Mãe Corajosa
Enquanto dormia, andava por uma rua (em sonho) e vi, dentro de uma casa, uma garotinha me pedindo socorro. Passei pelo portão que estava aberto para saber o que se passava e, quando cheguei perto, vi um capetinha - ele era baixinho, menor que a garotinha, era vermelho e escarnecedor - que ficou à frente dela, de forma a demonstrar que ela estava sob seu domínio. Parei. Fiquei um tanto atordoado com esta visão (eu tinha medo) e pensava em alguma forma para ajudar. Não sei por que, o minúsculo entrou na casa e deixou a menina lá no terraço. Aproveitei, lógico, para correr, pegar a menina nos braços e joga-la por cima do muro. O fiz. Quando era a minha vez de fugir, já estando os braços apoiados em cima do muro, senti um puxão na barra da calça. Acordei.
Acordei com meu coração em disparada. Aquela experiência havia me deixado perplexo a tal ponto de não conseguir pensar em outra coisa senão no sonho. Tentava dormir e não conseguia. Até que tive a ideia de ir para o quarto da minha mãe para lhe contar o ocorrido. Cheguei logo dizendo: “Mainha, tive um pesadelo horrível. Não consigo dormir mais, não...” Pensando que ia receber algum consolo, enganei-me. Disse ela que fosse rezar o terço e voltou a dormir. Eu, pobre medrosinho da mamãe, fui desconsolado pegar meu terço. Peguei. Decidi ir para a sala rezar o terço na minha cadeira preferida. Sentei. Aí aconteceu o que eu não esperava.
Na sala da minha casa, havia uma imagem de Nossa Senhora das Graças de porcelana com meio metro de comprimento que minha mãe ganhou quando do seu casamento. Quando sentei na cadeira, fiquei defronte à ela e vi o que não esperava, a imagem estava verde! Pense num susto foi o que levei! Pensando que minha mãe do Céu poderia aparecer ali mesmo, parei de rezar e fui correndo para o quarto com medo. Deitei-me na cama e dormi. Só fui perceber o que aconteceu no outro dia. É que já havia muito tempo que tentava dormir e não conseguia, porque o pesadelo roubara todo o meu sono, e, após aquela visão, ocorreu que dormi imediatamente, fato estranho porque deveria estar, sim, muito mais acordado.
Foi a minha mãe do meu Senhor que, de modo também assustador, veio me visitar. Ela não queria que eu tivesse medo daquele coitado. Por isso, se ela esmaga a cabeça da serpente, quero eu ter a ousadia e coragem de dizer, com a graça de seu filho, como ele: “Cala-te e sai!”
Carpe Diem
Da infinitude de Deus
Do mesmo modo, o amor de Deus é infinito, de modo que se possa assim serem preenchidas todas as nossas carências e necessidades de amor. Deus é infinitamente justo, de modo que não esquecerá nenhum dos momentos nos quais rendemos a Ele toda a nossa vida. Deus é infinitamente misericordioso, de modo que o maior pecador do mundo pode ser muito bem compreendido e sujeito de graça ainda maior do que seu pecado. Deus é infinitamente bondoso, e tanto, que tudo nos quer dar, ainda que nós, pequenos idiotas, não o queiramos e, para isto, foi capaz de se rebaixar a nossa natureza, sofrer tudo que podemos sofrer. Mesmo sendo Deus, a Majestade do Universo, foi humilhado , mesmo sendo infinitamente amoroso, puro, casto, santo, justo e inocente, foi castigado; no fim de tudo isto, morreu por nós. Tão infinito é seu cuidado para conosco, que Ele próprio se dá na Eucaristia. Tão infinita é a sua liberalidade, que Ele, em seu Espírito, habita em nós e nos faz pequenos deuses por participação.
Do ódio
Da Realidade Extrasensorial

Vivemos nesse mundo de realidade. Realidade? É verdade, não vivemos bem uma realidade. Deixa-me explicar o que quero dizer. Nosso olho humano vê as coisas materiais e isto para nós se torna “realidade”. Ah, sim! Assim tudo bem, então você acredita que existe toda uma realidade sobrenatural ao nosso redor? Acredito sim. Creio que há coisas que nós não vemos... Bem, não são coisas. Porque coisa é tudo aquilo que se pode medir e quantificar, e não podemos medir nem quantificar os seres espirituais. Então, do que posso chama-los? Chame-os como diz aquele escritor, como é o nome dele? Dan Brown... Lembrei! Isso é porque você só leu a capa do livro dele. Não acha melhor chamar, então, como aquela música de Angra? Não me atrevo a ler um livro dele, é muito complexo e mentiroso pra mim, prefiro escutar “Angels and Demons”.
Anjos e demônios, traduzindo. É a realidade real, a que nós não vemos, mas que nos cerca. É, existe uma batalha terrível que nós não vemos. Nenhum filme seria capaz de descreve-la. Nenhum filme é capaz, é bem verdade, mas, e nós, podemos pelo menos tentar? Não sei se podemos, talvez nos atreveremos. Topa? Na hora!
Você concorda comigo que essa batalha consiste na intenção de Deus em salvar-nos e na de satanás de nos matar? Estou de pleno acordo. Só que Deus não entra nessa batalha, ela seria muito injusta. Ele envia seus anjos para nos proteger. É verdade, mas a recíproca não é verdadeira, satanás entra nessa batalha pra ver se consegue ganhar alguma coisa. Falando nisso, há pessoas que acham errado odia-lo e vingar-se dele. Hahahaha! Peraí! E qual foi o argumento? O argumento foi de que ódio e vingança não são sentimentos bons, vê se pode? É, realmente, ódio e vingança não são sentimentos bons, quando mal canalizados. Até porque quando odiamos satanás, amamos a Deus. E também porque a melhor maneira de nos vingar dele é amando, não é. Pois é! Não existe coisa que mais o irrita que o amor e tudo que dele provém. Que tal amarmos bem muito, pra deixar esse otário cada vez mais infeliz no inferno? É uma boa, mas vê se não irrita muito ele, porque ele vem pra te pegar com força. Eu já estou acostumado com esse infeliz querendo me matar, me fazer infeliz como Ele, e é por isso que meu ódio cada vez aumenta mais! Quem se atreve a me separar de Deus?
Olha. Cuidado com o que você fala! Mas, voltemos ao assunto. Vou falar tudo logo de uma vez e depois você diz se concorda. Os anjos estão a serviço de Deus para nos proteger, nos livrar do mal e tentar convencer-nos do pecado. Por causa desses anjos maravilhosos é que, muitas vezes, somos livrados de perigos, não é por causa do destino. É porque existem mais seres a nosso favor. Entretanto, os demônios, esses capangas de satanás, ficam nos tentando a fim de nos separar de Deus. Quando não conseguem, se irritam e ficam querendo nos inutilizar. Seja por doenças, seja pela morte. Eu concordo. Nessa história de ele querer nos inutilizar quando já estamos unidos a Deus, li isso em Caminho de Perfeição, de Santa Teresa d’Ávila. E o resto, se coaduna com as palavras de São Paulo, quando diz que “não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares.” (Efésios 6,12)
É bom mesmo ser confirmado, até porque não podemos basear nossas ideias em meras elucubrações cerebrinas. Até porque entre o que nós achamos e o que realmente é a verdade, existe um imenso abismo. Pois é o que eu digo a você: estude! Porque as pessoas podem até discordar de você em virtude da contundência de suas palavras. Você é muito duro com elas. Mas não está errado. O problema é que o trabalho que você tem ao pensar para escrever um texto, não libera o que deve ter os leitores para interpretar e refletir.
Da minha cruz

Deus me criou e me amou, amou-me antes. Todo amor que eu render-lhe será pequeno, pouco, e nunca será gratuito, porque tenho obrigação de amá-Lo. Tenho obrigação de amá-Lo porque me criou, mas não só, tenho a obrigação de amá-lo porque Ele primeiro me amou! Não sou mais do que ninguém, menos que isso, sou pior do que todos! Eu não mereço nada que Deus me deu, nada que Deus me dá! Ele amou-me antes, repito! Antes de viver, Ele já havia me amado. Antes que eu aprendesse a falar e dissesse Deus, Ele já havia me amado!
Não sou eu mais do que ninguém, mas pior, reafirmo! Quem sou eu para pensar que por ter sido alvo da misericórdia de Deus, outros não serão! Que ousadia seria a minha de pensar que Deus me amou quando me criou e a outro não! Eu, que cometi o mesmo pecado de Adão, desobedecendo à ordem do Pai e preferi não desagradar aquela que, só durante aquele momento estava junto de mim! Quem sou eu para me achar melhor? Não mereço a salvação que entrou na minha vida! Eu não mereço!
Um desejo no coração eu tenho é de roubar almas das mãos de satanás, e peço a Deus que me muna cada vez mais com um desejo santo, inteligência e gratidão a tudo que Ele me fez. Sei que se existem pessoas que vão para o inferno é porque deixei de fazer minha obrigação, esta eu possuo desde o momento que foi salvo e ela consiste em pregar o evangelho a toda criatura! Ninguém é excluso disto e o que há fora disto vem do demônio! Esse demônio que quer me fazer infeliz, quer roubar-me de Deus, esse desgraçado sem vergonha que não aceita sua derrota, quero vingar-me dele!
Ah, como eu odeio tudo que é mentira e amo tudo aquilo que é Verdade! Verdade eterna e imutável! Detesto a mentira que desune, que divide! E sou apaixonado por toda verdade que une e reintegra ao que deve ser! Relativismo? Também o odeio! Sua “verdade” ou minha “verdade”, não existem! A Verdade que busco é única e imutável, não é nada meu ou seu. Ponho-me à prova e venha Deus me revelar! Sim, Ele algumas vezes dá-me a oportunidade! Seria demasiada ousadia minha crer que possuo algum talento para escrever!
Quero, de todo o meu coração, ir em busca de tudo isso! Ah, se pudesse não dormir! Ah, se pudesse não comer para estar mais sujeito às revelações! Ah, se tivesse dinheiro e tempo para acumular conhecimento! Seria como touro a chifrar toda a mentira e ilusão que o egoísmo humano prega no mundo! Esse homem maldito que insiste em fazer como verdade tudo aquilo que satisfaz à sua vaidade! Imbecil! Se puder ir a algum lugar com esse pavor da mentira, eu irei!
São duas coisas a combater, o demônio infeliz e derrotado pela oração e sacrifício, e a limitação intelectual humana com amor, estudo e reflexão! Não sei se fiquei louco o suficiente e se esse desejo do meu coração vem de Deus ou se é tão somente presunção minha de querer ser útil, mas, se for para a minha salvação e para a de muitos quero ficar louco de vez!
Da Predestinação (Teoria Geral)

Todos são predestinados a salvação! Dizendo isso já instigo o orgulho intelectual de muita gente que adota corrente diversa. É a verdade que acredito e acredito que seja verdade. Na verdade, nenhuma outra me atrai, visto que são incompatíveis com alguns princípios que vou lembrar. Todavia, aviso desde logo, isso é a teoria geral, para todo mundo; existe uma teoria especial muito mais complexa, sobre a qual não me considero ninguém para falar. Prefiro, por enquanto, pensar no caso geral e isto me serve.
Em primeiro lugar, o futuro não existe, assim afirma Santo Agostinho. Se não existe futuro, não existe destino, nada há nesse mundo que não se possa mudar de rumo. Portanto, se tratamos essa questão de predestinação como algo que está certo para acontecer, como que se eu nascesse para ser médico eu estou fadado a sê-lo, ela não existe. Todavia, pode-se questionar acerca das profecias divinas, argumentando-se que ela falava sobre um futuro certo. Sim, elas falam do futuro, isto é certo, entretanto, mesmo não existindo futuro, existe tempo. O tempo foi criado por Deus, para que o homem morresse, e Ele é eterno, portanto, vê o nosso atual, passado e futuro presente como eterno presente.
Um segundo ponto é o nosso livre-arbítrio. Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. Criou assim com suas características, uma delas é a liberdade. Deus, que é livre, e plenamente livre, criou o homem também livre. Esse homem, em seu primeiro ser existente, usou sua liberdade para negar, desobedecer Àquele que o criou. Adão era predestinado a ser feliz, eterno, livre, santo. Todavia, escolheu não sê-lo, preferiu cair na mentira da serpente e querer ser como Deus. Assim como Adão foi predestinado a tudo isso que eu disse, nós também somos. Contudo, podemos negar tal predestinação. Deus tem um plano de amor para cada um de nós, isto é, cada um nasceu para ser algo, entretanto, todos somos livres para escolher. Destino não é algo certo. Predestinação não é predeterminação. Destino é o fim para o qual fomos criados. Nosso destino é Deus.
Um terceiro ponto, e talvez o mais simples deles, é que Deus é amor. Sendo amor, no ato da criação, amou tudo. Ele olhou para Adão e o amou, assim como para Eva, Caim, Abel, Moisés, Maria, Francisco, Catarina, João, Igor. Ele olhou para todo homem, em toda história, “presente”, “passado” e “futuro”, e os amou. São Paulo afirma, “Dele, por ele e para ele são todas as coisas.” (Romanos 11,36a) Se o Pai criou todas as coisas para seu Filho, criou também todos os homens para Ele. Se criou toda a humanidade para Jesus, a criou para si, este é o fim dela, de onde veio e para onde deve ir. Isso bate de frente com alguns que dizem que Cristo morreu só para alguns, que a predestinação é porque alguns que nascem devem ir para o Céu e outros para o inferno. Eu, na minha humilde burrice, acredito que o Deus que ama criou todos para serem salvos e até por isso quis redimir toda a humanidade por meio do Seu sacrifício (leia-se do sacrifício do Seu Filho).
Meu Deus, se não for limitação minha, se não for por cegueira, falta de estudo, oração ou qualquer outra coisa e isso for muito mais complicado e eu estiver errado, me corrija, por favor. Mas, isso realmente for simples, como foi meu raciocínio, porque tanta gente não consegue entender?
Da inatingibilidade de Deus
São João da Cruz disse, “Deus é inacessível”. Se Deus é inacessível, também é inatingível, intocável. São Pio de Pietrelcina, ao dar a comunhão a quem estava em pecado mortal, via Jesus chorando; e ao dá-la a quem estava na graça, via-o sorrindo. Parece que Jesus chora porque se deixa atingor. Contudo, não é assim que ocorre.
Nenhum pecado do homem pode ferir a Deus, nem na pessoa do Pai, nem na do Filho, nem na do Espírito Santo. Seria igualar o homem a Deus se este pudesse atingi-lo. Na verdade, o pecado fere a Deus infinitamente (já que Ele é infinito, nada de finito pode O ocorrer), pois Deus sofre pelo homem, pelo pecado do homem, pela negação do homem, não porque este pecado o atinge. Repito, Deus sofre infinitamente por causa do pecado do homem, por amor a este.
Mas, então, por que não se pode comungar em pecado mortal? Creio que seja por uma razão simples. Quando morremos em pecado mortal não atingido pela contrição ou qualquer outra coisa que o perdoe, não podemos entrar no Céu, a exceção dele é a morte! Explicando melhor, só existe o sim ou o não, o Céu ou o inferno, por isso, se não se vai para Aquele, se vai para este. Disso podemos depreender que, a pessoa que comunga em pecado mortal não pode entrar em Cristo, e Cristo nele, assim como a pessoa que morre neste pecado não pode entrar no Céu. Resta-nos, pois, a morte e o que leva a ela aqui na terra. É por isso que São Paulo nos diz: “Esta é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos.”
Pergunto-me e pergunto também a você, se comungar em pecado mortal nos leva ao que nos foi descrito por São Paulo, Deus, que nos ama infinitamente, iria sorrir ou chorar? Eu respondo o mesmo que você, chorar. O amor de Deus pelo homem, em vez de fazê-lo irar-se conosco, faz com quer Ele derrame lágrimas. Eu tive a graça de perceber isto e não querer mais fazer Deus chorar. E você, fica contente ou indiferente com o sofrimento de Deus por si?
É por isso tudo que Deus Pai informa a Santa Catarina de Sena que “o cristão infiel padecerá mais do que o homem não batizado” (O Diálogo, p. 58).
Do Céu

Ative a sua imaginação e acompanhe-me no raciocínio. Não tratarei aqui o Céu como um lugar, já que acredito que qualquer descrição, por mais maravilhosa e perfeccionista que fosse, seria pouco. Creio que o melhor que pudermos imaginar do Paraíso é nada, e isso São Paulo confirma ao dizer que “o que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam”. (1Cor 2,9) Não mudarei a linha de raciocínio do blog. Vamos à viagem.
Em primeiro lugar, devemos pensar que o Céu é a plena comunhão com Deus, é estar dentro Dele. É como que estar no ventre de uma mãe, ali, em comunhão plena, de corpo, sangue e alma. Algo isso nos lembra, é que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Sendo Filho, Ele está presente na eucaristia, e esta é uma prefiguração do que viveremos além desta vida. A eucaristia é Jesus presente, e Jesus é Deus. Comungar é estar em comunhão com Jesus, é estar em comunhão com Deus. Estando em comunhão com Deus, estamos no céu! O corpo e o sangue de Cristo presentes na eucaristia são o Céu aqui na terra.
Entretanto, para se estar dentro de Deus, deve-se estar assim como Ele é, puro, santo. A santidade, pureza, grandiosidade, majestade não podem ser manchadas, é por isso que para se estar dentro Dele, no Céu, deve-se estar apto. Não se pode entrar numa piscina num clube com alguma doença contagiosa. Não se pode, do mesmo modo, entrar no Céu com qualquer doença da alma, como Kierkegaard afirma que o pecado é. Assim acontece também com a Eucaristia, não podemos comungar doentes da alma.
Não entendo alguns que dizem que o Céu é entediante, isso mostra que são tolos o suficiente para acreditar na fala de Satanás. Nessa tolice já caí. Todavia, cai-se nessa quando a gente pensa que o Céu é um lugar bonitinho onde nós voamos como anjinhos por toda a eternidade. Isso é ridículo. Esse céu eu não quero para mim. Ainda desenham uma porta com umas nuvenzinhas, como se fosse o céu que vemos. Não é. Se existe uma porta para o Céu, ela está no coração de Deus. Agora eu quero que alguém diga que é possível se enjoar de partilhar da felicidade, alegria, sabedoria, e tudo de bom que vem de Deus.
Vivendo este Céu aqui na terra, ou seja, recebendo a eucaristia sempre que possível, e tomara que seja possível sempre, podemos saborear em nível imensurável de tão pequeno a satisfação que lá teremos. Mas, já é algo. E é muito bom receber pouco a pouco os bens espirituais de lá provenientes e, mais ainda, é maravilhoso estar cada vez mais perto do verdadeiro e grandioso Paraíso. Participando do Reino de Deus aqui na terra, que é Jesus, estamos cada vez mais perto da vida mais saborosa que se pode ter e, além do mais, eterna.
Da Presunção (ou soberba)
Este texto é dedicado a você e a mim (bem enfatizado) que pensa que é grande, quer ser ou acha belo ser assim. Digo logo que não há besteira maior a se pensar, querer ou achar. Afinal, o que é ser grande?
Ser grande é ser maior que os outros? Pode-se pensar assim, até porque tudo depende de um referencial. Consideramos algo grande até que encontramos algo maior, não é verdade? Por isso, se eu me acho grande, é porque me vejo maior que os outros. Todavia, meu querido colega, trata-se de uma imensa ilusão, eu não sou maior do que ninguém. Deveria, sim, me reconhecer como pior.
Na verdade, os talentos, que muito ou pouco eu os possa ter e, assim, considerar-me grande ou pequeno, devem ser tratados com a devida proporcionalidade. Não existe pessoa mais detestável do que um talentoso soberbo, nem existe pessoa mais admirável do que o humilde. Para quem não tem muitos talentos não é tarefa difícil ser humilde, é só se reconhecer como realmente se é. Aí é que mora o problema, o talentoso soberbo pelo menos é talentoso, mas e o soberbo que não tem nenhum motivo para o ser? Resumo esse infeliz em uma palavra: Ridículo! Assim me classifico.
É ridículo o meu peito estufado, meu olhar duro e seco, meu sorriso escarnecedor. É de se merecer o desbravar da razão dessa fuga da realidade, desse não reconhecer, desse iludir-se. Por que quero ser grande sem o ser? Isso é, na verdade, o desenvolver da semente que satanás plantou em cada um de nós. Por que não pensar que isso é mesmo influência de satanás na minha vida se a soberba é sua maior característica? É verdade, sim! Hoje sei que, se quiser dar um presente a Deus e um grande desgosto ao seu inimigo, é só arrancar de mim a soberba e buscar, como a quem procura água com sede, ser humilde.
Crescer em humildade, isto sim, é o abrir as portas para a grandeza. Deus não dá nada ao homem soberbo, visto que o ama, e torná-lo grande é condená-lo. Se eu quiser ser grande, que busque ser pequeno. Não é difícil chegar a esse raciocínio, para isto basta-nos imaginar uma árvore que quer crescer muito, mas não aprofunda suas raízes. Esta árvore acabará por ficar torta, já que não tem estrutura para ser grande. É um princípio muito simples: ao se crescer para baixo (em humildade), dá-se subsídio e sustento para o desenvolvimento no sentido oposto e concreto.
Não quero eu, nem você, creio, ser como aquele coqueiro: torto. Deus é que irá nos fazer grandes ou pequenos, dependendo de Sua vontade, até porque o tamanho de uma planta não depende dela mesma. Portanto, se desejo algo, hoje, desejo ser pequeno, ou pelo menos aprender a sê-lo.
Retrato de Mau Gosto
Aquele bicho feio e fedido, que, graças a meu Bom Deus, vive longe de mim, não deseja que meus irmãos reflitam sua mais verdadeira beleza. Ele não decide como é, hora quer se passar por belo e exuberante, hora por monstruoso e assustador. A sua verdadeira aparência, se é que verdadeiramente existe, qual será?
Não quer se parecer fraco, já que de modo algum se aceita como perdedor, por esse motivo, busca nos acostumar com sua imagem ridícula. Para dizer que fere, mostra-se com dentes afiados, isso para não apresentar-se como banguela. Mostra-se com a pele branca, em virtude da sua existência sem luz, aparentando uma falsa beleza ebúrnea, de alabastro; na verdade, não quer deixar transparecer que pele alguma possui, é tão somente um espectro tosco. Sempre com vestes exuberantes, quer se parecer austero, nobre, senhor de algo, quando, na verdade, é escravo de si mesmo; suas vestes podres e rasgadas refletem sua verdadeira essência.
Não obstante, sentindo saudade de sua divina beleza perdida na eternidade, quer tirar a beleza do homem. Quando não quer que vistamos roupas escuras, ridículas, mesmo debaixo de um sol massacrante, quer tirá-las ou diminuí-las ao mínimo possível, fazendo com que pareçamos produtos pedindo para serem consumidos. Quer nos encher de metais, tatuagens, para tentar mostrar que a pele que Deus criou não é bela o suficiente, é sem graça. Depois ele fica rindo da pelanca cheia de riscos, dos buracos e infecções em nossa pele, da nossa dignidade perdida e da nossa morbidez idiota. Esse seu comportamento demonstra a profunda inveja que sente de nós.
Soberba decorrida em inveja. Por ela quer roubar as almas originadas e predestinadas a Deus. Para isto, às vezes mostra-se atraente por meio do luxo, do prazer, do poder, tudo que, na verdade, ele não possui. Vivendo em eterno e infinito desespero, oferece-nos um bocado de bijuterias, para que, enganando-nos, não fique sozinho em seu eterno suplício e derrota. Se Deus ele não pode derrotar, quer fazê-lo sofrer, retirando Dele alguns de seus filhos amados.
Ainda mostra-se a nós assustadoramente, de modo que o temamos. Mais uma vez, tenta nos ludibriar. Será que tem ele coragem de mostrar sua aparência pequena, curva, tosca e vazia? Ele sabe que se mostrasse sua verdadeira aparência nós nunca o respeitaríamos. Aí aparenta ser grande, monstruoso, assustador. E nós, com medo, às vezes fazemos o que ele pede, como se tivesse algum poder e fosse nos dar algo concreto em troca; outras vezes ficamos fascinados por ele e nos apaixonamos. Quão terrível desilusão nos espera, a nós que nos deixamos iludir por aquele pobre infeliz.
Aquele nojento pode não ser poderoso, grandioso, coisa que só Deus é. Mas, por tudo isso que pensamos, depreendemos um atributo que ele não quer deixar transparecer de modo algum, que ele é muito astuto. É por isso que devemos, portanto, tomar muito cuidado com ele.
Da Felicidade. Final?

Para por fim e, quem sabe, não voltar mais a este assunto que tanto dá nó em minha cabeça, vamos falar sobre ela que tanto nos atrai e apavora. Desconsidere, portanto, em parte o que já escrevi, já que aquilo é o que acredito ser necessário para se buscar a felicidade. Está na hora de, pelo menos uma vez na vida, pensar em algo que não seja em mim, por mim e para mim.
Felicidade é corresponder às expectativas que se tem sobre si. Aquele que quer ser rico e deposita nisto a sua felicidade, satisfazendo tal desejo, considera-se feliz. Do mesmo modo o que considera felicidade uma realização familiar e a alcança, assim por diante. Todavia, tais metas são estritamente terrenas, passageiras, e que não satisfazem, de verdade, os anseios de nosso espírito, já que somos também eternos, como afirma Kierkegaard. Por isso, o conceito de felicidade deve ultrapassar o senso finito e alcançar também o nosso infinito, já que felicidade é plenitude, plenitude é por inteiro, e por inteiro deve atingir nossa realidade passageira e eterna.
Nasce agora, todavia, o desespero dos desesperos. Como posso ser feliz satisfazendo também minha alma? E agora, quem poderá me ajudar? Não é o Chapolin Colorado! Há alguém que me responde.
Talvez seja eu aquele jovem rico que pergunta ao Senhor: Bom Mestre, que devo fazer para ter a vida eterna? O Senhor me responde que devo cumprir os mandamentos. Todavia, mesmo guardando-os, não me sinto satisfeito, e fico a pensar o que mais me falta. Desse modo, respondo: Eu já faço tudo isso há um bom tempo, Jesus. Ele, sabendo o que penso e o que sinto, conhecendo minha sede de felicidade e a infinitude da minha alma, responde-me que ainda me falta algo, e diz-me que eu venda tudo que tenho, dê aos pobres, já que assim terei um tesouro no céu, depois vá o seguir.
Depois de muito pensar, discordar de mim mesmo e pensar novamente, cheguei à conclusão de que a felicidade, diferente da alegria, satisfação, do prazer, não é um estado de espírito, mas do espírito. Vale-me mais o meu espírito do que meu corpo e mente, já que estes são finitos e aquele não. Tem mais peso a minha realização eterna do que a passageira. Por isso, ser feliz, para mim, é viver o Céu na terra. É fazer por onde, constantemente, ter meus anseios de eternidade correspondidos, estando pronto para, a qualquer tempo, partir para ela.
Será por isso que Montaigne diz que filosofar é aprender a morrer? Talvez não tenha pensado assim, mas, o que o homem não cansa de buscar é a felicidade, e talvez não a encontre porque não sabe o que realmente ela é. Sabendo, não tem coragem de buscá-la.
Da Felicidade

Não há como se falar em felicidade sem lembrar-se de tudo que aqui já abordamos, qual seja, verdade, liberdade, amor e Deus. Estes são setas que convergem para o fim único e, ausentando-se um, excluem-se os outros. Isto é, não existe felicidade, verdade, liberdade e amor sem Deus, assim como não há Deus sem felicidade, verdade, liberdade e amor.
No final das contas, tudo se resume em Deus. Aqui queremos pensar sobre nós, mas até para tanto devemos pensar Nele, já que é por Ele que fomos criados, de onde vimos e para onde devemos ir.
Não é difícil o raciocínio para conosco concordar, é só pensar que quando queremos dar significado a uma palavra devemos buscar, antes de tudo, sua etimologia. Em vista disso, perguntamos, qual a nossa etimologia? Quem acredita que veio do nada, sinto muito, mas sua vida não tem sentido, já que não tem nem origem! Nós, por outro lado, acreditamos que temos em Deus nossa origem, e Ele que por ser perfeito, não pode criar nada que também não seja. Assim fomos nós criados, perfeitos.
Dizer perfeição é dizer plenitude, falar plenitude é falar completude, e nisto pensar é pensar em felicidade. De fato, já fomos felizes. Não somos mais. Somos degenerados. Degeneramo-nos pelo pecado, e este é o motivo de todo sofrimento e infelicidade. Assim pensamos por que acreditamos que Deus, nosso Criador, criou-nos à Sua imagem e semelhança, ou seja, perfeitos. Dizer origem, natureza, é dizer essência. Acreditamos, pois, que o pecado é incompatível com nossa natureza, e essa nossa essência, na verdade, é santa. Se sofremos, é porque somos pecadores.
Quando se vive uma mentira não há como ser feliz, no máximo, vive-se uma grande ilusão de felicidade. Quero dizer que enquanto não se corresponder ao verdadeiro eu humano, que é, em primeiro lugar, santo, não há felicidade. Assim como não há como se dizer feliz enquanto se é escravo do erro. Ainda sendo verdadeiro e livre, não se pode de modo algum ser feliz enquanto não se ama, já que fomos criados pelo Amor e para o Amor.
Se se quer ser feliz, portanto, deve-se buscar tudo isso.
Verdade

Ser humano e pretensioso, um se liga ao outro quase que inexoravelmente. Esse ser insiste e insiste em tomár as rédeas da sua existência, reluta em querer armar o próprio destino (e que destino!). Essa é uma tentação terrível, talvez a pior, de querer ser senhor da própria vida, esquecendo-se do verdadeiro Kírios. Ele, sim, deve tomar conta da nossa caminhada.
Insistimos em dizer que conhecemo-nos, que sabemos o que precisamos, de onde vimos, pra onde vamos, porque vamos e, o pior de tudo, o que devemos fazer e o que nos faz feliz. Bem verdade que diante dessa nossa idiotice e presunção, dá-nos sincera vontade de rir! Quão idiota sou! Ou melhor, que besta sou eu para convencer-me que sei o que é melhor pra mim e que sei a origem e as consequências de meus atos!
Depois de ridicularizar-me bastante, devo eu, todavia, entristecer-me. Na verdade, temos um Senhor, Criador, Pastor, um Kyrios, que deve guiar-nos ao longo do nosso caminho. Ele, sim, é o único capaz de mostrar-nos nosso verdadeiro eu, ainda de onde vimos, para onde vamos, porque vimos a vamos, o que precisamos, porque precisamos, o que e por que devemos fazer. Enfim, Ele sabe o que nos faz feliz e por que nos faz feliz. Em suma, agora de verdade, render-nos à voz e direcionamento de Deus é a única forma de sermos verdadeiramente felizes.
Felicidade, eis a pedra que atrapalha o caminho desse texto. Tens a coragem e ousadia de dizer-te que és feliz? Como podes ser feliz enquanto tantos sofrem? Ainda podemos ir além. Sabes se serás feliz quando morreres? Se não, como podes afirmar a ti mesmo que és feliz sem saber se quando morreres, e isto pode acontecer a qualquer momento, serás ainda. Ouso constranger-te, ainda, dizendo que teu Kyrios pode frustrar-te quando o vires, afirmando que tinha para ti tantos planos e que ousastes executar os teus. Ainda diria Ele que tem uma coroa para ti, mas não pode te dar.
Ainda tu, pobre criança, contenta-te com tão pouco? Porque contenta-te com a vida e os frutos que tens? Achas muito o que fazes? Isso é por que não saber o que Deus tem para ti, se ouvirdes Sua voz e obedecerdes ao Seu chamado. Porque teimas em viver com tais migalhas? Porque insistes em ver os tubarões da superfície, sabendo que existem tantos tesouros no fundo do mar?
Esquece-te, portanto, dos conceitos que formastes sobre ti. Ajoelha-te e reconhece-te como pequeno, minúsculo, microscópico, diante daqule que te criou. Aceita ainda que tua inteligência é muito menor do que a ti mesmo e que, verdadeiramente, sobre ti não sabes nada a não ser aquilo que te foi possível revelar. Não esquece-te, pois, destas revelações, visto que trata-se de um pouco que tens de ti.
Do arrependimento

Arrepender-se, sintética e objetivamente, é estar nu diante de si mesmo, sem máscaras nem nada que possa esconder a realidade. Trata-se de um processo doloroso, mas absolutamente necessário.
Pode haver outras facetas desse estado, mas, para nós, o arrependimento vem quando perdemos tempo, quando vivemos uma mentira. Em outras palavras, ele vem quando a realidade que vivemos não condiz com a nossa realidade. Arrependo-me quando vivo tal situação. Por exemplo, o pecado não condiz com a minha realidade de cristão, e quando peco, o faço sem ter real consciência da magnitude de tal ato, só que alguma hora a verdade vai aparecer, e quando ela aparece, ou seja, quando obtenho a consciência dela, surge a contrição.
De fato, estamos falando sobre um erro, já que este é inato a condição humana. Só os anjos, portanto, possuem a capacidade de não errar, por isso não se arrependem. Desse modo, não podemos culpar-nos pelos erros, pequenos ou graves, que eventualmente viemos a cometer. É inerente a nossa condição de homo non sapiens, já que, definitivamente, assim somos.
Passada essa primeira fase, a da consciência, uma nova deve surgir, trata-se da atitude favorável a verdade. Por meio disso, adquirimos a consciência de algo muito importante: Só os fortes se arrependem. Já viu alguém fraco se arrepender? Deve existir muita força interior em uma pessoa para que, admitindo sua condição totalmente falível, entristeça-se por sua atitude e, imbuído da força proveniente de sua inclinação para o bem, busca consertar o defeito existente na máquina da verdade. Em outras palavras, o cristão que peca, estando consciente de seu erro, deve confessar-se (assumir o erro) e não admitir de si mesmo a sua repetição. Isto é consertar e conservar a sua verdade.
Vale ressaltar que não se pode ficar preso em nenhuma dessas etapas. O arrependimento deve passar, assim como a fase de conserto. A verdade estando restabelecida, deve ser vivida, ela é realidade e deve trazer paz e felicidade.
Admitamos, portanto, nossa condição humana e falível. Que nós tomemos consciência da verdade da nossa vida e que nos arrependamos de não vivê-la, para que assim, consertemos nossos erros. Se queremos ser felizes e ter paz, estaremos prontos para uma vida nova e coerente com aquilo que realmente somos, imagem e semelhança de Deus.
O que é amar?

Além de tudo isso, como se não bastasse, essa relação tem que ser livre, de ambos os lados tanto junto como isoladamente. Um não pode sufocar o outro assim como o inverso, os dois tem que ter sua independência e, além de tudo, completar-se já sendo completos. Completar-se já sendo completos? Complementar-se.
Como tudo isso é complicado! E, de fato, aprende-se errando. Erra-se e sofre-se as consequências desse erro. Uma pergunta fica no ar: existe a possibilidade do conserto? Eis que vem à tona aquela característica do amor, a bilateralidade. Quando um não quer, dois não amam. Decorrente disso surgem várias outras perguntas. O que faz aquele que ama, se realmente ama?
Existe juntamente ao amor a vontade de se estar junto? Ou, por outro lado, aquele que ama deseja estar longe do amado? Se sim, porque?
E como sabemos que amamos? Eu queria ter tido mais tempo para responder essa pergunta, porque não me sinto tão bem resolvido. Mas, se estiver certo no que digo, sei que amo quando o amado assim o é sem se fazer necessário. Sei que amo quando descubro que a ausência da pessoa amada é sentida mesmo sem que se fique um vazio na sua ausência. Uma coisa é certa: na precisão, na necessidade, não se dá pra saber se realmente se ama. Isso se descobre na inutilidade.
Porque ser tão sensível, tão emotivo? Eis uma qualidade prejudicial. Coração que sente é coração que sofre. No entanto, esse coração é o que é capaz de se abrir. Porque se abrir? Se abro-me e assim me prejudico é por que, quem sabe, alguém precise dessa minha abertura.
Abrindo-me de vez. Digo que amor só é bom se for vivido, se não for, é sofrido.
Desengano

Queria falar e escrever sobre a teoria dos valores. Eu, que não conseguia escalonar os meus valores, eu que não estabelecia essa hierarquia. Devo, antes de escrever e falar sobre algo, ser testemunha deste algo na minha vida. Deve estar em primeiro lugar Deus e acima de tudo e de todos, o resto ainda hei de aprender.
É impressionante isso, falava tanto sobre a vontade de Deus e não percebia que eu estava totalmente fora da sua. Fora das suas vontades implícitas e explícitas, diretas e indiretas. Eu sabia dessas vontades, mas, ou não conseguia ver que sabia, ou não queria ver que sabia e, por isso, não enfrentei, fui um fraco, um covarde enterrando meus talentos por tanto tempo.
Quando falo de vontades implícitas quero dizer aquelas que Deus não precisa revelar que quer, como "meu filho, eu quero que você vá à missa no domingo, que se confesse, que não caia no pecado e que se afaste de tudo que o faça pecar". É óbvio que Ele quer isso. E das vontades explícitas, falo das que foram reveladas por Ele, como quando falou que queria que eu voltasse pro grupo de oração e entrasse em um ministério pra servir. Já quando falo das diretas, quero dizer aquelas que Ele diretamente me fala pela palavra, por alguém, para mim mesmo, como colocá-Lo acima de tudo; já as indiretas são as decorrentes disso, como não permitir que algo seja mais importante que Ele e atrapalhe nossa relação.
Eu, ainda, que falava tanto de amor, era o pior amante que já existiu. Não amante de outra pessoa, isso eu fui um dos melhores que já vi. Era um mau amante de mim mesmo, não me respeitei, não estabeleci meu território. Permiti por tanto tempo ser abusado! Pensava eu que suportava tudo por amor, mas que amor é esse que nos tira o amor que temos por nós mesmos? Também não fui nada inteligente. Sufocava-me, doava-me, entregava-me, sacrificava-me por uma relação que me afastava daquilo que sempre foi mais importante da minha vida e que, definitivamente, afastava-me do futuro que me era mais caro. A minha morte! Se eu morresse do jeito que estava, era possível que não me salvasse, contava tão somente com a misericórdia, já que não possuía mérito algum.
E por que eu passei a estudar? Deus que me pôs neste curso, os planos eram Dele para mim e eu os substituí pelos que eu formei, eu e minha idiotice formamos planos idiotas, inúteis e vazios. Agora que fui destilado e estou na minha verdadeira substância, restabelecendo assim minha saúde intelectual, consigo ver o que pode ser de futuro pra mim. Quero outra vida!
Estou, hoje, diante de uma porta e à procura de um tesouro que pode estar por trás dela. Nesta porta tem um aviso dizendo que está ocupado. Devo eu respeitar o aviso e esperar que o recinto seja desocupado? Ou devo eu entrar e a outra pessoa ver que está na hora de sair? Meu querido amigo ou amiga, não sei, não sei mesmo! Só sei de uma coisa: talvez esteja na hora de reaprender na prática aquilo que não soube viver.
Deus basta

Só quando a gente perde tudo é que percebe qual o lugar que Deus deve ocupar na nossa vida. Só na dor! Antes disso, quando a alegria tomava nosso ser e tínhamos com o que nos preencher (pelo menos aparentemente), colocávamos a frente aquilo que nos dava prazer, satisfação. Coisas ou pessoas que o próprio Deus nos dá têm a capacidade de nos afastar Dele, por culpa totalmente nossa, algumas vezes, mas não deixam de possuir essa capacidade.
Quando essas coisas ou pessoas se vão, o vazio que não era percebido aparece. Umas pessoas vão procurar festas, amigos, prazer, para tentar preencher. Não sabem, infeliz e insensatamente, que esse vazio vai ser preenchido com menos eficácia, podendo até aumentar. Por outro lado, quem vai procurar a Deus, esse sim vai preencher esse vazio descoberto! O nosso vazio, seja explícito ou não, só pode ser preenchido por Deus! Outra vez, quando fui fazer a quaresma de São Miguel, por não ter como comprar uma imagem representando-o, tive a idéia de fazer um desenho (que ficou fantástico, por sinal), e nesse desenho, quando fui desenhar o demônio, o fiz vazio, como se só tivesse pele.Não somos demônios, possuímos a Deus dentro de nós, somos a nova Arca da Aliança. Entretanto, podemos viver como eles e deixar que eles aumentem o vazio dentro de nós somando o vazio que eles possuem. De fato, um homem sem Deus mas sem pecado não se sente tão vazio. Mas, o homem que já é vazio por não possuir a Deus e viver no pecado, vem preencher seu vazio com demônios (repito), que por serem como já disse, aumentam consideravelmente o vazio que já possuía o infeliz.
Deus preenche o vazio do nosso pecado, já que não podemos nos livrar deles. Afinal, se pudéssemos, seríamos como anjos. É melhor viver junto de Deus e não ter nada, do que ter tudo e não ter Deus. Deus não passa, Deus nos preenche, Deus nos ama como todos os homens ou mulheres, juntos ou sozinhos, não seriam nunca capaz de nos amar. Não há porque lutar tanto contra isso! Se você for lutar contra Deus, duas coisas podem acontecer: uma é que Deus vence, outra é que você perde. Deus vence e o tem de volta, ou você perde e vai para o inferno, que de fato, existe, seja um lugar ou uma situação em que Deus não existe de modo algum. É o eterno vazio.
Só Deus basta.
Em busca de mim mesmo

Quem, de fato, sou eu? Sou o que deveria ser, o que fizeram de mim, ou a versão rebelde do que deveria ser? Não sei. Prometo-me, no entanto, procurar descobrir.
Quebrar o vaso, este é o único modo de descobrir plenamente o que existe dentro. Acredito que seja isso o que aconteceu comigo. Quebraram-me.
Daí provém as perguntas: "Estou perdido?" - Que esteja! Melhor ter certeza que estou perdido do que iludir-me que estou no caminho certo, isto é, melhor não saber quem sou do que estar enganado de quem seja. Talvez seja o resultado de ler Schopenhauer, estou, portanto, em dialética, de mim comigo mesmo, por outro lado, Nietzsche me libertou. Estou cético de mim, critico-me! Vou dá-lo um pouquinho de esperança. Acredito que esteja certo, não sou quem sempre fui e quem tenho sido está errado.
Superprotegido. Será que seja por isso que tenho aversão a qualquer tipo de violação à liberdade e, por outro lado, violo a liberdade de quem me rodeia?
Subjugado. Será por isso que sou rebelde a qualquer tipo de autoridade, não suporto nenhum tipo de obrigação e, do mesmo modo, sou absurdamente intransigente?
Criticado. Será por isso que não suporto críticas, construtivas ou destrutivas, e, de modo talvez pior, tenho o dedo mais afiado que conheço.
É um duro processo de desconstrução, saber que sou produto do que fizeram de mim, independente do que quero ser ou do que deveria ser. Apontar o dedo para mim mesmo. Crucificar-me, sabendo que sou inocente. Culpado, mas inocente (de fato, fui eu que o fiz, fui eu que errei, mas se fiz foi porque não me ensinaram a acertar). Por isso, o tempo todo me pergunto: "Quem sou eu, quem sou eu?" - "Será que eu gosto disso mesmo, ou será que não?" - "Porque me comporto de tal modo?" - "Devem as pessoas aceitar-me do jeito que sou, ou devo eu mudar?"
É certo que o mundo não ensina isso. E se não se ensina, não se aprende. O que se aprende é o absoluto individualismo. É o "eu nasci assim, cresci assim, e vou morrer assim". É o "eu sou eu e você que se exploda". "Ou aguenta ou vai embora, eu me basto".
Diferentemente aconteceu com Simão. Aquele que era um humilde pescador, que não tinha nenhuma pretensão, foi surpreendido com sua verdadeira identidade. Sua etimologia foi modificada. Tornou-se Pedro, a pedra. De simples pescador a um dos maiores líderes da história.
De uma coisa estou certo: Se for eu, com minha infinita burrice procurar descobrir, com minhas próprias forças e mérito, quem sou eu, irei, de fato, me perder de vez. Serei um cigano de mim mesmo. É por isso que espero que aquele que ajudou a Pedro venha a mim também socorrer. Se não for alguém, quero, pelo menos, ser eu.
Pecador, eu
É interessante a didádica de Deus, quando a gente pensa que está tudo péssimo e que a gente não vai mais suportar, vem uma coisa pior ainda e, diferente do que podíamos esperar, esse acontecimento não nos leva diretamente ao chão. Pelo contrário, descobrimos que somos muito mais fortes do que imaginávamos.
De vez em quando a nossa burrice nos oferece uma saída que nos vai derrubar mais ainda. É como alguém que está para se afogar e, em vez de tentar nadar pelo menos um pouco, superar o medo, o que seja, prefere dramatizar um afogamento para chamar a atenção de alguém. Agora imagine essa cena por outro prisma. Ninguém te vê chamando atenção, então, você desiste e aprende a nadar. Os cachorros aprendem a nadar sozinhos, porque nós não?
Talvez em todos os tempos esse foi meu maior erro. Implorar por ajuda talvez me prejudicou muito mais. Serei eu um samuray, que não admite perder uma batalha? Se for um, não sou tão digno quanto ele, porque não tenho coragem de fazer o harakiri. Imploro, entretanto com lágrimas nos olhos, ao inimigo, para não me deixar perder, peço que se renda, porque perder é demais para mim. Para isso, a voz da sabedoria me leva a pensar: "Quem sou eu para nunca perder, sou eu Deus?" Mas o ator que mora dentro de mim responde que não, que não sou Deus, nem o problema é perder, mas sempre perder. E continua o diálogo de mim com mim mesmo, ou de mim com o Deus que mora dentro de mim, como dizia São João da Cruz.
Uma coisa reaprendi uns dias atrás (a gente de vez em quando desaprende algumas coisas bem inteligentes), é que a gente só consegue escutar a Deus quando silencia o coração e a mente. Aí está o desafio, como silenciá-los? Respondo para mim e para vocês: "Te vira!" Talvez seja essa a resposta mais sábia que um pai pode dar ao filho, em vez de se virar por ele. Porque não aprendemos com os animais? Os animais "dizem" isso aos seus filhotes! A natureza tem também sua sabedoria, afinal, a própria Sabedoria foi quem a criou!
O perdedor que mora em mim vive a reclamar do tanto que tenho azar. Por outro lado, o Deus que mora em mim repete várias vezes: "Você tem sorte é demais! Parece que não sabe que sofrer aprender, e viver é lutar? Azar é daquele que não tem contra o que lutar e que não tem do que aprender. No final de tudo, ou até no meio, quem vai se dar bem é você!"
É Ele quem vai concluir esse texto dizendo: "Meu filho, lembra daquela passagem? Aquela que dizia 'olhai os lírios do campo'? Pois é, se a um passarinho não falta o que comer, quando mais a você que é tão especial a mim? Eu não te abandonarei nunca! Ainda que você morra de fome, aquele que não te deu comida será castigado e você terá um lugar especial na minha morada. Nas bem aventuranças foi isso que eu falei, lembra? Eu te entendo meu filho, mas te amo, e quero que você cresça!"