Incoerências protestantes: a adaptabilidade do Evangelho
Os protestantes, em geral, parecem muito com um advogado que pega a lei e interpreta do modo que for mais favorável ao seu cliente, e é capaz de convencer a muitos que está certo. Só que o cliente do protestante é ele mesmo (ou não). Parece que quanto mais for capaz de moldar o Evangelho à própria vida, mais tem sucesso a denominação.
Podem-se dar muitos exemplos, como quando Jesus fala que crer Nele é condição para ser salvo, neste caso, eles entendem de modo literal, como se crer, no sentido do termo, fosse tão somente acreditar. Consideram-se salvos eles, e só eles, ignorando totalmente, por outro lado, quando Jesus diz que “o servo que, conhecendo a vontade do senhor, nada preparou, nem agiu conforme sua vontade, será chicoteado muitas vezes”. É certo que não basta somente crer, mas aqui a condição de veracidade de interpretação é a que mais for favorável.
É incrível também, como conseguem criar teorias ou “teologias” totalmente incompatíveis com o Evangelho, e o comodismo é a única razão para o sucesso delas. A mais famosa delas, nos dias de hoje, é a heresia da prosperidade. Não se pode conceber como um Deus que nos indica que a perfeição é alcançada pela absoluta pobreza material, pelo abandono total das riquezas materiais, pode promover a alguém uma vida ostentada de todo luxo que lota “igrejas” a fim de encontra-lo.
Para alguns dos “pastores”, que se consideram ou se denominam “apóstolos” ou “bispos”, seria recomendável, ao contrário de adquirirem mansões, de viverem realmente o Evangelho, como Jesus disse aos verdadeiros apóstolos: “Não leveis ouro, nem prata, nem dinheiro à cintura; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bastão, pois o trabalhador tem direito a seu sustento”. (Mateus 10, 9-10) Será que continuariam cristãos se fossem obrigados a viver realmente conforme a verdade do Evangelho e da missão dos apóstolos?
É claro que existem denominações que se aproximam demais do que é pregado pelo Evangelho. E, se algum protestante ler este conteúdo e ficar incomodado, não fique, porque esse é o risco de ser protestante e viver à luz da livre interpretação da Bíblia, a de não ter uma unidade de doutrina, mas, pelo contrário, ter uma diferente a cada esquina. Essa multiplicidade de igrejas e denominações é o risco de ser injustiçado quando criticado como protestante (não digo evangélico, porque os católicos o são), porque não se tem uma unidade.
Incoerências protestantes: a veracidade de sua doutrina
Imagine a história da filosofia, desde seus primórdios, ali na Grécia, onde nasceu o pensamento racional. Agora pense que um milênio e meio depois aparecesse um louco dizendo que todos os filósofos até então estavam errados e que ele que era o certo, e que crescesse um grupo de pessoas defendendo que eles é que sabiam o que era filosofia. Imaginou?
Assim é o pensamento dos protestantes, em geral. Eles creem que os cristãos que são católicos desde os apóstolos de Jesus estão errados, e eles que estão certos. Toda a tradição da Igreja não vale nada, e ainda são capazes de chegar ao disparate de dizer que a Igreja Católica é obra do maligno.
Por essa primeira ideia, tenho em mente que o princípio protestante é, antes de tudo, soberbo. Pior, do pior tipo de soberba que existe, a que é sem razão, porque chegam a loucura de crer e dizer que toda uma história, toda uma construção estava errada, e eles que estão certos, mesmo depois de mais de um milênio e meio de distância de tempo.
Assim, pessoas como São Francisco de Assis, Santo Antônio, São Martinho, Santa Clara, São Bento, São Gregório Magno, e outras figuras maravilhosas que viveram a fé cristã antes da destruição protestante são completamente ignoradas. Creio que se começassem, os protestantes, a voltar, século por século, antes da “reforma”, estudando os personagens e a história da Igreja, iriam ter um choque com essa razão de viver nada, mas nada mesmo, humilde, muito menos real ou lúcida.
Maria, Mãe do Menino Deus
Nesse tempo de Natal, não consigo pensar em outra coisa, ou em outra pessoa, senão a Virgem pela qual esse Natal se deu. O Natal não é outra coisa senão o Deus menino que sai do ventre de sua mãe para o seu colo, como o Deus na Eucaristia que é tirado de dentro do sacrário e vai para o ostensório, a fim de ser adorado.
Maria foi concebida sem pecado original, isto é, nasceu pura como seria a humanidade se não fosse o pecado dos nossos pais Adão e Eva. No ventre dessa verdadeira mulher, Deus Pai preparou morada perfeita para o Seu Filho que é Ele mesmo, em substância, fertilizando-a pelo Espírito Santo.
Maravilhoso ventre que foi pelo Filho de Deus habitado, que homem nenhum ousaria violar. Só um homem justo seria digno de pertencer àquela família que trouxe a salvação à humanidade. Assim, José aceitou ser padrasto de Deus, mesmo que terrificado por tudo que é essa posição.
De fato, foi Deus que o escolheu por seu padrasto, de modo que cuidasse bem de si e de sua Digníssima Mãe, aceitando e compreendendo aquele plano que era maior que ele mesmo e viver numa família e numa condição totalmente sobrenatural. Sua esposa era mais esposa de Deus do que sua. Ele a desposaria enquanto vivo, e, por outro lado, Deus a desposa na eternidade.
Assim, Maria é a alma verdadeiramente esposa de Deus, que fez com que se abrisse essa nova compreensão do relacionamento com Deus para todos os seus filhos: nós, que devemos desposar nossa alma à de Cristo, fazendo em tudo sua vontade, como ela mesma nos ordenou nas bodas de Caná, quando disse “faça tudo que Ele vos disser”.
Por isso, do mesmo modo que não se pode ver um bebê recém-nascido sem sua mãe, não se pode compreender inteiramente o Menino Jesus que nasce, sem olhar para a sua Virgem Mãe, recebendo-o de suas mãos. Do mesmo modo que só é digno receber nos braços um bebê se autorizado por sua mãe.
Recebamos a Deus nesse Natal pelas mãos de Maria, e prestemo-la toda honra digna de uma recém-mãe! Louvemos e glorifiquemos a Deus que nasceu por Maria!
Apelo de misericórdia!
Diz-se que quem não é batizado não pode ser salvo. Isto destrói meu coração, porque, se num mundo de sete bilhões de seres humanos, a terça parte somente é batizada, o que se acontece com o restante?
Cresci em ambiente cristão. Os valores do Evangelho foram-me comunicados desde o ventre da minha mãe, isto por graça de Deus, que sabe bem o que seria de mim se não estivesse em minha vida desde tão cedo. Mas, eu pergunto: o que acontece com os que não tiveram a mesma sorte?
Alguns tiveram o anúncio de Cristo chegado aos seus ouvidos e decidiram-se por serem batizados, em virtude de uma experiência concreta com o Ressuscitado que passou pela cruz. Da mesma forma, pergunto-me o que será daqueles a quem esse anúncio não alcançou, ou, por uma razão ou outra, não tiveram a sorte de terem sido abertos os corações e não experimentaram o melhor que se pode ter nesta vida. E eles?
Por isso, chego à conclusão de que o mundo pode não ter ouvido, nem vivido, aquilo que é a Verdade, por inércia daqueles que não a conhecem, que poderiam ter trabalhado muito mais para que chegasse neles a voz de Deus. Por isso, chego à conclusão de que eu tenho culpa e responsabilidade por todas as vezes que não anunciei, não anuncio, e não anunciarei. Por isso, chego à conclusão de que eu também não mereço a salvação, que sou um filho ingrato e desobediente de Deus.
Entretanto, peço a Deus misericórdia de mim, porque tenho limites e o próprio Cristo, que não foi compreendido enquanto estava caminhando entre nós. Quanto mais limitado sou eu e mais limitado ainda sou em viver neste mundo, que perece do pecado em que constantemente caio. Não! A mim peço misericórdia, porque sou verdadeiramente homem, mas não sou verdadeiramente Deus.
Mais ainda, do eu que tenho a graça e não mereço, e não cumpro, sou digno de misericórdia, quanto mais que eu são passíveis de misericórdia aqueles que não conhecem o Amor! Desse modo, peço a Deus, que, se a misericórdia Dele me alcança, mesmo sendo tão incontável o número dos meus erros e tão indigno que sou do seu chamado, que a eles alcancem mais ainda, a eles que, muitas vezes são melhores e mais dignos do que eu.
Vocação sacerdotal, segundo Dom Henrique Soares
Meus queridos irmãos. Não sei vocês, mas eu, que ainda não discerni meu estado de vida, me vejo confuso, atraído por um, por outro. Confesso que me sinto mais atraído pelo matrimônio, como se pode notar pelos textos e poemas, mas Deus pode nos surpreender. Eu posso ter alguma resistência, não sei. O que tiver de ser será segundo a voz de Deus que fala no meu coração.
Entretanto, como tenho ainda minhas dúvidas, tive a curiosidade de perguntar ao querido Dom Henrique Soares como foi o chamado dele ao sacerdócio e como eu posso identificar isso na minha vida. A resposta foi de uma beleza sem tamanho que chegou a me emocionar, e eu não pude deixar de pedir autorização a ele para publicar aqui, pois sinto que muitos que tem esse chamado podem ser auxiliados por estas santas palavras, vindas de um sucessor dos apóstolos.
Segue a resposta de Dom Henrique Soares da Costa, bispo auxiliar de Aracaju-SE.
“Caro Irmão,
1. Escute seu coração. O Senhor chama dando-nos o desejo, uma saudade do ministério, uma inveja ao ver o padre celebrar, ao ver o padre exercer seu ministério.
2. O Senhor começa a incomodar nosso coração com o pensamento insistente do sacerdócio, mesmo quando gostaríamos de desviar a atenção, de esquecer, de fazer nossos planos...
Se isto acontecer, é sinal que você pode ter vocação. Aí precisa procurar um padre sábio e santo, que possa escutá-lo e orientá-lo. Se isto não acontecer, siga seu caminho... Ser padre não é questão de querer, é questão de ser chamado. Não precisa ser perfeito, não precisa já estar pronto, não precisa ser imaculado: basta ser chamado!
Deus o abençoe.”
Bullying aos cristãos!
Perseguidos somos, nós cristãos. Glórias a Deus por isso. Que honra é ser o verdadeiro inimigo de satanás, porque incomodamos a ele de maneira absurda. Nesse mundo de hoje, em que o fedorento está mais insatisfeito, porque a Igreja cada vez mais se santifica, estamos sendo vítimas de uma perseguição muito mais intensa, do que pelo sangue, que é muito pouco, comparado ao que já sofremos. Estão querendo nos calar, nos desdizer, nos desmentir, deturpar nossas intenções, e nem sabem por quem fazem isso.
Quantas vezes o Papa falou uma coisa e foi outra que saiu nos meios de comunicação? Quantas vezes não dão ouvidos aos nossos estudiosos e só depois descobrem que nós temos razão? Qual é a dificuldade de entenderem que só queremos o bem, não nos promover? Qual é a dificuldade de entender que temos nossa fé e não temos que adequá-la aos moldes do mundo, pelo contrário, fazê-lo é perder nossa fé!
Somos a maior vítima de chacota e perseguição que hoje se tem em conta. Qualquer símbolo não faz nenhuma diferença, mas um crucifixo não pode ter. Ser budista é chique, ser protestante é interessante, ser ateu é intelectual, ser espírita é ser inteligente, ser islâmico é ser autêntico e ser cristão é... é ser otário, imbecil, alienado, pedófilo, retrógrado, burro, homofóbico. Se se for prestar atenção, nada disso é verdade, mas propalam isso aos quatro ventos, por quê?
É óbvio que isso é tudo inspiração do djabo que está cada vez com mais ódio, já que está cada vez mais próxima a sua derrota definitiva. Ódio, medo, horror... Tudo está fazendo com que ele haja com mais força. Mas Deus, tampa, permite isso também para nos corrigir. Precisamos, como Igreja, prestar atenção, como nós prestamos atenção à nossa vida pessoal. Em algo estamos errando ainda. Cada um carrega a sua cruz e seus pecados na misericórdia de Deus e a Igreja também, carrega seus pecados na história e sua cruz que tem que enfrentar.
Mas, em Cristo somos mais que vencedores. Já entramos nessa batalha vencendo! O inimigo que é o perdedor e joga sabendo que vai perder! Precisamos nos encher de todo otimismo e alegria possível de estar no caminho da verdade, e de força e coragem para enfrentar o martírio do mundo de hoje, esquecendo cada vez mais de nós mesmos e estufarmos o peito com a cruz estampada, dizendo, com honra e louvor: “Somos testemunhas da ressurreição de Cristo!”
Temos que ter coragem! Ousadia de até aconselhar aos nossos perseguidores a passar uns dias em países islâmicos, a olharem para outras religiões, inclusive o satanismo que cresce e conta as maiores mentiras já contadas. Entretanto, cordeiros como nós, cristãos, aprendemos a ser, é um alvo perfeito da caça daqueles que praticam certo tipo de bullying e não sabem. Nós somos perseguidos pelo anticristo que está no mundo, o diabo, o perdedor, e é contra ele que devemos lutar. Pois vamos, sim, esmagar sua cabeça até sua ida definitiva ao lugar que esse derrotado merece!
Os "mártires" da contemporaneidade
Vivemos no tempo em que há mais mártires na história da Igreja. Mas, isso não é catastrófico, em minha opinião. A população alcançou 7 bilhões de pessoas. Cem mil cristãos morrem martirizados por ano, segundo pesquisas. Já segundo cálculos da ONU, mais de 2 milhões de pessoas morrem de fome a cada dia, em 2003, num ano só, 841 milhões de pessoas morreram de fome. Isso é um fato de se alarmar, qual seja? Que alguns cristãos estão preocupados mais com os mártires, coisa que deveria ser uma honra, para um cristão, do que as pessoas que estão com fome. Por que esses números são supervalorizados, o do martírio, por alguns formadores de opinião, em detrimento da fome que existe no mundo? Algo está muito errado.
Nós, Igreja, estamos vivendo um processo de autovitimização terrível. Olhamos muito mais para os insucessos do que para os sucessos. Se não concordam em tudo conosco, é perda total. Se não concordam conosco, são nossos inimigos. Será que a Igreja precisa ser ainda mais perseguida para que nós acordemos que a nossa missão e razão de viver é o amor, e o amor não se preocupa consigo, mas com o outro? Será que se nós nos preocupássemos mais com as pessoas que morrem de fome do que com o nosso ego cristão de sempre ter de estar por cima, seríamos perseguidos da mesma forma?
Se um cristão reclama de perseguição, e assim me acuso também, isso demonstra que ele ainda não acordou para o que é ser cristão. Ser perseguido deve ser uma honra, não motivo de reclamação e vitimização, assim como fazia São Paulo. Parece que nós, cristãos, também estamos com a depressão que assola o mundo, que nos faz deixar de enxergar o outro e ficar só preocupado conosco mesmo e com o nosso próprio sofrimento. Ficamos como que deitados na cama e trancafiados dentro de casa, sem ânimo de sair e ver o mundo lindo que há do lado de fora e com preguiça e sem coragem de enfrentar os desafios que ele nos propõe.
Ser perseguido deve ser uma coroa, porque autentifica nosso ser cristão. Entretanto, precisamos diferenciar perseguição espiritual de perseguição provocada. Muitos de nós saímos falando aos quatro cantos do mundo palavras ofensivas e depois vamos reclamar de perseguição. Na verdade, não fomos nenhum pouco cristãos desde o princípio. Se proclamássemos somente palavras de amor e de bênção e mesmo assim fôssemos perseguidos, como acontece ao Papa, aí sim, poderíamos nos honrar sabendo que somos verdadeiros discípulos de Cristo. Ou ainda, que estamos próximos de sermos cristãos verdadeiros, ou seja, outros cristos.
É hora de revestimo-nos da virilidade própria de um cristão autêntico e deixar de nhenhenhém! Temos que ter a têmpera dos mártires, aceitarmo-nos na cruz que é própria de ser cristão e enxergarmos que não somos perseguidos por pessoas, não temos homens de carne e osso como inimigos, mas principados e potestades do mal, que estão espalhados pelos ares, conforme ensinamento de São Paulo. A batalha é espiritual, não somente ideológica. Devemos acordar para a honra de ser mártir, coisa que deve ser visto como um presente de Deus, poder morrer como Ele morreu, na cruz, e injustamente.
Deus
Nos antigos dias, quando a primeira palpitação da linguagem chegou aos meus lábrios, subi a sagrada montanha e falei a Deus, dizendo: “Senhor, sou Teu escravo. Teu desejo oculto é minha lei, e obedecer-Te-ei para sempre.”
Mas Deus não respondeu e, como uma poderosa tempestade, seguiu adiante.
E depois de mil anos, subi a sagrada montanha e novamente falei a Deus, dizendo: “Criador, sou Tua criação. Da argila me fizeste e a Ti devo tudo o que sou.”
E Deus não respondeu, mas, como um milhar de asas ligeiras, seguiu adiante.
E depois de outros mil anos, subi a sagrada montanha e falei a Deus novamente, dizendo: “Pai, sou Teu filho. Com piedade e amor deste-me nascimento, e através do amor e da adoração herdarei Teu reino.”
E Deus não respondeu e, como uma neblina que encobre os montes ao longe, seguiu adiante.
E depois de outros mil anos, subi a sagrada montanha e novamente falei a Deus, dizendo: “Meu Deus, minha meta e minha completação, sou Teu ontem, e Tu és meu amanhã. Sou Tua raiz na terra, e Tu és minha flor no Céu, e juntos crescemos ante a face do sol.”
Então, Deus curvou-se sobre mim e sussurrou palavras doces ao meu ouvido, e, tal como o mar envolve um arroio, assim Ele me envolveu. E quando desci aos vales e às planícies, Deus estava lá também.
Gibran Khalil Gibran em Parábolas.
Por que ser ateu?
Por que eu seria ateu? Parei para pensar nisso, esses dias... Isso porque nunca fui ateu, nem me lembro de, na vida, ter questionado sobre a existência de Deus. Por isso penso também, agora, por que será que eu teria razão para ser?
Deus sempre teve presença real na minha vida, de modo que, desde pequeno, eu pude reconhecê-lo. Tanto que pedi, na idade que Jesus se perdeu dos pais, para ser batizado. Talvez eu também tenha, inconscientemente, reconhecido quem são meus verdadeiros pais. Enfim, uma primeira razão para eu ser ateu, é se não pudesse reconhecer a intervenção, a paternidade e a eleição de Deus na minha vida. Em resumo: ingratidão.
Eu sou muito orgulhoso, soberbo, essas coisas assim. Tanto que, de vez em quando, deixo Deus no lugar que seria o meu e eu assumo sua posição: a do centro. Mesmo que multi-impotente, unipresente e defisciente (só não sou mais orgulhoso do que quem tentar corrigir essas três palavras). Penso que outra razão para ser ateu, é eu ser tão orgulhoso, tão orgulhoso, a ponto de não aceitar que exista um Deus e ele não ser eu. Não aceitar que só exista uma verdade e não a que eu quero que seja, uma só lei natural e não a que eu quero que seja, um só conceito de bondade e não o que eu quero que seja.
Outro motivo, que talvez me levasse a ser ateu, é não aceitar uma palavra chamada “responsabilidade” e todo o seu significado. Querer ser o dono do tempo e da razão dele, agir sem querer sofrer o ônus das consequências. Ou, de outra forma também infantil, reclamar que não existe Deus se tantas pessoas sofrem, se morrem de fome, se existe tanta violência, quando quem pratica a violência é o homem, quem é egoísta a ponto de deixar que outros passem fome é o ser humano, e a razão do sofrimento, muitas vezes, é a falta de amor. Se pensasse assim, só poderia ser por não ter saído ainda do peito da minha mãe, ou da mamadeira.
Mais uma razão, é se eu quisesse ser ateu para chamar atenção. Aquela coisa de ser diferente, de não estar de acordo com a moda, de ser rebelde. Uma mistura de carência e vaidade. Faço muita coisa para chamar atenção, mas, se dissesse que era ateu para isso, seria uma incoerência com a minha própria vida. Fazer tudo que a maioria da sociedade não faz, ser o oposto dela. Felizmente, eu não preciso disso. Mesmo querendo ser do contra, muitas vezes, não consigo chegar a esse ponto, como alguns fazem de, até, suicidarem-se, não. Deus me ama com um amor pessoal, gratuito, eterno, fiel e, ainda por cima, infinito. Eu vivo e recebo constantemente esse amor, por isso, não chego a tal ponto.
Enfim, uma última razão para que eu fosse ateu, é se eu não gostasse do que Deus é. Não gostasse de amor, bondade, misericórdia, justiça, fidelidade, humildade, castidade, generosidade, criatividade, verdade, respeito, liberdade, felicidade, eternidade, vida e paz, e quisesse me opor a isso. Contudo, gosto demais e quero tudo isso, quanto mais for possível, para a minha simples existência.
Respeito profundamente os ateus, e os defendo muitas vezes. Entretanto, quero Deus, pois o amo e também tudo que vem Dele. Ele é meu pai e também meu amigo, também uma pessoa pela qual dedicaria totalmente minha vida, como sua alma esposa, se Ele assim me convidasse. Mas, quero ser uma alma esposa mesmo sem ser totalmente. Quero ser um com Ele, estar separado Dele não me basta, não é o suficiente. Quero alcançar seu coração e deixar que Ele atinja o fundo do meu. Livremente.
Explicando o amor esponsal
Para se chegar ao casamento, faz-se necessário passar pela amizade e depois pelo namoro. Não feito isso, são etapas que se pulam, pois um passa a existir no esgotamento da função do outro. Ou seja, se não se consegue mais ser só um amigo, se isso não basta, entra-se no namoro. Quando o namoro não comporta mais e há aquele sério desejo de construção de família, chegou o tempo do casamento. Não há assim, união maior entre duas pessoas, em todos os sentidos: carnal, material, espiritual e afetivo.
Assim, quando é chegado o casamento, os amores, em vez de serem alternativos, se cumulam. O amor de amigo é somado ao amor de namorado, e esses amores somados devem estar no casamento. Os esposos devem ser, pois, amigos, enamorados e casados um no outro. Quando se namora, não se deve deixar de ser amigo, nem quando se casa, se deve deixar de ser namorado, de perder todo o romantismo do agrado recíproco, do beijo e do abraço. Nem, muito menos, da conversa, compreensão e do ombro amigo na resolução dos problemas da vida. Nesse sentido gratuito do amor que é a amizade, de darem-se um ao outro sem cobrança.
Portanto, o casamento é fruto de uma conquista. De uma amizade que deu certo e desenvolveu-se num namoro, e o casamento, do mesmo modo, é um namoro que deu certo e deu vida a um casamento. Se for assim, cada etapa vivida sem tropeços, vivendo cada marcha no seu limite. Como o sistema de aceleramento de um carro, cada coisa tem que ser vivida no tempo certo e dentro do seu limite.
Por outro lado, como isso deve ser vivido na liberdade, não se deve estragar uma amizade por recusa de namoro, nem por falta de um encantamento recíproco, já que o namoro é o sucesso da amizade. Muito menos uma amizade se acabar juntamente com o namoro, isso não se justifica, já que deveria ter dado certo, já, a amizade. Claro que existem decepções e feridas, mas na amizade existem também, e amigos perdoam-se mutuamente no amor.
No casamento, entretanto, não se admite freio nem retardo, muito menos marcha ré. Para se casar, deve-se conhecer muito bem (o suficiente) e já amar aquele com quem se quer viver e formar uma família, a fim de cumprir o compromisso firmado, que esse sim, o cumprimento, é prova de verdadeiro amor, além de sentimentos. Tudo isso, se fosse resultado de uma amizade e um namoro de sucesso, facilitaria muito a vida no casamento, que sem esses dois, deve ser difícil demais. Viver como dois estranhos, sem sentimento algum, deve ser coisa muito triste, mas, infelizmente, consequente de um erro, ou mais de um.
Não vivi um casamento, nem nenhum namoro meu teve sucesso que perdurasse até hoje, mas, tenho tudo isso como meta a se cumprir, como um sonho a se realizar. Quero ser, da esposa que Deus, se o quiser, me conceder, amigo, namorado e marido. Quero amá-la assim, triplamente, como todo amor que Deus pode por ela me dar, por ter sido fruto de Sua bondade em minha vida. E ela há de ser, com o fruto do meu amor, para a minha realidade, com toda a verdade de sua hipérbole, a mulher mais linda e santa do mundo.
Conversa com um cientista
Eis que vinte e cinco anos depois de terminados os estudos escolares, dois amigos antigos se encontram e começam aquela conversa de quem não se viu faz é tempo:
- Fala, cabeção! Quanto tempo, cara! Como tá tua vida?
- Que se dê um grande brado de alegria em forma de bom-dia, porque dois grandes amigos se encontram. O que responde à pergunta afirma que sua vida vai bem junto à esposa e filhos e quer saber como está a daquele.
- Hein? Cara, tu tá estranho... tu quer saber como tá a minha? Se for, eu sou missionário agora, rapaz. Tô feliz pra caramba! E conta mais aí. Tu tá fazendo o que da vida?
- Com mestrado na UNB e doutorado na USP, José Felinto de Almeida tornou-se professor concursado na UFMG de Direito Constitucional. Ainda assim, sendo doutor, o professor supracitado tem dúvidas acerca da vida missionária.
- Cara, tu tá estranho! Mas acho que tô começando a entender. Meu irmão, eu vivo da providência divina, fiz votos de pobreza, obediência e castidade. Sou muito feliz assim! E a família, tu tem quantos filhos?
- José Felinto de Almeida tem 5 filhos, sendo três mulheres e dois homens. Todos ainda menores de idade. O mesmo se interessa em saber como é a vida missionária com relação ao assunto em questão.
- Eu sou casado e tenho três filhos. Com alegria vivemos da paternidade de Deus que não nos deixa faltar nada...
(Pausa de alguns segundos)
- Cabeção, me diz aí, porque tu fala assim?
- A resposta é de fácil compreensão. “Faz parte da linguagem científica o uso da terceira pessoa. Perde-se a identidade e a voz no mundo acadêmico e o interlocutor, sempre que usa a fala de outra pessoa, deve citá-la.” Isso se encontra na obra “Epistemologia da Ciência”, página 98, de Igor Almério de Souza.
- Grande amigo, foi um prazer te reencontrar, mas tenho de ir. Te desejo toda a felicidade do mundo nessa sua jornada. Fica com Deus. Shalom!
- "Felicitações sinceras são comuns entre amigos. Por isso, deve-se corresponder sempre na mesma medida." Isso está em “Ética da Amizade”, página 236, de Rafael de Farias Gondim.
Vocação: chamado ou convite?
Vocação, chamado. Duas palavras muito cheias de significado, dentre os quais está “convite”. Convite, diferente de vocação e chamado, que são palavras extremamente românticas, gera obrigação da parte de quem convida. Por isso prefiro convite, porque é mais real, pelo menos para o contexto que aqui se quer.
Se Deus chama à santidade como uma coisa iminentemente vocal, é como se fosse aquela coisa informal que o chamado vai se quiser e quem chamou não se obriga para com isso. Já quando pensamos em convite, vamos mais além, pensamos que aquele que convidou gerou uma obrigação para conosco e, de fato, se Deus nos chama a santidade, algo que com nossas forças é impossível, Ele nos dá a senha, que é a graça. Com ela e só com ela poderemos participar da festa.
Entretanto, a quem se entrega a senha, dá-sa o direito de ir para a festa. Quem recebe a senha vai se quiser, mas tem direito de ir e usufruir de tudo que a festa tem. Ou seja, o convite à santidade gera o direito à graça. Quem é convidado a ser santo, tem, do mesmo modo, direito de ser santo e tem direito também a todos os meios para atingir tal meta. Deus, obviamente, como a justiça em nome próprio, dá-nos mais do que precisamos para isso. Infelizmente, parece que nós não damos muita importância à sua festa.
Do mesmo modo, e assim ainda pode se perguntar, por que não podemos fazer o mesmo raciocínio para chamados, ou melhor, convites específicos. Como um carisma, por exemplo: se Deus me dá um carisma, e esse carisma é o modo pelo qual posso ser mais feliz em vida e correspondendo à sua vontade, isso também gera um direito perante todos de viver a minha vocação, o meu convite. Se Deus, que é o dono da festa, me convida, quem é outro mero convidado para me dispensar dela?
Quando a voz de Deus é explícita e não se respeita o convite que Ele dá a determinada pessoa é, do mesmo modo, o que sente um aniversariante sendo dispensado por outro convidado da sua festa. São papéis invertidos, já que só o dono pode e deve fazê-lo. Do mesmo modo, e não custa advertir: Deus deve ficar muito irritado com uns convidados seus que tem o grande costume de fazer isso.
Ora, se Deus convida, é porque Ele quer, e se Ele quer, Ele dá as condições, dá a graça! É de Deus que estamos falando, o Onipotente! Se Ele diz, Ele faz; se Ele chama, Ele quer; e se Ele quer, Ele dá a graça para que tudo aconteça! E ai de quem ousar impedir os seus planos!
A tentação do filósofo
Ele lê e reflete. Pensa. Sempre está atrás de uma solução diferente, de uma novidade. Vive para pensar e esse pensar é o combustível para o seu viver. Quer gritar quando não está contente com a realidade que invade seu coração inocente, ele não vê maldade, nem em si mesmo. Com sua potente caixa pensante, tenta adequar o mundo a si, porque o si não se adequa o mundo. Ele pensa.
Ele tem que estar certo na sua versão da verdade, porque existe todo um sistema montado na sua cabeça, e uma parte do quebra-cabeça diferente, fere toda a imagem. Ele tem que refazer tudo de novo para ficar coerente. E assim vai à sua trajetória em busca da verdade, seja a verdade verdadeira, seja a que mais a si acomoda, não lhe causa tanto sofrimento nem aumenta sua angústia, tormento que existe por ver com os olhos da razão.
Ele não segue a ninguém, só tem uns colegas com quem concorda. Porque seguir reduz sua capacidade de pensar e chegar por si mesmo à mesma conclusão. Ele quer ir sozinho desbravando a floresta, abrindo novos caminhos por entre as pedras a fim de achar seu próprio tesouro. Seguir alguém, para ele, é perder a liberdade, e não quer andar por caminhos já trilhados, isto lhe tira o gosto da descoberta.
Aí é que está o grande problema: ele quer achar um novo caminho e quer que o vejam nesta trajetória, já que ele é um desbravador, não uma formiga que segue em comboio, então ele grita a anunciar que está em um novo caminho, e que este tem árvores e animais que em outros não tem, que é melhor, mais rápido. Ele tem de chamar atenção, porque não tem graça todo esse esforço se ninguém ver o que ele conseguiu. O pior de tudo, é que mesmo que termine num precipício, ele tem que ser diferente, o caminho é o dele.
Inspiração ou revelação? Uma abordagem aos carismas.

Liberdade aos passarinhos!
Existe uma coisa que eu tenho horror, chegando quase ao ódio, é quando colocam pássaros em gaiolas. Chego até a pensar que é uma inveja inconsciente de não poder voar, aí, para saciar, impede o animalzinho de fazer aquilo que ele foi criado pra fazer.
Tá bom, alguém pode dizer que é para admirar ou para ouvi-lo cantar, já que é difícil alguém prender um passarinho feio ou que não cante, ou então comparar com animais que se comem. Bem, se uma pessoa estivesse faminta e só tivesse uma arara-azul para comer, nem crime era.
O negócio é que a pessoa quer admirar um passarinho e não pode, porque ele vive voando, por isso, prende na gaiola. Já alguns, para não prender o bichinho, fazem o pior: quebram as asas. Arranque a língua do seu cachorro ou a cauda do seu gato, infeliz!
Se não tivesse esse tipo de gente sádica, não teríamos tantos pássaros em extinção! Quer ver um raro, a viagem custa a metade do preço dele, aposto que vai ser inesquecível. Outro não tão raro, coloca aquele negocinho com água e açúcar que eles vão atrás. Já vi tantos na casa da minha avó por causa disso... Melhor ainda! Encha a casa de flores!
Eu me guardo na minha vontade, mas quando vejo um passarinho preso, tenho vontade de colocar o dono dentro da gaiola e o passarinho fora, pra ele ver o que é bom pra tosse!
O amor a si mesmo
Fazer um exercício físico, cuidar da saúde, ir ao médico, tomar medicação, passear, dar uma curtida na natureza, ler, adquirir uma boa cultura frequentando a cinemas e teatros, ter bons amigos, rezar, ir à missa e também a grupo de oração, não seria tudo isso também o cumprimento de um mandamento?
Dormir um bom sono para quem precisa, não seria cumprir o mandamento de amar-se a si mesmo? Jesus disse “amai ao próximo assim como a ti mesmo” como condição de amar ao próximo, ou podemos fazer uma leitura diferente, como se ele tivesse dito: amai ao próximo, como também ame a ti mesmo? Prefiro essa segunda leitura.
Amar-se, sim, não como vaidade ou orgulho, mas como verdadeiro sintoma daquele que cuida do corpo que é templo do Espírito Santo e da alma que é onde Deus habita. Amar ao próximo não exclui nosso amor a si mesmo, pelo contrário, devem viver harmonicamente, sem que um anule o outro.
Entretanto, existe um amor que deve vencer o amor a si mesmo e é uma razão pra desprezar até esses sintomas que foram ditos anteriormente: é o amor a Deus, que deve ser maior do que tudo. Sobre todas as coisas, todas as pessoas e até sobre a si mesmo. Por isso o martírio. Pelo serviço e pela causa de Deus podemos até deixar de nos cuidar, que não vai deixar de ser amor, mas vai ter ainda mais valor.
Aliás, o amor ao próximo já deve vencer o amor a si mesmo, de modo que Jesus disse que “não há amor maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”. O amor a si mesmo deve, sim, existir, mas é o último na fila: primeiro a Deus, segundo ao irmão e só por último, a si mesmo. Mas esse amor a si mesmo, mesmo sendo o último, deve existir, até como prova de amor ao irmão que corresponde ao amor, e a Deus que quer esse amor mais do que tudo.
Parábola do bom ateu
[1] Certo jovem descia da universidade para sua casa quando caiu na mão dos malfeitores, aqueles que falam demais. Estes arrancaram-lhe tudo que tinha de amor próprio, espantaram sua autoestima e foram-se embora, deixando-o querendo morrer.
[2] Por acaso, encontrou um sacerdote tradicionalista pelo caminho. Ao conversarem, despediu-se dele com desgosto, porque descobriu que gostava do socialismo. [3] O mesmo aconteceu com um consagrado de uma comunidade sequer. Conversou um pouco e disse que aquilo era a cruz que ele tinha que carregar, que era sua via de salvação aceitar toda aquela condição, que era vontade de Deus.
[4] Mas um ateu, que o conheceu por causa de um trabalho na universidade, chegou perto dele, viu seu sofrimento, e movendo-se de compaixão, [5] começou a conviver com ele, levou-o para sair, para a praia, para se divertir. Apresentou uns amigos e mais umas amigas e convidou-o várias vezes para sua casa.
[6] Depois de um tempo, vendo a necessidade do amigo de um tratamento psiquiátrico, entrou em contato com um especialista conhecido, recomendando: “Olha, esse meu amigo precisa de ajuda, toma conta dele aí que eu pago o que for preciso”.
Não sou um adododeta
Ai de mim quando me achar superior por ser cristão. Cristo veio para os piores, e se Ele me escolheu, aí está um sinal de quem é verdadeiramente inferior. Jesus é Deus e se humilhou numa morte na cruz. Pergunto-me, pois, quem sou eu para querer me impor? Jesus se fez de cordeiro indefeso e morreu na cruz. Posteriormente, o sangue dos mártires fez a Igreja crescer de forma assustadora e inexplicável. Eles também eram cordeiros indefesos e o sangue deles deu ao mundo o testemunho e a vitória do amor, sempre com o auxílio do poder do Espírito Santo.
Não defendo a verdade, ela se prova. Não adianta insistir que o céu é vermelho quando ele por si demonstra a cor que aparenta. Assim, a verdade, por mais que defendida, imposta ou o que for, só é mesmo verdade se se provar em vida, na realidade. Imagino Deus ao meu lado e eu o defendendo... Isso não faz sentido. Se está dito que a sabedoria de Deus é loucura para os homens, é porque, ora, isto é verdade, mas a mediocridade dos homens querem fazê-la racional e humanamente racional, quando é algo impossível.
Se eu viver a verdade, não só minha vida como minha morte há de provar, pois Deus, que é verdade, não há de me abandonar. E eu não preciso sair por aí defendendo aquele que vai me julgar, é uma inversão de posições. O diabo acusa a qualquer um, mas na verdade ele não se atreve a tocar, só os humanos que insiste enganar, ludibriar, já que são burros. Se Adão se fizesse de surdo e não quisesse conhecer, não teria pecado.
O cristianismo não é superior a nada, nem veio pra isso. A verdade não é uma teoria, a verdade é Cristo e que o homem tem esperança, esperança de viver eternamente, esperança de ser feliz, de ter alegria mesmo com tanto sofrimento. A esperança da vida eterna e de ser um só com Deus, de ser redimido além dos defeitos, sem se preocupar com merecimento. A verdade é que o homem, criatura, é amada além do tempo.
Portanto, quantas vezes quiserem eu defendo, na verdade, que quem ficar por aí discutindo teorias só se passa por ridículo, e um ridículo perdedor de tempo. Pode não ser burro, mas é insensato, provido de qualidade intelectual, mas desprovido de sabedoria e inteligência espiritual. Só não é inútil porque Deus é misericordioso. Eu não quero ser um, por isso que Ele seja comigo piedoso e que eu não caia na cegueira, na grande baboseira de ser um arrogante.
Explicando o amor de amor
Amor de amor é assim, porque não é amor de paixão, não é confusão. É rocha, não areia do mar que se move com o bater das ondas, efêmero como si só. Não, é amor de amor.
Esse amor é como um barquinho que é lançado no mar, que tem tudo para ir e jamais voltar, mas, não se sabe como, volta ao mesmo posto. Não se importa com correnteza, nem com ondas, nem com o vento. Nem, ao menos, na tempestade, afunda. Sobrenaturalmente se inunda em si mesmo e sobrevive além das circunstâncias, além da distância e do tempo.
Ele é filhote que briga. Filhote? Será que filhote briga? Ele nem sabe direito o que faz, e a mordida se confunde com brincadeira. Mágoa entre eles não acontece, e o que era para causar mágoa e desgosto, a contragosto, se dissipa, efervesce e dá mais cor e sabor. O sabor do amor provado e comprovado.
Ele é um beijo sem laço, ou laço sem beijo, porque não precisa nem de abraço. Ele existe por si só e subsiste inteiramente. Ele é atado, fixo, permanente. Nó cego de nascença, sem cura, sem resolução, sem recurso. Mas um processo em curso, em latente evolução. Crescimento-construção.
Ele é perfeito, além dos perfeitos. Ele é amor, e o amor é o único sinal resquício de perfeição que o ser humano possui, é só o algo que ele tem de perfeito. O próprio Deus-Amor que vive e morre dentro dele. Essência perfeita, e quando esse perfeito se encontra com outro perfeito, entra na eternidade e não sofre os efeitos da morte.
Ele é um trenó que anda sobre o gelo e não congela. Trenó de fogo que o derrete, ao contrário do que se espera. Ele é vivido, não só dito, e se dito, é só para se ver, porque ele mesmo se deixa notar. É sentido e esse sentir que não se contém, e quando não se age a confirmar, se diz, porque nada mais pode se fazer.
O amor, como perene, não perde o gosto. Chega o calor e ele derrete, vira fondue gostoso, e se sólido, outro sabor acontece, mas, do mesmo modo, é saboroso. É perene, saboroso e livre, diferente da paixão. Já passou por todo tipo de comprovação e não se há como fugir, mas se render e dar graças a Deus, porque se é esse amor de amor, o Amor em pessoa é Deus, e só dele pode ter vindo, então, foi Nele que nasceu.
E se eu fosse comunista?
Sempre houve estrago quando se misturou religião e política, e não está acontecendo diferente. Jesus ter dito a todos que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus parece não convencer. Ainda querem estabelecer o próprio reino neste mundo e não o de Deus.
A política, para uns a arte da conquista e da manutenção do poder, e para outros, a arte da coletividade, se infiltra no meio da Igreja e quer dizer, por causa dela, agora, quem é e quem não é Igreja. O pior disso tudo é dizer que uma pessoa está excomungada por votar em determinado partido por causa de certa posição política ou ideológica, não bastasse a a privação da liberdade de que acontece, isso se faz a nível de Brasil, um lixo em termos de política.
Fala-se do socialismo para lá e socialismo para cá, e pergunto eu, onde é que se viu escrito uma realidade semelhante ao do socialismo? Não foi nos atos dos apóstolos, na comunidade dos cristãos? Pior ainda, muito antes dos avós de Karl Marx pensarem em se casar, um santo mártir da Igreja escreveu um livro que descrevia algo muito semelhante à ideologia socialista em seu fantástico livro “Utopia”. Seu nome é São Thomas More. Agora uns que dizem que leem filosofia demais e parecem raciocinar de menos, colocam tudo que é socialismo e comunismo no mesmo saco, chamam de marxistas a todos e querem excomunga-los da Igreja.
Pior ainda, alguém tem a ousadia em afirmar que um cidadão, só por votar em um candidato a favor do aborto, está automaticamente excomungado, isso porque compactua com a ideia do aborto. Pelo amor de Deus! Isso é um completo absurdo, e são tantos os motivos que vou tentar descrever ao menos alguns: tem gente que nem sabe que o candidato é a favor do aborto; tem candidato que diz ser contra o aborto só para angariar votos (não fez isso a presidente Dilma Roussef?); não é concreto que o aborto vá ser autorizado por causa daquele candidato; a grande parte da população não entende nada de política, inclusive esses que estão falando em excomunhão!
Não fosse bastante essas razões óbvias, querem agora dizer que, se realmente votar em algum candidato abortista é compactuar com a ideia do aborto, isso ainda é capaz de excomungar. Existe crime “in abstrato”? Alguém comete um crime ou pecado antes de ele sequer ser cometido? Por exemplo: se eu sou a favor de que se mate Lady Gaga, eu carrego a culpa da morte dela, se por um acaso ela for assassinada? Ou eu cometo o crime e cometo um pecado gravíssimo somente se for eu o executor? Esse ser humano que por um acaso é a favor do aborto tem um mínimo de direito de ser convencido! Ou agora estamos voltando à Idade Média e ninguém tem liberdade de pensamento e de convencimento? Será que Jesus se agrada disso?
É por essas razões que sou pessoalmente compelido, mesmo sendo contra qualquer tipo de socialismo ou comunismo, a defender irmãos que estão sendo segregados por outros membros irmãos da própria Igreja. Muitos que amam a Deus e à Igreja estão se sentindo culpados e perseguidos por estes que privam suas liberdades, impedem suas consciências de exercer um livre ato e acabam, infelizmente, por sofrer verdadeira lavagem cerebral. A Igreja não é só o Papa em Roma, ela também é a unidade e o amor entre os cristãos nas mais diversas localidades, e isso está sendo especificamente ferido por falta de inteligência e politicagem.
Comentário de Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Auxiliar de Aracaju
Caro Igor, alguns dos seus argumentos não procedem, mas, de modo geral, compreendo o que você quis dizer: coloca-se contra aqueles que, de modo simplório, emanam decretos de excomunhão a torto e a direita. No objetivo geral, você está correto. A Igreja não excomunga ninguém por votar neste ou naquele candidato. Educar os cristãos para uma sadia e consciente participação na vida política é dever sim da Igreja, pois somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo, mas respeitando, certamente, a autonomia própria das realidades seculares.
Infelizmente, na Internet, com toda boa vontade do mundo, aparecem cristãos zelosos e com reta intenção que, no entanto, desenvolvem um linha de pensamento extramente simplista que, no fim, não expressa de modo algum a posição da Igreja nem do Papa. Não vejo por que seu artigo poderia provocar tanta polêmica...
No entanto, também é verdade que um cristão deve ter o cuidado de observar e refutar o programa de partidos políticos que sistematicamente defendam ideias contra a moral cristã, sobretudo no tocante à defesa da vida, do matrimônio e da sexualidade. Dar pura e simplesmente poderes a tais partidos seria contribuir para um ordenamento legal no País que contraria os valores humanos e cristãos, ajudando no processo de desumanização e desevangelização da nossa cultura.
Deus o abençoe.
O príncipe de Maquiavel
Certa vez eu emprestei um livro de Maquiavel, famosíssimo, chamado “O Príncipe”, e não me foi devolvido. Pergunto-me por quê. O que demais esse livro tem? Que tantas “verdades” são capazes de fazer um ser humano não me devolver um livro que custa dez reais pelas livrarias? Se fosse um “Imitação de Cristo”, um “Irmão de Assis”... ainda teria alguma explicação, já que são livros indispensáveis e tem gente que tem preguiça de dar uma passada em uma livraria, mas Maquiavel tem em todo lugar!
Eu fico é pensando no verdadeiro Príncipe, o Príncipe da Paz, porque se eu escrevesse um livro com tal nome, só poderia ser sobre ele. Mas o conteúdo iria ser tão diferente... Esse outro é príncipe da guerra, consegue as coisas matando todo mundo e vendo todo mundo como maldoso. Ainda que seja verdade que as pessoas são maldosas, mas isso não é justificativa para a prática da maldade.
“Prefiro ser temido do que ser amado”, diria o príncipe falso. Eu não consigo entender quem se sujeite a esse príncipe, já que agir pelo temor é agir sem liberdade. Como um ser humano pode gostar de um livro que ensina aos seus governantes a tirar-lhe a liberdade? É fazer muito papel de babaca... O Príncipe da Paz age na liberdade e ainda é capaz de perquerir aos próprios seguidores se querem voltar atrás. Ficaria sozinho pela verdade que é a sua vida.
Verdade... Tem tanta coisa disfarçada de verdade nesse livro, que acaba sendo uma tremenda mentira. É claro que a parte histórica é verdadeira, inclusive a que fala mal da Igreja, mas é só por um ponto de vista. Nesse ponto, é aceitável e útil, porque aprendemos, nós que somos membros, a amar a Igreja independente de seus demais membros ou pastores. Afinal, quem nunca pecou que atire a primeira bala.
Mas, o grande veneno mesmo é o tal do utilitarismo, esse que diz que “se for para o bem da coletividade, os fins justificam os meios”, ou, em outras palavras, “se eu balancear e ver que o final tem mais valor que o que eu abri mão por ele, vale a pena ir por esse caminho”. Essa maldita ideologia me fez fazer muita besteira e só Santa Teresa d’Ávila bateu o ponto final na dúvida e disse que nenhum pecado é justificável. Descobri que isso é desculpa de preguiçoso ou mesmo de retardado intelectual, como se pensar cansasse o corpo. Sempre há uma saída honesta, e se não houver, aí mora o martírio, e onde está o martírio, está o heroísmo. Por isso, para quem sempre sonhou ser um super-herói, como eu, existe um caminho muito fácil, sem precisar de super poderes, é o sacrifício de si mesmo.
Hoje eu vi o pai desse que não me devolveu o livro e pensei em escrever este texto. Não para pedir-lhe de volta, mas para dizer que não quero mais. Não preciso mais dele. Já tirei o que dele foi bom e foi muita pouca coisa. Afora isso, bem me foi útil o amor, a proteção e a graça de Deus, porque se não fosse, essa obra me levaria ao fogo eterno do mal.
O elogio
Um dia eu fui elogiado. Não um elogio qualquer, desses que a gente recebe ao longo do dia, foi um inesquecível, por todas as circunstâncias, pela honestidade e pelo critério. Dele não esqueço mais.
Era uma colega de trabalho (ela que trabalhava e eu era um simples estagiário), que pelas vicissitudes da vida, havia se tornado deficiente visual. Aliás, dela sinto saudade, e é daquelas pessoas que sentimos falta dela, porque não há de nos ser muito útil, pelo contrário, nós temos que nos fazer obrigados para com ela. Sinto falta daquele ser humano, quer dizer, de todos naquele ambiente, não desfavorecendo a amizade por ninguém, é dela que sinto mais.
Ocorre que, certo dia, num daqueles intervalos de repartição pública em que todos se amam, iniciou-se uma conversa sobre mim – não lembro exatamente sobre o que era. Talvez porque o que aconteceu ali me marcou demais para que me lembrasse de qualquer outra coisa. Foi que, no meio da conversa, a minha amiga soltou um “Igor é lindo!”. Sei que houve mais conversas depois disso, mas aquele momento foi único em toda a minha vida.
De fato, o que me marcou foi que ela usou aquela figura de linguagem, a mais poética de todas: a metáfora. Ela em momento algum estava preocupada com aquilo que é exterior, sensível, visível, nem falava disso, embora os outros participantes tenderam por dar essa conotação, afinal, esse é o nosso costume, o dos que não enxergam.
Sinceramente, ainda não reconheço a razão do elogio, porém foi marcante. E por ele pude constatar: quem não vê, enxerga muito mais daquilo que verdadeiramente tem importância. Queria que todos pudessem assim enxergar, até mesmo eu, porque vejo bem demais e também sou dado a esse negócio de formosura. E é por essa razão que essa minha irmã não só me deixou curado, mas também constrangido.
A realidade do mundo
Sabe algo que parece ser inteligente, mas é a maior insanidade que pode existir? É a não conformidade com a realidade. Não entendo porque a rebeldia é tão exaltada, se ela é tão débil. É claro, todos nós passamos por um tempo de ajuste entre o queríamos que fosse o mundo e o que realmente é, mas, o mais forte sempre vence, e a verdade é invencível.
Algo de bom existe no inconformismo, além da vontade santa de que as coisas sejam diferentes, é que isso é sinal de que existem uns valores muito mais do que universais, mas apriorísticos, eternos, e que nós temos sede desses valores. É como se nós estivéssemos estado em algo perfeito e quiséssemos que tudo retornasse a este estado.
Entretanto, existe algo de destruidor, de terrivelmente maléfico. É a má esperança, a esperança no mundo, nas pessoas, essa esperança sempre decepciona. O inconformado sempre espera que as pessoas vão mudar, que o mundo vai mudar, enfim, que a realidade em sua volta será transformada. Infelizmente, essa esperança engana.
É tolo esperar que os crimes deixem de ser cometidos, que comecemos a ter paz e segurança, é tolo esperar por um mundo melhor. Muito mais tolo é lamentar quando isso não acontece. Tolice, insensatez... imaturidade. Essa rebeldia frustrada e murmurante pertence a uma juventude imatura que faz sucesso um dia e no outro se suicida com um tiro de doze.
"Porque a vida não é mais fácil? Porque as pessoas não se amam? Porque?!" Sério, não sei nem se Deus suporta essa atitude e esse discurso. Não é pessimismo esperar ser decepcionado, não é pessimismo não esperar que o mundo melhore, isso é a realidade. As coisas, por si mesmas, não vão melhorar, elas dependem sempre de algo ou de alguém.
Esse é o sofrimento de estar nesse mundo, sofrimento que não sei como suporta aquele que não tem Deus. Como suportar viver sem a esperança de um amanhã, a esperança da paz eterna? Como sobreviver sem respirar e saborear aquilo de onde nós viemos e para onde vamos? Como conseguir viver sem Deus?
Conhecendo o pouco que conheço dele, não sei como poderia viver sem meu melhor amigo, pai e companheiro de dança. Não sei se poderia sobreviver sem a verdadeira esperança, de que se Ele não pode forçar nosso mundo a ser melhor, faz-se a si mesmo de mundo para nos habitar, e daí vem a Paz.
Este mundo é cruz, e a ressurreição só vem depois. Não se pode esperar ressurreição durante a cruz. Inteligente é quem aceita, abraça e espera cruz. Especial é quem ama a cruz e se não consegue mudar o mundo, faz, ao menos, o seu mundo e o mundo de quem está em sua volta um mundo melhor, não por esperar, mas por ser e fazer acontecer a paz.
Shalom!
A humildade substancial
Lá ia o jovem pensador caminhando pelo bosque, daqueles cheios de flores e lindos arbustos, pássaros voando e cantando e alguns animaizinhos pelo chão. E ele fazia aquilo que quase mais gostava: pensar. Quase, porque o seu pensar, perdia imediatamente para amar e, logo em seguida, para a oração. Este primeiro prazer seu, de fato, permitia a Deus iluminar o restante.
Naquela ocasião, estava pensando em Deus e naquilo que vem Dele. Pensava nos dons, na realidade das curas, dos milagres, da oração em línguas, das profecias; e também naqueles dons “para si”, como fortaleza, prudência, piedade, ciência e inteligência. Vinha-lhe em mente aquilo que sempre ouvia dos pregadores e lia nos livros de formação, que esses dons espirituais provêm de Deus, que deles somos administradores e não podemos nos gloriar. O rapaz tramitava em sua mente, que aquilo era óbvio demais, e que precisaria ser muito burro ou orgulhoso demais para não se tocar disso.
Não satisfeito, continuou o raciocínio. Foi voltando, para o que foi que Deus deu ao homem, se foi tão somente os dons espirituais e se é só deles que devemos ser meros administradores. Chegou, em primeiro lugar, na vida: “Não foi Deus quem a deu? Por que não somos também meros administradores dela, e não donos?” – Achou coerente e foi mais além: “A liberdade foi Deus quem deu, e realmente dela não somos donos, já que não se pode viver uma vida de pecado e se ir para o Céu pelo mero arbítrio. Também a liberdade é administrada”.
Estava gostando de onde estava chegando e foi além. O mundo foi Deus quem deu: os animais, as florestas, os bosques, as águas, os rios, os mares e tudo mais que existe. Então a humanidade é administradora de tudo isso, e de propriedade mesmo, não tem nada como sua.
Já começava a abrir um sorriso de orgulho da sua inteligência, quando, seguindo o mesmo raciocínio, deparou-se com a verdade: sua inteligência também foi dada por Deus, já que, no mínimo, ele é o motor inicial de tudo e tudo veio dele. Percebeu, pois, que dela não poderia se gloriar, mas que era razão de dar glória a Deus. Lembrou-se de sua namorada, até porque preferia ficar com ela a pensar, e da beleza dela, e que nem ela, por ser administradora, nem ele, como primeiro admirador, poderiam se envaidecer, mas só poderiam dar glórias a Deus por isso.
Com seu pensamento completamente comprometido pelo encadeamento que se formou, percebeu que sua visão perfeita que o permitia ver a beleza das coisas e das pessoas, inclusive da sua namorada e até a sua mesma, era dada por Deus. A sua fala e todos os seus sentidos também. Percebeu que suas virtudes não vinham de outro lugar... Pensou também nos defeitos, mas que eram resultado do pecado.
Enfim, encheu-se sua mente e, absorto, torporizado, estático, deitou-se no chão e começou, finalmente, a dar glórias a Deus por tudo isso, inclusive por estar ali vivo e ser filho Dele.
Buscando forças pra se levantar.
Empilhado sobre si mesmo,
Sem ter nem saber onde se guardar.
Um cristo enterrado numa cruz
Que não sabe nem pode carregar.
E sua paz retornou com o breve apelo:
Põe-te de pé defronte ao espelho
E dá a ele a imagem que desejar.
Conversa entre pai e filha
A mentira da(s) mentira(s)
A misericórdia

A Justiça do Perdão
Da injustiça
Justiça é só para o Direito? Só para os juízes, promotores e alguns advogados? Ninguém tem a capacidade de saber o que é justo, a não ser esses que vivem disso? Não. Os juristas vivem da lei, não da justiça. A lei pode ser injusta e a justiça, no direito, virou pretexto para o relativismo resumido no famoso bordão: “o que é justo para mim pode não ser justo para você”. Não, não é assim. O que é justo para um é justo para o outro, só que a justiça pode não ser do interesse de uma das partes. Não existe justiça só de um, justiça ou é ou não é.
Justiça. Essa palavra está tão em desuso que virou fantasia. Em toda petição se pede em nome dela, mas qual é mesmo a que pede justiça? O advogado quer justiça e mente em nome dela, o promotor quer condenar a todo custo e diz querer justiça também, e o juiz tem mão de ferro, condena todo mundo, e acha que é justo. Nesses tempos de hoje, em que deveríamos estar mais avançados, mais conscientes, acontece justamente o contrário, vivemos o tempo da supremacia dos interesses individuais, o justo, assim, foi deixado totalmente à parte, já que o que importa é o que interessa e favorece a cada um.
O que na realidade se gera por conta disso, é que a justiça de um país assim se abarrota de processos. As pessoas, manifestamente desonestas, praticam a injustiça esperando serem sujeitas a uma ação, contando com seus advogados para tentar ludibriar a mente do juiz e proteger seus interesses e com a demora do processo, o que vai desfavorecer o cumprimento da “justiça”. Se as pessoas fossem justas, não haveria tanta necessidade de um órgão para decidir quem tem razão, simplesmente quem não tem abriria mão dela. Mas isso, hoje é algo praticamente inexistente. Acontece é que grandes corporações, por meio da sua influência econômica, colocam seus juízes nos tribunais superiores e esses editam súmulas que favorecem seus interesses. Os bancos, empresas de telefonia, grandes montadoras e assim por diante, lesam direito sabendo que estão lesando e, ainda mais, conseguem por meio do seu poder, fazer que não estejam lesando a direito, fazer que o seu abuso seja legítimo, e tudo isso, lógico, que só se pode dar pela ação dos juízes.
Comete-se injustiças a pretexto de matar a fome, dar bons estudos aos filhos, e mais, na verdade, ter um bom lazer e ganhar bastante dinheiro. Esses nunca, jamais, poderiam reclamar de uma injustiça sofrida, porque seria pela mesma razão, assim seria justo. Mas, não, eles reclamam mesmo porque são injustos e não aceitam justiça contra si, nem que os pesos sejam equiparados, não. Sempre têm de estar por cima. Em todas as profissões com isto pode se deparar: médicos que só pensam em ganhar dinheiro e não estão nem aí para os pacientes (isso é o de menos), empresários que ludibriam os consumidores, servidores públicos que aceitam vantagem e dão preferência a uma pessoa ou outra, etc.
Se tudo isso não bastasse, as piores injustiças ainda são cometidas no âmbito da vida privada. Filhos injustiçados pelos pais, gerando consequências psicológicas para muito além de tudo isso, amigos injustos uns com os outros, namorados e ex-namorados, esposos e divorciados, familiares... Não se vê por aí gente tentando compreender os outros, custa muito pensar e na vida se tem muito mais preocupações do que parar para pensar se realmente se foi justo e correto com o outro. A família, a escola, a igreja, por essa razão, por muitas vezes, em vez de fazerem o papel de construção e de acolhimento do ser humano, fazem o de destruição e sofrimento deste.
Bom seria se cada um, no iniciar do dia, pensasse no que poderia ser justo, e no findar, pensasse no que foi injusto, a fim de consertar no dia seguinte. A vida em comunidade, sociedade, família e amigos, quão mais saudável, mais feliz, mais alegre seria, sem peso nem traumas. Mas, o que impede tudo isso é que, para preocupar-se em ser justo, deve-se antes disso, amar, e até o amor que se conta por aí é coisa totalmente injusta, egoísta.
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