Vocação do ser humano: viver em sociedade

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sc_BrainsImagineFala-se muito em vocações de todos os sentidos, no contexto cristão. Diz-se de vocação à santidade, a um carisma específico, a um estado de vida, mas se esquece de que antes disso tudo, existe uma vocação universal como ser humano.

Como diz o Catecismo da Igreja Católica, no nº 1879: “A pessoa humana tem necessidade de vida social. Esta não constitui para ela algo acrescentado, mas é uma exigência de sua natureza. Mediante o intercâmbio com os outros, a reciprocidade dos serviços e o diálogo com seus irmãos, o homem desenvolve as próprias virtualidades; responde, assim, à sua vocação”.

Vocação, portanto, de participar na vida em sociedade, de ser participante ativamente dos acontecimentos políticos, de ser um cidadão. É algo muito estranho, algo difícil de entender, num país em que os cristãos são maioria, existir tanta corrupção e, dentro de uma democracia, permitir-se ser governado por tantos corruptos. Aliás, difícil também é aceitar que, num país de tantos cristãos, existam tantos políticos corruptos. Pode-se perguntar o que tem uma coisa com a outra, mas é claro que são indistintas! Cristãos deveriam, pelo menos em tese, ser honestos e conscientes.

Entretanto, o que se nota é, sim, uma alienação quase congênita, uma indiferença política histórica do povo brasileiro que consegue dissociar ser cristão do ser cidadão e pouco se importa com que acontece ao ser redor, mas, tão somente, com a própria “salvação”. É comum ver cristãos assim, temos por todos os lugares, dentro de nossas próprias casas, aqueles que não sabem em quem votar quando chegam as eleições, aqueles que não se importam com quais leis estão sendo ou não aprovadas, que não observam o caminho em que passam se tem ou não buracos.

Esta situação é inaceitável, porquanto consiste em nossa primeira vocação, não como cristãos, porque esta é a santidade, mas como seres humanos, como somos, e assim já dizia sem erro Aristóteles, no seu livro “Política”, animais sociais. É exigência de igualdade como irmãos em espécie até, coisa que outros animais fazem, como as abelhas, por exemplo, o respeito aos demais de nossa própria espécie com vista ao bem comum. Deveríamos aprender com elas, com as abelhas, cidadãs muito mais bem sucedidas do que nós, que roubamos o seu mel para saboreá-lo, não sem razão. Nós, seres humanos, com o telencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor, coisas que mais nenhum ser vivo possui, sermos uma sociedade autodestrutiva e multidividida em si mesma é inaceitável.

E ainda somos, em maioria, cristãos! Quem diria! Por sermos cristãos temos obrigação ainda maior de respeito às leis, de honestidade, de justiça, de amor e de bondade, mas, não. Somos indiferentes ao outro até mesmo dentro de nossa própria comunidade religiosa, somos corruptos e egoístas dentro de nossa própria paróquia, quanto mais na vida em sociedade, que por tantas vezes diabolizamos e consideramo-nos, contraditoriamente, acima disto, como se fôssemos melhores do que esta vida no mundo. Mais ainda, chegamos ao dizer que as coisas próprias do mundo, só por si mesmas, são diabólicas. Não que ele não tenha influência, mas também nós permitimos. E as coisas do mundo são próprias do ser humano, e muitas são boas e lícitas. Diabolizar, muitas vezes, é sintoma de soberba cristã.

Temos que repensar nossa vida e sermos ativos em nossa sociedade, fazermos a diferença, sermos sal e luz no mundo, não insossos e apagados, como se o sentido desse apelo de Jesus fosse tão somente oracional e não político.

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  1. texto espetacular, igor! uma verdadeira luz para os cristaos.

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  2. Você escreve com uma clareza impressionante! É roubar da boca as palavras que eu queria dizer! Parabéns!

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  3. Muito bom! Quando penso no Cristão atual, vejo o Cristão que parece se sentir em casa demais! Parece que já garantiu um lugar, o seu poder e por causa disso tenha relaxado na busca contínua de SER! Tenho Saudade do Cristão inicial, do verdadeiro, o que temos hoje é apenas estereótipos carregados de soberba e falso evangelismo. Bem, espero que o Papa Francisco nos ajude a chegarmos ao Cristianismos de Origem, caso contrário, seremos em breve apresentados a um novo Cristianismo, o problema é que será sem Cristo!

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