O elogio

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Blind Man's Bluff  Um dia eu fui elogiado. Não um elogio qualquer, desses que a gente recebe ao longo do dia, foi um inesquecível, por todas as circunstâncias, pela honestidade e pelo critério. Dele não esqueço mais.

Era uma colega de trabalho (ela que trabalhava e eu era um simples estagiário), que pelas vicissitudes da vida, havia se tornado deficiente visual. Aliás, dela sinto saudade, e é daquelas pessoas que sentimos falta dela, porque não há de nos ser muito útil, pelo contrário, nós temos que nos fazer obrigados para com ela. Sinto falta daquele ser humano, quer dizer, de todos naquele ambiente, não desfavorecendo a amizade por ninguém, é dela que sinto mais.

Ocorre que, certo dia, num daqueles intervalos de repartição pública em que todos se amam, iniciou-se uma conversa sobre mim – não lembro exatamente sobre o que era. Talvez porque o que aconteceu ali me marcou demais para que me lembrasse de qualquer outra coisa. Foi que, no meio da conversa, a minha amiga soltou um “Igor é lindo!”. Sei que houve mais conversas depois disso, mas aquele momento foi único em toda a minha vida.

De fato, o que me marcou foi que ela usou aquela figura de linguagem, a mais poética de todas: a metáfora. Ela em momento algum estava preocupada com aquilo que é exterior, sensível, visível, nem falava disso, embora os outros participantes tenderam por dar essa conotação, afinal, esse é o nosso costume, o dos que não enxergam.

Sinceramente, ainda não reconheço a razão do elogio, porém foi marcante. E por ele pude constatar: quem não vê, enxerga muito mais daquilo que verdadeiramente tem importância. Queria que todos pudessem assim enxergar, até mesmo eu, porque vejo bem demais e também sou dado a esse negócio de formosura. E é por essa razão que essa minha irmã não só me deixou curado, mas também constrangido.

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