Deus, e Ele cria todas as coisas, tudo que criou é bom, se Ele achou bom é porque é. Deus é o sumo bem, o próprio bem em essência e ato. Se Ele é o próprio Bem, tudo que Ele cria é bom. Então vem o primeiro questionamento: E o mal, quem criou?

Respondo peremptoriamente. Ninguém.

Deus não criou o mal, nem ninguém mais. Dizem que Satanás (o diabo, encardido, coisa feia) criou o mal. Mas ninguém além de Deus pode criar algo, todos os seres tem tão somente a capacidade de modificar o que existe, e o diabo não é um "deus", ele é simplesmente um bosta, esse bosta negou a Deus, "criando" assim o mal, ou seja, a negação do bem.

Deus bom - Existe o bem - Lúcifer bom - nega a Deus - "início" do mal.

Façamos um paralelo para entender. O nada não existe, este é criado semanticamente para fazer oposição ao tudo, que é o que existe. Mal = nada; Bem = tudo. Usando essa figura, pensemos em outra coisa. Dizem por aí que existe o bem e o mal, formando assim um equilíbrio - Yin Yang -, contam também que o mal não existe sem o bem, nem o bem sem o mal. Mas já vimos aqui que o mal não existe, e agora? É simples, o mal só "existe", porque o bem existe, ou porque este pode não existir, porque existe o livre-arbítrio. Mas, diferentemente, onde não existe o mal, existe o bem.

Um ponto importante é que o mal, o pecado, o que seja, é a origem de todo o desequilíbrio que existe. O bem e o mal formam o desequilíbrio, não o equilíbrio, quando convivem. E é por isso, portanto, que existe todo o sofrimento no mundo, por causa do mal, do pecado.

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Desejo de sabedoria

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Confesso que queria ter muito dinheiro e viver para pensar, poder bancar meus estudos, escrever livros e porcarias, e, principalmente, condições de casar.

Queria ser tão habilidoso com as palavras a ponto de que, com esta oratória irresistível, convencesse de maneira ilegítima as mentes, das verdades que exalam a sabedoria Divina. Vencer a mentira com esta oratória, tão usada para ludibriar, é um desses meus desejos íntimos. Confundir os que se acham sábios, mas são tão somente pessoas usadas pelas próprias vaidades.

Não entendo, sinceramente, como as pessoas conseguem ficar umas contra as outras por imbecilidades políticas. Não entendo como as pessoas preferem ser infelizes fora de suas vocações, para terem uma melhor condição econômica.

Inteligência, para mim, não é saber mais que as outras pessoas. Inteligente, na minha opinião, é aquele que enxerga a verdade, o bem, e os pratica.

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Discurso de São Francisco

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sao-francisco-de-assis"Assustado, o cardeal replicou: Você foi longe demais, meu filho. Desculpe-me, senhor, respondeu rapidamente Francisco. Em toda a terra não há outro pecador como eu; eu não estou julgando ninguém, só analisando os fatos. O engano trabalha por baixo da consciência, continuou Francisco. Ninguém é mau, mas nós nos enganamos. As coisas feias precisam de aparência bonita. O mundo que existe dentro de nós precisa de uma roupagem vistosa. O homem velho, o soldado que vive dentro de nós, quer dominar, emergir, ser senhor. Esse instinto feio veste-se de ornamentos sagrados e nós dizemos: É preciso confundir os albigenses, temos que aniquilar os sarracenos, temos que conquistar o Santo Sepulcro... No fundo, é o instinto selvagem de dominar e de prevalecer.

Nós dizemos que é preciso levantar grandes conventos para pôr a multidão dispersa em ordem e disciplina. Mas, no fundo, o que acontece é que ninguém quer viver nas choças. Dizem que é preciso cultivar a ciência para prestar um serviço eficaz. A verdade é que têm vergonha de parecer ignorantes. A Igreja precisa de ferramentas de poder, dizem. A verdade, porém, é que ninguém quer parecer destituído de poder. Nós dizemos que Deus tem que estar por cima, tem que predominar. Mas somos nós que queremos estar por cima e predominar, e para isso subimos no trampolim do nome de Deus. Deus nunca está por cima. Está sempre abaixado para lavar os pés de seus filhos e servi-los, ou está pregado na cruz, mudo e impotente. Somos nós que agitamos nossos velhos sonhos de onipotência, projetando-os e mistificando-os com os direitos de Deus.

Dizem que é preciso preparar-se intelectualmente para levar almas para Deus. Que Deus? É bem capaz que Deus seja mais glorificado se nos apresentarmos no púlpito, balindo como ovelhas. Exclamamos: o nome da Ordem, os interesses da Igreja, a Glória de Deus! E identificamos nosso nome com o nome da Ordem, nossos interesses com os interesses da Igreja, nossa glória com a glória de Deus.

No fundo, a verdade é esta: ninguém quer parecer pequeno e fraco. Apesar das frases retumbantes, nós temos vergonha de Manjedoura, do Presépio e da Cruz do Calvário."

[O Irmão de Assis - Inácio Larrañaga]

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Da Loucura

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Nos dias de hoje, diferentemente de antigamente, o normal é ser louco. O problema é o que é ser louco hoje. Ser louco, atualmente, é aquele que faz uma tatuagem, coloca um piercing não digo onde, faz um moicano na cabeça, "dá em cima" de todo o mundo, passa a madrugada inteira numa "rave" e coisas do tipo. O problema maior é que esse louco está ficando normal, todo mundo faz isso, e se não faz, aí é que é louco!

Hoje, quem faz o bem, quem não julga, quem confia nas pessoas, quem espera, quem tem paciência, quem é humilde, quem serve, enfim, quem ama, não é tachado como louco, mas muito pior, é considerada uma pessoa totalmente sem juízo.

Deviamos nos juntar, e procurar o que fosse, as Câmara de Vereadores de todas as cidades, Assembléias Legislativas, o Senado e a Câmara Federal, por fim, o Presidente da República, para instituirmos dentro do Calendário Nacional o Dia da Loucura. Esse seria um dia para todos os cidadãos deste sério país praticarem a loucura, essa que se consistiria em amarmos uns aos outros, independente de diferenças. O amor que eu falo aqui não é o dos anos 60, mas o de I Coríntios 13.

Dia 7 de outubro, o dia escolhido para nós dividirmos nosso almoço com os pobres, darmos banho em mendigos, chamarmos as prostitutas para um jantar e perguntarmos a elas a história de suas vidas, um dia para se perdoar (não se absolver) os criminosos, um dia para não praticar a corrupção, um dia para não vender nem comprar pornografia, enfim, tudo isso que dá pra perceber que, hoje em dia, quem pratica é considerado um alienígena.

Que essa loucura, de outro lado, não seja coisa de um só dia, mas costume de todos.


 


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Da Confissão dos Pecados

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Quando nós erramos, dizemos que pecamos, e assim o inverso. Mas, quando erramos, pecamos, fazemos besteira, de maneira popular, dizemos que fizemos merda. No cotidiano, assim que defecamos, o que fazemos logo em seguida? Limpamo-nos. É sobre isso que quero falar, ou seja, a confissão.

A confissão, a absurdo grosso modo, é o papel higiênico que Deus disponibiliza quando nós defecamos. Se formos pessoas limpas, higiênicas, nós usamos esse papel higiênico, se formos pessoas preguiçosas e acabamos esquecendo-nos de usá-lo, ficamos incomodados com aquelas fezes grudadas em nosso ânus. Agora, se nós não o usamos, podemos dizer que somos pessoas imundas, e fedemos.

Coloquialmente falando, tem algumas fezes que quando usamos o papel, nem sabemos o que limpamos, mas não vamos ficar na dúvida sem limpar. Outras que o papel foi bem útil, e vemos logo que fez resultado. Já há outras em que o papel é indispensável, e se não usarmos, sujamos a nossa roupa.

De outro ponto de vista, imagine Deus como sendo o Pai, e você aquele bebezinho. Deus não agüenta sentir o seu mau cheiro, quer te limpar urgentemente. Ele não quer vê-lo assado.

Devemos nos higienizar, e assim nos sentiremos limpos e livres de toda podridão!

 

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Do Julgamento

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Nós, seres humanos extremamente falhos e, principalmente, absurdamente vaidosos, nos investimos de capacidade para julgar todas as situações da vida alheia.

Somos hipócritas o suficiente para dizer sem saber o porquê uma frase bem conhecida: “Só Deus pode julgar.” – Porque só Deus pode julgar? Podemos dizê-lo por dois motivos. O primeiro é que só Ele é conhecedor de tudo, o Onisciente, sabe as causas e consequências de todas as coisas, os motivos pelos quais os atos foram praticados e ainda conhece nosso íntimo muito mais que nós mesmos; o segundo é que Ele, por ser perfeito, tem capacidade para julgar o que quiser, Ele não erra. Temos essas qualidades? Porque então insistimos em julgar?

Julgamos para satisfazer a nós mesmos. Por sermos mais podres que excremento, necessitamos estabelecer juízos negativos sobre os atos de outras pessoas, para que assim sintamos-nos algo importante, ou seja, melhor do que elas.

Não minto que, frequentemente, caio nessa terrível tentação e, até por ter um senso crítico apurado até demais, confundo crítica com julgamento.

Mas como posso ver tanta coisa ruim acontecendo sem fazer nenhum juízo? Acredito que considerando-nos iguais aos outros, como seres humanos, filhos de Deus, o que for, podemos nos conscientizar. E devemos considerar, baseados nessa igualdade, que ninguém tem a mesma educação, a mesma condição financeira. Uma dessas mulheres, que vemos pelas esquinas, tivesse a criação que tivemos, seria ela uma prostituta? Se, além da criação, essas pessoas que furtam e roubam, tivessem condições de viver dignamente, agiria de tal maneira?

Todos nós somos capazes de cometer todos os crimes e todos os pecados, basta que as circunstâncias favoreçam.

Não nos achemos melhor do que ninguém, mas sejamos misericordiosos, pensemos no que o errante poderia ser ou fazer se não o fosse. Por segurança e humildade, devemo-nos considerar piores. Somos, na verdade, todos agraciados por Deus, na mais diversas formas, e nenhuma é igual.

 

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Dos Pais

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Como é difícil conquistar uma maioridade que temos já no papel! Porque nossos pais insistem em querer nos possuir, como se fossem nossos proprietários? O que pensam eles? Que porque nos deram amor, educação e sustento, podem fazer de nós como suas marionetes. Porque insistem em querer nos educar quando já deveríamos estar educando, e aprendendo com a prática da vida? A maioridade deveria ser nossa formatura! Se não somos reprovados, porque devemos ficar sob o jugo de nossos professores da vida? Pode alguém exercer sua profissão sem sair da universidade? Pode alguém voar com suas asas seguradas por alguém?

Não é porque o Estado que nos dá assistência que pode este fazer o que quiser de nossas vidas, é obrigação do Estado nos dar saúde, educação, trabalho, segurança, lazer, dentre outras coisas. É obrigação dos nossos pais nos dar amor, educação, assistência, moradia. Fazem isto de graça, e nada podem cobrar de nós por isto. Quanto egoísmo há em meus pais quando me dizem: "Enquanto você morar na minha casa, você tem que fazer o que eu quiser." Diz assim o ditador. Em que consistiria tal situação se não fossem nossos pais a dizer? Não preciso estudar muita história para dizer que assim dizia o senhor a seu escravo.

Não pertencemos a nossos pais, não somos extensões de suas vidas, somos novas vidas.

Não podemos deixar de reconhecer que, muitas vezes, recebemos não por puro amor. Muitas vezes por nossos pais somos podados, e como estas dóem. Não podemos deixar de ser gratos por todos os seus atos, todas a suas assistências, mesmo sendo gratuitas, e assim devem ser tão somente, gratuitas. Mas devemos dizer, redundantemente, que não podemos ser comprados por tais atos, visto que, neste mundo, pertencemos a nós mesmos e a mais ninguém. Se pertencemos a alguém é porque nos damos livremente, podemos sim sermos aprisionados, mas só por opção, e se esta for a sua, é livre para escolhê-la.

"Não podemos voar com asas quebradas!" Assim dizia Selma Karame. "Não posso bater minhas asas e voar se tem alguém as segurando", assim diz o passarinho.

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Dos filhos - Gibran Khalil Gibran

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E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: “Fala-nos dos filhos.”

E ele disse:

Vossos filhos não são vossos filhos.

São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.

Vêm através de vós, mas não de vós.

E, embora vivam convosco, a vós não pertencem.

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,

Pois eles têm seus próprios pensamentos.

Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;

Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.

Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,

Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

Vós sois o arco dos quais vossos filhos, quais setas vivas, são arremessados.

O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com Sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.

Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:

Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco, que permanece estável.

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