O amor como forma de expressão

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Caridade

Uma rosa vista numa foto não é uma rosa, é a representação ou recordação dela. Uma rosa é verdadeiramente uma rosa, se eu puder tocar nas suas pétalas, sentir seu delicioso perfume e me furar com seus espinhos. Do mesmo modo é o amor, pois um sentimento tão-somente não é amor, mas uma representação ou recordação dele. Um amor, só é amor se se vivê-lo, se as palavras forem representações de atos concretos, não algo puramente abstrato.

O amor em si tem três formas de se expressar: eros, filia e ágape. O eros é aquele “amor egoísta”, que faz com que queiramos a pessoa amada perto de nós. É o amor de querer possuir a pessoa, de querer estar sempre perto, ou mais. O filia é aquele amor de irmão, de amigo, pelo qual nós queremos o bem àquela pessoa, mas não queremos tê-la como um cônjuge. Já o ágape, é desse que tanto se tenta abordar nesse blog, é o amor de origem divina, o amor puro e verdadeiro, aquele que não é humano e o humano não o tem por si.

Algo interessante é que o ágape não é um sentimento, mas ele se identifica mais ainda quando aquele que ama não o tem o sentimento de amor. Um fazer bem a um inimigo, um perdoar uma falta grande, isso são exemplos do ágape. Esse amor não se constrói, se aprende e se dá. Aprende-se, de uma maneira perfeita, diretamente da relação com Deus, e de outro modo, de maneira mais imperfeita, com quem o compreendeu, e assim o amor ágape age muito mais pela inteligência, porque sempre a requer. Comporta certo reconhecimento e disposição de si.

Pode-se pensar, todavia, que ele tem origem, meio que automática, de uma vida de oração, mas pode-se crer reconhecer que seja bem mais do que isso, visto que pessoas extremamente devotas, por muitas vezes, são extremante desagradáveis, enquanto pessoas fora de uma vida religiosa dão aulas de amor. É mais algo de uso da inteligência, da memória e da vontade. Da inteligência porque para amar, exige-se determinada ponderação daquilo que mais pesa; da memória porque deve-se ter aquele conhecimento aprendido do que é o amor; e da vontade porque é só através dela que se ama.

Por isso mesmo, esse amor, o ágape, ele só é se for exteriorizado, já que não é um sentimento. O amor, nessa forma de se expressar, é muito mais uma ação, uma vontade, uma disposição. Esse amor, na maioria das vezes, é contra a vontade e vence a própria vontade, às vezes dói e dói muito para assim amar. É aquele se rebaixar, é se considerar servo de todos e também de si mesmo. Ele, diferente dos outros tipos de amor, tem-se também por quem não conhece, não gosta ou não se agrada da pessoa amada. Desse modo, quem só quer estar perto de pessoas agradáveis, quem só faz o bem para aquele que gosta, nesse campo que se fala aqui, não sabe amar.

Em todas as formas, pois, o amor é sua expressão. De que vale ter dinheiro e ele ficar guardado? De que vale ter um carro e não dirigir? Do mesmo modo, o amor só é válido se for amado. O amor é uma expressão, não só um sentimento. É muito mais válido não dizer que ama e fazer por onde acreditar do que sempre dizer a mesma coisa e nunca fazer nada. Mas, um dizer que ama, quando é verdade, é um belo ato de amor. Isso vale para os outros tipos de amor, seja para os casais que dizem que se amam e não se respeitam, para os filhos que amam os pais e não os obedecem, ou para os amigos que se amam e se traem.

O que importa, na verdade, é que sentimento qualquer animal tem, mas, a liberdade de amar, não. O homem pode optar por amar, optar por perdoar, mesmo sendo difícil, indo contra sentimento, instinto ou vontade. O ser humano pode escolher fazer o bem, independente de quem seja. O homem, e a mulher também, podem escolher fingir ou até mentir para não deixar o outro infeliz, mesmo que seja um inimigo. Que se destituía, assim, qualquer conceito de amor para aquilo que é conveniente, porque, na verdade, o amor exige muito mais um rebaixamento, um abandono da própria vontade, e isso dói.

E quando aqui se for falar em amor, sempre vai ser de agir, e de amar, e de fazer o bem, porque se é incapaz de definir o amor. Pode-se reduzi-lo ao dizer, tautologicamente, que é Deus, haja vista que se Deus é o amor, e o amor é Deus, mas não, não se sabe, só se sabe que é amor aquele que se pode reconhecer.

Comentários
7 Comentários

7 comentários :

  1. Amor, paixao, medo e odio...
    Li e gostei de saber a fé que tens que Deus é o amor, adorei ver com meus olhos, atraves de suas letras, que o amor tem q ser amado. Mas discordo com a exteriorizaçao como necessidade de existencia de tal sentimento. O unico que o exterioriza sem falsas verdades sao nossos olhos. Nao nossos atos, palavras, toques e presentes.
    Acredito que o amor nao nos da seguranca nem a tira, nao nos excita nem nos depreciva. Acredito no amor como existencia sublime, brando e sereno.
    Ao final, vamos contar piadas de sexo, de brigas, chicletes nos cabelos daquela menina no jardim II ou uma raiva angustiante de alguma pessoa que nao fez o que voce esperava...
    Amor poderia ser paralelo a Ética e a paixão à Moral.

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  2. Eu não creio que a exteriorização é a necessidade de existência do sentimento, mas de convalidação. Obrigado pelo comentário.

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  3. O Amor Ágape é o que vai nos levar a evolução espiritual. Excelente leitura! Parabéns Igor!

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  4. Gostei muito do texto, inclusive da figura que você usou, pois retrata justamente o momento em que Jesus é perguntado sobre quem seria o próximo que deveríamos amar como a nós mesmos, e aí Jesus conta a parábola do Samaritano.

    Seu texto em si se liga muito com essa parábola, mas tenho duas ressalvas a fazer:

    1. Quando você fala "O homem, e a mulher também, podem escolher fingir ou até mentir para não deixar o outro infeliz, mesmo que seja um inimigo", no sentido de "burlar a verdade por amor", pois o amor viria antes da verdade. Meu primeiro comentário é que quem ama, não mente. A verdade é que conduz o amor. Deve-se prestar atenção ao tipo de relacionamento que se cria através desse amor que é capaz de burlar a verdade em favor do sorriso no rosto de outra pessoa, em detrimento da lágrima no seu. Isso daria uma longa discussão.

    2. Quando você fala "É mais algo de uso da inteligência, da memória e da vontade", eu mudaria o texto para falar do coração também. Deus pediu que O amássemos com todo o coração, vontade e entendimento, e esse amor transborde para os irmãos, pois como você e São João falaram: "Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!" (I Jo 3, 18). O samaritano que encontrou o judeu sentiu compaixão do inimigo. Eu gosto muito da palavra "decisão", pois engloba isso tudo. Nem sempre a decisão de amar é "inteligente" (no sentido do cálculo do que é bom ou ruim), nem sempre é desejável (no sentido de querer), e nem sempre é prazeroso (no sentido do sentimento), simplesmente é uma decisão de fazer a vontade de Deus, de fazer o que Ele fez, de fazer o que Ele gosta, de fazer o que Ele pede, de fazer o que Ele espera cada um de nós.

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  5. eu gostei bastante do texto, mas quero tua opinião sobre uma coisa.
    se o ágape não é sentimento em si e tem origem divina e só se é perceptível em sua prática, exteriorização como tu diz, como tu explica os casos que menciono abaixo?
    fui a uma reunião da ONG médicos sem fronteiras aqui no Reino Unido. todos os médicos, enfermeiros e muitos ainda estudando medicina não ganham nada pelo que fazem, muito pelo contrário, gastam muito´! pela pura vontade inata de querer ajudar a milhares de pessoas na mais extrema miséria em lugares já bem conhecidos: áfrica,India e por ai vai.
    conversando com vários deles, muito me disseram que ou eram ateus, ou não tinha religião e que não acreditavam em nada divino, se eles acreditam e põe fé em alguem, esses são os homens, como eles mesmos me disseram. claro, haviam muitos medicos lá voluntarios que eram cristãos, mulçumanos e judeus, mas todos estavam lá como uma irmandade com um unico intuito: ajudar a quem mais precisa de serviços de saude onde isso, item tão basico, é inexistente. correm todos os riscos me disseram, até de morte.
    então a pergunta é: se a ágape é de origem divina, de deus e não um sentimento inato dos homens e tal...como ela se manisfesta tão ferozmente em gente que rejeita deus ou qualquer coisa divina?
    até mais! blog tá massa visse.

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