Da Radicalidade (Parte 1)

1O mundo está cada vez mais pragmático e objetivo, por isso também, estão as pessoas cada vez mais pragmáticas e objetivas. Estando as pessoas mais pragmáticas e objetivas, seus atos estão cada vez mais pragmáticos e objetivos. Por estarem cada vez menos subjetivas, suas atitudes estão cada vez menos imbuídas de valor, faz-se porque deve fazer e sem pensar o por quê. Interessante isto é, em virtude de nós, seres humanos, sermos constituídos de corpo, alma e espírito, e tudo que psíquico e espiritual possui significado, possui valor. Ser objetivo, portanto, não deveria ser nada convencional.

Refletir sobre isso se torna até engraçado quando prestamos atenção a como interpretam até algum trecho importante da Bíblia, qual seja, quando São Tiago diz em sua carta: “Que teu sim seja sim, e que teu não seja não”. Esta frase, buscando o mais profundo do seu sintoma, não consiste tão somente em dizer a verdade, mas em todo o sentido de uma radicalidade na vivência desta. O problema é que os objetivistas veem a radicalidade como um arcabouço de atos, um conjunto de atos que não admitem intercessão com outra realidade, quando, na verdade, não é.

Os objetivistas diziam, nos tempos de antão, que não se podia comer de mãos sujas; hoje dizem que não se pode ouvir música secular, como se algo como a música, que tanto bem faz a nossa alma, fosse contaminar o nosso espírito. Desse modo, elaboram um “Código Penal Cristão” com tudo aquilo que é proibido e com as respectivas sanções. Estas, felizmente, não podem passar de uma vida inteira de sanções iminentemente morais. Um exemplo pode dar mais ênfase à compreensão: Art. 59: Ir para um show de metal. Pena: 5 semanas de sendo olhado com cara feia e ser chamado de satanista até que se esqueça do fato. Parágrafo único: A pena aumenta de um terço se o agente foi para o show de preto.

[...]

Do Tempo

O-Grande-MasturbadorO tempo acaba. Vira-se a ampulheta, mas o tempo acaba. Por isso, que eu viva de modo que morra sorrindo, que eu e meus filhos colhamos daquilo que plantei. Pois existe um tempo que não volta e hoje já pode ser tarde demais.

Se o arrependimento bate, é para que a atitude mude. Quem chora o leite derramado, acaba por deixar que se derrame mais. Quem errou que pare de errar e quem perdeu que pare de perder, para que não chore e se arrependa novamente. Contudo, existe um tempo para chorar e desse tempo deve ser tirado bom proveito.

Não sabemos o dia de amanhã e não sabemos o que vamos colher do que plantamos, mas, uma coisa é certa: ao menos teremos a satisfação de saber que não perdemos tempo e que, pelo menos, plantamos.

Quem sorri demais fica para trás. De fato, quem perde tempo é porque possui uma vida sem sentido. Construir é preciso, trabalhar é preciso! Pois, que não se murmure quem, por sua própria culpa, viveu a vida que podia ter sido e não foi.

Da Irresponsabilidade

1298862680_d7f76bbc69Esponsalidade vem de esponsal. Do mesmo modo, responsabilidade vem de resposta. O tempo passa e a vida vai se transformando cada vez mais numa brincadeira. As pessoas estão cada vez menos levando as coisas a sério. Num aspecto geral, isto é bastante preocupante. Entretanto, o problema é que essa irresponsabilidade não se encontra não só nas pessoas do mundo, ela está entrando diretamente e contaminando a Igreja. Cada vez mais os próprios cristãos estão construindo sua própria casa no inferno sem saber. Vamos responder pelos nossos atos.

Brincadeira pra lá, musiquinha pra cá! Modinha aqui e ideologias ali. É incrível como estão contaminando toda a mensagem do Evangelho com um monte de baboseira! Com o intuito de trazer mais e mais gente, estão caindo numa bela armadilha. Existe uma raiz em cada ato nosso, e esta raiz estando contaminada, toda a consequência vai estar também. Não sabem, esses irresponsáveis, a seriedade da mensagem do que estão lidando.

Não pensem vocês, que por estar na Igreja, ir à missa todos os dias, rezarem, vocês estarão isentos de uma realidade chamada inferno! Podem pensar que estão fazendo tudo certo, mas as consequências vêm à tona para lhes mostrar a realidade. É uma grande armadilha a tentação da grandeza! Partindo do pressuposto de lotar, usamos de todos os artifícios para chamar mais e mais pessoas para a nossa maldita rede, mas não nos importamos se elas realmente estão sendo salvas. É como se tudo fosse mágica!

Acabamos por envenenar tudo! Tudo fica maldito. Mentimos e fazemos tudo para acobertar as besteiras que fazemos. Nós, cristãos, temos que nos preocupar, pelo amor de Deus, com a verdade do Evangelho! Aquilo é sério, não é uma brincadeirinha! Não é porque se é criança, adolescente ou recém-adulto que vai deixar de ser algo sério e que tem consequências por toda a eternidade! É triste que por vivermos no tempo, esquecemos que nossos atos ecoam pela eternidade, na medida da misericórdia de Deus. Preocupamo-nos tão somente com o hoje, e o hoje, e o hoje! Devíamos aprender com as abelhas, elas que tem 100.000 vezes menos neurônios que nós, sabem se organizar e pensar no futuro de maneira responsável. Nós, por outro lado, somos completos idiotas e só pensamos em agradar ao nosso ego e salvar a nossa pele.

Ah, com quanta gravidade vamos responder por esses malditos erros. Erros que tem sérias consequências. Porque nós não conseguimos ver um palmo a frente da nossa testa? Porque somos tão cegos? Somos nós, os cristãozinhos, que vamos pagar as piores penas no inferno, se para lá formos.

Sabe o que é pior? É quando a ideologia entra em nossas mentes e tudo se justifica! Evangelho não é ideologia, é verdade! Não precisamos defende-lo, porque a verdade não precisa de defesa, precisamos propaga-lo porque a verdade deve ser dita e ouvida. Não porque ela é nossa ideologia, não porque é o que acreditamos, mas porque é verdade e esta verdade salva! Prefiro eu ser um simples leigo que levo a minha vida com responsabilidade, pensando nas consequências dos meus atos, do que ser um coitado de um sacerdote ou consagrado irresponsável que corre o maior perigo de ir arder no inferno! Prefiro eu ser ilha dentro da Igreja do que estar numa paróquia ou numa comunidade de qualquer modo, e, em vez de salvar almas, estar condenando a minha e a de todos que estão ao meu redor.

Porque não conseguimos pensar que o fruto da nossa evangelização é como se fossem frutos de uma árvore que somos nós? Se estivermos evangelizando da maneira errada, esses frutos serão contaminados, sim! E só a misericórdia de Deus para consertar esta tremenda porcaria que fizemos! Só a misericórdia de Deus em fazer com que essa alma potencialmente condenada encontre um verdadeiro cristão, do modo que seja, que lhe mostre o que é a verdade, porque Deus, ao contrário do que um monte de gente é levada a pensar, não é mágico. Deus não precisa de nós, somos nós que precisamos de nós mesmos e Deus nos faz precisar de nós mesmos. Na medida em que nos tornamos maus samaritanos, vamos responder por isso.

Da Nobreza

icone-o-jovem-ricoJovem Rico – Como é que você suporta essa vida de humilhação? Quem diz o que é bom somos nós. Aliás, nós é que vivemos o que bom! Vocês pobres tem de aprender a conviver com o resto, o que sobra de nós, o que nós não queremos.

Jovem Pobre – Eu é que não entendo como vocês, ricos, conseguem conviver com essa vida de autoglorificação, de pura ilusão. Pensam viver o que é bom, mas, na verdade, não sabem o verdadeiro sabor e sentido da vida. Vocês têm de aprender a conviver com pessoas que não os amam e não sabem discernir elas das que elas realmente se importam com vocês.

Jovem Rico – Você me faz rir com essa história de sentido da vida! Afinal, qual é o sentido da vida senão viver, desfrutar o melhor que ela pode dar? Vocês não sabem o que é prazer, o que é poder, muito menos o que é ter. Só pode quem tem! Você me diz que eu não tenho pessoas que me amam ao meu lado, mas eu sou cheio de amigos! Todos querem estar perto de mim. E vocês, a quem ninguém interessa a amizade porque nada a eles pode proporcionar?

Jovem Pobre – Troco mil amizades por uma verdadeira e sincera. Por uma amizade que considera o valor que eu tenho, não do que eu tenho. Você diz que o sentido da vida é desfrutar o que ela tem. Que pena que pensa assim, porque o materialista só assim é porque lhe traz vantagens, porque quando você morrer, não carregará nada consigo. Não queria dar essa vertente ao assunto, mas o melhor amigo que eu posso ter, eu o tenho e Ele se importa comigo, esse amigo é Deus, você se lembra Dele?

Jovem Rico – Deus? É claro! Vou à missa na Catedral todo domingo que não tenho algo mais importante a fazer e sento sempre na primeira fileira. Ajudo vários orfanatos e lares de idosos. Até o dízimo eu dou e ele é maior do que a soma de toda a oferta e os restantes dízimos mensais.

Jovem Pobre – Não sei se você se recorda, mas eu perguntei se você se lembra de Deus.

Jovem Rico – Entenda uma coisa. Somos nós, ricos, que ao longo da história conceituamos o que é bom e ruim. Somos a nobreza e chamamos ao que gostamos de nobre. Nós é que ditamos a etiqueta social. Nós é que elaboramos as leis. Somos nós, inclusive, que indicamos os governantes. Nomeamos até alguns papas e tivemos muita influência ao longo da história da Igreja. Portanto, quem é você pra falar de Deus para mim? Quem é você pra me dizer o que é certo ou errado? Você é pobre, não é ninguém!

Jovem Pobre – Não sei como você se atreve a pensar assim e frequentar a Igreja. Enfim. Eu tenho um Céu a mim prometido, Jesus me chamou até de bem-aventurado. Disse que sou feliz por ser assim, pobre. Ele, inclusive, se fez pobre e nasceu numa manjedoura. Ele falou também que somos nós que conseguimos entender a Sua palavra. De vocês, ao contrário, disse Ele que é mais fácil um camelo entrar num buraco de uma agulha do que vocês entrarem no Reino dos Céus. Para Deus, ser nobre é ser pobre.

Jovem Rico – Perdoe-me, mas agora tenho compromisso. Tenho que ir embora.

Jovem Pobre – Tudo bem.

Jovem Rico – [Imbecil, se acha melhor do que eu].

Jovem Pobre – [Coitado...]. [Senhor, tem misericórdia desse homem].

Do Cristianismo

icone12Religiões. O relativismo põe todas no mesmo patamar. É bem verdade, devemos respeito às diversas culturas. Todavia, para mim, cristianismo não é uma religião. Não é algo meu que eu defendo, mas algo além de mim, antes de mim e maior que eu. Não é algo criado, mas uma verdade revelada.

Todo erro que houve na história do cristianismo não foi em sua doutrina, porquanto ela é absolutamente perfeita. Foi falha do falho. Não pense que venho aqui com aquele mesmo argumento que sempre de que quem peca são os homens, ainda que seja verdade, porque a Igreja em si não pode pecar, já que ela não é um ente. É como dizer que a República Federativa do Brasil mente, mata e se prostitui. Não! O que quero dizer é que a doutrina do cristianismo é “contra” o cristão. O sentido da vida para o cristão é amar, e amor para ele é a doação total de si em sacrifício e serviço do outro. Tudo que o cristão deve fazer para assim ser é se esquecer. Todo erro grave que houve no cristianismo, portanto, foi por cristãos de nome e que usurparam deste nome, mas não de coração.

Tão incrível é o cristianismo, que o próprio Deus que ele prega se fez homem e deu o exemplo. Ele, sendo Deus todo-poderoso, humilhou-se e fez-se escravo para o homem, sua criatura, dando assim exemplo para todos seus seguidores, porque disse que o maior no Reino Dele é o que aqui mais serve. É com isto que pergunto: qual povo seria capaz de criar uma religião que o condena? Digo ainda mais! Todo o que se diz cristão e prega que Deus dará riquezas materiais, bem-estar e tudo mais de bom que algum ser humano quer nesta vida, é tudo, menos cristão! Porque cristão que é cristão, não está preocupado consigo, com seu próprio bem estar. Quem prega isto não passa de um charlatão e quem o segue não está nada mais caindo nas tentações diabólicas nas quais Jesus não caiu, quando não transformou a pedra em pão (prazer), não quis todos os reinos deste mundo (ter) e não se jogou precipício abaixo para ser salvo por seus anjos (poder).

Tão perfeito o cristianismo, que passa o tempo e nós vamos entendendo mais daquilo tudo que está escrito, não por nossos méritos, mas pelo auxílio e poder do Espírito Santo, que é Deus. Só com Santo Agostinho, quatro séculos depois da morte de Cristo, é que fomos entender a Santíssima Trindade; só com São Francisco, oito séculos mais tarde, fomos compreender o sentido da pobreza; quatro séculos depois, fomos entender a vida de oração e o caminho espiritual, com Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz; três séculos depois, viemos entender que o amor se dá nas pequenas coisas, com Santa Teresinha; e, poucos anos atrás fomos entender que o caminho é o do diálogo, não o da imposição, com João Paulo II. Sem contar todos os outros iluminados por Deus como Santa Faustina Kowalska que nos fez compreender melhor a misericórdia de Deus.

Não fosse suficiente, o Deus dos cristãos não é um Deus egoísta e orgulhoso, mas um Deus que nos constrange com seu infinito amor. Amor que é gratuito, fiel, constante, misericordioso, providente... Sem contar que Ele tudo faz por nós, na pessoa do Pai, doou o que de melhor tinha, Seu Filho, para nós; Este, doou a sua própria vida para nos salvar; e o Espírito, doa-se a Si mesmo e habita em nós, a fim de dar-nos condição divina. Não é um Deus distante, de quem nós somente ouvimos falar, mas é próximo e convive, dialoga, enfrenta a vida conosco.

E assim o tempo vai passando, passando, e o cristianismo vai persistindo com sua duríssima doutrina. Muitos e muitos são seus seguidores, não por capricho e religiosidade (digo os verdadeiros), mas porque descobriram a verdade. Encontraram verdadeiramente a Deus, e por esse encontro, descobriram também a si mesmos. Creem não por conveniência, mas por sinceridade. Não vivem de qualquer jeito, mas vivem para amar, porque no amor, este que não retém nada para si, descobriram o sentido da vida e a fonte de sua felicidade. Não obstante a felicidade e o sentido da vida, descobriram também a solução para todos os problemas da sua vida e da vida dos outros. Enfim, descobriram a cura para o mundo, porque o problema do mundo é a vaidade, e a vaidade é o contrário do amor.

Sobre as tentações

Reproduction_Painting-Spain-Velázquez, Diego Rodriguez de Silva 1599 - 1660-The Temptation of St. Thomas Aquinas

Nascer, depois do pecado original, tornou-se uma cilada. É só abrir os olhos para um mundo que um dilema nasce. Ser ou não ser santo? Eis a questão.

A crise que se encontra em nossa mente já é, pois, uma tentação. É a dúvida entre padecer nesta vida, sendo perseguido por satanás e seus comparsas, ou viver uma vida desligada de tudo o que é espiritual e santo, mas gozar de saboroso sossego. Nascemos na missão de aprender aquilo que deveríamos ser, e isto dói. Já é doloroso viver na busca do amor, de amar, num caminho de luta pela perfeição. Não obstante, o adversário, com todo seu ódio a Deus e inveja de nossa filiação com Ele, quer sempre nos destruir. O problema é que ele é poderoso e sua inteligência é a nível angelical, o que ele era, por isso, nós, com nossas forças, nada podemos contra ele.

Ele é como um animal, não ataca quem não o incomoda. Por isso, algumas vezes, devemos nos questionar quando não somos tentados. E assim ocorre proporcionalmente. Quando muito o incomodamos, muito ele nos persegue e até passa dos limites normais, quando pouco, de nós ri e vai ter com quem mais o preocupa. Age contra nós com estratégia de guerra, porque é isso que ele trava conosco. Usa desde as técnicas mais singelas até os golpes mais baixos. Neste último ele é sempre constante, visto que não tem honra e não busca um combate leal. Por isso, geralmente, reserva a oportunidade do ataque quando estamos fragilizados, porque nossa inteligência se dificulta a perceber suas investidas.

Ataca-nos, em primeiro modo, com sugestões em nossa imaginação. Nem sempre, por isso, o que pensamos é realmente o que existe em nossa mente. É necessário, pra detectar, um tanto de experiência e discernimento (algum leitor pode pensar quem sou eu para estar dizendo isto, e por isso afirmo que não sou ninguém, mas Deus só me dá a graça de perceber, porque estou sempre atento). Muitas vezes é por esse mesmo método que acontece o pesadelo, pois da mesma forma que somos sujeitos quando acordados, também o somos dormindo. Suas estratégias são inúmeras, mas, quando em sonho, muito que ele busca é nos sugerir uma mentira inconsciente, ou fazer-nos ficar com medo dele. Uma boa proteção para isto é um sacramental e é sempre bom rezar antes de dormir. Eu, mesmo sem apodrecer minha mente com filmes de terror, sofria de constantes e terríveis pesadelos (sonhos demoníacos), certo dia Deus me providenciou uma medalha de São Bento. Tudo parou desde então.

Outras vezes meche com nossa afetividade, inocula em nós determinados sentimentos ou desejos. Tais como ódio, medo, angústia, desespero, desejo sexual, e provavelmente outros que não recordo. O que busca, de fato, é fazer-nos pecar! Por isso, é bom sempre estarmos purificados dos desejos da carne e de determinados sentimentos, porque meio que ficamos sem “controle remoto”. É como se estivéssemos assistindo a um canal que começasse a passar uma programação não desejada, e não conseguimos mudar de canal. Desligar a nossa TV, neste caso, é impossível nem admitimos ser, porque cair no suicídio é deitar nas mãos de satanás. O remédio para isto, portanto, é a ascese. Além da oração, obviamente, precisamos entrar numa vida de combate com jejuns e sacrifícios. Saber renunciar ao próprio desejo é grande arma contra as tentações. Desse modo, nunca reclame de uma noite escura, pois é sair do lado de fora de si, para entrar para o lado de dentro.

Por outro lado, ele só tem acesso a essas camadas superficiais da nossa alma. Contra nossa vontade, inteligência e memória, nada pode fazer. Todavia, falamos de alguém muito astuto e ele tem lá as suas técnicas para atravessas seus limites. Enche-nos com inspirações para ver pornografia ou filmes de terror, por exemplo, afim de que tendo sucesso, terá depositado um tanto de poluição na nossa memória. Com a pornografia, às vezes não precisa nem nos tentar, basta uma simples lembrança nossa para cair em sua cilada à distância (já que ele não é onipresente). Não sendo isto, para tentar, sua tarefa fica incrivelmente facilitada. O certo é o seguinte, geralmente ele tenta em nossas fraquezas, porque as conhece. Por isso, para que vençamos as tentações com mais sucesso, precisamos algumas vezes ter estratégias sem ser imediatas e o Espírito certamente nos conduzirá a enxergar aonde precisamos de “conserto”. Para isso, tarefa grande é ter a aqui repetida vida sacramental e de oração.

Vale a pena ressaltar uma solução, que algumas vezes nos podem dar, que têm e não sucesso. É que dizem para nos ocupar quando somos tentados. Funciona porque nos ocupamos e não damos atenção a quem não merece, contudo, não afasta aquele que nos tenta. É como ficar se mexendo para não deixar pousar em nós uma muriçoca. Acredito ser mais inteligente matar a danada! Como é que nós matamos a tentação? Pelo menos acredito na misericórdia de Deus, porque permite que nós sejamos tentados, mas sempre acredita na nossa vitória, porque Ele pode dar. Por isso, remédio bom é a oração, e esta não precisa ser dada em voz alta. Deus, diferente do diabo, escuta os pedidos do nosso interior. Quando estiver sozinho, todavia, aconselho que tome atitudes mais drásticas contra aquele derrotado.

Neste trecho, pode ser que a sua preguiça o impeça de impedir, e pode ser ainda que ela esteja sendo instigada pelo próprio, tenha força o suficiente para perseverar, é isto na vida espiritual que você mais precisa. Digo isto porque as leituras de Deus são, de fato, grandes auxiliares no caminho da santidade, porque nos ensina aquilo que não sabemos, recorda o que não lembramos e reforça o que está fraco e silencioso dentro de nós, contanto que esteja corretamente escrito. Por isso, peço que sempre orem por mim, para que não venha escrever aqui inverdades que possam os distanciar da verdade.

Continuando. Tarefa complicada que ele faz é armar incríveis ciladas sugestionando a outras pessoas, quando a nós não funciona. Em quantas armadilhas não caí e ainda pago por elas? É bom sempre exercitarmos a humildade, a caridade, a honestidade, respeito, etc. Enfim, tudo aquilo que tem real valor, porque é lá que ele vai nos querer destruir. Outro remédio para este tipo de tentação não há senão a intimidade com Deus. Por ela, na vida no Espírito, Deus há de recordar tudo aquilo que precisamos saber, inflamar tudo aquilo que está adormecido e ainda, há de ensinar o que ainda não sabemos. Quem afirma que não se pode saber a vontade de Deus é, certamente, porque não tem nenhuma intimidade com Ele. Ainda há também quem pense que saiba, mas esta não passa da sua própria. É necessário um tanto de humildade em reconhecer que muitas vezes somos bebês na fé. Assim sou eu, por isto, não cesso de pedir ao meu Senhor que ajude-me a o amar, e também de aumentar o meu conhecimento das coisas de Deus.

O que nos importa é, paradoxalmente a tudo que foi falado, fazer com que o inimigo tenha medo de nós. Ele vai querer nos destruir quando alcançarmos a isto. Entretanto, se Deus permitir, é para que nós tenhamos acesso à sua glória. Por isso, nada de medo!

Do amor a Deus

29479-christ-holding-the-cross-greco-elTanto se repete que o Amor não é amado, como se soubesse realmente amar o amor. Só Meu deus basta, isto é o que se deveria repetir também aos quatro ventos, conquanto afirma-se tanto que Deus é Senhor, mas é o Senhor unicamente dos próprios caprichos! São crises do mundo do imediato e das fórmulas prontas. Nesses tempos atuais, muito se repete e pouco se reflete! Agora que santidade, finalmente, virou moda, barateou-se seu custo e qualquer um pensa que a tem. Fala-se sobre ela como se tivesse conhecimento de causa, mesmo que dela só tenha ouvido falar. É chegado o tempo dos muitos santos, mas, para que eles realmente existam, faz-se necessário duvidar!

Será que se proclama que o amor não é amado realmente como protesto? Só pode protestar aquele que cumpre. E para cumprir, o que é necessário? Muitas fórmulas verdadeiras existem e foram reveladas por aqueles que as praticaram, só que não se pensa muito sobre elas. Amar a Deus tornou-se algo tão fácil quanto julgar, isto porque não se pensa como é que se dá. Podemos amar ao Deus que é invisível e onipotente? Ao Deus que de nós não precisa, mas se faz precisar? Pode-se amar em abstrato, mas o amor não existe em abstrato, é concreto e tudo que é concreto! Então, como isto se dá? Eis, pois, a fórmula mais perfeita, e é o próprio Jesus que nos ensina: “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.” (Mat. 25, 40) Atrevendo-se a adicionar à fala de Jesus, pode-se dizer: “Porque a mim não podeis fazer.” Naquele tempo ainda se podia, todavia, hoje Ele governa a Igreja do alto dos Céus com seu cetro de ouro, com toda a sua glória e esplendor. Dito isto, ainda se pode dizer, como o jovem rico, “mas eu o faço”, entretanto, colocar a máscara de Jesus no irmão para ama-lo com mais facilidade retira quase que todo o valor do ato, pois se finge que ama o irmão quando se está só correspondendo à fórmula. Para ser amor, tem de ser verdadeiro.

Deve-se ter cuidado, por outro lado, para não proclamar em alta voz a célebre frase de Santa Teresa d’Ávila com toda a vaidade do coração, dizendo, na verdade: “Só Deus basta para mim, e sei que não para ti!” Para algo bastar na vida de alguém, tem de ser o maior amor que o preenche por inteiro, trata-se, pois, do amor esponsal. Deus sempre teve amor esponsal por seus filhos, assim afirmou ao lhes dizer “és meu” (Is 43, 1), visto que o pai não tem a “propriedade” dos seus filhos, diferente do esposo e a esposa. Entretanto, tem-se toda certeza que, independente de qual for a vocação, não se nasce com tal digno e perfeitíssimo amor, mas se alcança com a ajuda Dele.

Para que a santidade não continue com a sua contínua e deliberada banalização, deve-se tirar a máscara e duvidar. Que não se confunda duvidar com julgar, porque a dúvida que aqui se erige é a da própria santidade, da própria correspondência de amor a Deus. Porque é inadmissível não proclamar-se santo, justamente por falsidade, porque se vê enganosamente muito mais santo que os demais, e tratar com desprezo e desconfiança a graça de Deus na vida do outro. Só reconhece um santo outro que é, e o mundo não está, por ora, abarrotado deles.

Do Discernimento

smiguelNão há como falar em vontade de Deus, voz de Deus, palavra de Deus, o que for que pode ser proveniente Dele ou não, sem se falar nisto, no discernimento. Trata-se de um dom. E o que se tentará por aqui, é, com toda humildade possível, explicar de que modo este funciona, visto que o exercício dele não se dá puramente de modo sobrenatural, é certo que pode ocorrer e ocorre, principalmente quando o possuidor do dom não tem conhecimento do pouco sobre discernimento que aqui será exposto e quando não lhe é suficiente a razão. É o que ocorre, por exemplo, com um objeto amaldiçoado, só se discerne isto de modo sobrenatural. Nossa parte, pelo visto, é a racional.

Em uma primeira acepção, podemos dizer que aquilo que é vontade de Deus dá bons frutos. Jesus já afirmava que uma árvore boa não pode dar maus frutos e uma árvore má não pode dar bons frutos (Lucas 6, 43s). Por isso, digo que aquilo que é vontade de Deus edifica, constrói, leva cada vez mais para a santidade, para o amor; por outro lado, aquilo que é vontade do homem não faz lá tanta diferença; mas, quando vem da carne, a destruição acontece, seja na espiritualidade, na afetividade, onde quer que seja, quando a vontade da carne reina, reina também a destruição. Por isso, em nossas escolhas, quando não discernimos antecipadamente, prestemos muita atenção nas consequências, elas nos mostrarão evidentes sinais de Deus, ou não.

Não obstante, um sintoma da vontade de Deus é que nela consta todos aqueles valores que Deus promove nos evangelhos. Em primeiro lugar a caridade, o amor, está sempre presente naquilo que é vontade de Deus. Se, por um acaso, alguém, em oração, “profetizar” algo que não concorda com os princípios da caridade, diga-se a paciência, a bondade, pobreza, humildade, mansidão, união, liberdade, altruísmo, perdão, justiça, verdade, fé e esperança, saiba que, discordando, pelo menos, de um deles, aquilo não provém de Deus. Não é o que mais se diz em alguns lugares, que Deus não é incoerente? Pois é, Deus nunca irá revelar ou inspirar algo que discorda de si mesmo. Vemos isto quando há algumas palavras de julgamento que dizem ser de Deus, mas, nem Ele mesmo julga; é lento na justiça e veloz na misericórdia. Tomemos cuidado, pois, com os falsos profetas, que algumas vezes podem ser nós mesmos.

Outro erro que costuma ocorrer, quando não se usa a inteligência para as coisas de Deus, é que nós, algumas vezes, queremos que Deus faça aquilo que queremos, comportamo-nos como filhos mimados. Partirei para a primeira pessoa do singular para explicar. Imagine que existe uma garota, já que sou homem, apaixonada por mim, e Deus disse a ela que eu serei dela, que serei seu esposo. Só que eu estou apaixonado por outra pessoa, e já estando em processo de iniciar um relacionamento, será que foi Deus que disse isto mesmo, ou foi a vontade de seu coração que falsificou a voz Dele? Muitas vezes falsificamos a voz de Deus em virtude da nossa vontade e burlamos a vontade dos outros e a de Deus. Se Deus “cria” um relacionamento, obviamente, existe a semente no coração dos dois. Obviamente que o oposto pode ocorrer, uma legítima revelação divina de que o outro é algo que o “pertencerá”, mas aquele não acolhe a fagulha de sentimento que tem em si. Quem irá provar? O tempo! Afinal, a árvore não tem seus frutos? Entretanto, isto (de falsificar a vontade de Deus) ocorre em tudo, e tem raízes profundas que podem ser objeto de outro texto, não cabem aqui.

Mais um critério (e este é importantíssimo), é que além dos frutos de santidade, aquilo que é vontade de Deus possui os frutos do Espírito. Entendamos a diferença: quando falamos dos princípios evangélicos, dissemos que, quando se age conforme a vontade de Deus, atua-se conforme os seus princípios e; não agindo conforme eles, não se está em conformidade com a vontade de Deus. Ocorre que, quando estamos em acordo com a vontade de Deus, gera em nós um tanto ou um bocado de caridade, de alegria, de paz, de paciência, afabilidade, fé, brandura e esperança . Afinal, seria um tanto desgostoso fazer a vontade de Deus se não foste isso, mas, ela nos dá todo o gosto e não existe suavidade maior. Por outro lado, aquilo que não é desta vontade, não gera tais frutos dentro de nós. Além destes, pode-se incluir mais dois frutos: humildade e equilíbrio! Santa Catarina de Sena dizia (e quem somos nós para tirar-lhe a razão) que aquilo que vem de Deus gera humildade. Todavia, não estar na vontade de Deus não pressupõe que possamos deixar de praticar a humildade, mas, quando estamos nela, o orgulho não aparece. Também o equilíbrio, pois Deus dá a graça de lidar com tudo que nos proporcionou. Isto não desnecessita o nosso próprio esforço para atingi-lo, até porque Deus dá os peixes, mas nós devemos lanças as redes.

Um último, não que não exista mais critérios, é que aquilo que é vontade de Deus está em conformidade com os ensinamentos da Santa Igreja Católica, está em acordo com a sua sã doutrina. Até mesmo porque é o próprio Cristo a cabeça da Igreja.

Tomemos cuidado, entretanto, quando estamos em situação de hierarquia, achando que agora sabemos tudo sobre discernimentos. Nós devemos ouvir, sim, a voz de nossas autoridades. Entretanto, pode-se criticar um tanto acerca disso! Se verificarmos algo que destoa da vontade de Deus, devemos procurar agir com humildade, mas não podemos calar. Santa Edith Stein corrigiu sua madre superiora e esta teve a humildade de pedir perdão a Deus pelo seu erro que a santa reparou. Muitas vezes, quando somos autoridades, pensamos que por não ter razão perderemos a autoridade, mas sim, o que perdemos é toda humildade de reconhecer um erro. Quando somos autoridades, devemos agir com todo amor possível. Sejamos autoridades como Deus é nossa!

Enfim, não existe critério mais importante para o discernimento do que o espiritual! Em alguns, Deus age na sensibilidade. Ocorre quando aquilo que não vem de Deus causa incômodo, mesmo físico, ou um certo desgosto (lembrando que isto ocorre para quem tem o dom); em outros, a graça de Deus é tão grande que age nas faculdades superiores, pois Deus revela todo o problema da situação, ou mesmo, quando já atingido o grau da santidade, a pessoa não consegue se comportar de modo desarmônico com a vontade de Deus. O primordial mesmo é a vida de oração e sacramental, o racional é importante, mas vem por acréscimo.

Sobre a Permissão de Deus

Muitas vezes nossa vida é rodeada de desculpas, de máscaras. Quase sempre é muito mais fácil tirar de nós toda a responsabilidade dos nossos atos. Dizemos ser os piores dentre os piores, mas dentro de nós, somos os maiores santos, inocentes de tudo. Dizemos ser Deus o Senhor de nossas vidas, e, por isso mesmo, protegemo-nos diante desta desculpa. Afinal, deixando Deus no controle, o que fazemos de errado? Esquecemo-nos, todavia, que para deixar Deus no controle, é necessário vigiar se todos os nossos atos estão conforme a Sua vontade, visto que Ele nunca fará de nós robôs. Por isso mesmo, afirmo que existe um abismo entre a vontade de a permissão de Deus.
Vontade de Deus, permissão de Deus, o que são? Vontade de Deus é o que fazemos que se coadune com a Dele, obviamente. Por outro lado, permissão de Deus é aquilo que fazemos que não se conforme com a Sua vontade. O problema é este: quando estamos na vontade de Deus, Ele está contente; entretanto, quando não estamos nesta vontade, Ele está insatisfeito, mas, permite. Recordemo-nos que a vontade de Deus é tudo que é mais amor que pode existir, é todo bem absoluto possível que possa acontecer a nossas vidas, para que tenhamos parte com Ele. Agora, quando não estamos de acordo com este desejo, que pode Deus fazer? Vai pegar uma cordinha e levar-nos para o que Ele quer? Sorte de nós se o fizesse! Mas, somos livres e Ele não se permite interferir em nossas decisões, a não ser que nós peçamos ou que alguém peça por nós.
Muita gente não acredita, mas a oração tem incrível poder. Existe aí um segredo. Quando vemos que algo não está conforme a vontade de Deus (digo isto a quem já sabe verificar), o melhor que podemos fazer é orar, rezar, entrar em contato com Aquele que algo pode fazer. Aí, sim, não estará interferindo por própria decisão, mas como um pedido. Existe profissão que mais se assemelhe ao ato de intercessão do que a de advogado? É justamente isto! Deus é o juiz, que está “inerte” até que seja provocado por nossas orações.
Por isso tudo, deixemos de nos iludir! Muitas vezes estamos na permissão de Deus, não porque Ele quer que aconteça essa permissão, mas porque não está sendo feita a Sua vontade! Paremos com esta desculpa de que Deus permitiu para justificar os nossos atos! Deus permitiu, sim, porque não fizemos a sua vontade, repito! Contudo, é claro que Deus é todo poderoso, e de todo mal e de todo não tão bem pode retirar um bem maior que este mal e do que este não tão bem.


Sobre a Inteligência do Homem

153-004-D4E6240D (1)Estavam todos lá! Adão, Eva, Caim, Abel, Set e outros que vieram depois deles. Estavam em volta da obra que tinham terminado. Enfim, haviam terminado aquela grande obra.

Estava a árvore do conhecimento do bem e do mal, cercada de arame farpado, eletricidade, sem contar o alarme. Em volta, placas com milhares de caveiras estampadas e diversos avisos, e neles continha a frase: “NÃO ENTRE, NEM MUITO MENOS COMA DO FRUTO DESTA ÁRVORE, ELA IRÁ TE MATAR!”

Maravilhados com todas as ideias provenientes da última convenção que haviam feito, fizeram uma grande festa para celebrar. Do lado de fora, todas as águias amigas estavam de guarda para protegê-los das serpentes que viessem, porventura, atrapalhar a comemoração.

Deus estava lá!

Vou fazer uma coisa diferente dessa vez, adicionar a explicação:

A nossa cabeça não serve só para ficar sobre o nosso pescoço, mas para ser usada. O que gerou este texto foi primeiro uma tentação, depois uma lamentação.

Primeiro fui tentado e entristeci-me, porque o pecado é algo que me faz mal. Logo, pensei que ele poderia não existir, lamentando-me de sua existência. Pensei em toda a situação da possível inexistência do pecado. Veio-me, imediatamente, a imagem descrita no segundo parágrafo.

Já havia pensado, antes, na ideia de Adão e Eva não terem pecado. Mas essa imagem veio a responder meus questionamentos. O homem, com sua inteligência, pode se proteger do pecado, pecado que “mata” a alma e fere o coração de Deus. Se Ele não quiser cometê-lo, mune-se de escudos, de avisos. Enfim, querendo o homem, ele faz.

O homem inteligente protege-se não somente das realidades que possibilitam o pecado, afinal, quem está na chuva se molha, e quem está no fogo se queima; mas protege-se também do tentador. Nós, sem armas, somos indefesos contra as serpentes; mas há as águias, que, estando no ar, atacam-nas com facilidade.

Agora, faço uma recordação. Inteligência também é dom. Porque não pedir mais este a Deus?

Do Veneno Cristão

Delacroix

Não é nada estranho o nosso costume de adaptar os costumes do mundo ao “mundo” de Deus. O mundo ensina a sermos ambiciosos, individualistas, egoístas, orgulhosos, hedonistas... O mundo de Divino, porém, é incompatível com tudo isto. “Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele.” (I São João 4,16) Repetindo, Deus é amor! Quem entra no universo de Deus, entra no universo do amor. O amor deve ser o princípio maior de todos os seus atos, tudo deve girar em torno dele.

Ambição, em primeiro lugar, é uma palavra indisponível no dicionário cristão. Infelizmente, muitos de nós temos ambição a altos cargos religiosos, a sermos importantes, ainda mais, existe a maldita ambição à santidade. Pessoas que querem ser santas a todo custo, mas não percebem que desde o início já está tudo corrompido. O caminho da santidade é um caminho de pequenez. Se quisermos ser santos, devemos ter em mente que não poderemos fazê-lo sozinhos, somos passarinhos nas mãos de Deus. Ele que é perfeito e quer nos moldar. Com isto quero dizer que o caminho para a santidade não é um caminho ativo, mas passivo! Pode-se ser ativo, de certo modo, quando Deus nos chama a esta atividade. No final das contas, torna-se passivo. Devemos ser santos por amor, por amor a Deus.

No reino do amor o individualismo não existe! Na verdade, o amor nos leva ao outro. Tudo aquilo que nos prende a nós mesmos é tudo, menos amor! Amor-próprio, pode se dizer, é algo que nos prende a nós mesmos! O amor-próprio não nos prende a nós mesmos, pelo contrário, rege nossas relações, e por ele, podemos evitar o desamor. Pelo amor próprio queremos ser santos, e a santidade exige amor pelo outro, por ele, acabando saindo de nós mesmos. Se quiser dizer que amar a si mesmo, do jeito que o mundo ensina, é sinônimo de dar a outra face, de perdoar setenta vezes sete, diga-se, sempre, que é ser condenado inocentemente, que é morrer pelo outro, não sei em que mundo eu vivo. O amor que marca o cristianismo é o “ágape”, que é o amor desinteressado, totalmente altruísta, que se alia ao “eros”, que se transmuta em amor erótico para o amor que quer, o amor que se quer receber, e se vive um amor equilibrado (Bento XVI, Encíclica Deus Caritas Est). Até porque quando queremos receber o amor do outro, provocamos a sensação de ser querido, ao outro. No final das contas, no reino do amor não se vive por si mesmo.

Egoísmo é absolutamente incompatível com o cristianismo. Quem pensa só em si é o demônio! Esse egoísmo é o causador dos maiores males do mundo, gera segregação, guerras, pobreza, destrói corações! Eis que Deus deu sua própria vida a nós na cruz, renunciou a si mesmo. Ele que é Deus! Nós, que somos pequenos pedaços de fezes, que nada temos de bom, vivemos a proteger esse estercozinho que somos pensando em nós! O que nós queremos, o que nós queremos, o que nós queremos... Exploda o que nós queremos, vamos acabar no inferno assim! Porque se o altruísmo é a maior característica do amor, não poderemos entrar no Reino de Deus assim, não! Obviamente, Deus é misericordioso, mas o que importa é se nos acharemos dignos da misericórdia Dele. Afinal, só vamos para o inferno se quisermos. Entretanto, podemos deixar de viver o inferno aqui na terra e também de causar o inferno na vida das outras pessoas. Quando sairmos de nós mesmos, vamos descobrir a verdadeira felicidade!

O orgulho, a raiz de todo pecado, nem se fala. É o gerador do egoísmo e do individualismo e é mais abrangente ainda, porquanto comporta outra desgraça, e que desgraça! Falamos da soberba. Ah, maldita soberba! Por ela Deus não nos dá nada! Vejo todos os soberbos como os alegradores de Satanás, o ex-Lúcifer, porque este foi o seu erro. Não quero eu ser amigo do inimigo! Estou aqui para, junto a Deus, esmagar a sua cara no chão do inferno! Por outro lado, o cristão é aquele que se rebaixa, que se humilha, também por amor. Interessante é que muitas vezes a humildade pode se tornar egoísta, quando tentamos ser humildes pensando em nós mesmos, porque isto é santidade. Entretanto, não é por aí! A humildade é dar tudo para o outro, não reter nenhum mérito para si. E isto é amor! Dessarte, devemos ser humildes, não pensando em nossa santidade, mas pensando em amar! Até porque não temos lá tantos motivos para nos orgulhar, quanto menos de nos achar melhores do que os outros. Somos pequenos vasos de bosta e não há motivo nenhum para se alegrar disto.

Pode ser que, ao ler isto aqui, a nossa ambição nos recorde de que não falamos nada do hedonismo; o nosso orgulho nos cegue a enxergar as nossas mazelas que aqui foram ditas; a nossa soberba nos deixe feridos com as fortes palavras do texto; o nosso egoísmo não nos permita nos questionar acerca de nós mesmos; e, enfim, o nosso individualismo relativize tudo e tente nos convencer de que isto é só problema nosso.

Dos Dons

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Os dons espirituais são antecipações da Glória de Deus que será plenamente vivida no Céu. Não sou eu que o afirmo, mas São João da Cruz. Essa antecipação pode ser concedida por mérito, ou por demérito. Por mérito, falo dos santos místicos, sobre os quais Deus não dispensou suas graças, pois confiou neles. Por demérito, falo dos incrédulos da vida, que para crerem em Deus precisam tocar em suas chagas. Assim, Deus, por misericórdia, manifesta a sua Glória por meio de diversos dons.

Podemos dizer, quem sabe, que os dons são concessões Divinas. Aquilo que Deus possui, empresta aos seus filhos, para que seja atingida uma finalidade. Afinal, os dons não servem por si só. De que adiantaria tão somente a manifestação de Deus? Deus age, sim, de modo sobrenatural, mas acha ridículo fazer papel de mágico para encantar as pessoas, permitiu que existisse o trabalho do ilusionista para tal fim. Muitas vezes, quando Deus realiza milagres e prodígios, não é só para dizer: “Ei, Eu estou aqui!” Mas, sempre “mata infinitos coelhos com uma cajadada só”. Vai desde o encantamento até a conversão de vida. Os dons são manifestações do seu amor!

Pensemos em algo. Se o Pai é o amante, o Filho é o amado, e o Espírito é o amor, as maravilhas de Deus que se manifestam por meio de nós dessa maneira tão sobrenatural, não são nada senão provas de amor de Deus, não é? Deus que nos ama tanto, que quando estamos com calor e não tem vento, Ele mesmo vem soprar; quando não temos o que comer, Ele mesmo vem nos alimentar. Devemos lembrar que quando Deus dá uma palavra de Ciência, de Sabedoria, de Profecia, o que seja, é o seu amor se manifestando! Desse modo, faz-se absolutamente necessário que se descentralize a realização dos dons de nós, que somos tão somente o canal. Quando rezamos por alguém e Deus fala algo, a prova de amor não foi nossa, mas de Deus. O nosso amor foi tão somente a disponibilidade, e olhe lá, porque muitas vezes oramos de má vontade e Deus mesmo assim realiza suas obras!

Afinal, Pedro andou um pouco sobre as águas, mas aquilo foi obra dele? Na verdade, para fazê-lo pediu a Jesus (São Mateus 14, 28). É Deus quem realiza todas essas maravilhosas obras, seja milagre, profecia, ciência, sabedoria, o que for! Somos canais ou objetos do amor de Deus, sempre. Por nós mesmos, nada podemos fazer. Por isto que Deus, algumas vezes, bloqueia o canal que age por nós. Na sua infinita sabedoria, deseja fazer-nos aprender que não somos nada, e Ele é tudo! Não é não?

Da Noite dos Sentidos

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O assunto aqui abordado é descrito por São João da Cruz, que é Doutor Místico da Igreja. Entretanto, abordarei a meu modo. Meu querido santo, peço a sua licença.

Como já se falou anteriormente, trata-se a noite escura de um sofrimento que é imposto pelo próprio Deus, não como castigo, mas como graça. Ele quer que se saia das imperfeições e se adentre mar abaixo, mergulhando sempre em águas mais profundas. Ele ama demais seus filhos para permitir que fiquem na imensidão da superficialidade, numa vida espiritual medíocre e infantil, por outro lado, quer, por esse amor, que sejam cada vez mais semelhantes a Si. Assim, age como se injetasse fortíssimo anestésico, ou ainda como se tapasse os olhos, ouvidos e boca.

Já foi dito que sofrimento eleva, que é escola. Agora afirma-se que este sofrimento é a melhor escola, este sofrimento é o que mais eleva. Só quem ama a Deus pode fazer entrada nisto que aqui se descreve, e é mais um ato de Deus em propor a noite escura, isto é, saber se realmente se Lhe ama. Ainda mais, quer que este amor seja verdadeiro, por isto retira como que Sua presença, faz-se como que ausente (digo “como que” porque Ele nunca está ausente), para que não seja tudo tão fácil. Deus não é aquele pai que mima os filhos deixando tudo fácil para eles, não! Ele não quer que eles sejam monstros ruins e miseráveis, mas que sejam santos. Como diz Santa Teresa d’Ávila, “a quem Deus ama mais, mais sofre” (Caminho de Perfeição), justamente pelo fato de que pelo sofrimento pode-se assemelhar mais a Ele, que dignifica e redime do pecado original. De fato, quem chega ao último estágio da santidade, não pertence mais ao mundo do pecado original, tornou-se um com Deus.

São João da Cruz fala em noite dos sentidos e noite do espírito, entretanto, só se abordará, por ora, a noite dos sentidos, porquanto se trata a noite do espírito de estágio muito mais elevado.

Nesta noite, a dos sentidos, Deus dá ao seu amado um belo anestésico, a fim de adormecer os sentidos dele. Quando se fala em sentidos, em primeiro lugar, se fala de tudo o que é sensível não só ao toque, mas também ao gosto, tudo que é sensibilidade. Aprofundando mais, pode-se dizer que ao adormecer os sentidos, Deus o faz com a nossa parte inferior da alma, onde se encontra as faculdades afetividade e imaginação. Deus adormece, pois, os nossos afetos (não vou ater-me em explicar tudo isto, se quiser saber, pesquise). Deixa-se, assim, de sentir gosto pelas coisas de Deus, fica tudo difícil, sem sal nem açúcar, muito menos pimenta. Algum filho amado de Deus pode questionar por quê Deus faz isto, se Ele nos ama, que Deus ruim! A isto se responde, tentando não xingar: Querido, Deus quer saber se se está com Ele e para Ele porque se gosta Dele ou porque é tudo legalzinho, bonitinho, gostosinho, encantadorzinho e bonzinho. Ainda mais, Deus quer que se deixe de ser criancinha. Ele acha que já está na hora de tirar a chupetinha da boca, parar de dar comida na mamadeira, tirar da cadeirinha, enfim, quer educar-nos para crescer na fé.

Por isto, obviamente, tem uma maneira de se vencer esta noite, ou, pelo menos, de convencer a Deus de que já se merece sair dela. Para sair da noite escura dos sentidos, faz-se necessário que se tenha garra, coragem, disposição e amor. Quem for frouxo vai ficar para trás! Para se sair desta noite, tem de se aprender a rezar mesmo sem nada sentir, e com muito mais gosto por não estar sentindo; tem de se aprender a servir a Deus mesmo que não seja agradável, mas com muito mais gosto por não ser agradável. Ainda mais, como afirma São João da Cruz, não querer ter gosto em coisa alguma, não querer possuir coisa alguma, não querer ser coisa alguma, não querer saber coisa alguma, ir por onde não se gosta, ir por onde não se sabe, ir por onde não se possui, ir por onde não se é. Mas, fazer tudo por amor a Deus.

Portanto, a quem chegou neste estágio, saiba que está na hora de deixar de comer papa e começar a comer as “verduras” e “legumes” de Deus. Sabe-se que verduras e legumes não são lá muito saborosos, mas que são extremamente saudáveis. Também o que Deus quer é muito mais saudável. Deus há de dar àqueles quem forem bons filhos e tornarem-se mais dignos de sua confiança aquilo que só se pode dar a quem é mais digno de confiança.

Este texto não exclui, nunca, jamais, a leitura do livro “A Subida ao Monte Carmelo”, de São João da Cruz, ou de algum livro que o explique melhor, tal como “A Ciência da Cruz”, de Santa Edith Stein.

É hora, pois, de crescer.

Do Natal

049Não foi a rejeição que fez o Menino Jesus nascer em uma manjedoura, era Ele mesmo que não queria luxo. Afinal, não significa esta linda data também o modo como Deus quer entrar na nossa vida? Para viver um verdadeiro e santo Natal, precisamos estar vazios de qualquer coisa que não Deus, afinal, Jesus não nasceu em outro lugar porque estava cheio (Lc 2, 7). Por que, então, não pensar desse modo? Deus pode habitar em um coração que o divide com outras coisas? Não! Nem o quer, do mesmo modo que pôde nascer em outro lugar, mas também não o quis!
 
Também Ele poderia ter nascido com tudo que um Rei da majestade Dele merece, mas não o quis. Afinal, desde o seu nascimento Ele queria dar o exemplo. Pois, assim como as questões materiais pouco tem verdadeiro significado nas nossas vidas, sendo puramente questões acessórias, utilitárias, Deus não quer, nem pode visitar um coração soberbo. Por outro lado, num coração pobre e despojado está a perfeita moradia para o nosso Deus. Interessante também são os animais que acompanhavam o seu nascimento. De acordo com o trecho em Isaías (Is 1, 3), era um boi e um jumentinho. Afinal, que significam estes animais? Não seria o boi aquele que se dá como sacrifício e serve de alimento para os outros e o jumento aquele que serve? Podemos dizer, assim, que sendo este o modo de Jesus agir, que amar não é nada senão sacrifício e serviço. Jesus queria a companhia destes ali consigo. Jesus quer que nós sejamos assim, para sermos seus companheiros.
 
Agora, de onde vem esse nosso costume de presentear? Dos reis magos? Os reis magos levaram os presentes para quem, para a Virgem Maria e para o seu esposo, José, ou foi para o Rei que ali nascia? Por que nós, também, não damos os nossos presentes para Deus, que o merece, em vez de dar para tantas pessoas? O Natal não é de riqueza, mas de pobreza material. Não é isso que entendemos da manjedoura? Portanto, o Natal é repleto de significado que não poderá jamais entender aquele que vive a festa que o mundo inventou.
 
Não entendo porque tanta parafernália para um dia de Natal. Não entendo porque tantas luzes, tantos postes, e também não entendo porque ninguém se lembra da Estrela da noite.
Um feliz, rico e santo Natal.

Da Eterna Vida

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Sejamos coerentes, se alguém acredita tão somente nesta vida, há de valorizá-la. A todos os ateus, eu aconselho que procure beber dela tudo que ela poder dar, visto que o sentido da vida deles é viver. Entretanto, aos cristãos, admoesto que se preocupem com sua morte, ela que, a qualquer momento e sem avisar, pode vir nos visitar. Àqueles que adotam a versão mundana do “carpe diem” e dizem: “hoje eu aproveito, amanhã me converto”, pergunto se eles têm certeza que o amanhã haverá. Interessante, pensam logo em pessimismo quando afirmo isto, entretanto, é na relatividade das coisas que os conceitos se revertem. Para aqueles que vivem uma vida sem sentido, a morte é um mal irremediável e pensar nela é pessimismo. Entretanto, para aqueles que vivem uma vida com sentido, a morte é um bem que há por vir, pensa-se nela com esperança, porque todo mal que aqui existe será resolvido. São os bem aventurados que também são chamados de felizes, porque desfrutarão desta felicidade plena por toda a eternidade.

Não vivamos, pois, como ateus. Por que rejeitar todo sofrimento do mundo, se tudo passará? Viveremos num eterno gozo, numa vida infinita, plena, ilimitada. Alguns temem esta vida, pensando que ela pode ser enjoativa, sem graça, porque veem os cristãos assim, sem graça. Deus não tem culpa, ele não quis que seus filhos fossem robôs, mas sal para terra e luz para o mundo. Contudo, se desta vida infeliz não queremos nos desapegar, quanto mais da que há de vir? Estamos aqui, mas daqui não somos.

Àquele que reclama da falta de posses, pergunta-se: De que adianta tê-las? Tudo passará. A sabedoria é certa, nada levamos conosco. Quanto mais se têm, mais escravo se é. Jesus não mente ao dizer que é mais fácil passar um camelo no buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. É fácil encontrar um rico pobre de coração, daquele que de tudo que tem pode se despojar, ou não? São apegados ao mínimo centavo que têm! “Ainda existe uma livre vida para as almas grandes. Na verdade, quem pouco possui tanto menos é possuído. Bendita seja a modesta pobreza.” (Nietzsche, Assim Falava Zaratustra) E é verdade, quanto mais se é pobre, ainda mais de coração, mais se é livre. Consumismo não é exercício da liberdade, mas sintoma de escravidão. Pouco importa o que temos neste mundo, enquanto preocupamo-nos em ter algo aqui nesta miséria, tantos sofrem pelo pouco que podemos dá-los para ter um mínimo de subsistência. No Céu, tudo aquilo de perfeito e maravilhoso estará à nossa disposição. 

Por outro lado, há aqueles que querem tudo ser, os donos do próprio nariz, os senhores do mundo e de si mesmo. Quanta burrice há em ser assim! Será que não se tocam que não veem um palmo na frente do próprio nariz! Qual é o problema de ser pequeno? Qual é o problema de servir? Qual é o problema de se rebaixar? Por que queremos tanto e sempre estar acima? Por que tanto orgulho e inveja? Por que tanta perseguição? Por que tanta avidez em querer ser melhor? Por que tanta sede em elevar a própria autoestima? Por que tanta vontade de ser famoso, de ser observado? Que sentido isto tem? Sentido há em ser o menos, em servir, em não viver para si mesmo e sim para o melhor dos demais. Isto é amor! O melhor poder que podemos ter não vem por mérito nosso nenhum, nem, na verdade, é nosso. Este é o poder de Deus, por ele nós podemos amar curando, operando milagres, aconselhando, evangelizando, seja o que for. Poder que faz sentido é o que serve para mais servir. Além do mais, na outra vida não teremos mais a nada o que obedecer, seremos plenamente livres, porquanto tudo o que fizermos consistirá no mais perfeito e santo e outra coisa não nos atrairá senão isto!

Ainda há, e como há, os que têm sede de prazer. Estes se justificam por sua natureza animal. Comparam-se com alguns para justificar sua sede de sexo, a outros para justificar o homossexualismo. Que natureza temos senão a parentela com Deus, de quem somos imagem e semelhança, criados a Seu modo, santos, e maculados pela nossa desobediência. Não digo isto somente para o prazer de origem sexual, mas de todo tipo de prazer, todavia, sabemos que vivemos em um mundo sexualizado. Entretanto, muito dificilmente perdemos tempo em aquilo em que não nos dá gosto, seja no comer, seja no viver. Há muitos que não têm nenhuma chance de ter o prazer que temos em diversas formas. Como se pode ousar em dizer que se é feliz com tanta infelicidade no mundo? Como se pode viver tão despreocupado, abusando de tudo que for possível, enquanto tantos não têm o que comer nem o que beber? Não é mentira dizer que o nosso egoísmo hedonista dá origem a muitos dos criminosos. Por que não viver uma vida sóbria e casta, sabendo que teremos uma eternidade na vivência de um prazer puro nunca provado antes?

Enfim, por que crucificamos a nossa alma em detrimento de um prazer passageiro? Devemos lembrar que todo sofrimento neste mundo é pouco ou nada, comparada à consolação que teremos na vida eterna. No céu não precisaremos mais ser castos, já seremos perfeitos. Na eternidade não precisaremos ser obedientes, porquanto seremos totalmente livres. Na vida eterna não temos nada a preocupar com a pobreza, pois tudo possuiremos. Isso tudo, obviamente, nada se compara com qualquer ter, poder ou prazer que aqui neste mundo de feras podemos ter. Vivamos incessantemente consolados pelas promessas de Deus.

Do sofrimento

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Não é verdade! Não é verdade que o sofrimento é ruim! Já disse e o faço novamente, que o sofrimento é escola, o sofrimento eleva, o sofrimento dignifica! Porque tanto fugimos dele? Procurar sofrimento, sim, é masoquismo, mas, quando ele bate à nossa porta, por que não deixar entrar? Só assim, quem sabe, ele possa sair satisfeito. Por outro lado, enquanto não abrimos, ele insiste em bater e nós fingimos que nada nos incomoda! Pior ainda é que o sofrimento, ao insistir em bater, não sai da nossa porta, o resultado disto é que ninguém mais pode entrar nem nós podemos sair. Vivemos isolados num mundo em que só nós existimos. E o sofrimento, coitado, ficou triste por não ter a quem ensinar.

Da vontade de Deus, do homem e da carne

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Vontade de Deus... Vontade de Deus... Vontade de Deus... Eis o que se repete e se repete, principalmente dentro de mim. O que é vontade de Deus? Qual é a Sua vontade? Qual é a minha? Ainda mais, será que existe alguma vontade que não vem nem de mim, nem de Deus? É quase um desespero que dá para poder responder essas questões, até mesmo porque insondáveis são os desígnios de Deus. A solução, irmãos, é pensarmos juntos. Partilharmos aqui as nossas angústias acerca da luta pela vontade de Deus!

Vontade de Deus é tudo aquilo que já foi dito. Entretanto, podemos, sim, nos aprofundar mais! Bem, muito se diz que existe a escolha entre o da carne, o lícito e o santo. Podemos facilitar o entendimento se dizermos em vez destes termos, contra a vontade de Deus, na Sua permissão, e na Sua conformidade.

Quando algo é da carne, ou seja, contra a vontade de Deus, pressupõe-se que aquilo seja pecado e que gerará más consequências, é a vitória de Satanás, porque se optou pelo pior, diga-se o inferno. Esta vontade vem do mal, aconselhado por ele, e nos leva ao inferno. Quando escolhemos pela vontade da carne escolhemos pelo inferno, isto é o que acontece quando, por exemplo, ao ser pedido por esmolas, se responde “vai trabalhar, vagabundo!” Ao fazermos isto, além de estarmos pecando ao julgar, por não sabermos se aquela pessoa está em real necessidade, além da ofensa causada, aquela pessoa, com certeza, entristecer-se-á com aquela ofensa e aquele julgamento. Vale ressaltar, e há intrínseca conexão com o afirmado, de que a grande maioria dos sofrimentos do mundo são causados pelo pecado, pouquíssimos são pura providência Divina, tal como pode acontecer nas noites escuras e quando se recebe as graças extraordinárias dos estigmas. Uma escolha egoísta, orgulhosa, luxuriosa, invejosa, irada, avarenta, preguiçosa e gulosa (diga-se consumista), geralmente, quando não sempre, vem da carne.

Algo pode acontecer na permissão de Deus quando não vem do inferno, nem leva ao inferno, nem tanto vem do Céu ou leva-nos a santidade. É algo puramente humano, lícito, não vem de nenhum lugar a não ser de nós mesmos. É pecado porque não é vontade de Deus, mas é pecado leve. Pode-se exemplificar com a legítima defesa, quando matamos alguém para não morrermos. Não é homicídio, é legítima defesa! No Direito, diz-se que há um excludente de antijuridicidade, porquanto a lei assim diz. Contudo, não é o santo! É algo lícito, permitido, até mesmo pela lei. Também não é pecado mortal. Entretanto, o santo seria deixar-se vulnerável assim como nosso amado Jesus, que foi como um cordeiro indefeso ao abate. Assim como foi afirmado que não vem do Céu nem do inferno, vem do homem, puramente Dele, e leva, obviamente, ao purgatório, até porque não se pode entrar no Céu vivendo de maneira não santa, também não é justo o inferno por não se consistir em “maldade”. Por isto, é interessante pensarmos que quando vivemos nesse lícito, nosso lugar ainda não é o Céu, pelo menos a Ele não pertencemos diretamente.

Agora o Santo, o que é a favor e conforme a vontade de Deus! Trata-se da decisão quase sempre mais louca, mais difícil, que mais exige de nós fé, esperança, amor, além de muito despojamento de si. Vem direto do Céu, aconselhado diretamente por Deus ou por seus anjos, muito O alegra e nos leva diretamente para Ele! Entretanto, é necessário dizer que geralmente escolher pelo santo é inclinar-se ao mais difícil, mais insípido, ao que dá menos gosto, mais trabalhoso, ao desconsolo, ao menos, ao mais baixo e desprezível, a não querer nada e escolher pelo que há de pior neste mundo, e desejar entrar em toda nudez vazio e pobreza, por amor a Deus, assim afirma São João da Cruz. Mas, isto não pode ser interpretado como ficar sempre com o pior, mas que muitas vezes teremos que passar por isto. Humilhar-nos, trabalhar com mais força, porque a vontade de Deus muitas vezes não será a nossa, e não porque é ruim e sofrida esta vontade, mas que as nossa condição de pecador dificulta muito. Ainda mais porque o demônio vai fazer de tudo para tirar-nos desta vontade. Mas, a recompensa é eterna.

É importante dizer que, se for vontade de Deus que alguém seja rico, isto é santidade para esta pessoa e esta pessoa deverá provavelmente mostrar como é possível ser santo sendo rico. Não é o vazio e pobreza exterior que trata a santidade, mas a pobreza e vazio interior! É insípido porque o pecado é que tem gosto, muitas vezes, mas o gosto da santidade é muito melhor, é gosto de felicidade, a satisfação eterna do espírito. O pecado é tão somente uma satisfação passageira da carne. Entendamos que santidade é vontade de Deus, é amor a Deus e a Sua santa vontade. É simples de saber, mas difícil de executar. Se for a vontade de Deus que sejamos garis, porque não o ser? Se for da vontade Dele, assim seremos felizes e assim teremos nossa recompensa, não porque Deus nos compra, mas porque Ele, diferente de nós, não é ingrato! Santidade é algo totalmente distante de presunção! Muitas vezes, quando se escolhe o “mais santo”, não o é, mas é por presunção de santidade. É querer limitar a criatividade e a inteligência de Deus acreditar que ser santo só é ser igual a São Francisco, ou a São Pio de Pietrelcina, ou a Santa Teresinha, ou Santa Teresona, mas ao que Deus quer que você seja santo. Mas o exemplo deles, sim, é importantíssimo. Toda santidade é original, e quando não for não é santidade!

Portanto, irmãos meus, que nós queiramos, pelo amor de Deus e por amor a Ele, ser santos na vontade de Deus para nós. Se por um acaso alguém achar difícil ou impossível de o saber, faça o teste de perguntar com sinceridade de coração, para ver se Ele não responde da maneira que for! E lembremo-nos, sempre, que o primeiro degrau para a santidade é o despojamento de si mesmo.

Shalom!

Da vontade de Deus (Introdução)

Sagrado Coração de Jesus

“Eis que estavas dentro de mim, e eu lá fora, a te procurar!” (Confissões, Cap. XXVII) Eis o que diz Santo Agostinho em seu solilóquio de amor. De fato, de logo se anuncie, que o que será aqui exposto é um tanto que incompreensível. Isto posto, que o leitor desanime todos os anseios e expectativas possíveis de que o assunto seja exaurido tanto em sua profundidade quanto em sua extensão. O que será aqui exposto é resultado de oração, vivência e estudo, muito mais vivência do que estudo e oração. A teimosia nos faz refletir bastante sobre o tema.

A questão sobre a vontade de Deus tem várias acepções, sendo a primeira geral, qual seja, a santidade. Deus quer que todos os seus filhos sejam santos. Tarefa difícil é esta, em virtude de estarmos neste mundo que jaz sob o poder do maligno (I Jo 5, 19). Todavia, existe toda uma tendência dentro de nós para a santidade, visto que é de nossa natureza, é como que entrar novamente dentro da forma na qual fomos feitos. Interessante é pensarmos nisto. Todo ato de amor gratuito, tudo aquilo que é realmente bom e santo, que nós praticamos, faz-nos imenso bem, dá-nos incomensurável consolação ao espírito, isto porque nosso verdadeiro “eu” é correspondido, é saciado! Nós nascemos para a santidade! Deus quer, pois, esta santidade que habita dentro de nós!

Se alguém se questiona sobre o que é ser santo. É simples a resposta. Existe uma vontade de Deus externa a todo homem, que serve para todos e para todos foi criada, inspirada e elaborada. É a palavra, afinal, o Verbo que é o próprio Cristo que se faz verdade e santidade na Bíblia. Lá temos as disposições, os direcionamentos, o que devemos e não devemos fazer. A lei antiga e os mandamentos, a lei nova e os conselhos. Os mandamentos, portanto, não são nada mais do que a retidão da natureza humana, conforme criada. E os conselhos, porque não afirmar, que são o transbordar da natureza humana, isto é, a assemelhação do homem com Deus, para que este, assim como diz São João da Cruz, seja deus por participação. Há só algo que se deve, e como se deve falar, é que, do mesmo modo que a Escritura Sagrada foi inspirada por Deus, a sua interpretação, da mesma forma, deve ser inspirada e iluminada pelo mesmo Espírito Santo da sua elaboração. Portanto, os diversos posicionamentos que podem existir, em vez de se anularem, devem se completar, assim como o Deus é um Deus de união e coerência.

Existe também uma vontade de Deus específica, aquela que é para cada homem. Aquilo para o que se nasce, aquilo para que se deve fazer, enfim, a determinada vontade que nos santifica. Desta vontade de Deus, arrisca-se dizer que mora dentro de nós, e que é a nossa verdadeira vontade, do fundo do nosso coração, do fundo da nossa alma. É, principalmente no que toca às vocações que isto mais se vê. Vivências erradas de vocações frustram e deixam más consequências. Isto é o que se vê em famílias com pais sem vocação para tal, na criação de seus filhos, ou mesmo na quase impossível vivência em dois, que constitui numa série causa de infelicidade. Isto se depara também, talvez com maior gravidade, em sacerdotes que não tem vocação para o serem. Muito da origem disto se dá nos tempos antigos, quando tinha de ser religioso para ter acesso à ciência, deste modo, vários e vários padres o foram com nenhum interesse no verdadeiro sentido de o ser. Por outro lado, quando se sente um chamado específico para uma vocação, não se deve nunca ver algo de externo, mas de interníssimo, de modo que o que é vontade de Deus para cada um é o que Ele sabe que os deixará felizes e realizados. Não há, pois, o que se temer, porque, se é mesmo Deus que chama a algo, Ele nunca decepcionará! O oposto sim, é que pode ocorre, e é o que ocorre usualmente. Frustrar a Deus, é, por fim das contas, frustrar a si mesmo.

Outra acepção de vontade de Deus, que se pode refletir, é sobre a efemeridade da vida, dos tempos. Tal fato é bem exemplificado naquela bela passagem, Eclesiastes 3. Isto se dá porque, Deus, pensando na nossa felicidade eterna, mais aproximadamente, na nossa santidade aqui na terra, prepara diversas realidades para a nossa vida, tudo para o nosso crescimento. É real o que afirma São Paulo: “Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios.” (Rom 8, 28) Nessas horas muito se questiona a Deus, principalmente quando o tempo em que está se passando é de dor ou de dificuldade. Ah, se todos possuíssemos a devida visão espiritual, veríamos, assim como Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz ou Santa Catarina de Sena, que o sofrimento é providência e graça de Deus. Deus usa até dos demônios, a ponto de nenhuma ação diabólica fugir da permissão de Deus, quanto mais das realidades do nosso dia-a-dia! Nesse ponto, Ele se faz como um professor, dando-nos verdadeiros exercícios e avaliações. Como afirma Catarina, é no sofrimento que são provadas as nossas virtudes.

Por fim, a vontade de Deus funciona, quase que diariamente, como estratégia de guerra. O demônio anda ao nosso redor como o leão que ruge, procurando alguém para devorar (I Pd 5, 8),e é contra ele, muitas vezes que temos de lutar. Nossa inteligência, incrivelmente limitada (quase zero), algumas vezes, não pode disputar com a de seres espirituais de natureza angélica. Por isso, na alma onde não há pecado mortal, Deus constantemente está a avisar, a conduzir. Essa é a vontade de Deus com a qual nos deparamos mais corriqueiramente e, obviamente, a de menor importância. Mas, de muita utilidade é a escuta. O caminho certo, a hora certa, o jeito certo. Pode ser que estejamos distante desta realidade tão sobrenatural de combater junto a Deus, atendendo os seus direcionamentos, todavia, é certo que chegaremos lá se formos fiéis!

Não há dúvida, portanto, que a vontade de Deus é a nossa felicidade, não só porque mora dentro de nós, mas porque é o caminho seguro a seguir. Nossa liberdade é limitada, sim, quando estamos no mundo. A união com Deus liberta, ao contrário do que se possa parecer, mas isto ocorre porque Deus mostra à alma sempre o melhor caminho.

Dos Ladrões da Glória de Deus

VERONESE AND STUDIO-XX-Jesus falls under the weight of the cross

Na vida espiritual há diversas minúcias das quais muitas vezes esquecemos, e é importante sempre lembrarmos, na tentativa de não alegrarmos o demônio, nem muito menos irritarmos a Deus. Convém, é certo, que não somente oremos, por vista que para o próprio Jesus, isto não basta, mas que vigiemos, para que não caiamos em situações de pecado (São Mateus 26,41). Interessante é notar o que afirma Santa Edith Stein, a título de introdução: “nos principiantes, transferem-se para ordem espiritual os sete pecados capitais…” (A Ciência da Cruz, p. 60) Não afirmo, de modo algum, que não cometo tal ou tais pecados, pelo contrário, mas, não requer que eu seja santo para que fale sobre pecados. Até porque que um passo para santidade é preocupar-se em sê-lo, todavia, quem diz que busca a santidade e não está nem aí para o espelho, achando que não tem nenhum cravo nem espinha, quando o rosto está repleto, é um mentiroso.

Imagine a seguinte situação. Uma Certa Pessoa sentia necessidade de amar e, para isto, criou diversas realidades, materiais e espirituais. Nas espirituais, criou seres perfeitíssimos, inteligentíssimos, cheios de poder e beleza, como que reflexos de Sua glória. Até que, em determinada situação, um destes, repleto de si, por seu poder, beleza e inteligência, quis ser como Aquele que o criou, adorado - não sei porque, não lembrou-se, ou  não estava nem aí para isto, de que era uma criatura. Acabou sendo expulso das realidades espirituais, o infeliz.

Aquela Pessoa, além disso, criou todas as realidades materiais, a fim de amar. Criou uns bichinhos bonitinhos, umas plantinhas maravilhosas e um bocado de gente. No começo, Ele colocou duas plantazinhas no jardim, lá, que ele criou para o povinho dele brincar, aí apareceu aquele infeliz, nojento, bandido, desgraçado, e instigou àqueles felizes para que comessem da plantazinha que o Pai deles tinha dito que não o fizessem, afirmando que eles seriam sábios como Ele (era mentira!). Coitados de nós, que, por causa desses benditos, nascemos cheios de defeitos e temos que viver a vida para superá-los (não nego que seria capaz de fazer o mesmo, ou pior, se estivesse em semelhante situação).

O problema é o seguinte. Aquele bandido, nojento, desgraçado, assassino e mentiroso de que falei, até nos dias de hoje, fica aconselhando a gente a fazer o mesmo, e nós, bandidos, nojentos, mentirosos, assassinos e ladrões, como ele, caímos nessa ilusão! Deus nos dá tudo, tudo e tudo! Nosso corpo foi Ele que deu e nós insistimos em usá-lo para o que não presta! Deu nossa inteligência e nós insistimos em criar coisas terríveis. Enfim, deu-nos tudo, tudo, as pessoas que amamos, até a nossa realidade material permitiu que fosse assim, e nós, bandidos, jogamos tudo contra Ele! Pior é quando a nossa vaidade é tão grande e imbecil, que atribuímos algo que é de Deus a nós, como se fosse mérito nosso! Ah, coisa terrível! Se você não se detesta quando o faz, se questione, meu amigo, porque você não tem um mínimo de amor por Deus. Diga-se mais, o seu amor por Deus não consegue ser maior nem que o seu orgulho e vaidade! Como dizer que Ele é seu tudo, seu mentiroso?! E falo isso olhando no espelho!

Meus irmãos, na graça, e meus semelhantes, no pecado, acordem para esta realidade! Nós não somos nada! Tudo que temos foi-nos dado de presente, não obstante, imerecidamente! Deus é como um pai de um filho desobediente, aquele filho bem ruim, sabe? Só que Ele ama tanto o filho idiota, que quando chega em seu aniversário lhe dá o melhor presente que podia dar. Em nossa realidade, deu-se a Si mesmo, a nós, na figura de Seu filho, que partilha de Sua mesma substância. Ainda mais, ainda não contente com isto, ainda achando pouco, deu-se a Si mesmo também, a nós, na figura do Seu Espírito Santo, que procede do Dele e do Filho, para que habitasse em nós! Que amor é esse?! Totalmente louco e apaixonado! Imagina Deus fazendo isso a mim, bem mais pecador que você?! Deus é louco! Realmente, louco de amor!

Agora, todos esses presentes Ele nos dá e nós fazemos o que com eles? O que você faz, infeliz? Quando não pega e joga fora, deixando ali do lado, ou se acha indigno de receber e o recusa, ou, agindo de maneira mais perversa, sai dizendo que aquilo que Ele lhe deu é seu, de sua propriedade! Eu também, talvez muito mais vezes, quando me deparo com as graças de Deus em minha vida fico cheio de mim!

Olha, Deus fez tudo primeiro! Tudo que você faz não passa, muitas vezes, de uma cópia do que Deus fez, quando é bom! Toda resposta que você dá, de amor a Deus, não é nem novidade, nem nada demais. Era, sim, na verdade, o mínimo que você podia corresponder daquele que o ama com tanta força! Se você não estiver contente com esta realidade, de ser uma simples criatura, um instrumento, um nada, por si mesmo, mas, um tudo em Deus, por Deus e para Deus, meu colega, vá com o demônio, porque você se assemelha a ele, e prepare-se para a eterna infelicidade!

Agora, por outro lado, meus irmãos, a todos vocês que se vêem como soberbos e orgulhosos e sentem vergonha disto, minha saudação! Porque Deus é misericordioso! Seu amor é cheio, repleto de misericórdia! Ele se irrita, mas espera de nós uma evolução. Portanto, demos a Ele uma resposta de humildade, atribuindo a Ele, e só a Ele, tudo que nós porventura possuímos de bom, se é que o existe!

Da origem do mal

pilares da criação Meu amigo, antes de começar a dizer o que quero, quero que você pense em uma coisa: é que todo conceito vincula outro. Se eu digo que sou homem, afirmo de modo peremptório que não sou mulher e você imagina que eu tenho características físicas e psicológicas de homem, e eu tenho, porque assim sou. Você pensa também que eu gosto de mulher, que é o normal e isso acontece comigo, sou fascinado por tudo aquilo que é belo e perfeito, e a mulher é assim. E o que tem a ver uma coisa com a outra? Sim, eu sei que você viu o título e está esperando algo sobre o demônio e tal, mas não tem nada a ver com ele. O demônio nada criou.

Deus criou tudo que existe. Tudo que existe, existe. O que não existe, não existe. Óbvio, não é? Nem tanto. Nessa parte é que vem a minha limitação, aí eu pergunto a você, caro amigo, o que me pergunto: “Se algo não existe eu posso fazer aquele algo?” É mais ou menos assim… O nada existe? Não. Já existiu? Já. - Até porque Deus criou tudo do nada (2 Mc 7, 28). Entretanto, deixou de existir e não existe mais. O nada, pois, existe só em hipótese. Êpa. Então pode-se dizer que o nada só não existe in concreto, mas existe uma ideia do nada. - Deus criou o nada? Deus criou todas as coisas existentes e o nada não existe, então Ele não o criou. Então, pensando assim, não existe uma vinculação da ideia à existência do objeto, isto é, eu dizer uma coisa não quer dizer que ela exista, é um simples símbolo que remete à ideia. E o que danado isso tem a ver com o mal ou a origem dele? Tudo!

Deus criou o mal? O mal existe? Vamos lá. A palavra "mal" existe, é um símbolo que nos remete àquilo que não é bem, que não é Deus, enfim. – Prepare a sua imaginação porque vamos usa-la. - (Pausa na continuidade do texto), Imagine-se um escultor talentosíssimo fazendo aquilo que melhor sabe fazer, qual seja, uma escultura de argila. Crie aquilo que você acha mais belo. Criou. Pergunto a você: pode existir a deformação daquilo que você criou? Você, como escultor de exímio talento, pode criar algo deformado, sem talento? Você consegue ser incoerente consigo mesmo? E Deus, consegue? - Deus, como amor, pode criar o desamor? Deus, como bondade, pode criar a maldade? Não, não é? É tudo uma questão de símbolo, de ideia e sua concretização. Toda ideia suporta o seu oposto, todo conceito possui seu contrário. Tudo em ideia, em hipótese.

Deus não criou o mal, isto é óbvio, mas permitiu, como permite em tudo, que o conceito que existe possua a sua negação. Deus criou, sim, a liberdade, e para esta é necessário haver possibilidade de escolha. Quando  da era do Paraíso, não existia a árvore do conhecimento, da qual o homem não podia comer? Pois é, se ela não existisse, teria o homem alguma escolha? Existiria alguma possibilidade do pecado para o homem? Não existiria liberdade! E o pecado não seria propriamente comer da árvore, mas desobedecer à ordem dada por Deus. Pois Deus, com grande desgosto, pensou: “Isso aqui não sou eu, vou dar a isto o nome de mal.” (Não sei em que língua pensou) E teve de criar mais um caminho. – use mais uma vez a sua imaginação – Deus não criou o mal, mas teve de criar um caminho pra ele (imagine que você está numa estrada e tem dois caminhos a seguir, em um tem uma plaquinha com o nome “BEM” inscrito, já no outro o nome “MAL”. Deus criou o caminho e a plaquinha com o nome. Nesta hora, você deve pensar em todos aqueles momentos em que você cogitou que Deus feria a sua liberdade, veja que era mentira da sua cabeça, porque, desde o início, antes mesmo de cria-lo, Deus pensou em sua liberdade.

Agora, e o inferno? O inferno não seria a “casinha” do mal? Bem, se você considera o lixo uma casa, tudo bem? Quer morar no lixo? Pode ser opção sua, minha não é. Mas, o que importa, é que o inferno é o banimento da criação de Deus. Só em pensar que falar sobre o inferno e a origem dele é muito mais complicado do que falar sobre o mal e sua origem, fico “tentado” a terminar o texto. Agora, nesse parágrafo, já disse algo que considero ser importante sobre o inferno. É o seguinte: se o inferno é o banimento da Criação, quer dizer que existe uma incompatibilidade com esta. Incompatibilidade nos recorda algo que não pertence, pois é isso mesmo que você deve pensar. Para pertencer ao mundo de Deus, você deve ser compatível com Ele, possuir as mesmas características que Ele e o resto do Seu Reino que é de unidade e coerência. Quem não quiser, fez sua escolha. Se Deus é, as coisas assim são. Se Deus é porque é, as coisas assim são porque são.