Dos Ladrões da Glória de Deus

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VERONESE AND STUDIO-XX-Jesus falls under the weight of the cross

Na vida espiritual há diversas minúcias das quais muitas vezes esquecemos, e é importante sempre lembrarmos, na tentativa de não alegrarmos o demônio, nem muito menos irritarmos a Deus. Convém, é certo, que não somente oremos, por vista que para o próprio Jesus, isto não basta, mas que vigiemos, para que não caiamos em situações de pecado (São Mateus 26,41). Interessante é notar o que afirma Santa Edith Stein, a título de introdução: “nos principiantes, transferem-se para ordem espiritual os sete pecados capitais…” (A Ciência da Cruz, p. 60) Não afirmo, de modo algum, que não cometo tal ou tais pecados, pelo contrário, mas, não requer que eu seja santo para que fale sobre pecados. Até porque que um passo para santidade é preocupar-se em sê-lo, todavia, quem diz que busca a santidade e não está nem aí para o espelho, achando que não tem nenhum cravo nem espinha, quando o rosto está repleto, é um mentiroso.

Imagine a seguinte situação. Uma Certa Pessoa sentia necessidade de amar e, para isto, criou diversas realidades, materiais e espirituais. Nas espirituais, criou seres perfeitíssimos, inteligentíssimos, cheios de poder e beleza, como que reflexos de Sua glória. Até que, em determinada situação, um destes, repleto de si, por seu poder, beleza e inteligência, quis ser como Aquele que o criou, adorado - não sei porque, não lembrou-se, ou  não estava nem aí para isto, de que era uma criatura. Acabou sendo expulso das realidades espirituais, o infeliz.

Aquela Pessoa, além disso, criou todas as realidades materiais, a fim de amar. Criou uns bichinhos bonitinhos, umas plantinhas maravilhosas e um bocado de gente. No começo, Ele colocou duas plantazinhas no jardim, lá, que ele criou para o povinho dele brincar, aí apareceu aquele infeliz, nojento, bandido, desgraçado, e instigou àqueles felizes para que comessem da plantazinha que o Pai deles tinha dito que não o fizessem, afirmando que eles seriam sábios como Ele (era mentira!). Coitados de nós, que, por causa desses benditos, nascemos cheios de defeitos e temos que viver a vida para superá-los (não nego que seria capaz de fazer o mesmo, ou pior, se estivesse em semelhante situação).

O problema é o seguinte. Aquele bandido, nojento, desgraçado, assassino e mentiroso de que falei, até nos dias de hoje, fica aconselhando a gente a fazer o mesmo, e nós, bandidos, nojentos, mentirosos, assassinos e ladrões, como ele, caímos nessa ilusão! Deus nos dá tudo, tudo e tudo! Nosso corpo foi Ele que deu e nós insistimos em usá-lo para o que não presta! Deu nossa inteligência e nós insistimos em criar coisas terríveis. Enfim, deu-nos tudo, tudo, as pessoas que amamos, até a nossa realidade material permitiu que fosse assim, e nós, bandidos, jogamos tudo contra Ele! Pior é quando a nossa vaidade é tão grande e imbecil, que atribuímos algo que é de Deus a nós, como se fosse mérito nosso! Ah, coisa terrível! Se você não se detesta quando o faz, se questione, meu amigo, porque você não tem um mínimo de amor por Deus. Diga-se mais, o seu amor por Deus não consegue ser maior nem que o seu orgulho e vaidade! Como dizer que Ele é seu tudo, seu mentiroso?! E falo isso olhando no espelho!

Meus irmãos, na graça, e meus semelhantes, no pecado, acordem para esta realidade! Nós não somos nada! Tudo que temos foi-nos dado de presente, não obstante, imerecidamente! Deus é como um pai de um filho desobediente, aquele filho bem ruim, sabe? Só que Ele ama tanto o filho idiota, que quando chega em seu aniversário lhe dá o melhor presente que podia dar. Em nossa realidade, deu-se a Si mesmo, a nós, na figura de Seu filho, que partilha de Sua mesma substância. Ainda mais, ainda não contente com isto, ainda achando pouco, deu-se a Si mesmo também, a nós, na figura do Seu Espírito Santo, que procede do Dele e do Filho, para que habitasse em nós! Que amor é esse?! Totalmente louco e apaixonado! Imagina Deus fazendo isso a mim, bem mais pecador que você?! Deus é louco! Realmente, louco de amor!

Agora, todos esses presentes Ele nos dá e nós fazemos o que com eles? O que você faz, infeliz? Quando não pega e joga fora, deixando ali do lado, ou se acha indigno de receber e o recusa, ou, agindo de maneira mais perversa, sai dizendo que aquilo que Ele lhe deu é seu, de sua propriedade! Eu também, talvez muito mais vezes, quando me deparo com as graças de Deus em minha vida fico cheio de mim!

Olha, Deus fez tudo primeiro! Tudo que você faz não passa, muitas vezes, de uma cópia do que Deus fez, quando é bom! Toda resposta que você dá, de amor a Deus, não é nem novidade, nem nada demais. Era, sim, na verdade, o mínimo que você podia corresponder daquele que o ama com tanta força! Se você não estiver contente com esta realidade, de ser uma simples criatura, um instrumento, um nada, por si mesmo, mas, um tudo em Deus, por Deus e para Deus, meu colega, vá com o demônio, porque você se assemelha a ele, e prepare-se para a eterna infelicidade!

Agora, por outro lado, meus irmãos, a todos vocês que se vêem como soberbos e orgulhosos e sentem vergonha disto, minha saudação! Porque Deus é misericordioso! Seu amor é cheio, repleto de misericórdia! Ele se irrita, mas espera de nós uma evolução. Portanto, demos a Ele uma resposta de humildade, atribuindo a Ele, e só a Ele, tudo que nós porventura possuímos de bom, se é que o existe!

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2 Comentários

2 comentários :

  1. Shalom!
    Que fascinante tudo isso que você escreveu! Que magnífica exaltação ao nosso Criador,Deus! e consequentemente a expressão de humildade perante a sua Glória!
    Que Deus te abençoe e proteja!

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  2. Bela reflexão sobre a humildade que devemos possuir com relação a tudo que de "graça" recebemos, e tbm gostei de tocar na questão da glória e majestade só a Deus devida, ou seja, "solideo gloria".
    Crescer no caminho de oração e estar sempre pronto a amar...
    Deus vos abençoe!

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