Discurso de São Francisco

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sao-francisco-de-assis"Assustado, o cardeal replicou: Você foi longe demais, meu filho. Desculpe-me, senhor, respondeu rapidamente Francisco. Em toda a terra não há outro pecador como eu; eu não estou julgando ninguém, só analisando os fatos. O engano trabalha por baixo da consciência, continuou Francisco. Ninguém é mau, mas nós nos enganamos. As coisas feias precisam de aparência bonita. O mundo que existe dentro de nós precisa de uma roupagem vistosa. O homem velho, o soldado que vive dentro de nós, quer dominar, emergir, ser senhor. Esse instinto feio veste-se de ornamentos sagrados e nós dizemos: É preciso confundir os albigenses, temos que aniquilar os sarracenos, temos que conquistar o Santo Sepulcro... No fundo, é o instinto selvagem de dominar e de prevalecer.

Nós dizemos que é preciso levantar grandes conventos para pôr a multidão dispersa em ordem e disciplina. Mas, no fundo, o que acontece é que ninguém quer viver nas choças. Dizem que é preciso cultivar a ciência para prestar um serviço eficaz. A verdade é que têm vergonha de parecer ignorantes. A Igreja precisa de ferramentas de poder, dizem. A verdade, porém, é que ninguém quer parecer destituído de poder. Nós dizemos que Deus tem que estar por cima, tem que predominar. Mas somos nós que queremos estar por cima e predominar, e para isso subimos no trampolim do nome de Deus. Deus nunca está por cima. Está sempre abaixado para lavar os pés de seus filhos e servi-los, ou está pregado na cruz, mudo e impotente. Somos nós que agitamos nossos velhos sonhos de onipotência, projetando-os e mistificando-os com os direitos de Deus.

Dizem que é preciso preparar-se intelectualmente para levar almas para Deus. Que Deus? É bem capaz que Deus seja mais glorificado se nos apresentarmos no púlpito, balindo como ovelhas. Exclamamos: o nome da Ordem, os interesses da Igreja, a Glória de Deus! E identificamos nosso nome com o nome da Ordem, nossos interesses com os interesses da Igreja, nossa glória com a glória de Deus.

No fundo, a verdade é esta: ninguém quer parecer pequeno e fraco. Apesar das frases retumbantes, nós temos vergonha de Manjedoura, do Presépio e da Cruz do Calvário."

[O Irmão de Assis - Inácio Larrañaga]

Comentários
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  1. Concordo, a vaidade e o egoismo são o mal da humanidade...
    Abraços

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  2. A verdade é que o grande mal do mundo é a gaância do homem, essa sede de poder. Vemos isso claramnete no ilustrado na figura do dinheiro.

    Parabéns pelo texto, seu blog sempre surpreende.

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  3. Não acho que a vaidade seja o gerador de todos os males. Acho que indenpendente de quem não gosta desse pecado, tem sempre um pouco dela em si.
    Um grande abraço!

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  4. Pura verdade. Algo dito há tanto tempo e tão compatível cm os dias de hoje. O fato de colocarmos a nós mesmos sempre por cima, predominando como citado.

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